As Aventuras de Nando & Pezão

“O Pai da Magareth”

Capítulo 3 – O Restaurante

Margareth não resistiu àquela conversa, vomitou a janta de ontem e o café da manhã de hoje. O painel do carro ficou um verdadeiro arco-íris. Eca!!! O olhar de tristeza do Pezão falou mais que mil palavrões. A cena me fez lembrar do Opalão.

Agora eu tenho certeza: Pezão está mesmo apaixonado pela Margareth. Sorte a dela, pois se ele não estivesse, ela estaria morta neste exato momento.

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Fomos obrigados a fazer uma pausa na viagem, é claro. Para a nossa sorte, encontramos um restaurante de beira de estrada logo adiante.

— Sua vomitada foi massa, prima! — disse o gordinho psicótico.

— Não enche, OK? Não estou de bom humor.

— Me fez lembrar um filme que eu assisti semana passada. Só que ao invés do café da manhã, ela vomitou as próprias tripas. Acachapante!

— Gordinho — disse eu, olhando nos olhos dele.

— Gordinho? Eu tenho nome, sabia?

— Foda-se. Enfia o dedo no cu e assovia o hino do Japão.

Ele ficou me olhando espantado.

— Não é tão difícil assim. Difícil seria enfiar a mão inteira no cu e assoviar o hino da Bulgária de trás pra frente. Isso sim seria um desafio e tanto.

Margareth desfez a cara amarrada e começou a rir feito uma hiena sentada na primeira fila do cinema.

— Vocês vão ficar parados aí ou vão me ajudar a limpar? — gritou Pezão para nós.

O gordinho foi o primeiro a querer ajudar. Achei legal isso. Talvez ele não seja tão ruim assim.

— Me perdoa, more!!! — disse Margareth, abraçando Pezão por trás.

— Ahã — respondeu ele, com um sorriso meio sem graça. — Mas você fica me devendo uma.

— Fico? E o que você quer que eu faça para compensar?

Pezão se contorceu todo e sussurrou alguma coisa no ouvido dela. Faço idéia do que tenha sido. Mas deixo que as mentes poluídas de vocês completem o serviço.

Olhei para o carro e não acreditei no que vi. O gordinho estava todo ensopado de vômito, parecia se divertir com a limpeza do carro. Confesso que vê-lo naquele estado me deu uma puta vontade de vomitar também.

— Vocês trepam todos os dias? — disse o gordinho para os pombinhos apaixonados.

Agora eu quase vomitei mesmo, mas de tanto rir. E se não bastasse, o gordinho psicótico fez gestos obscenos com a língua.

— Que raio de pergunta é esta, Tim?

— Vocês trepam bastante, não? Olho para vocês e vejo dois fornicadores.

— Forni o quê? — disse Pezão.

— Se somos fornicadores ou não, isso não é da sua conta! — respondeu Margareth, tentando não rir do que acabara de dizer.

— Quando meu pai era vivo, ele e mamãe fornicavam direto, feito coelhos.

Margareth quase surtou ao ouvir isso.

— Cala esta boca, Tim!!! — gritou ela.

— Uma vez eu os flagrei fornicando na cozinha. Mamãe estava de quatro e papai enfiava um rabanete na ...

— TIMÓTEO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

O grito da Margareth foi tão alto, mas tão alto, que vi gente saindo do restaurante só para ver o que estava acontecendo ali do lado de fora.

— Se você disser mais uma palavra, eu ... eu não me responsabilizarei pelos meus atos.

O gordinho passou os dedos sobre a boca fechada, imitando um zíper. E ficou calado por um bom tempo.

Por um instante achei a Margareth super sensual. O jeito como ela apontou o dedo para o gordinho e deu o esporro nele foi uma graça. Adoro mulheres nervosinhas.

Fizemos tudo o que foi possível para amenizar os estragos feitos pelo vômito. Margareth só participou no final, borrifando perfume. Fiquei com um pouco de pena do gordinho, ele se jogou de corpo e alma na limpeza, ficou todo sujo de vômito, dos pés a cabeça. Seu mau cheiro estava insuportável. Se ele morresse agora, nem o capeta teria coragem de vir buscá-lo.

— Você precisa urgentemente trocar esta roupa — disse Margareth. — Só de olhar para você me dá vontade de vomitar outra vez.

— Não!!!!! — disse Pezão, assustado.

— Calma, meu amor, brincadeirinha.

— Não se preocupe, seca rapidinho — disse o gordinho.

— De jeito algum! A hora que isso aí secar no teu corpo o cheiro vai ficar ainda pior. O problema vai ser encontrar um lugar para você tomar este banho.

Margareth ficou olhando para o garoto e deu para sentir o remorso preenchendo cada milímetro de sua face. Aposto que ela está louca para pedir desculpas pelo esporro e dar um abraço nele. Mas só depois que ele trocar de roupa, é claro.

O problema é ... trocar de roupa como? Ninguém trouxe mala. E até onde eu sei, restaurantes não vendem roupas.

Mas vendem comida, e é exatamente o que eu mais quero agora! Estou faminto. Estamos todos famintos, melhor dizendo.

Só que ao tentarmos entrar no restaurante ...

— Perdão, mas o garoto não vai poder entrar — disse um dos funcionários do restaurante, parado na porta.

Margareth ficou puta da vida com o cara.

— Como é que é? Não vai por quê? O que vocês têm contra gordos?

— Contra gordos nós não temos absolutamente nada contra, moça. O problema é o ... mau cheiro. Desculpa dizer isso, mas o gordinho está fedendo horrores.

— Ah, ta, nisso eu até concordo.

E Margareth enfiou a mão na sua bolsa, pegou o resto do perfume e despejou sobre o moleque. As pessoas que passavam por nós olhavam espantadas, e muitas ficavam enojadas com o mau cheiro que exalava dele. 

— Melhorou agora? — disse ela para o funcionário.

— Desculpa, moça, mas estou a 3 metros de distância dele e ainda sinto o mau cheiro perfeitamente.

— Cadê o gerente dessa porcaria?

— Não se preocupe comigo, prima — disse o gordinho, ligando seu iPod. — Podem ir almoçar, ficarei aqui fora esperando vocês.

Putz! Foi de partir o coração ouvir isso. Mas o funcionário do restaurante não deu a mínima. Continuou firme.

— Você vai entrar sim, primo! — E Margareth olhou na direção do funcionário, com cara de pouquíssimos amigos. — Que palhaçada é esta?

De repente apareceu uma coroa gostosa na porta do restaurante. Nossos olhares se cruzaram e notei que ela me comeu com os olhos, escondidos atrás dos óculos escuros. Sei que vocês devem estar se perguntando ... Se a coroa estava de óculos escuros, como eu sei que ela me comeu com os olhos? Simples, o movimento da cabeça foi óbvio. Ela me analisou dos pés a cabeça. Bom, se gostou ou não ... já são outros quinhetos.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou a coroa para o funcionário.

Agora quem a comeu com os olhos fui eu. Analisei o material todinho. Alta, um mulherão. Loira (acho que tingida), cabelos curtinhos, brincos de argola meio bregas (mas qual homem liga para brincos, né?), blusa tomara-que-caia branca, deixando as marquinhas de biquíni bem visíveis. A calça jeans, colada no corpo, revela curvas perigosas e, ainda não pude ver, mas o popozão parece ser de respeito! Sou péssimo para acertar idade, mas eu arriscaria uns quarentinha. Mas confesso ... corpinho de vinte e oito!

— Eles querem entrar com o garoto — respondeu o funcionário, meio apreensivo. — , mas o mau cheiro poderá incomodar a clientela.

— Que absurdo! — resmungou Margareth, com as mãos na cintura.

— Você está bem? — perguntou a coroa para o gordinho. — Está todo sujo de vômito, pobrezinho.

— Estou ótimo — respondeu ele. — O vômito não é meu, dona.

A coroa fez uma cara de nojo muito engraçada. Ela tirou os óculos e olhou para mim.

— Gostei do garoto — disse ela. Pode ser apenas minha imaginação fértil, mas eu acho que foi uma indireta. O garoto a quem ela se referiu sou eu. Ela voltou os olhos para o gordinho peçonhento e disse: — O que acha de um banho quente e roupas limpinhas?

— Acachapante!

A coroa teve um ataque de risos. Foi lindo ver aquele par de seios balançando na minha frente. Vou ser honesto ... EU VÔ!!!

E não é que demos uma puta sorte? A coroa é filha do proprietário do restaurante, ela é a gerente do bagulho. Perfeito: bonita, gostosa e, como diz o meu pai ... Tá com a Tocha! E antes que eu me esqueça, o nome dela é Monize.

Enquanto o gordinho foi tomar seu banho, nós fomos almoçar. A fome era tão grande que decidimos não esperar por ele. E aquele cheiro maravilhoso estava nos levando à loucura.

Meu prato ficou parecendo uma cadeia de montanhas. Quem olhou para ele certamente deve ter pensado que vim da Etiópia.

Quando nos preparávamos para pesar os pratos, Monize reapareceu. Pode ser apenas impressão minha, mas ela estava muito mais cheirosa do que há minutos atrás. Bom, pode ter sido para tentar apagar o mau cheiro do gordinho peçonhento. Ou para seduzir ... alguém!

— Nem sei como lhe agradecer pelo que fez — disse Margareth. — É raríssimo encontrar pessoas tão gentis assim hoje em dia.

— Não foi nada! — Monize pendurou os óculos na blusa, sobre o decote. Um gesto tão simples, porém tão sensual! — Tenho uma casa aqui ao lado. Minha irmã sempre deixa peças de roupa dos meus sobrinhos por lá. Um dos meninos dela é troncudinho também. Aposto que as roupas dele cairão feito uma luva no seu primo. E falando nele ... Que figuraça, hein!!! 

— Às vezes ele me irrita tanto que tenho vontade de esganá-lo! Mas no fundo eu gosto dele. 

— Ele me perguntou se eu não tenho medo da blusa cair e meus peitos pularem para fora.

Margareth quase derrubou o prato. Seu rosto ficou todo ruborizado.

— Eu não acredito! — disse ela, estupefata. — Putz grila! O Tim me mata de vergonha. Perdão, Senhora!

— Vergonha do quê? Eu achei engraçadíssimo. Não vi má intenção na pergunta, apenas uma curiosidade sincera. E que negócio é este de Senhora? Senhora está no céu, viu?

Margareth deu um sorriso meio sem graça e pediu desculpas.

Monize nos conduziu ao andar superior do restaurante. Eu nem tinha percebido que havia um segundo andar. E que visão! Dava para ver boa parte da rodovia, e a brisa que entrava pelas janelas foi revigorante. Por mim, desistiríamos da viagem e ficaríamos ali a tarde toda.

Quando nos sentamos para almoçar, pensei que Monize fosse nos deixar e voltar aos seus afazeres, mas não. Ela sentou conosco, bem do meu lado.

— Seus amigos não falam?

— Só quando eu deixo — respondeu Margareth, com um sorriso maroto.

E as duas riram à beça. Amizade de mulher é bem diferente da nossa. Aposto que se deixarmos as duas sozinhas mais alguns minutos, já saberão tudo da vida da outra. A amizade de homem começa diferente, geralmente com um comentário malicioso sobre alguém, tipo ... "Viu os peitos da loira de blusa verde, cara?". A menos que o outro cara responda... Ai que meda! ... a amizade tem futuro.

— Este aqui é o Maurício, meu more — disse Margareth, passando o braço em volta do Pezão e dando um beijo no rosto dele.

Curioso como podemos fazer mau juízo das pessoas antes de conhecê-las bem, não é? A primeira impressão que eu tive da Margareth não foi das melhores. Pensei que ela fosse uma tremenda biscate. Mas ela é muito gente fina. O Pezão deu muita sorte. O problema é que o Grande Pé sempre pisa na bola com as namoradas legais. Já as biscates peçonhentas ele corre atrás feito um cãozinho abandonado.

— Garota de sorte, hein! — disse Monize, olhando para o casal de namorados.

— Eu sei, bem. — E Margareth olhou para mim, com o olhar mais sacana que ela já me deu até este momento. Assim como eu, ela já percebeu os olhares da Monize para cima de mim. — E este é o Fernando — ela deu uma piscada para mim. — , o terror das menininhas donzelas e inocentes.

— Eu?

— Fernando ... — disse Monize, bem lentamente, como uma criança que acaba de escrever o seu nome pela primeira vez. — Sempre achei este nome lindo. Além de extremamente sexy.

Neste momento senti alguém chutar minha canela. Pela risadinha sacana, aposto todas as minhas fichas na Margareth.

— Muito obrigado! — respondi, olhando nos olhos da coroa gostosa.

— Seu more não veio junto?

— Não. Tô sem more no momento.

A coroa arregalou os olhos. Dei uma olhada rápida para a blusa tomara-que-caia e por um instante pensei que fosse realmente cair. CAIA!!! Mas como não tenho poderes mutantes, a blusa tomara-que-caia continuou apenas no tomara.

— Sério? Um gatinho assim como você?

— Pois é, né? Ninguém me quer, ninguém me chama de meu neném!

Margareth e Monize quase tiveram um ataque do coração. Pareciam hiena mãe e hiena filha rindo de uma cena engraçada de uma novela mexicana qualquer.

— Que bonitinho! — disse Monize, como se estivesse falando com um bebezinho.

— Obrigado, obrigado — disse eu, todo convencido.

— Não! — disse Monize, apontando para a escada. — Olhem, o gorduchinho! Que gracinha, gente!

Meu, juro pra vocês, eu quase caí da cadeira de tanto que eu ria.

Pobre gordinho psicótico. Tá fodido comigo.