As Aventuras de Nando & Pezão

"Rock na Veia"

Capítulo 12 – Pet Sematary

Pezão caiu no choro.

— Eu sei! Eu sei!

Nunca vi o cara chorar tanto em toda a minha vida.

— Caralho, o que te aconteceu? Você comeu as salsichas e ????

— Foda, cara, foda!!! Nem te conto o que aconteceu, puta merda. Estou fodido. Se eu pego aquela biscatinha eu juro pra você que eu mato.

Caralho, o que será que aconteceu com o Pezão?

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Puta merda, que bosta. Justo hoje, dia da nossa primeira apresentação, Pezão está baqueadaço. Mas o pior de tudo é não saber o que realmente aconteceu. O maldito não quis contar o que houve. Deve ter sido algo bem sinistro, pois do jeito que ele estava ao telefone ... o pau dele deve ter se esfacelado ou desmilingüido ... ou coisa pior. Eu quero que o bilau dele se dane, o problema é que isso afetou psicologicamente o desgraçado, e isso não vai ser bom para a banda. Tudo bem que não tocamos porra nenhuma mesmo, mas... seria melhor se o Pezão estivesse num dia inspirado. Se é que existe dia assim, né?

Após o almoço a banda se reuniu mais uma vez na casa do Pezão. A tensão pairava no ar. Pezão estava bem deprê, parecia outra pessoa, seu olhar estava bem parecido com aquele olhar de peixe morto da menina bruxa, Samires. Estava mais do que evidente, algo sinistro aconteceu com ele. Ninguém tinha coragem de perguntar o que houve, talvez temendo uma reação explosiva. Mas eu não tenho medo de cara feia, foda-se, vou perguntar mais uma vez:

— O que te aconteceu, cara? Comeu cocô?

Pezão ergueu os olhos na minha direção, sua lentidão nos movimentos era tão grande que parecia estar em câmera-lenta. Seu olhar foi tão triste que me deu vontade de mandar ele tomar no cu e parar com aquela veadagem toda.

— Eu tô fodido!!! — respondeu ele, chorando.

— Puta merda, Pezão!!! Disso nós já sabemos!!! Basta olhar esta cara de bosta que você está fazendo!!! Mas nós queremos saber o que aconteceu!!!

— Eu não quero falar sobre isso.

— Porra, mas se você não contar nós não vamos poder lhe ajudar!

— Acho que ninguém poderá me ajudar.

Comecei a rir feito uma hiena com catapora colorida.

— Do que você está rindo, cara? — perguntou Grilo, olhando assustado.

— Nada não, viajei.

Bom, pra vocês eu conto. Quando Pezão disse "Ninguém poderá me ajudar" minha imaginação logo imaginou o Chapolim Colorado entrando pela janela dizendo ... "Não contavam com minha astúcia!!!". Hahaha... tudo bem, eu sei que viajei legal, mas eu não tenho culpa ... foi o que veio na minha cabeça naquele momento.

De repente Aneri entrou no quarto, toda gostosa. Puta merda, não sei o que esta garota tem que a cada dia que passa ela parece ficar mais linda. Hoje ela está toda de azul, blusinha azul piscina e uma calça jeans super apertada no corpo. Um tesão. Nossa, tem algo de diferente nela, já sei, o cabelo está preso. Tanto faz, está mais linda do que nunca.

— Nossa, o clima está carregado neste quarto! — disse ela, olhando para cada um de nós.

— O Pezão está nunca choradeira dos infernos hoje. — disse Grilo.

— Nossa, mas por quê?

— Vão tomar no cu, seus filhos da puta. — Resmungou Pezão. Putz! Até pra xingar o cara não está convencendo. Está feia a coisa.

— Oh, dó!!! — disse Aneri, fazendo biquinho. — Tá "neuvosinho" por quê? Conta pra mim o que aconteceu!

Maldito Pezão dos infernos. Fazendo esta cara de coitado o desgraçado vai acabar comendo a Aneri hoje. Filho da mãe sem-vergonha dos infernos!!!

— Eu vou me recuperar, só estou com dor de cabeça, é só isso.

— Tadinho. — disse Aneri.

— Pezão, não sei se você esqueceu, mas a nossa primeira apresentação é hoje! Você terá condições de tocar?

— Claro que vou.

— Não me convenceu.

— Não mesmo, você está podraço, cara. — disse Grilo.

Pezão fez uma cara de poucos amigos.

— Vão se foder, todos vocês.

Aneri sentou-se na cama e disse para Pezão:

— Exercício número cinco.

— Está falando comigo?

— Sim, seu bobo. Vamos, faça agora o exercício número cinco. Já esqueceu das nossas aulas?

— Claro que não, gata.

— Então senta a bunda aí e repita o exercício número cinco até eu mandar você parar.

— Por quê isso?

— Ora, vamos ver se você está em condições de tocar hoje à noite.

Caralho, fiquei excitado com a Aneri dando uma de mandona. Gostei! Já imaginou uma coisa dessas na cama??? Loucuuuuuuuura!

Pezão não fez uma cara muito animadora, mas obedeceu a loira. Bom, quem não obedeceria uma gata linda destas, né? Se ela me mandasse pular de uma ponte eu ... bom, eu não seria idiota de pular, mas para não desapontá-la eu iria, no mínimo, procurar uma.

— Vamos, é pra hoje!!! — Nossa, a loira é mandona mesmo!!! Hehehe... quem diria?

Pezão sentou-se atrás da bateria, pegou as baquetas, engoliu seco e ... acreditem se quiser ... caiu numa choradeira incrível. Parecia um bebezinho chorando pra receber sua mamadeira. Ficamos atônitos com aquela cena bizarra.

Aneri, comovida, correu até ele e o abraçou.

— O que foi? O que você tem? — repetia ela, sem parar.

Mas Pezão não respondia nada, só chorava e chorava. Puta merda, eu nunca pensei que ia dizer isso algum dia... mas vou ... "CADÊ AQUELE PEZÃO FILHO DA PUTA DE SEMPRE??? COMEU COCÔ???"

Pezão está fora. Continuamos não sabendo o que houve com o cara, só sabemos que ele está fora da nossa primeira apresentação. Mas não se preocupem, o show continua, sim, continua. Nem preciso dizer quem vai tocar no lugar dele, né? Sim, a Aneri!!! Olha que chique! A loira mais linda que eu já conheci vai tocar na nossa banda. E isso não é tudo, além de linda ela toca infinitamente melhor do que o Pezão, né? Na verdade ela será a única integrante da banda que realmente sabe tocar, pois o resto só finge que sabe, e eu finjo que canto. Só espero que o nosso público finja que está gostando também.

Para não termos surpresas desagradáveis nós fizemos um pequeno ensaio rápido. Tomei alguns gorós pra me aquecer e começamos arriscando algumas coisinhas. Detonautas. Meu, a loira toca pra caralho!!!! Acho que Pezão chorou ainda mais quando percebeu que perto da loira ele não passa de uma ameba com pauzinhos nas mãos. Aquilo sim é que é baterista!!! A loira arrepiou nas baquetas, saía até faísca da bateria. Estou começando a sentir ótimas vibrações pro nosso show de hoje à noite. Vou comer tanta pexeca depois da nossa apresentação que vou voltar com o pinto dolorido pra casa. Aaaaooooooo iiiiiiiiiiça!!! Red-Foot Hunters em ação!!! É nóis na fita!!!

E o mistério continua ... o que terá acontecido com o Pezão? Não tenho a menor idéia, só sei que o cara está na pior.

Tudo combinado pra hoje à noite. Grilo vai pegar a Kombi do seu pai emprestada para levar os instrumentos. Bruno vai com ele. No carro do Pezão vamos eu, Aneri e o próprio Pezão, é claro. Mas do jeito que o cara está zureta ... acho melhor eu dirigir. Melhor não arriscar. O filho da puta não está em condições de sair cantando pneus hoje não. Na verdade Pezão não está em condições pra nada hoje, o cara está baqueadaço. O pinto dele deve ter caído na privada, ou coisa pior.

Estou tentando me conter, mas estou super excitado pra esta noite. Isso é muito perigoso. Lembram-se do show do Rappa, né? Sim, claro que se lembram. Desgraça dos outros todo mundo lembra. Pimenta nos olhos dos outros é refresco, e quando arde é mais doce ainda. Seus filhos da puta. Pelo menos eu tenho coragem pra contar as coisas ruins que me acontecem ... hehehe ... E vocês estão aí, sentadinhos, bonitinhos, rindo da desgraça alheia. Mas saibam que a merda voa no ventilador de todo mundo, viu? Não é só comigo que acontece rebosteio não. Hoje você está rindo de mim, amanhã eu poderei estar rindo feito uma hiena ... de você.

Calma, não estou jogando praga!!! Não precisa ficar P da vida comigo, viu? Pensem assim, por mais fodidos que vocês estejam, pelo menos vocês não têm um amigo filho da puta como o Pezão. Se vocês soubessem o que ele aprontou comigo em Ubatuba vocês entenderiam do que estou falando. Nossa amizade quase foi pro saco depois daquilo. O filho da puta teve a moral de tentar comer a Polly, minha namorada naquela época, mas... continuamos amigos. Porra, acabei deixando escapar mais uma coisinha sobre Ubatuba, né? Que bosta. Ah, falando nisso, será que alguém tem o jornal que saiu a tal da matéria comigo e com o Pezão? Eu queria fazer um pedido... queimem!!! Por favor!!! Queimem!!!

A nossa apresentação será por volta das 11 horas da noite. Mas teremos de chegar mais cedo pra passar o som e tal. Estou um pouco preocupado, pois eu nunca cantei em cima de um palco antes, e não tenho a menor experiência com público. A minha sorte é que eu estarei bêbado mesmo, talvez nem me lembre direito. Dizem que para você encarar uma multidão de frente basta você imaginar que estão todos nus. Porra, isso eu não posso fazer de jeito nenhum, se eu fizer isso vou ficar de pau duro, né? Acho que não vai pegar muito bem se isso acontecer. Melhor deixar a ereção pra depois do show, porque eu quero pegar o maior número de fãs possível. Foda-se se for tudo pé-vermeio, hoje eu quero acabar com o meu estoque de camisinhas. Não quero nem saber. Eu só topei este negócio de banda pra eu poder catar as fãs mesmo, então ... vamos nessa!

Calma, Nando!!!!!! Não se empolgue demais, cara. Lembre-se do show do Rappa, lembre-se do show do Rappa!!! Merdas sempre acontecem quando a gente se empolga demais. Então vá com calma.

Ah, foda-se!!! Hoje vai ser o dia!!! Uhuuuuuuuuuuu!!! Aqui nasce uma lenda do rock, o Red-Foot Hunters, a pior banda de todos os tempos!!! Aaoooooo iiiiiiiça!!! Beleja???

Caralho, ainda são 3 horas da tarde. O que eu vou fazer com esta empolgação toda? Bom, eu sei um jeito bom pra dar uma aliviada ... hehehe ... Mas é melhor não, preciso guardar energias para as minhas futuras fãs, certo? Certo. Bom, o jeito é tirar um cochilo. Quem sabe eu não tenho um sonho erótico com a Aneri, né? Bem que eu poderia sonhar com ela chegando aqui em casa com aquela saia curtinha do outro dia ... Opa!!! Eu a jogaria na cama e arrancaria a calcinha dela em 2 segundos. Ai caramba... é melhor eu dormir mesmo, caso contrário eu vou acabar explodindo de tanta empolgação. To excitadooooooooooooooooo!!! Calma, Nando! Comeu cocô?

Preciso da minha cama. Será que se eu ficar repetindo o nome da Aneri até eu dormir eu consigo ter um sonho erótico com ela? Bom, não custa nada tentar, né? Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri! Aneri!

— Nandooooooooooooooooooooooooooooooo!!!

Caralho! Será que estou ficando louco ou eu ouvi alguém gritar o meu nome?

— Nandooooooooooooooooooooooooooooooo!!!

Puta merda, é o filho da puta do Pezão. Seus gritos vêm lá do portão de casa. O que será que ele quer? Caralho, será que Pezão esqueceu como se usa uma campainha???

Pulei da cama e fui ver o que o desgraçado pretende com toda esta gritaria.

— Que diabos você quer?

— Entra no carro. — O corsa do Pezão está parado em frente ao portão de casa.

— Eu não! Vou dar uma cochilada, preciso estar descansado pra hoje à noite.

— Descansar do que, Nando? Você é como eu, não faz porra nenhuma o dia todo!

Bom, isso é verdade. Meu cursinho está o maior relaxo, eu mais falto do que apareço por lá. Sinto falta da professora de Matemática, uma ruiva linda, coisa chique.

— Mas aonde você pretende me levar?

— Eu quero acertar as contas com a pentelha do caralho.

— Pentelha do caralho? Que eu saiba caralho não tem pentelho. Pentelho dá no saco e na região pubiana, mas...

— Entra logo no carro, porra!!!

— Por quê eu preciso ir junto? O rolo é entre vocês dois, eu não tenho nada com a história!

— Justamente por isso. Se eu for sozinho eu juro que mato aquela fedelha dos infernos.

— Mata! Estou cagando e andando.

— Porra, Nando! Entra logo no carro e larga mão de frescura! Prefere ficar em casa tocando punheta?

— Quem falou que eu ia tocar punheta?

E a discussão permaneceu por mais uns 10 minutos, até que eu acabei topando a parada. Aqui vamos nós. Meu, que bosta, faltam algumas horas para a noite mais incrível da minha vida e eu estou dentro de um carro procurando por uma menina com olho de peixe morto e que lava os cabelos com mijo. Só me faltava essa.

— Onde a pentelha mora? — perguntei, enquanto procuro algum CD bacana para tocar.

— Nem o babaca do meu irmão soube me explicar direito, mas a gente acha, nem que eu tenha de ir até a boca do inferno a gente acha esta fedelha dos infernos.

— Porra, Pezão, agora que não tem mais ninguém por perto, conta aí o que aconteceu! Você comeu as salsichas e ... ???

— Não vou contar, cara. Desta vez não vou contar pra ninguém.

— Conta aí, meu!

— Não adianta, cara, não vou contar. Só sei que o bagulho é foda. Eu nem sei o que vou fazer quando estiver frente a frente com aquela biscatinha, acho que vou pegar no pescocinho dela e apertar com tanta força que os olhos dela vão sair pra fora.

— Agora me diz uma coisa, como você sabe que a culpa é dela?

— Eu sei, Nando. Acredite em mim, eu sei. E tem mais, aquela biscatinha não é uma menina qualquer, tem algo muito cabuloso nela.

— Como assim? Cabuloso mesmo é aquele cabelão com cheiro de mijo de cachorro.

— Não sei como explicar, só sei que tem algo muito estranho naquela biscatinha.

— Bom, dá pra notar isso de longe, não precisa nem falar.

— Mas estou falando de coisa séria mesmo!

— Só falta você me dizer que ela é uma bruxa de verdade.

Pezão me olhou sério pra caralho. Comecei a rir.

— Ah, dá um tempo! Tudo bem que a mina é estranha pra caralho, mas bruxa? Não viaja, Pezão.

— Bom, isso nós vamos descobrir hoje então. Não volto pra casa enquanto ela não desfazer esta... macumba.

Puuuuuuuuuuta merda!!! Isso aqui está parecendo aqueles filmes B que passavam na TV Bandeirantes, tipo Cine Sinistro, lembram? Meu, era um pior do que o outro. Mas o pior de tudo não é isso, o pior de tudo é saber que o diretor de um daqueles filmes é hoje um dos caras mais poderosos de Hollywood, sim, Peter Jackson, o diretor de O Senhor dos Anéis. Duvidam? Pesquise os filmes do seu currículo e verá que ele fez alguns filmes B muito sinistros. Bom, todo mundo precisa começar de alguma forma, não é? Quem garante que daqui alguns anos eu e o Pezão não viramos estrelas de cinema? Hahaha.... já imaginaram? Tudo é possível. Eu e Pezão recebendo um Oscar, olha que irado.

Já faz mais de uma hora que estamos rodando e até agora nada. Já passamos por todos os bairros mais afastados da cidade. Puta merda, cada lugar mais sinistro do que o outro. Umas ruelas estranhas, com uma gente meio esquisita. Não estou gostando nada disso. Quando Pezão finalmente admitiu estar perdido ... paramos para pedir instruções. Uma gorda com um saco de batatas nas mãos parou para nos ajudar.

— A senhora sabe onde fica um bairro chamado Terra Preta? — perguntou Pezão.

A gorda arregalou os olhos, colocou o saco de batatas no chão, fez o sinal da cruz umas cinco vezes e disse:

— Credo em cruz, moço!!! O que ceis vão fazê neste lugar? — e fez o sinal da cruz novamente.

— Nada não, mas a senhora sabe onde fica?

— Não. — A gorda pegou o saco de batatas do chão e continuou seu caminho.

Pezão ficou puto. Virou pra mim e disse:

— Olha que gorda do caralho!!! Ela sabe onde fica, mas não quer contar.

— Vamos embora, cara, pelo jeito que a gorda se benzeu é porque o lugar não deve ser muito agradável. Larga mão.

— Está com medo do que, cara? Deve ser um lugarzinho dos infernos, cheio de gente fedorenta, mas foda-se. Não volto pra casa sem dar uma prensa naquela fedelha.

— Larga mão, ca...

Pezão pulou do carro e perseguiu a gorda. Tentei impedi-lo, mas já era tarde demais. Permaneci no carro, não quero me meter. Como a gorda não tem muita mobilidade ela não estava muito longe, portanto eu pude ouvir a discussão dos dois. Ela insiste em dizer que não sabe onde fica o tal bairro, mas Pezão insiste que ela sabe. O bate-boca levou uns bons cinco minutos, até que Pezão resolveu a parada, como sempre resolve, com grana. O playba meteu a mão no bolso e tirou a carteira pra fora. Não sei se foi exatamente isso, mas acho que ele tirou uns 200 Reais e "molhou" a mão da gorda das batatas. Com um puta sorriso nos lábios Pezão voltou pro carro.

— Todo mundo tem um preço. — disse ele, batendo a porta e com o sorriso ainda mais irônico. Acho que estou começando a sentir falta daquele Pezão bundão e chorão.

— Seu idiota, quem garante que ela ensinou o lugar de forma correta? Ela pode ter inventado tudo só pra pegar seu dinheiro.

— Foda-se, não dei dinheiro de verdade mesmo.

— O quê??? Como assim???

— Aquilo não é dinheiro de verdade, meu irmão fez no computador.

— Você é foda.

Começamos a rir feito hienas com ejaculação precoce.

— Semana passada o babaquinha tentou me enganar, fez um monte de notas falsas no computador e colocou algumas na minha carteira, só pra me sacanear. Bom, eu guardei porque talvez servissem para alguma coisa, e realmente serviram.

— Sacanagem!

— Sacanagem nada! Você precisava ver os olhos da gorda como brilharam! Eu acho que ela até pensou que eu sou filho do Silvio Santos.

Pouco a pouco o filho da puta está voltando a ser o filho da puta de sempre. Maldito Pezão dos infernos. Não adianta, uma vez Pezão ... sempre Pezão.

— Mas, afinal de contas, onde fica o tal lugar?

— Longe, mas foda-se, eu vou atrás dela, mesmo que o bairro seja na casa do caralho. Mas eu vou.

O pior de tudo é que eu vou ter de ir junto. Puuuta merda!

Já que não tem volta mesmo, o jeito é curtir o momento. Achei um CD dos Ramones no porta-cd's do Pezão ... uhuuuu ... Sonzera das antigas. Aumentei o volume até o máximo e apertei o play. Pet Sematary é a primeira música a tocar. Putz! Justo esta? Meu, muito siniiiiiiiiiiistro! Não estou gostando. Será um mau sinal? Como disse a gorda ... "credo em cruz!". Por via das dúvidas eu fiz o sinal da cruz umas três vezes. Não sei se funciona, mas acho que atrapalhar não atrapalha.

Mais de 30 minutos se passaram e até agora nada do tal bairro. Mas o pior de tudo eu não contei. Quando eu coloquei o CD dos Ramones eu apertei o botão pra tocar as músicas de forma aleatória. Vocês acreditam que durante estes 30 minutos a música Pet Sematary tocou umas 6 vezes? Meu, não estou gostando nada disso, o clima está pesando. O que era pra ter sido uma tarde de descanso ou sonhos eróticos com a Aneri está virando uma tarde de pesadelo com gordas burras carregando sacos de batatas.

— Acho que é aqui! — gritou Pezão, de repente. Nem preciso dizer que tomei um puta susto dos infernos, não é? Quase tive um treco.

— Vai tomar no seu cu, Pezão! Vai assustar sua mãe, porra!

— Minha mãe não se assusta nem com barata. A véia é forte pra caralho.

Passado o susto...

— O que te levou a crer que estamos no lugar certo? 

Pezão apontou para uma placa de madeira, escrito CEMITERIO. Sim, desta mesma forma, cemitério sem o acento. Pode parecer meio clichê de filme de terror, mas eu juro, senti um puta arrepio na espinha. Senti algo gelar dentro de mim. Senti também uma puta vontade de correr para um banheiro e fazer um castelo gigantesco. Estou com cagaço urgente. Não sei se tem algo a ver com a plaquinha do cemitério ou se foram os pastéis de carne que minha mãe fez na hora do almoço, eu só sei que preciso cagar urgente.

— A gorda falou que o lugar fica logo depois da placa do cemitério. Ela me avisou que era uma placa escrita à mão, justamente como aquela.

— Porra, mas a menina mora num lugar sinistro desses? Como foi que seu irmão a conheceu?

— Eu fiz esta pergunta pra ele. Sabe o que ele me respondeu?

— Não tenho a menor idéia.

— Ele disse que não se lembra do dia em que a conheceu.

— Ah, fala sério! Até parece. Eles começaram a namorar há tão pouco tempo, acho que não faz nem 2 meses!

— Com certeza. Mas pra falar a verdade ele até ficou impressionado com a pergunta, deu a impressão de que ele realmente não conseguia se lembrar. Cabuloso.

— Eu, hein! O bagulho está ficando cada vez mais sinistro.

— Quer saber de outra coisa sinistra que a gorda me falou?

— Porra, ainda tem mais?

— Sim, a gorda falou que este não é um cemitério comum.

Comecei a rir feito uma hiena com bronquite asmática.

— Do que você está rindo? — perguntou Pezão, meio assustado.

— Porra, só falta você me dizer que este é um cemitério de animais.

Pezão ficou branco.

— Ah, fala sério!!! — agora quem ficou branco fui eu.

— Como você sabe?

— Eu não sei de nada! Só falei isso por causa da música.

— Que música?

— Porra, Pezão! Pet Sematary! Pet Sematary!

— O que tem esta música?

— Você não sabe o que isso significa em português?

— Sei lá! "Pedro alguma coisa" ... sei lá! Não é isso?

— Claro que não, sua anta!!! Pet Sematary significa "Cemitério de Animais"!

— É mesmo? Caraaaaaaaaaaaaaalho!!! Puta merda!!!

— Isso aqui está cada vez pior.

Ficamos calados por alguns segundos.

De repente o silêncio foi quebrado por um estrondoso e detestável peido. Não consegui segurá-lo, saiu sem querer querendo.

— Porra, cara, vai tomar no seu cu!!!!!!!!!!! — Nem preciso dizer que Pezão ficou puto, né? Hahahaha..... — Meu carro não é lugar pra você cagar não, caralho!!!!

— Ah, dá um tempo!!! E você não peida?

— Enfia o dedo no cu e morre, Nando!!! Puta merda, tem um alien morto aí dentro, cara! Caralho! Nunca senti um cheiro tão horrível assim! Putz grila!

De repente Pezão parou de me xingar e arregalou os olhos na direção do cemitério. Pela cara que ele fez deve ser algo muito sinistro. Pra falar a verdade eu não sei se olho, estão acontecendo tantas coisas estranhas que eu estou ficando preocupado.

Pezão pulou pra fora do carro feito um louco. O que será que ele viu no cemitério?