As Aventuras de Nando & Pezão

“Sangue do Meu Sangue”

Capítulo 6 – Mendigo, Anões e Espirros

Admito, isso é verdade. O Bill Gates Júnior é foda.

— Ah, sei lá então, faça o que lhe der na cabeça. Eu estou cagando e andando.

— Vai funcionar, eu juro. — disse o pirralho.

Quando eu já ia desligar o telefone Pezão disse alguma coisa:

— Tudo bem, mas reze pra funcionar, caso contrário seu funeral será amanhã cedo. Isso se conseguirem achar todos os pedacinhos do seu corpo espalhados pela casa.

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Nada disso aconteceu, Pezão não precisou esquartejar o irmão em vários pedacinhos. Parece que o antídoto realmente funcionou. Ainda bem, pois Pezão já é insuportável em condições higiênicas, imaginem o filho da puta peidando de cinco em cinco minutos. Ninguém merece.

No dia seguinte acordei bem cedinho e fui até a casa do Pezão. No portão dei de cara com uma cena um tanto ... excitante. Maura, a irmã biscate do Pezão, estava no maior pega com uma morena. Beijo de língua, mão naquilo e aquilo na mão e tudo mais que vocês possam imaginar. Nem preciso dizer que Nando Júnior ficou todo animado, né? Puta merda, a irmã do Pezão realmente assumiu seu lado bolacha? Fiquei ali parado por quase dois minutos observando e elas nem perceberam minha presença. Na verdade eu não era o único a observar as duas na pegação, do outro lado da rua estava ele, Zé Biruta, o mendigo mais doido da cidade, com os olhos vidrados naquela cena pornô-erótica-sensual. Os olhos do mendigo nem piscavam.

Estávamos quase gozando em nossas cuecas, quando Maura nos descobriu. As duas pararam com os malhos. Que bosta, estava tão bom!!!

— Caralho, acho que eu vou cobrar ingresso!!! — disse ela, puta da vida.

— Calma, Ma! — disse a morena, agarrando a cintura da Maura.

Meu, faz tempo que eu não consigo uma morena dessa. Pra ajudar eu ainda flagro a gostosona com outra mulher. Fala sério, hein!

— Só estávamos apreciando a paisagem. — falei, com uma puta cara de pau.

Maura apontou o dedo para o mendigo e disse:

— Apreciando, sei. Você chama aquilo de apreciar?

Quando olhei para o mendigo tive uma visão das mais terríveis. O cara estava com a calça arriada e com o pau murcho na mão, tocando a maior punheta de sua vida. Olhos fechados, língua pra fora, suava feito um peru na véspera de natal.

Caí na maior gargalhada. Mas Maura e sua namoradinha ficaram horrorizadas.

— Que noooooooojo!!! — disse a morena, desviando o olhar do mendigo.

— Vamos embora daqui, rápido! — disse Maura, puxando a morena pelo braço.

Ambas correram até um carro vermelho estacionado na esquina e saíram queimando os pneus. Zé Biruta nem percebeu que as duas já haviam desaparecido, continuou sua punheta na maior fissura.

Toquei a campainha e Pezão apareceu na janela do quarto.

— Que zona é esta? — gritou ele. — Do que estava rindo?

Apontei na direção do Zé. Pezão olhou, olhou, e não entendeu o que Zé Biruta estava fazendo.

— Mas que diabos é aquilo?

— O Zé está na maior punheta, não está vendo?

— Puta merda, eu não sabia que o Zé gostava tanto assim de você, cara!!!

— Vai se ferrar, seu filho da puta!!!

Mostrei-lhe aquele famoso dedo.

Olhei para o mendigo punheteiro e não acreditei no que vi. Zé Biruta ainda estava lá, na maior fissura ... o pinto do mendigo estava até mudando de cor.

— Porra, Zé, as duas já se mandaram faz tempo!!! — gritei. — Dá uma maneirada aí, caralho!!! Já está pegando mal.

O mendigo continuou, nem me deu atenção.

Quando eu menos esperava Pezão apareceu com um tijolo nas mãos.

— O que você vai fazer com isso? — perguntei.

— O que você acha?

Antes que eu pudesse fazer alguma coisa Pezão jogou o tijolo na direção do mendigo. Preciso dizer o que aconteceu? O tijolo acertou em cheio a testa de Zé Biruta. O maluco foi a nocaute, caiu duro no asfalto. Detalhe, com a mão esquerda no pinto, até parecia estar colada.

— Caralho, Pezão!!! Você comeu cocô?

— Corre, corre!!! — gritou ele, correndo pelo jardim de sua casa.

Bom, corri também. Eu não ia socorrer um mendigo caído com as calças arriadas e com a mão no pinto, ia? Claro que não. Mesmo assim não pude deixar de sentir pena do coitado. Reflitam comigo, o coitado mora na rua, não tem dinheiro, não tem mulher, não tem porra nenhuma, quando é que ele vai ter a chance de ver duas biscates se agarrando daquela forma? O coitado ficou excitado, é normal. Até eu fiquei, não é? A diferença é que eu não botei meu pau pra fora e não toquei punheta no meio da rua. Bom, não que eu nunca tenha feito isso, eu até já fiz, mas era último dia de carnaval e eu estava mais bêbado que um ... Deixa pra lá, outro dia eu conto este causo.

— Cara, parece que sua irmã assumiu a bolachice.

— A Maura é foda, ela aproveita que minha mãe não está em casa.

— Sua mãe não sabe?

— Claro que não, você acha que a velha ia curtir uma filha sapatão?

— Sei lá, sua mãe é advogada respeitada, pensei que tivesse uma mente mais aberta.

— A velha é foda, é mais fácil ela abrir a mente da Maura com um porrete, isso sim.

— E você?

— O que tem eu?

— Não liga da sua irmã ser bolacha?

— Estou cagando e andando. Bolacha, biscoito, bolinho, tanto faz. Ela pode fazer o que quiser da vida, só não venha me encher o saco.

— Porra, Pezão, é sua irmã. Um dia você ainda vai precisar dela.

— Nem vou, e se isso acontecer eu prefiro estar morto. Aquela biscate sempre me sacaneou. Eu só não conto este lance dela por dois motivos. Primeiro, minha mãe vai ficar muito puta da vida, e quando ela fica assim ela desconta em todo mundo, inclusive em mim.

— Eu qual o outro motivo?

— Que outro? Ah, sim, claro, o segundo e mais importante: gostosas passeando de calcinha pelo corredor.

— Como é que é?

— É isso mesmo que você ouviu. Cara, não sei o que acontece, toda biscate que minha irmã traz pra casa adora andar de calcinha ou pelada pela casa. 

— Mas do que adianta elas desfilarem de calcinha por aí se você não vai comer?

— Quem falou que não?

— Seu bosta, não inventa.

— Estou falando sério, porra! Nem toda biscate que vem pra casa com a minha irmã é totalmente bolacha, algumas são giletes. O único problema é quando as biscates querem fazer ménage à trois.

— Porra, e você nem me chama???

— Seu bosta, você não entendeu, elas perguntam se podem chamar minha ... irmã.

— Eca!!! Aí é foda, hein!!! Com a irmã no meio?

Pezão ficou meio sem graça.

— Porra, não me diga que você topou? — perguntei.

— Não, é claro que não! Sai fora!

Sei lá, eu não duvido de nada. Pezão odeia a irmã, mas tem hora que a cabeça de baixo grita mais alto que a de cima. Bom, este assunto está me dando arrepio. Melhor mudar.

— Cara, esquecemos de marcar o exame. — falei.

— Porra, é mesmo. Liga lá na clínica e agiliza a parada, enquanto isso vou fazer um negócio.

— Caralho, não vai cagar, vai? Lembro muito bem das vezes que você saía pra cagar e depois isso aqui ficava insuportável.

— Nem. Vou procurar dinheiro pra pagar a porra do exame.

— Continua sem grana?

— Fica frio, eu consegui uma cópia da chave do quarto da minha mãe.

— Vai roubar sua velha?

— Roubar não, pegar emprestado, um dia eu pago.

— Paga porra nenhuma!!! Até hoje você nunca me pagou.

— Claro que não, nunca emprestei grana de você, caralho!!!

— Ah, é.

Enquanto Pezão foi lá assaltar o quarto da velha eu liguei pra clínica.

A mesma recepcionista analfa atendeu:

— Crínica Xurupita, bom dia.

— Bom dia. Xurupita? Não era Pichiquita?

— Era, mas tivemos uns pequeno pobrema na justiça e precisemo mudar.

Caralho, umas aulinhas de português não fariam mal, hein! Fala sério. Mas se ela for gostosa eu até perdôo. Mais vale uma gostosa tapada do que uma cria do demônio formada em física quântica.

— Tudo bem. Você pode me informar se tem algum horário disponível pra fazer exame de DNA?

— Vou ver, senhor.

— Ok.

— Meio-dia serve?

Ótimo! A cover do Cebolinha disse que vai chegar por volta das 10 horas, né?

— Sim, está perfeito! Pode marcar 4 exames.

— Marquei.

— Nossa, você é rápida!

— Eu guardo tudo na memória.

— Computador é uma maravilha mesmo, não?

— A gente não temos computador aqui na crínica, guardo na memória mesmo.

— Ah, entendi. Moça, o exame continua 60 reais, certo?

— Não, custa 80 reaus cada exame.

— Oitenta? Subiu?

— Sim, todos os exames subiu de preço.

— Mas por quê?

— A amante do doutor pediu uma geladeira nova de presente.

— Quem?

— Ops! Não era pra mim contar isso, escapuliu.

Meu, esta mina deve ser uma gostosa de parar o trânsito, não concordam? Como uma toupeira analfabeta dessa consegue um emprego de recepcionista?

Antes de desligar vou tirar uma onda com ela.

— Moça, você sabe como uma loira mata um passarinho?

— Nem faço idéia. Como?

— Ela joga o passarinho de um precipício.

— Credo, oh!!! Tadinho do passarinho!!! Oh, dó!

Ninguém merece.

Desliguei o telefone e procurei o filho da puta do Pezão. Lá estava ele, sentado sobre a cama da sua mãe revirando uma caixa de papelão.

Ele está tão concentrado na caixa, vou aproveitar pra dar um susto no desgraçado.

Fui andando bem devagarinho e ... quem tomou o susto foi eu. Pezão estava segurando uma foto da mãe dele, peladona, mandando ver com um anão.

— Caraca, meu!!! — gritei, perplexo.

— Sai pra lá, Nando! — disse Pezão, jogando a foto dentro da caixa de papelão.

— É a sua mãe mesmo? 

— Cala esta boca, caralho!

— Eu vi, é ela sim, é a sua mãe com um anão.

— Nem é! Cala esta boca ou eu te arrebento a fuça!

— Fica frio, Pezão, nem vou contar pra ninguém.

— Contar o quê? Você não viu nada. Absolutamente nada!!!

Pezão fechou a caixa.

— Claro que vi. Vi sua mãe de quatro levando uma manguaçada de um anão.

Meu, antes que eu tivesse tempo Pezão veio pra cima de mim e me lascou um murrão. Mas pra minha sorte ele acertou a porta do guarda-roupa. Ele deu um grito de dor tão alto que a vizinhança inteira deve ter ouvido.

— Seu filho da puta, por que desviou??? — disse ele, puto da vida.

— Fala sério, Pezão! Calma, eu não fiz nada.

— Você não viu nada. Aquela foto era de outra pessoa, caralho!!!

Nem era. Eu sei muito bem o que eu vi. Mas para não criar encrenca eu me calei.

De repente a porta que o Pezão golpeou abriu e deixou cair várias caixas iguais àquela onde ele guardara a foto.

Abaixei-me para pegar as caixas, Pezão ficou furioso novamente.

— O que pensa que vai fazer?

— Calma, porra! Só vou guardar as caixas.

Enquanto eu colocava as caixas no lugar vi Pezão revirando uma delas. Sua cara de espanto foi tão grande que só posso imaginar uma coisa, deve ter achado outra foto da mama dando para um anão de circo.

Mas permaneci calado. Com a mãe dos outros a gente não brinca, certo?

— Tomar no cu, viu? — esbravejou Pezão, olhando a foto. — Que merda, cara!

— Fica frio, Pezão, talvez nem seja sua mãe.

— É ela sim, caralho, e não se faça de idiota. Do que adianta eu mentir? Você já viu a foto. Agora foda-se.

— Sua mãe curte anões, e daí? Cada um tem sua tara.

Pezão ficou calado, balançando a cabeça para um lado e para o outro, parecia inconformado com as fotos.

De repente me distraí e derrubei uma das caixas. Fotos e mais fotos se esparramaram pelo carpete do quarto. Galera, eu juro que tentei não olhar para as fotos, mas não consegui, e vocês não vão acreditar no que eu vi. Perdi até o controle, caí numa gargalhada tão gigantesca que cheguei a molhar a cueca. Fiquei como uma hiena com gozos múltiplos. O motivo da gargalhada? Simples, na foto estava a mãe do Pezão fazendo gluglu com o bilau do Nelson Ned.

Pezão ficou fulo da vida, pra variar.

— Do que está rindo, porra?

Apontei para a tal foto. Pezão a pegou com cuidado e quase desmaiou quando viu aquilo.

— Porra, mãe!!! Assim não dá. Ninguém merece, viu? Nelson Ned? Fala sério.

Continuei rindo. Pezão estava tão transtornado com a foto que nem percebeu.

Pezão colocou a foto de volta na caixa e a jogou com raiva dentro do guarda-roupa. Pezão está tão vermelho que mais parece um pimentão. Suas veias da testa estão quase dando cria.

Após algum tempo andando de um lado e para o outro ele conseguiu olhar para mim e disse:

— Cara, se contar para alguém sobre estas fotos ... eu juro, mato você.

— Nem esquenta comigo, Pezão, o que eu ganharia com isso?

— Estou falando sério, porra, se você contar isso para alguém eu arranco seu pinto com uma serra-elétrica.

— Seja original, cara, já vi isso num filme.

— Porra, estou falando sério!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Pezão socou novamente o guarda-roupa. Novamente uma pilha de caixas foi ao chão. Juro que desta vez eu nem olhei para as fotos. Mas Pezão sim.

— Ah, puta merda!!! Era só o que me faltava, mãe!!! Até este Zé Mané já te comeu???

Quem será? Quem será? Quando fui olhar a foto Pezão voou na minha frente e a guardou novamente na caixa. Filho da puta!!!

— Nando, é sério, eu arranco seu saco com uma britadeira.

— Já entendi, porra, mas eu estou mais preocupado com outra coisa.

— Com o quê?

— Pelo menos você achou dinheiro pra pagar o exame??????????

— Achei um talão de cheques da velha.

— Seu bosta, mas sem a assinatura dela não adianta nada.

— Fica frio, seu merda, sei falsificar a assinatura da minha mãe desde que eu me conheço por gente.

— E desde quando você é gente?

Quase 10 horas da manhã. A Cebolinha cover está pra chegar. Descemos rapidamente as escadas e entramos no carro. Quando olhei no retrovisor avistei um amontoado de gente em frente ao portão.

— Mas que porra é aquela? — perguntei.

— Deve ter sido algum acidente, sei lá.

— Porra, o Zé Biruta!!!

— Caralho, é mesmo! Será que o filho da puta me dedurou?

— Fica frio, ele nem viu você, o cara estava tão concentrado na punheta que nem soube de onde veio o tijolaço na testa.

Saímos do carro e fomos até o portão. Havia umas vinte pessoas formando um círculo ao redor do mendigo. Pezão abriu o portão e nos aproximamos da cena.

— O que aconteceu? — perguntou Pezão, com a maior frieza do mundo.

— Mataram um tarado. — disse uma mulher.

— Tarado? — perguntei.

— Sim, ele estava perseguindo uma moça, com a calça arriada. — respondeu um velhinho.

Caralho, o povo adora inventar uma história, hein!

— Bem feito, levou o que mereceu! — disse a mulher, cuspindo no corpo do mendigo.

— Sim, a moça deu uma tijolada na cabeça do tarado e saiu correndo, nua. — continuou o velhinho.

Caralho, eu acho que o velhinho estava assistindo algum filme pornô e confundiu as bolas.

— Ele morreu mesmo? — perguntou Pezão.

— Chamamos uma ambulância, — disse um homem. — mas até agora nem sinal dela.

Cheguei no Pezão e sussurrei em seu ouvido:

— Cara, precisamos tirar o Zé Biruta daqui.

— O quê? — respondeu Pezão. — Por que nós?

— Porra, Pezão, foi você que jogou o tijolo no pobre coitado! Sacanagem!

— Foda-se! Não vou levar ninguém para lugar algum! Que morra aqui mesmo.

De repente uma mulher alta e magricela se aproximou de nós e falou baixinho:

— Eu sei o que vocês fizeram.

— Está falando com a gente, moça? — perguntei.

— Sim. Eu vi o que vocês fizeram com o pobre coitado.

— Como assim? — falou Pezão. — Comeu merda, moça?

Putz!!! Maldito Pezão, deixou a mulher vermelha de raiva. Ela manteve o tom de voz baixo, mas nos disse:

— Escutem aqui, seus filhos da puta, ou vocês providenciam um enterro digno para aquele pobre mendigo ou eu conto pra todo mundo o que vocês fizeram. Que tal?

A vontade que deu foi esganar aquela magrela dos infernos, mas ... sejamos honestos, ela fez algo muito bacana pelo pobre Zé Biruta.

Com muito nojo Pezão ergueu a calça do mendigo e o vestiu novamente. Segurei o coitado pelos braços e Pezão agarrou seus pés. Ninguém mais nos ajudou. Povo filho de uma puta dos infernos. A magricela ficou o tempo todo nos observando.

— Caralho, não está dando nada certo hoje. — resmungou Pezão.

Deitamos o corpo do mendigo na calçada e Pezão foi pegar o carro.

Colocamos o mendigo no banco de trás e Pezão saiu queimando os pneus.

— Para onde vamos? — perguntei.

Antes que Pezão respondesse ele encostou e parou o carro.

— Caralho, mas que cheiro dos infernos é este?????? — resmungou ele.

Realmente, Zé Biruta estava com um cheiro terrível.

— Porra, Pezão, tem um mendigo morto no banco de trás do seu carro. O que você esperava?

— Caralho, nunca mais eu jogo tijolo nestas porras de mendigo!

Abrimos todos os vidros do carro e Pezão saiu queimando os pneus novamente.

— Puta merda, já passam das 10 horas! — falei. — A Cebolinha cover já deve estar nos esperando na rodoviária.

— Vou levar este porra para o pronto-socorro. Lá eles se viram!

— Pezão, e se o Zé Biruta lembrar que foi você que jogou o tijolo nele?

— Aí eu enfio o tijolo no ...

De repente o mendigo se levantou e começou a gritar feito um doido.

— Seqüestro!!! Seqüestro!!! Socorro!!! Socorro!!!

Pezão perdeu o controle da direção por um instante. Sorte que estávamos numa rua menos movimentada. Por uma puta sorte do destino Pezão conseguiu encostar o carro sem maiores danos. Soltamos o filho da puta do mendigo. Ele saiu correndo e gritando feito um maluco.

— Ufa, que alívio. — falei.

— Alívio?

— Você não está aliviado? Você não matou o filho da puta.

— O desgraçado deixou meu carro com um puta cheiro de gambá. Se eu o encontrar novamente vou jogar um tijolo 10 vezes maior e mais pesado. Deixa ele comigo!

— Esquece isso e pisa fundo! Já são mais de 10 horas e a biscate já deve estar na rodoviária. Ou como ela diz, rodoviália.

Pezão saiu rasgando e chegamos à rodoviária em menos de cinco minutos. O relógio na parede marcava 10 horas e 37 minutos.

— Será que ela já está aqui? — perguntei, olhando para todos os lados.

— Talvez. Você se lembra dela?

— Não tenho a menor idéia. Ontem ela me disse que é gostosa.

— É mesmo? Bom, pelo menos isso.

De repente alguém diz em voz alta:

— Sim, gostosa eu semple fui mesmo.

Ali estava ela, Sonisvalda, a Cebolinha cover. Ela estava sentada com a criança no colo. Devo lhes confessar, é realmente gostosa. Estatura média, cabelos castanhos na altura dos ombros, olhos pequenos, porém expressivos. Nariz batatinha e lábios finos. Peitos nada exagerados e umas pernas aparentemente bonitas. Eu diria que Sonisvalda é do tipo Raimunda.

Ela se levantou e veio nos cumprimentar.

— Você deve ser o Maulício. — disse ela, sorrindo para o Pezão.

— Pode me chamar de Pezão. — disse ele, e beijou o rosto da Cebolinha cover.

Mas Pezão não tirava os olhos da criança.

— E você ...

— Nando, muito prazer. — e beijei seu rosto.

— Na verdade já fomos aplesentados, não é?

— Sim, é verdade.

— Então este é o guri? — perguntou Pezão.

— Lindo, vocês não acham? É o Rodligo, a paixão da minha vida.

Fiquei observando os traços do rosto do moleque e juro que não achei nada parecido comigo, apesar do nariz ter uma certa semelhança.

— É a minha cara, porra!!! — disse Pezão, vidrado no pirralho.

— Você achou mesmo? — perguntou ela.

— Deixa eu ver mais de perto. Posso segurá-lo?

Putz!!! Pezão está obcecado pelo pirralho! Quem diria? Que fique pra ele então, eu não estou a fim de ser pai agora não.

Assim que Pezão o pegou em seus braços o moleque teve uma crise de espirros.

— Calma, rapaz! Calma! — dizia Pezão, sem parar.

Mas não adiantou nada, o moleque espirrava tanto e com tanta violência que Sonisvalda ficou preocupadíssima. Pezão o devolveu. 

Incrível! Assim que o moleque voltou para os braços da mãe parou a crise de espirros.

— Oh, poblezinho!!! — disse ela, balançando o guri carinhosamente em seus braços. — Passou, meu anjinho, passou.

Pezão tentou novamente pegar o guri em seus braços. Mas novamente ele começou a espirrar sem parar.

— Caralho, este moleque está com defeito de fabricação! Veio quebrado!

Sonisvalda achou graça, e olhou pra mim.

— Quer tentar? — perguntou ela.

— Tentar o quê?

— Quer segulá-lo um pouquinho?

— Nem. Sou estabanado pra cacete. Se bobear eu deixo cair no chão e babau.

— Não seja bobo. Basta segular com calinho.

Ela insistiu tanto que acabei tentando. Com muito cuidado eu o peguei no colo.

— Porra, por que ele não está espirrando? — disse Pezão, fulo da vida.

— Olha só, acho que ele gostou de você.

Por incrível que pareça o guri se sentiu à vontade comigo. Parecia um bonequinho Pokémon. Ele olhou pra mim e tive até a sensação de que piscou o olhinho direito.

— Caralho, por que ele não está espirrando? Deixa eu tentar outra vez.

Passei o guri para as mãos do Pezão e nem preciso dizer o que aconteceu, preciso?

— Porra, este moleque está de sacanagem comigo!!! — disse Pezão, vermelho de raiva.

Quando o guri voltou para os meus braços a crise de espirros parou imediatamente.

— Que fofo!!! — disse Sonisvalda, olhando para o guri em meus braços. — Nunca o vi assim tão calminho como ele ficou com você, Nando.

— Nem eu estou acreditando. — falei. — Nunca me dou bem com criança. Eu sempre derrubo.

— Selá que você é o ...

— Opa! — falei. — Muita calma nesta hora.

De repente passou uma morenaça muito gostosa do meu lado e juro pra vocês, o guri ficou encarando os peitos da mina.

Fodeu!!! Deve ser meu filho mesmo.