As Aventuras de Nando & Pezão

"Rock na Veia"

Capítulo 8 – A Menina Bruxa

— Vamos quebrar tudo, galera! — gritou Grilo.

Todos olhamos para ele, rindo.

— O que foi? — ele ficou sem graça. — Foi só um grito de incentivo!

— Puta merda, isso aqui está mais pra Mamonas Assassinas. — disse Jaime.

— Bom, agora é pra valer. — disse Pezão, começando a bater as baquetas umas nas outras. — 1... 2... 3... e...

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Legião Urbana. Aposto que todos vocês conhecem, então cantem comigo.

Comecei:

— Quaaaaaaaaaando o soooool baaaaaaaater na janeeeeeeeela do teu....

— Pára tudo! Pára tudo! Pára tudo! — gritou Bruno. — Puta que o pariu! É este cara que vai ser o nosso vocalista?

Fiquei tão puto que eu quase arranquei meu tênis pra jogar no safado. Eu disse "tênis", tá? Não fiquei com tanta raiva assim, né?

— Sou eu mesmo, e daí?

— Puta merda, cara, onde você aprendeu a cantar deste jeito?

— Com a vaca da sua mãe, por quê?

O cara ficou puto e veio pra cima de mim. Desta vez ninguém conseguiu lhe segurar, e pra falar a verdade eu nem queria isso, eu estava mesmo a fim de briga. A mão do desgraçado passou próxima do meu rosto, mas eu desviei e lhe dei um soco no estômago. Bruno caiu feito um saco de batatas no chão. Neste momento senti Pezão e Grilo me segurarem pelos braços.

— Calma aí, cara! — repetia Grilo.

— Caralho, mas que bosta de banda. — disse Pezão.

— Homens. — disse Jaime, balançando a cabeça negativamente. — Não consigo entender vocês.

— CALA A BOCA, BICHA DOS INFERNOS!!!! — gritamos eu, Pezão e Grilo, juntos.

— Eu, hein! Pra que tanta violência? — Jaime aproximou-se de Bruno e ficou de joelhos. — Você está bem?

Bruno deu uma gemida meio esquisita e respondeu, olhando pra mim:

— Filho da puta, vai cantar mal assim lá na casa do caralho.

Desta vez eu não fiquei bravo, acabei rindo da situação. Na verdade todos nós rimos. Afinal de contas, pensando bem, ele não mentiu. Eu realmente não sei cantar porra nenhuma. Só sei cantar mulher... e de uns tempos pra cá... nem isso estou fazendo direito.

Ofereci a minha mão para o cara se levantar. Ele não me olhou com bons olhos, mas acabou aceitando. Não, não o abracei. Sai fora! Não tenho nada contra, mas isso aqui não é novela das seis, né?

Pezão deixou o quarto tão rápido que eu só percebi agora.

— Cadê o Pezão? — perguntei.

— Sei lá, disse que ia pegar alguma coisa lá na cozinha.

— Foi nada. Quando ele some assim é porque foi bater um barro. Conheço o figura.

— Primo, você não canta daquele jeito, canta? — perguntou-me Jaime.

— Canto.

— Então tchau, pardal.

— Que pardal? — perguntou Grilo.

— Esquece. — primo Jaime saiu balançando a cabeça e sentou-se na cama.

Pezão voltou para o quarto com 2 garrafas de cerveja e 1 copo. Estranho.. 1 copo?

— Aêeeeeeeeeee, grande Pé! — disse o Grilo. — Agora sim! Cerva!

Pezão olhou feio para ele, dizendo:

— Se liga, porra! A cerveja é para o Nando!

— Hã? — até eu me espantei. — Como é que é?

— Caralho, Nando, esqueceu?

— Do quê?

— Esqueceu que você só canta bem quando está chapado?

— Como é que é? — perguntou Bruno.

— Este merda aí só sabe cantar quando está pra lá da casa do caralho.

— Pezão. — eu o chamei.

— O que é?

— Enfia o dedão no cu e morre!!!

Pezão nem me deu atenção, estava abrindo uma das garrafas. Não vou falar a marca porque não vou ganhar 1 centavo mesmo, então fiquem na curiosidade aí. Só sei que, pelas gotinhas escorrendo, está geladíssima! Uhuuuuuuuuuu!!! Já estou no lucro. Mesmo que o ensaio seja uma bosta eu vou tomar umas geladas na faixa! hahaha....

Pezão encheu o copo e me ofereceu.

— Anda logo, não temos o dia todo!

— Porra, espera aí! Eu vou tomar sozinho? Sacanagem, oferece pra galera também.

— Depois eu pego mais. Agora toma!

Bom, nunca recusei cerveja na minha vida, não seria agora que eu ia começar, né? hehehe.... Peguei o copo e senti até os ossinhos da minha mão gelarem. A cerva estava realmente gelada, coisa de louco. Virei o copo na boca e tomei num gole só. Maravilha.

— Caralho, vocês vão ficar olhando pra mim? Perde até a graça.

— Pensando melhor eu acho que seria mais aconselhável algo mais forte, algo pra fazer você chapar mais rápido.

Puta merda, tantas vezes para o Pezão usar o minúsculo cérebro que ele tem... e ele resolve usar justo agora. Que merda.

— Não precisa, Pezão, passa esta segunda garrafa que eu juro chapar rapidinho.

— Vai nada! Parece até que eu não lhe conheço, caralho. Espera aí, eu já volto.

Quando Pezão deixou o quarto todo mundo avançou na segunda garrafa, até o primo Jaime.

— Caralho, primo! Você também chapa o globo?

— Também sou filho de Deus!

— Filho ou FILHA de Deus?

— Nando.

— O quê?

— Enfia o dedo no cu e morre!!!

— Vai tomar no seu cu, primo! Quem fala isso sou eu, nem vem!

Puta merda, viu? O clima está foda aqui neste quarto. Estão vendo a falta que faz uma mulher? Principalmente uma mulher gostosa como a Aneri, né? Eita bicho bão. Se Deus criou alguma coisa melhor... guardou pra ele, com cerveja. Será que tem rodinha de pagode no céu? Putz! Tomara que não. Tomara que tenha só a rodinha.... hehehe.

Minutos depois Pezão voltou com um copo cheio de um líquido branco.

— Caralho, Pezão! Que porra é esta?

Antes que Pezão respondesse, Grilo disse:

— Porra não pode ser. Nem que o Pezão ficasse 5 anos batendo punheta no copo.

Ninguém riu da piada, é claro. Só o próprio Grilo. Maldito Grilo dos infernos, tinha que ser irmão do Mamute mesmo.

— Eu não queria mostrar isso ainda, — disse Pezão — pois o mundo ainda não está preparado. Bom, foda-se, um dia isso iria acontecer mesmo.

— Mas do que você está falando? Comeu cocô? Cheirou bosta? Que papo é este de que o mundo não está preparado?

Pezão segurou o copo como se estivesse segurando o Cálice Sagrado. Mas pra mim continuava sendo apenas um copo com um negócio branco meio suspeito.

— Galera, eu lhes apresento a batida Pezão.

Todos caímos na gargalhada, parecíamos hienas com prisão de ventre.

— Batida Pezão? Puta merda!!! E quem é que vai querer tomar isso?

— Você, Nando.

Ah, mas nem morto!!! hahaha ... O negócio parece.... bem, vocês sabem.... branco... putz!!! Que nojo!!!

— Vá sonhando, Pezão. Não tomo isso aí de jeito algum. Nem a pau, Juvenal.

— Por quê não? Não tem nada de errado com a minha batida, caralho!

— Claro que tem! Foi você quem fez, só por isso já me dá arrepio na espinha.

— Vai tomar no seu cu. Se tivesse algum engrediente duvidoso eu faria isso aqui? — Pezão tomou o conteúdo do copo num gole só. Senti uma certa ânsia de vômito. Afinal de contas o negócio parecia... você sabe.

Bom, Pezão não fez nenhuma careta ao tomar o bagulho. Muito pelo contrário, fez até cara de gozo. Ah, sei lá, mas eu ainda continuo com nojo da bagaça.

— Caralho, o negócio é bom demais! — disse Pezão, lambendo os beiços chapiscados com o líquido branco do copo. — Eu vou ficar rico com isso aqui.

— Sinto muito, cara, mas eu não vou tomar isso aí não.

— Porra, Nando!!!

— Justamente por isso. — eu caí na gargalhada, sozinho. Acho que só eu entendi a piada.

— Eu estou falando, o bagulho é do bom. Você sabe que a minha mãe tem um puta estoque de bebidas importadas aqui em casa. A batida Pezão é uma mistura de algumas delas com alguns ingredientes secretos.

— Este é o meu medo.

— Vai se foder, cara. Quando eu digo secreto eu não quis dizer sacanagem não. São secretos apenas porque eu ainda vou patentear esta porra.

— Ahá! Está vendo? Acabou de se entregar.

— Estou falando sério, cara. Não tem nada de bizarro na batida Pezão. Pode confiar. Eu só lhe digo uma coisa, o bagulho chapa mesmo. Tomei só um copinho e já estou vendo coisas. Estou vendo até uma bruxa atrás de você.

— Ah, fala sério.

Todos olharam pra mim, assustados. Na verdade não olhavam pra mim, mas para alguma coisa atrás de mim. Virei-me de costas e...

— Puuuuuuuuuuuuuuuta merda!!! Sai de mim, satanás!!!

A menina ficou olhando pra mim totalmente indiferente.

— Ah, não é uma bruxa, — disse Pezão. — é a Samyres.

Samyres? Que Samyres? Ah, espera aí, é esta a namorada do pirralho metido a Bill Gates? Putz grila, se eu descrever pra vocês o naipe da menina vocês não vão acreditar em mim. A menina deve ter uns 14 ou 15 anos, é branca feito um papel sulfite, usa umas lentes de contato de cor roxa, tem cabelos tão compridos que ultrapassam a cintura. Está toda de preto, usando uma camiseta do Motorhead. Bom, apesar de muito esquisita, olhando bem pra ela ... até que é bonita. É estranha pra caralho, mas é bonitinha.

— Desculpa pela brincadeira. — eu disse, olhando seus olhos roxos.

Ela continuou me olhando com indiferença, como se nada tivesse acontecido. Após alguns segundos ela finalmente disse algo:

— Firmão. Sem casca.

Sem casca? Mas que porra de língua esta menina fala?

— Perdão, não entendi.

O pirralho entrou no quarto, todo posudo. Abraçou a menina bruxa. Maldito pirralho, o garoto está ficando sem-vergonha igual a gente? hahaha... Fodeu.

— Sem casca quer dizer "sem problema". — ela respondeu, com um ar de indiferença tão grande. Puta merda, será que ela está viva? Pela cor da pele não dá pra saber, a mina é tão branca que mais um pouco fica invisível.

Pezão passou por mim, dizendo:

— Vou fazer mais um pouco da batida. Você vai ver como isso aqui chapa, cara.

— Eu não vou tomar isso aí, Pezão. Nem vem que não tem.

— Fica frio, vou fazer um pouco e você experimenta. Você vai ver, cara, o negócio é tão bom que eu vou ficar rico. Vai por mim.

— E tem mais, você sabe muito bem que sempre toma no cu quando pega as bebidas da sua mãe. 

— Ah, ela nem vai perceber. Tem um monte mesmo. A velha está ficando cachaceira.

— É a falta de homem. — sussurrei.

— O que você disse?

Putz! O que deu no Pezão hoje? Oferece cerveja. Cria batidas. E agora tem super audição? Caralho! Que porra de Pezão é este? Cadê aquele Pezão que oferece cachorro morto pra mendigo fazer churrasquinho?

— Queremos ficar pra ver o ensaio da banda, podemos? — perguntou o piralho.

— Ah, fica aí, mas eu já vou logo avisando, vocês estão prestes a ver a pior banda de todos os tempos.

— Vocês tocam pagode? — perguntou a menina bruxa, com o mesmo olhar de peixe morto de sempre. Estou começando a desconfiar que esta menina está morta. Tipo aquelas histórias em que o cara conhece uma garota, come o cu dela e no dia seguinte descobre que ela estava morta há 20 anos. O pirralho que se cuide.

— Pagode? Enfia o dedo no cu e morre.

Acreditam que a menina nem piscou quando eu disse isso? Eu, hein!

— Firmão. Então não pode ser tão zureba.

Caralho, a mina além de estranha ... fala em outra língua. Sorte que o pirralho também é meio esquisitão, então os dois se completam.

— Zuré o quê? — perguntou Jaime.

— Zureba. — respondeu o pirralho. — Significa coisa ruim.

— Entendi.

Olhei para o Jaime, ele fez aquele famoso sinal, girando o dedo indicador ao redor do ouvido. Concordo com ele, a mina é meio pinel.

— Não cantamos pagode, mas também somos ruins pra caralho.

— Ela só curte metal. — disse o pirralho, sentando-se na cama com a namorada, ficando ao lado do Jaime. Meu primo não tirava os olhos dos longos cabelos negros da menina. Não dou nem 2 minutos pra ele perguntar qual o condicionador ela usa. 

— Metaleira então? Olhando pra ela ninguém perceberia.

Jaime e o pirralho acharam graça. A menina não. Bom, não sei se achou, ela não tem expressão facial. Se você mandar ela tomar no cu ou mandar ela tomar café a reação será a mesma. Só uma coisa me deixou encantado por ela, o olhar. As lentes de contato roxas que ela usa são estaile pra caralho.

— Muito legais suas lentes de contato.

— Não são lentes de contato. — ela respondeu, pausadamente.

— Ah, fala sério.

— É verdade, cara, — disse o pirralho. — não são lentes. Sinistro, né?

— Malévolos. — disse Jaime, quase comendo os cabelos da menina com os olhos. — Você tem cabelos maravilhosos, garota. O que você usa?

Ahá! Eu não disse? Quando alguém olha pro seu cabelo desta forma é porque adorou ou achou cocô de passarinho.

A menina virou-se para o Jaime com aquele olhar frio de sempre e respondeu:

— É mijo.

Jaime quase teve um faniquito. Pulou da cama com os dedos no nariz.

— Credo!!! É sério?

Claro que não, bicha burra do caralho. A menina fantasma deve estar apenas brincando com vo.....

— É verdade, — disse a menina. — é mijo, mas com açúcar e um pouquinho de água pra tirar o cheiro ruim.

Puuuuuuuuuuuuuuuuuuta merda!!! Quase vomitei toda a cerveja. Fala sério!

Primo Jaime manteve distância da menina, não voltou pra cama.

Pezão voltou com um copo de liquidificador cheio da tal batida especial. Mas estava vermelha desta vez, parecia vitamina de morango.

— Misturei um pouco de acerola pra dar uma cor. — disse Pezão. — E o pior é que ficou ainda mais gostoso. Puta merda, vou ficar rico.

— Pezão, você já é rico, seu bosta.

— Caralho, é verdade. Ah, vou ficar MAIS rico então.

Deu vontade de mandar ele enfiar o dedo no cu e morrer, mas já falei isso muitas vezes hoje, assim acaba perdendo a graça. Desta vez passa.

Pezão encheu um copo e me entregou, dizendo:

— Sem sacanagem, cara, pode tomar. A banda precisa de você bêbado, senão você não canta porra nenhuma.

Puta merda. E agora? Vermelho até que não ficou tão nojento. Mas continua sendo uma bebida preparada pelo cara mais nóia que eu já conheci, não é? Responda-me com sinceridade, você beberia? Não sei se foi o efeito da cerveja ou não, só sei que experimentei a tal da batida.

Caraaaaaaaaaaaaaaalho!!!! Puuuuuuuuuuuuuuuuta que o pariu! O negócio desceu que desceu legal. Não dá pra explicar qual é o sabor, é uma mistura de Fanta laranja com vodka e um pouco de Coca-Cola. Sei lá! Mas o pior é que é bom. Acho que o Pezão finalmente conseguiu fazer alguma coisa que preste. O primeiro copo eu estranhei um pouco, acho que era o medo de estar tomando uma poção mágica do capeta, mas no terceiro gole eu já estava até vendo dobrado.

Depois de tomar meu quinto copo resolvemos fazer um teste. Todos ficaram a seus postos e.... com o bater das baquetas Pezão anunciou.... 3 ... 2 ... 1 ... vai!

Eu fui...

"Quando o sol bater na janela do teu quarto

Lembra e vê que o caminho é um só

Porque esperar se podemos começar tudo de novo, agora mesmo?

A humanidade é desumana, mas ainda temos chance

O sol nasce pra todos, só não sabe quem não quer"

Puuuuuuuta merda!!!! Galera, nem eu acreditei. Eu sei cantar!!! Ou não sei? Sei lá, estou tão bêbado feito uma vaca com gonorréia. Vaca com gonorréia? Do que estou falando? Puta merda, to chapado.

Chapado, mas cantando pra caralho!!!

Ei, mas espera aí, eu estou vendo a menina do filme "O Chamado" na platéia!!! Não, tem duas!!! Siniiiiistro!