“O Pai da Magareth”
CapÃtulo 5 – Outro Restaurante
— Prometo. E antes ainda chuto o seu saco.
— Legal. Até que você não é tão esquisito assim.
—Â Valeu.
— Vem aqui, agora me dá um beijinho.
— Sai pra lá, gordo peçonhento!!!
— Brincadeirinha!!! Brincadeirinha!!! Não me empurra pra fora do carro!!!
E todos começamos a rir feito bobos. Ou melhor, feito hienas idiotas.
A viagem prossegue.
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— Será que não tem algum brechó aqui por perto? — disse Pezão.
— Por quê? — perguntou Margareth.
— Está me dando aflição olhar os dois sem camisa. Parece um casal gay indo para a lua-de-mel. E eu sou o motorista!
Se foi uma piada, ninguém riu.
— Vá foder um bode — falei.
— O quê? — disse Pezão.
— Já ouvi isso em algum lugar — disse Margareth.
— É do filme O Virgem de 40 Anos — disse o gordinho. — Muito legal este filme.
— Bom pra caralho — completei. — Meu, imagine ficar 40 anos sem trepar. Eu ficaria maluco.
— Não exagera — disse Margareth.
— Sei. Você ficaria 40 anos sem umazinha?
— É diferente.
— Diferente por quê?
— Porque eu já sei como é bom. No caso do personagem, ele nunca tinha feito. É bem diferente.
— Eu sou virgem — disse o gordinho, de repente.
— Grande novidade — disse Pezão, rindo.
—Â Eu estou me guardando para o momento certo.
— Você é muito pirralho ainda — disse Margareth.
— Dia 12 de dezembro de 2012 — disse o gordinho, sério. — Será o grande dia.
— Grande dia do quê?
— Será o dia em que fornicarei pela primeira vez.
Margareth teve um ataque de risos.
— O pequeno Faustão é vidente? — disse Pezão.
Agora eu comecei a rir. Pequeno Faustão foi foda.
— E a moça com quem você irá fornicar já sabe disso? — perguntei. — Quero dizer, será com uma moça, né? Ou você é chegado num ...
— Dona Nina. Será com ela.
Margareth ficou séria, enfiou o rosto entre os bancos, e olhando nos olhos do gordinho peçonhento, disse:
—Â Dona Nina, a nossa vizinha?
— Ahã — respondeu o gordo, mexendo a cabeça.
— Você ficou maluco, Tim? Que nojo! — Margareth fez uma careta muito engraçada.
— Quem é Dona Nina? — disse Pezão.
— Lembra de uma velha que ficou lhe encarando quando você foi lá em casa me buscar?
— Claro que lembro. Velha esquisita dos infernos.
— Não fala assim da Dona Nina, seu merda! — resmungou o gordo. Foi a primeira vez que eu o vi bufar de raiva.
— Tim, você está de brincadeira, né? — disse Margareth.
—Â Eu gosto dela.
— O gordinho curte uma coroa, e daÃ? — disse eu. — Panela velha é que faz comida boa.
— Você diz isso por que ainda não viu a velhota — disse Pezão. — A criatura parece o mascote do Iron Maiden.
Meu, vocês não vão acreditar, o gordinho saltou sobre o banco e grudou no pescoço do Pezão. Nunca vi nada parecido na vida. Foi algo cinematográfico. Ainda não consegui entender como aquele monte de banha conseguiu fazer isso. O pequeno Faustão deve freqüentar alguma academia Ninja ou sei lá.
Para a nossa sorte, a estrada estava deserta e Pezão conseguiu encostar o carro sem maiores problemas. Ufa! Se estivéssemos numa rodovia movimentada, já era.
—Â Agora vou quebrar tua cara, gordo emo dos infernos!!!
— Quebra, cuzão, quebra!
Não deixei nada disso acontecer. Me estiquei todo e passei meu braço esquerdo no pescoço do gordinho, puxando-o para o colo da Margareth.
— Ninguém vai quebrar ninguém, porra! — falei, impondo respeito.
— Me solta! — gritava o gordinho, sem parar.
— Solto, se você prometer que vai voltar para o seu lugar, quietinho.
— Você vai enforcá-lo, Nando! — gritou Margareth, assustada.
Eu o soltei. Margareth e o primo desceram do carro e conversaram por alguns minutos. Pezão estava puto da vida.
— O gordo quis matar todo mundo, Nando — disse Pezão, olhando para mim pelo espelho retrovisor.Â
— Todo mundo eu não sei, mas você ele queria.
— Tem alguma coisa muito estranha com este moleque. Aposto que você já percebeu também.
— Bom, que ele é esquisitão não resta dúvida. Mas não vejo ruindade nele.
— Eu vejo. Se não fosse pela Margareth, eu o deixava apodrecendo aqui na estrada.
— Pega leve, Pezão. É só um moleque.
— Só um moleque o caralho! Se esta estrada não estivesse deserta, estarÃamos todos mortos, porra!
Bom, o pior é que ele tem razão. O que o gordo fez foi muito perigoso. Melhor eu ficar de olho nele daqui pra frente.
Margareth e o gordinho voltaram para o carro. Ambos pareciam mais calmos.
— Tim, o que você tem a dizer para o MaurÃcio? — disse Margareth para o primo.
Ele hesitou por um instante, mas disse:
—Â Desculpa.
Pezão olhou para Margareth, depois procurou o gordinho pelo espelho retrovisor, e disse:
— Tudo bem. Mas que isso não se repita.
E saiu queimando os pneus. Novidade, né?
— Dá uma olhada no mapa, gata — disse Pezão. — Acho que me perdi.
Margareth abriu o porta-luvas e pegou o mapa, porém ...
— Que nojo!!! — resmungou ela. — Será que você vai me perdoar?
O mapa estava todo chapiscado de vômito. Pezão encostou o carro novamente.
— Porra, e agora? — disse ele.
— Foi o pirralho que imprimiu o mapa, certo? — disse eu.
— Ahã.
— Liga no celular dele, pede para ele refazer o mapa e passar as instruções.
Mas tudo que parece fácil demais ...
Pezão ligou umas duzentas vezes para o irmão, e nada. Ou o pirralho está com uma puta caganeira ou não quer atender. A segunda opção é a mais provável. Em todos estes anos, nunca vi o Pezão ligar no celular dele para contar uma boa notÃcia.
— Foda-se, vamos em frente — disse Pezão, chateado — A gente vai seguindo as placas.
A gente rodou ... rodou ... rodou ... e nada de placa. Nunca vi uma estrada como esta. E o mais curioso, rodamos por quase duas horas e, se vi um carro, foi muito. Agora, a parte mais esquisita foi quando Pezão ligou o rádio e estava tocando uma música do Raul Seixas, aquela cujo refrão é "O dia em que a Terra parou!".
— Tô com fome — disse o gordinho, guardando seu fone de ouvido.
— Eu também — falei.
— Eu daria tudo por um banho — disse Margareth.
— E eu já estou de saco cheio desta maldita estrada que não termina nunca.
— Quer que eu dirija um pouco? — sugeri.
— Até que não seria má idéia.
E trocamos de lugar. Assumi o volante e o gordinho sentou-se ao meu lado. Pezão e Margareth foram para trás.
A estrada continuou deserta. Aproveitei a ocasião para pisar fundo. O sol estava escondido sobre as nuvens e o calor diminuÃra bastante. Um vento gostoso entrava pela janela. Tudo parecia ir bem. Mas uma coisa começava a me preocupar ... Dirigi por mais de uma hora e não vi um carro sequer. E nem sinal de placas também. Onde será que estamos?
De repente ...
— Nando, olha! — disse Margareth, cutucando o meu ombro. — À sua direita.
Havia um outdoor bem grande, escrito HOTEL E LANCHONETE INFINITU'S – 2 KM com letras vermelhas sobre um fundo amarelo; a arte era tosca, mas tenho que admitir que chamava bastante a atenção.
— Estou faminto! — disse o gordinho, massageando sua pança desnuda. — Daria tudo por um sanduÃche de presunto com mortadela.
—Â Presunto com mortadela?
— Opa! E se tiver salame ... será acachapante!
— Não é você que lava suas cuecas no dia seguinte, né? — disse Margareth, enfiando o rosto entre os bancos da frente.
Paramos.
Ao contrário do restaurante anterior, este parecia estar vazio. Tão vazio quanto a estrada.
O tempo começou a mudar; nuvens carregadas de chuva aproximam-se. Foi difÃcil acreditar que ainda são 4 e meia da tarde.
— Vai cair um temporal — disse Margareth, preocupada.
— É o que parece — respondi, enquanto trancava a porta do carro.
— In .. fini .. tu's ... — disse o gordinho, olhando para o letreiro luminoso do restaurante. — Que nome idiota!
— Melhor que Bar do Gordo — disse o Pezão.
O gordinho virou-se imediatamente para ele, com cara de surpreso.
— Você conhece o Bar do Gordo?
— E quem não conhece? — disse eu.
— Eu adorava ir lá quando criança.
— Você ainda é uma criança.
—Â Mas agora eu tenho pentelhos.
— E daÃ? Do que adianta ter pentelhos e um pinto do tamanho de um giz?
Puta merda. Vai começar a briga outra vez. Querem apostar?
— Calem a boca, vocês dois! — disse Margareth, puta da vida. — E vamos sair logo daqui, pois já sinto os primeiros pingos de chuva.
Verdade. A chuva começou. Apertamos os passos em direção ao restaurante. O gordinho peçonhento ficou para trás.Â
De repente ...
— Oh, Big Foot! — gritou o gordinho.
Bom, creio que o grito tenha sido para o Pezão, mas nós três olhamos para trás.
E juro para vocês, me arrependi amargamente.
— Você ficou maluco, Tim??? — gritou Margareth, colocando as mãos sobre os olhos. — Guarda isso agora mesmo!!!
Acreditem se quiser, o gordinho estava com as mãos na cintura ... e o shorts abaixado até os joelhos.
— Você ainda acha que o meu bilau é do tamanho de um giz, hã? Acha?
Putz!!! Acho que perdi a fome. Maldito gordo peçonhento dos infernos!!! Recusei-me a olhar aquela cena ridÃcula. Olhei para a direção contrária.
— Nem você sabe o tamanho — disse Pezão. — Com esta pança enorme em cima dele, duvido que você enxergue alguma coisa, pequeno Faustão.
— Se você me chamar de pequeno Faustão mais uma vez, irá se arrepender para o resto da sua vida.
—Â Fica frio, pequeno Faus ...
Tive que olhar. O gordinho subiu o shorts e partiu pra cima do Pezão.
Ah, querem saber? Foda-se, dessa vez não vou apartar briga de ninguém. Os dois que se matem! O mundo ficará melhor sem eles, não é? Abriguei-me sob um pátio coberto, de frente para o restaurante.
— Nando, você vai ficar aà parado? — gritou Margareth, protegendo-se da chuva também.
— Acho que sim. A chuva está gelada e eu ...
— Fala sério, hein! O Tim é só uma criança. Se acontecer alguma coisa com ele, a minha tia me mata.
— O Pezão só está tirando onda com o moleque. Olha só. — e apontei na direção deles. — O pior que pode acontecer é uma pneumonia para os dois.
Margareth olhou para eles e seu rosto foi mudando aos poucos, até que ela começou a rir.
— Vocês não crescem nunca, é? — disse ela. — Barba no rosto e ainda se comportam como garotos.
A cena estava engraçada. Pezão desviava dos golpes do gordinho, ria feito um doido, e ainda o provocava.
— Vamos, Pequeno Giz! Venha me pegar, Pequeno Giz!
— Parem com isso, vocês dois! — disse Margareth, num tom de voz mais calmo. — Saiam da chuva, vocês vão ficar resfriados! Está na hora do lanche.
A chuva apertou. E de repente já não era uma chuva qualquer, mas sim um temporal como poucas vezes eu vi na vida. Parecia que o mundo todo estava desabando em água.Â
Corremos para dentro do restaurante.