As Aventuras de Nando & Pezão

“Me Perdoa, Margareth”

Capítulo 8 - Um Problemão

Eu sei que a curiosidade matou o gato, mas não resisti, fiquei ali parado diante da porta, tentando descobrir se o gordinho peçonhento estava perdendo o cabaço com a Bel ou se a voz feminina vinha de alguma boneca inflável de última geração, do tipo que geme.

Mas parece que é mesmo a Bel.

O que deu nela? Comeu cocô? Será que compraram alucinógeno no supermercado?  Misturaram Nutella com maconha?

Calma aí, esperem um pouco … o chá. Sim, o chá! O chá que a Henrietta fez para ela. É isso! Só pode ser.  A bebida não resolveu o problema da gula, mas curou a chatice da Bel e despertou uma paixonite pelo filhinho gorducho e virgem da bruxa.

Meu, alguém aí, me ajuda! Estou viajando na maionese? Será que isso faz algum sentido ou estou forçando a amizade?

Não, não estou. Tudo se encaixa.

Quando o gordinho contou para a mamãe que estava apaixonado pela Bel, Henrietta respondeu “eu sei”. Ela já sabia, tanto quanto já sabia que Bel não era a minha namorada. Tudo bem, Henrietta fez tudo isso pelo filho, ela apenas deu um empurrãozinho na vida sexual do garoto. Se eu pudesse faria o mesmo pelo meu filho.

Alguém acendeu a luz do corredor. E eu aqui só de cueca. Será a Henrietta?

— Nando??? — disse uma voz lá no começo do corredor. Margareth.

— Que susto! — falei, realmente apavorado, e sem ação alguma. Fui “pego de calça curta”, literalmente.

— O que você está fazendo aqui só de cueca?

— Como é que é? — disse Pezão surpreso. Ele não tinha me visto, até agora. Ele gargalhou alto. — Errou a porta do banheiro, filhão?

Juro, não consegui pensar em nada para responder. Fiquei travado.

— O que fazia no quarto do Tim? — disse Margareth franzindo a testa.

— O quê? — respondi tão rápido quanto uma bala. — Não! Eu não estava no quarto do seu primo.

— Comeu o rabo do moleque, Nando? — disse Pezão, rindo feito uma hiena curada de cataratas.

— Enfia o dedo no teu cu e assovia o hino da China em mandarim — falei.

— E o que você faz aí parado na frente do quarto dele só e cueca? — insistiu Margareth, agora vindo na minha direção. Pezão veio junto.

Pouco mais de 1 metro atrás deles vi um braço despejando todas as minhas roupas no corredor. Henrietta, é claro. Pezão e Margareth nem perceberam.

— Querem saber? — falei injuriado. — Errei mesmo a porta do banheiro, e daí?

E caminhei tranquilamente até as minhas peças de roupa jogadas no chão, logo atrás deles.

Margareth ficou me olhando. Será que ela percebeu que as roupas não estavam ali segundos atrás? O olhar dela diz que ela ficou, no mínimo, intrigada.

— Você tira a camisa e as meias para mijar? — perguntou ela.

— Eu ia tomar um banho quente. Porra, que interrogatório é esse? Está me estranhando, Margareth? Seu primo é um “gordinho gostoso”, mas não faz o meu tipo.

Ela riu.

De repente Tim e Bel saem do quarto abraçadinhos, suados, descabelados e com umas manchas marrons (pode ser Nutella, ou não, eca!). O sorriso de orelha a orelha na cara do gordo não nega, eles estavam mesmo brincando de “meu-pipi-no-seu-popô”.

— O que é isso? — disse Margareth incrédula. E olhou para mim. — Não creio … vocês estavam … Ménage à trois?

— Não, nada a ver! — respondi rapidamente. Se fosse a Margareth no lugar do gordo, até que não seria uma má ideia.

Margareth ficou olhando para o casal. Tim estava todo faceiro, beijou (o nariz?) da Bel, todo desajeitado e disse:

— Nós fornicamos. De verdade. Eu. Ela. Nós dois. Com Nutella. Foi …

— ACACHAPANTE — dissemos eu, Pezão e Margareth juntos.

Todos rimos.

Margareth franziu a testa e olhou para mim novamente.

— Está tudo bem — falei. — Nós terminamos, então ela dá para quem quiser.

— Nossa, quanta delicadeza! — disse Bel me olhando furiosa. — Não entendo o porquê desse alvoroço todo. Pintou um clima entre nós dois e rolou, só isso.

— Nós ficamos fora algumas horinhas e o mundo virou de pernas para o ar? — disse Margareth coçando a cabeça, estava mais perdida que cachorro em tiroteio.

— Finalmente molhou o biscoitinho, hein, gordo! — disse Pezão com uma cara bem sacana, dando tapinhas no braço dele. — Cachorrão! Tá mais ligeiro que o Nando.

Mostrei aquele dedo para o Pezão.

Tim não disse nada, apenas sorriu de orelha a orelha, de mãos dadas com o seu amor, fruto de um feitiço muito bem feito. Agora ele ficou olhando para mim, eu estava terminando de subir o zíper da calça.

— Errei a porta do banheiro — expliquei. — Acontece nas melhores famílias.

Tim nem deu bola para mim. E você daria? Porra, o gorducho acabou de comer a gostosa da Bel, até eu ficaria nas nuvens.

Resumo da história: Pezão comeu a Margareth; Tim comeu a Bel; eu comi uma bela macarronada. Que faaaaaaaase, hein!

— Cadê a tia? — perguntou Margareth.

Deve estar puta da vida. Chupei, mordi, dedei, massageei, deixei a mulher em ponto de bala, e não comi.

— Mamãe não estava se sentindo muito bem — explicou Tim. — , está deitada no quarto dela.

— Deitada? — disse Margareth surpresa. Aí ela olhou para mim. E olhou para a porta do quarto da tia, bem próximo de nós. E olhou para mim outra vez  — Deitada, sei.

Margareth sacou, ela é ninja. E deve conhecer muito bem a tia que tem, né?

— Agora vocês me dão licença — disse Tim. — , nós vamos comer alguma coisa. Fornicar dá fome.

— Primo, até respirar te dá fome — disse Margareth.

Nós rimos.

Tim e Bel foram para a cozinha, ainda de mãos dadas. Que fofo! Que nojo!

Pezão chegou perto do meu ouvido e disse:

— Vamos embora ainda hoje.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Margareth disse nervosa:

— Embora o caramba! E se você for, não precisa voltar nunca mais.

Pezão ficou puto, fez uma careta tão feia que assustaria até uma criança dormindo.

— Eu não quero ir, mas eu preciso! — disse ele, quase gritando.

— Mas o que é assim tão importante que não dá para esperar até amanhã?

— É um negócio lá da minha mãe que eu me esqueci de fazer — explicou ele. — Ma, é sério, se eu não resolver isso amanhã cedinho ela me mata, ou pior, me deserta.

— Deserda — corrigi.

— Tanto faz — resmungou Pezão.

Margareth ficou olhando para ele com os olhos semicerrados.

— Eu prometo que resolvo isso e volto pra cá amanhã mesmo — disse Pezão, ele parecia sincero. — Eu juro pela minha mãe.

Margareth olhou para mim. Seu olhar de fogo quase me cegou.

— É mentira dele, não é? — disse ela.

Sem dúvida alguma. O tal “problemão” é outra coisa, só não faço ideia do que seja.

— Ele está dizendo a verdade — falei. — Vou ser bem sincero, não sei do que se trata, mas sei quando ele está falando a verdade, e ele está. Pode acreditar.

— Você sabe que ele pisou na bola, e feio dessa vez. Ainda estou magoada. Não pense que não estou, porque estou. Certas feridas demoram para cicatrizar.

— Acho que ele aprendeu a lição — falei. — Nunca vi o desgraçado tão arrependido em toda a minha vida.

Pezão olhou para mim com gratidão, algo que eu nunca vi também.

— Onde você estava, Nando? — perguntou Margareth. — Eu fico tão mais tranquila quando vocês estão juntos.

Não entendo o porquê, já aprontamos tanta coisa, não é?

— Agora eu trabalho, nem sempre tenho as noites livres — expliquei.

— Entendo.

Ficamos em silêncio, parados no corredor. Margareth e Pezão não pareciam um casal que acabou de sair do motel, pareciam ter saído de um funeral.

— É loucura pegar a estrada agora — disse Margareth. — Você não está em condições de dirigir.

— Não se preocupe — disse Pezão desanimado. — , a estrada está vazia, vai dar tudo certo. Eu não queria, mas infelizmente preciso ir. Você conhece a minha mãe. Se eu não ...

— De novo sua mãe? — Margareth perdeu a paciência. — Se vão embora, vão logo então! Não aguento mais esta explicação que não explica nada!

Pezão tentou um beijo, mas a namorada afastou o rosto. Tenso.

— Vamos — disse Pezão para mim.

— E o que fazemos com a garota-biscoito?

— Quem? — disse Margareth.

— A Bel.

— Ah, entendi. Mirabel. Biscoito. Essa foi boa. Você não tem sorte mesmo com garotas, hein! É cada uma que você arranja, Nando! A Poly já era mesmo? Eu achei que vocês fossem noivar e casar algum dia.

— Pois é, eu também pensei, mas a vida não é como a gente imagina, né?

— Com certeza não é.

Pezão foi até o fim do corredor, parou na porta da cozinha e disse em voz alta:

— Estamos indo embora. Você vem ou vai ficar com o bonequinho Lego do Faustão?

— Como assim indo embora? — respondeu ela. — Embora pra onde?

— Pra casa, porra!

— Mas, mas … mas como assim? Agora?

— Pra ontem! Você vem com a gente ou não? Não vou perguntar outra vez.

Silêncio. Ela não respondeu. Pezão deu as costas para a cozinha e voltou pisando duro.

— Vou dar só uma mijada e já vamos — disse ele para mim.

— Beleja — respondi.

Olhei no relógio do celular, são 1h35 da madruga. Estou muito curioso para saber o que aconteceu para obrigar o Pezão a voltar para casa a essa hora. A merda foi das grandes.

Margareth e eu esperamos por ele na sala. Ela não parava de esfregar as mãos, parecia muito preocupada. Ela gosta mesmo dele, sem dúvida.

— Vamos revezando até lá — falei, tentando acalmá-la.

— Grande coisa! Você também deve estar cansado.

— De boa, mas você teria um pouco de café?

— Não tomamos café, só chá.

Chá? Não, obrigado!

Pezão saiu do banheiro.

— Vamos? — disse ele pilhado. Não sei se estava mesmo pilhado ou se tentava demonstrar que estava bem acordado para enfrentar a longa jornada pela frente.

— Vamos — respondi. E dei uma última olhada naquele sofá onde eu catei a tia da Margareth. Lembrei da Henrietta só de babydoll deslizando seu corpo em direção ao meu, toda apetitosa.  Eu queria tanto me despedir corretamente dela, mas acho que não vai dar tempo. Espero voltar algum dia para terminar o que começamos, foi muito bom.

— Eu queria tanto ir com vocês — disse Margareth bem chateada. — , mas amanhã bem cedo tenho uma entrevista de emprego. E faz muito tempo que estou esperando por esta oportunidade.

— Fica, meu amor — disse Pezão pegando nas mãos dela. — Amanhã mesmo eu estarei de volta, prometo.

— Promete mesmo?

— Prometo.

Enfim Pezão conseguiu beijá-la. Que fofo! Que nojo!


E nós partimos, queimando os pneus pela milésima vez.

Pensei que a Bel fosse mudar de ideia no último segundo e vir atrás de nós, mas isso não aconteceu. Lá no fundo vou sentir falta dela na viagem. Não daquela Bel mala-sem-alça, mas da Bel original, divertida e, acima de tudo, gostosa.

— O que eu falo para os avós da Bel se eles encontrarem na rua? — perguntei.

— Antes de mais nada manda o velho tomar no cu. E avisa aquele paspalhão que vou querer o meu dinheiro de volta. E diz a verdade, porra! Diz que ela veio até aqui e se apaixonou por um saco de banhas que não tem nem pentelhos no saco, e que os dois vão se casar e gerar os filhos mais esquisitões que já nasceram na face da Terra.

Por que eu fui perguntar, né?

Atravessamos em total silêncio toda zona urbana da cidade, que mais parecia uma cidade fantasma, diga-se de passagem. Não havia uma alma sequer pelas ruas, nada.

Éramos só Nando e Pezão outra vez, como nos velhos tempos.

E nosso amigo não parava de bufar, estava puto pra cacete.

— Vai me explicar o que aconteceu ou não? — falei, quebrando aquele maldito silêncio ensurdecedor, se é que isso realmente existe. — Desembucha, cara!

Pezão respirou fundo.

— Eu mato aquela piranha! — disse ele, cuspindo fogo no volante.

— A Bel?

— Não, aquela maldita biscate da padaria.

— Quem? Ah, aquela da foto com a língua na tua orelha?

— Ahã, essa aí. Aquela piranha!

— Mas você e a Margareth já fizeram as pazes, não fizeram?

— Sim, estamos de boa outra vez.

— Então larga mão. Por que estamos voltando para casa?

— Por causa disso — ele tirou o celular do bolso e começou a fuçar.

O carro começou a perder o rumo da estrada.

— Meu, olha para frente! — gritei. — Quer nos matar?

Ele me entregou o aparelho. Havia pelo menos uma dúzia de selfies da morena da padaria com ele, nus, numa cama redonda de motel. Detalhe: Pezão estava com os olhos fechados em todas as fotos. Muito bizarro, ele parecia um morto.

— Caralho, Pezão!!! — falei, incrédulo. — Será que ela te drogou?

— Sei lá! Eu me lembro de ter bebido muito naquela noite. Como eu já disse, nem me lembro de ter trepado com ela. A piranha fez estas fotos com o celular dela quando eu apaguei.

— E agora?

— E agora a filha da puta quer o meu iPhone.

— Como assim?

— Ontem, quando a Margareth foi tomar banho recebi uma ligação da piranha. Ela me disse que tinha algumas fotos nossas comprometedoras, e que enviaria estas fotos para a minha namorada.

— Filha da puta!

— Vai vendo … Ela disse que só não faria isso em troca de uma coisa.

— Seu iPhone.

— Exato, a piranha quer o meu celular.

— Até eu que sou mais bobo.

— Na hora eu achei que era brincadeira e desliguei o celular na cara dela. Menos de 1 minuto depois ela me enviou estas fotos pelo WhatsApp. E o pior, a vagabunda sabe o nome da Margareth! Como ela sabe? Sabe até o número do celular da Ma! Aí me fode.

— Você estava muito chapado, né? Deve ter contado tudo isso para a biscate.

— Verdade, pode ser. Não me lembro de quase nada daquela noite.

Pezão estava tremendo de nervoso.

— Fica sossegado, a gente dá um jeito — falei.

— Vou dar a porra do celular para ela e acabar logo com isso.

— Faz isso não, cara!

— A piranha vai mandar as fotos para a Margareth, aí será o fim, vou perdê-la para sempre.

— Você ama a Margareth, não é?

— O quê? Não, ah, sei lá! Eu não entendo dessas porras aí não, mas eu gosto dela pra caralho.

— Você é um cara de muita sorte. Precisava ver como ela estava preocupada com a nossa viagem. A Margareth te ama, Pezão.

— Você acha mesmo? — ele olhou para mim com atenção.

— Não acho, tenho certeza.

Pezão abriu um sorriso tímido.

Puta merda, isso aqui tá mais pra porra da Malhação do que para Nando e Pezão. Que melação-de-cueca do caralho! Aproveitei que o meu pen drive ainda está espetado no som do carro e coloquei a minha música favorita do Black Sabbath: Iron Man.

O clima mudou imediatamente.

— A primeira medida a se tomar é deletar estas fotos nojentas aqui — falei, balançando a cabeça para frente e para trás no ritmo da música. — Você está parecendo aquele cara do filme “Um Morto Muito Louco”.

E caí na gargalhada, Pezão não gostou muito da piada.

Meu, que fotos ridículas! A biscate fazendo biquinho em algumas e carinha de safada em outras; Pezão com cara de defunto, com baba escorrendo pelos cantos da boca. Se extorquir o Pezão não der certo, ela pode vender as fotos para alguma revista de contos de horror, dá para faturar uma boa grana.

— Eu não sei como vou reagir quando ficar cara a cara com aquela piranha — disse Pezão, do nada. — Acho que eu vou agarrar aquele pescoço e enforcá-la.

— Aí você vai preso. Não queremos isso. Lembra de Ubatuba, né?

— Lógico que eu me lembro, porra.

— Você não vai matar ninguém.

— Pelo menos um soco naquela cara-de-pau!

— Calma, Pezão, bater em mulher? Você não é disso, cara.

— Eu peço para minha irmã então.

— Quer meter a sua irmã na confusão, tem certeza disso?

— Verdade, é uma péssima ideia, ela contaria tudo para a minha mãe.

— Lógico que contaria! Você quer a sua mãe metida nisso?

Pezão olhou para mim com os olhos arregalados.

— Nem fodendo! Vira esta boca pra lá!

— Então deixa comigo, eu tenho um plano.

— Plano, que plano?

Eu tive uma ideia … acachapante (O gordo é peçonhento, mas estou sentindo a falta dele. A viagem seria mais divertida com ele ali no banco de trás. Ou não! Ele e a Bel “fornicando” não seria uma imagem muito agradável).

— Calma — respondi. — , nós temos toda a viagem pela frente, eu te conto.