As Aventuras de Nando & Pezão

“Chiquinho Vesgo - O Esquartejador ”

Capítulo 1 – Um Convite Inusitado

Olá, pessoal, beleja? Como diria meu avô: vaso ruim não quebra. Mesmo após aquele acidente sinistro continuamos aqui, firmes e fortes. Dois meses já se passaram desde aquela madrugada fatídica. Ainda tenho alguns arranhões e cicatrizes, mas com o tempo isso tudo passa. Pezão já está numa boa outra vez, afinal de contas a mamãe já lhe comprou outro carro novinho. Maldito playba dos infernos. Agora ele está com outro Corsa, mas um sedã.

Antes que vocês me perguntem, até hoje eu não sei o que a menina do cabelo de mijo fez com o Pezão. Acreditam? O filho da puta sempre me contava tudo, mas desta vez ele realmente engoliu o segredo, fechou a porta e jogou a chave fora. Nunca vi coisa igual. Deve ter sido algo bem cabuloso. É mais fácil vocês descobrirem o que aconteceu em Ubatuba.

Falando na menina bruxa, vocês nem fazem idéia do que aconteceu. Ela está morta. Parece que morreu naquela mesma tarde em que a perseguimos até aquela casa abandonada. Sinistro. Mas o que eu queria contar pra vocês é que o pirralho conversa com ela. Não acreditam? Pois é verdade. Lembram do celular do meu primo Jaime? Isso, aquele mesmo, o que se espatifou no jardim da casa do Pezão. Lembram? Acreditem ou não, o pirralho fez diversas adaptações com as peças do celular e de vez em quando ele consegue conversar com a defunta. Pra falar a verdade eu ainda não vi isso com meus próprios olhos, mas o maldito Pezão jura que já viu. Não só viu como pegou o celular e mandou a defunta tomar naquele lugar. Putz! E eu que pensei que ele ia perguntar a respeito da Dona Mirandinha... hehehe

Trrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrim!!!!!

Caralho, que susto! Este maldito telefone. Preciso comprar um mais moderno, este maldito "trrrrimmm" vai me matar do coração qualquer dia desses.

— Fala, Pezão do caralho!

— Hã?

Ops! Não é a voz do filho da puta.

— Perdão, quem é?

— Boa tarde, eu poderia falar com o Fernando?

— Fernando? 

— Sim, ele está?

— Ah, sim, sou eu. — caralho, ás vezes eu esqueço meu próprio nome. Ninguém me chama assim. Bom, só minha mãe, quando está muito P da vida comigo. — Quem é você?

— Meu nome é Tomaz Ferreira, eu faço parte da produção do programa Linha Direta, da Rede Globo. 

Como é que é? Eu ouvi direito? Rede Globo? Plim-Plim?

— Hã? Linha Direta? Não é aquele programa que passa toda quinta-feira após a Grande Família?

— Sim, Fernando, este mesmo. O senhor já o conhece então?

— Bom, mais ou menos, acho que só assisti uma vez. Mas por quê você ligou pra mim? Estou sendo acusado de alguma coisa? Olha, eu nunca matei ninguém, o máximo que eu fiz foi dar uns tapas numa pé-vermeio uma vez, mas foi ela que pediu. Sabe como é, pé-vermeio também tem fantasias sexuais. Acredite se quiser.

O homem começou a rir ao telefone.

— Não, Fernando, fique sossegado, não foi pra isso que eu liguei.

— Não estou entendendo nada. O que você quer comigo?

— Certo, vou ser o mais breve possível. Você era amigo do Chiquinho Vesgo, certo?

Caralho! Chiquinho Vesgo. Quanto tempo eu não ouvia este nome! Maldito Chico. Por onde será que este filho da mãe se meteu? Bom, deve estar bem longe, depois de tudo o que ele fez.

— Sim, pode-se dizer que éramos amigos.

— Você tem conhecimento de que ele esquartejou a ex-namorada, suas duas irmãs, uma prima e ainda degolou a mãe, certo? Suponho que você saiba da história toda.

— Sim, é claro que eu sei. A cidade inteira sabe. Eu não consigo acreditar nisso até hoje, o Chico era a pessoa mais calma que eu já conheci em toda a minha vida. O cara não era capaz de matar nem barata.

— Bom, não é isso que a história mostra. Segundo a perícia ele matou todas aquelas mulheres com altas doses de crueldade. Algo terrível.

— Eu sei. Com certeza ele tinha dupla personalidade.

— Provavelmente.

— Bom, mas e daí? O que eu tenho com isso?

— Nós vamos fazer um programa baseado nos assassinatos que ele cometeu.

— Sinistro! Quero dizer, interessante.

— Sim, também acho. Já fizemos toda a pesquisa necessária e o roteiro do programa já está quase pronto.

— Mas eu ainda não entendi o que EU tenho com isso. Vou ser entrevistado para contar como ele era pacato? Vou ficar com cara de idiota, não acha? Vão pensar que estou defendendo o filho da mãe. Acho melhor eu não...

— Não é nada disso. Eu liguei pra você porque fiz algumas entrevistas e me disseram que você o imitava perfeitamente, além de ser muito parecido com ele fisicamente.

— Bom, isso é verdade. Ele tinha uns tiques nervosos muito engraçados, e eu costumava imitá-lo, a galera morria de rir quando eu fazia isso. Eu nunca me achei parecido com ele, mas como o desgraçado sempre copiava meus cortes de cabelo, ás vezes nos confundiam.

— Fernando, eu liguei pra lhe pedir um auxílio. Eu gostaria que você desse algumas dicas para o ator que vai fazer o papel do Chiquinho Vesgo na gravação do programa.

— Eu?

— Sim, queremos que o personagem fique o mais autêntico possível. Isso será bom para ajudar na captura dele também. Disseram que suas imitações eram perfeitas.

— Não sei, acho que eram. O mais engraçado era quando ele ficava animado com alguma coisa, ele começava a bater com os dentes e fazia uma cara muito esquisita. Hilário. O Chico era uma figuraça.

— Eu imagino. Posso contar com sua colaboração?

— Não sei.

— É claro que você receberá um cachê do programa.

— Opa, demorou! Tô dentro. Quando começamos?