“Sangue do Meu Sangue”
CapÃtulo 4 – 60 Reaus
Hospital genérico? Meu, fala sério, ninguém merece.
Mas o problema é que estou mais duro que bilau de ator pornô em dia de décimo-terceiro. Acho que não terei outra alternativa. Pezão também não.
Hospital genérico, aqui vamos nós.
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Ao cair da noite fui até a casa do Pezão contar a novidade.
— Hospital genérico? — perguntou Pezão, com uma cara bem desconfiada.
— Pois é, quem não tem cão caça com gato.
—Â E quanto vai custar o exame?
— Ainda não sei, mas o Mamute garantiu que é tudo baratinho lá.
— Porra, até que enfim uma notÃcia boa, hein! Onde fica isso?
— Nem o Mamutão soube explicar direito, mas ele disse que vai com a gente.
—Â Pegou um telefone pra gente marcar o exame?
— Sim, ele me passou um telefone.
— Liga lá e já vê quanto fica o exame! Eu não suporto mais aquela guria me ligando. Quero fazer logo esta porra de exame e ficar livre disso.
— E se você for o pai?
—Â E daÃ?
Bom, acho que isso responde minha pergunta.
— Deixa pra lá. — falei. — Passa o aparelho, vou ligar e descobrir quanto custa o exame lá.
Pezão me passou o telefone sem fio e liguei para o número que o Mamute me passou.Â
Uma voz super esquisita atendeu, dizendo:
— CrÃnica Pichiquita, boa noite.
Putz, caà na gargalhada, qual o nome da clÃnica? Perseguida? Periquita? Além disso a moça teve a moral de dizer "crÃnica" ... Ninguém merece.
— O que foi, o que foi? — perguntava Pezão, desesperado pra saber o motivo da minha gargalhada.
Mas fiquei quieto.
— Algum pobrema, senhor? — perguntou a secretária, um pouco nervosa.
Putz!!! Pobrema? Meu, ou a secretária é analfabeta ou está tirando uma com a minha cara. Fala sério!
— Não, não, perdoe-me. Eu só fiquei um pouco confuso. Qual o nome da clÃnica?
— CrÃnica Pichiquita, senhor.
— Ah, ta, entendi. — quase comecei a rir novamente. — Eu gostaria de uma informação. Vocês fazem exame de DNA?
— Sim, fazemos.
—Â Poderia me informar quanto custa?
—Â Cobramos sessenta reaus por exame.
Caralho!!!! Eu ouvi direito? Sessenta reais? Mas eu pesquisei e não consegui achar por menos de mil e quinhentos. Ah, não é possÃvel, deve ser gozação.
— Moça, você tem certeza disso? Sessenta reais? É exame de DNA mesmo, né? Não é de fezes, certo?
— Sim, sessenta reaus. Exame de DNA. Temos alguns horário disponÃvel para amanhã, gostaria de marcar um exame?
Meu, a secretária é analfa, mas cobrando sessenta reais eu nem ligo. Pode até trocar Jesus por Genésio ... ou melhor, por Genérico.
— Olha, é tentador, mas preciso consultar mais uma pessoa. Volto a ligar, ok?
— Tudo bem, tenha uma boa noite, senhor.
— Porra, minha filha, senhor? Não sou tão velho assim, mas tudo bem. Boa noite pra você também.
E desliguei o telefone, feliz da vida, é claro. Meu, sessentinha dá pra encarar numa boa. Mas deve ter gato nesta tuba. Está barato demais.
— Sessenta reais, é isso mesmo? — perguntou Pezão.
— Acredite se quiser. Finalmente o Mamutão nos serviu para alguma coisa.
— E como é que o Mamute sabia deste lugar?
— Putz! Boa pergunta. Nem faço idéia. Mas foda-se, o importante é que o lugar existe e o precinho é camarada.
— E por que não marcou logo o nosso exame, porra?
— Pezão.
—Â Fala.
— Enfia o dedo no cu e conta até cem!!! Seu bosta, não está esquecendo de nada?
Pezão fez uma puta cara de quem não está entendendo porra nenhuma e respondeu:
— Não.
— Porra, como vamos fazer o exame de DNA sem a mãe e o moleque?
— E daÃ? O que eles têm com a história?
— Pezão, comeu cocô? Sem os exames deles como vamos saber se um de nós é o pai?
— Seu merda, mas é justamente pra isso que vamos fazer o exame!!! Dããããã!!!!
Fala sério, hein!!! Sorte do Pezão que ele é rico, caso contrário o coitado não conseguiria nem vender mamão papaia na feira.
De repente passa alguém pela porta do quarto do Pezão. Este sim é o esperto da famÃlia.
— Fala, Bill Gates!!! — gritei, chamando a atenção do pirralho.
O guri estava com um caderno na mão. Parecia estar bolando alguma coisa. Mas veio falar com a gente. Olhei para o caderno todo rabiscado e perguntei:
—Â Criando alguma bomba nuclear?
— Infelizmente não tenho todos os elementos necessários para isso, mas se quiser derrubar um prédio de até 10 andares eu consigo uma fórmula na internet.
— Não, muito obrigado. Fica para outro dia.
O pirralho meteu a mão no bolso e retirou uma bolinha branca, tipo uma bolinha de gude.
— Aceita? — disse ele, segurando a bolinha entre o polegar e o indicador.
— O que é isso? Outra daquelas malditas balinhas do caralho?
— Não, fica frio, parei com aquilo. Fabricar balinhas com sacanagem é coisa para criança. Esta aqui eu comprei ali na padaria mesmo.
Ele pegou a bala e jogou na boca. Foda-se, não caio nessa. Este guri é foda. Vocês sabem muito bem disso.
— Eu quero uma. — disse Pezão.
— Babacão, vai cair na pegadinha? — alertei.
— Não é pegadinha, Nando. — disse o pirralho. — Eu já falei, agora meus projetos são bem maiores do que ficar fazendo balinhas com truques.
— Vai me dar a bala ou não, porra? — gritou Pezão.
O maldito Bill Gates Júnior enfiou a mão no bolso novamente e pegou outra daquela balinha. Bom, avisar eu avisei.
Pezão pegou a balinha e jogou pra dentro de sua maldita boca.Â
— Hmmmmmmm!!! Gostosinha, hein!!!
— Foda-se, eu não me arrisco.
O pirralho deu uma olhada no seu caderno e partiu. Mas antes que deixasse o quarto eu perguntei:
— Ei, e a sua ex-namorada? Como era mesmo o nome dela?
— Do que você está falando?
— Aquela guria gótica, aquela que lavava o cabelo com mijo. Morreu, né?
—Â A Samires.
— Exatamente, Samires. É verdade que você fez umas ganbiarras no celular do meu primo e consegue falar com ela?
— Sim, mas não falo só com ela. Consigo falar com outros espÃritos também.
— Você conversa com fantasmas através daquele celular?
— Sim, foi mole pro gato, nem precisei mexer muito. Pra ser sincero com qualquer celular você consegue fazer isso, desde que saiba teclar os números certos e apontar na direção certa também.
Meu, senti até um arrepio na nuca.Â
— Caralho!!! Meu, você vai me ensinar a fazer isso, não vai?
— Nem vou. Isso é muito perigoso. Exige prática.
— Porra, Bill Gates, vai regular?
— Meu, esta balinha é boa pra caralho!!!! — disse Pezão, totalmente alienado da nossa conversa sobre espÃritos.Â
Porra, estou achando que tem maconha nesta balinha do pirralho. Pezão está na maior viagem. Só falta ele dizer ... "é isso aÃ, camaradinha Nando, quer que eu delete esta joaninha que está na sua camiseta??? ".
— Ah, antes que eu me esqueça, — disse o pirralho. — a Dona Mirandinha mandou um beijão pra você, mano!!!
Depois de soltar essa o guri saiu correndo pelo corredor. Eu caà na gargalhada, tipo uma hiena com gangrena. Pezão, o zoado, parece nem ter ouvido, continuou sua viagem com a balinha suspeita.
— O que você está olhando? — perguntou ele, com aquela cara de cuzão.
— Eu? Estou tentando descobrir qual é a pegadinha desta bala.
— Tem pegadinha não, porra! Pra falar a verdade eu nunca chupei uma bala tão gostosa como esta. Pra ser mais sincero ainda, é quase tão bom quanto chupar uma bucetinha.
— Ah, se liga!!! Está necessitado, hein! Confundindo bala com buceta. Eu, hein!
— É sério!!! Se duvida tanto pede uma pra você experimentar. O bagulho é bom mesmo, cara!!!
— Sai fora, do seu irmão eu só aceito bom dia e boa noite. Aquele moleque é meio bruxo. Ouviu os papos dele? O filho da puta conversa com gente morta pelo celular.
— Cara, esta bala é boa pra caralho!!! Em qual padaria será que ele comprou? Vou comprar uma caixa inteira.
— Vai, bobão, vai nessa, daqui a pouco seu pau fica fosforescente outra vez. Aà eu quero ver você choramingando pelos cantos.
— Porra, Nando, isola!!! Vai jogar praga na puta que o pariu!!!
— Cara, to indo nessa. Amanhã cedinho vou ligar pra Cebolinha Cover e dizer que ela precisa vir até aqui com o moleque para fazermos esta porra de exame.
— Você está viajando. Nem precisa dela nem do moleque.
— Pezão, fica frio, vai por mim. Ah, e quando você for pedir outra bala pro maninho aproveita e pede pra ele lhe ensinar alguma coisa sobre DNA.
Olhei para a cara do Pezão e notei algo muito estranho. O cara estava amarelo. As mãos apoiavam o estômago.
— O que foi? Deu caganeira?
— Sei lá, acho que ....
Meu, ninguém merece, Pezão soltou um peido tão estrondoso, mas tão estrondoso, que até o abajur atrás dele caiu do criado-mudo.
Tapei o nariz e saà correndo do quarto.
— Porra, Pezão, fala sério!!!!!!!!!!!!! — gritei, já bem longe do quarto.
De repente uma cabecinha surge de uma porta no corredor. Era o pirralho, com uma cara de quem fez arte.
— O que aconteceu? — perguntou ele, já com um sorrisão nos lábios.
— A anta do seu irmão jogando merda no ar.
Quando eu terminei de dizer isso o pirralho caiu numa gargalhada nunca vista antes. Era como se umas cem hienas tivessem se reunido para uma convenção.
— Então funciona? — perguntou o pirralho, entre uma gargalhada e outra.
— Sei lá o que você aprontou desta vez, só sei que seu irmão está com o cu desregulado. Quanto tempo ele vai ficar assim?
— Sei lá, talvez alguns dias .... ou meses!!! Hahahahaha.
Putz!!! Eu sabia que aquela bala tinha alguma sacanagem.
Pezão apareceu no corredor e .... Caraaaaaaaaaaaaaaalho!!! Aquilo foi um peido ou um jato sobrevoando a casa??? Meu, já ouvi peidos estrondosos na minha vida, mas estes dois últimos fugiram do normal.
Tapei o nariz outra vez, é claro.
— Meu, fica longe de mim!!!
— Caralho, eu não sei o que está acontecendo comigo! Nem comi nada pesado hoje!
— Seu bosta, você ainda não percebeu?Â
— Percebi o quê?
— Foi a balinha do seu irmão, seu bosta!!!
Nem bem terminei a frase e Pezão peidou novamente. Se é que posso chamar aquilo de peido. E este terceiro foi tão estrondoso ou até pior que os dois primeiros. Meu, este rasgou a cueca, com certeza!!!
— Estou indo nessa, Pezão, e só volto quando você estiver melhor.
Pezão ficou furioso. Correu até o quarto do pirralho, mas já era tarde. O guri trancou a porta. De onde eu estava ainda dava para ouvir claramente as gargalhadas de hiena com catapora que o guri estava soltando lá dentro. Maldito pirralho dos infernos.