As Aventuras de Nando & Pezão

“O Motel”

Último Capítulo – Tchau, Motel!

Putz, o segurança voltou.

— Os policiais estão aí — disse ele, sério. — Venham comigo, por favor.

A primeira coisa que eu fiz foi pedir para o Pigmeu entrar no Opala e não sair dali. A última coisa que eu quero é a polícia interrogando o maluco, né? Já imaginaram a cena? PÁ!!! "Tinha uma joaninha irada no seu revólver, camaradinha!!!".

Melhor evitar.

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Seguimos o segurança até um quartinho ao lado da recepção. O local cheirava a mofo e não tinha nada além de um sofá velho e um monte de caixas de papelão.

— Esperem aqui — disse o segurança. — Já volto.

Angelina e eu ficamos a sós. Oh, como seria bom trancar a porta e avançar sobre aquele decote! Tocar aqueles seios, beijar aquela boca maravilhosa e ...

O maldito celular começou a tocar. Era o Pezão, é claro. Não pensei duas vezes, desliguei a porcaria. Muito melhor assim. Já fiz minha boa ação de hoje, não é? Por que ele não vai embora e me deixa em paz?

— Nervoso? — disse Angelina, séria.

— Não — respondi, tranqüilo. — Eu deveria estar?

— Não sei. Mas fique tranqüilo — E ela fez sinal para nos sentarmos no sofá. — Vou contar toda a verdade e não vou deixar que nada lhe aconteça. — Completou ela, depois me deu um beijo estalado na bochecha.

Uau! Seu beijo me arrepiou dos pés até a cabeça. Pintou mesmo um clima, pena que neste exato momento recebemos visita: dois policiais e o ex da Angelina. 

Se depender da sorte que eu tenho com polícia, ou me matam e escondem o meu corpo num matagal ou vou apanhar até cagar sangue. Mesmo sem eu fazer nada já quebraram o farol do meu carro.

Um dos policiais é mulato, alto, parece professor de capoeira. Seu rosto é bem familiar, diga-se de passagem. O outro é japonês, muito baixinho, parece um anão de jardim importado. O japa tem os olhos tão fechados que ele parece estar dormindo em pé.

Não sei se estou em condições de comemorar alguma coisa, mas confesso que comemorei o fato de não serem os mesmos policiais babacas que quebraram o meu farol. Nunca vou esquecer o que aqueles dois me fizeram!

O ex da Angelina estava vestido, é claro. Mancava bastante e parecia estar meio grogue. Ou melhor, parecia estar dopado.

— Levantem-se — disse o policial mulato. Sua voz era calma e, por incrível que pareça, gentil. Muito estranho, até a voz me faz lembrar alguém. Mas ainda não sei quem.

Angelina e eu ficamos de pé.

Não sei explicar, mas eu estava calmo até demais. Tinha alguma coisa naqueles dois policiais que me fazia rir por dentro. Eles pareciam ter saído daqueles filmes da Loucademia de Polícia.

— Qual o seu nome, rapaz? — perguntou-me o policial, com sua voz calma.

— Fernando.

Assim que eu disse o meu nome ele me olhou de outra maneira. Seu rosto sério ficou mais leve e sorridente. Eu, hein! Só falta o policial ser uma bichona e ...

— Não acredito! — disse ele, empolgado. — É você mesmo, Nando? Quanto tempo, amigão!

Amigão? Porra, então minha suspeitas eram legítimas, eu conheço mesmo o policial com cara de capoeirista. Mas de onde?

— Perdão, mas quem é você? — perguntei.

— Vou facilitar as coisas para você ... EEEEEEEEEEEEEEEITA, PORRA!!!

Meu, tive um ataque de risos como há muito tempo eu não tinha. Como eu pude ser tão lesado da memória? É claro que eu conheço este maluco filho da puta! 

— Mandureba, é você mesmo?

Ele nem precisou responder. Seu rosto transbordava emoção. Porra, que surpresa agradável! O Mandureba foi um grande amigo meu do colégio. O filho da puta era da pá virada, o cara repetiu a terceira série umas cem vezes. Quando estudamos juntos, eu tinha por volta de 8 anos de idade e ele já tinha uns dezesseis. As outras crianças zoavam tanto dele, coitado. Acho que eu era o seu único amigo de verdade.

Ele me deu um abraço tão forte que quase me quebrou ao meio. O cara é forte! Já o japonês continuava do mesmo jeito; parecia dormir em pé e seu rosto não expressava absolutamente nenhum sentimento. O ex da Angelina também continuava do mesmo jeito; parecia não ter a menor idéia de onde estava; apenas vegetava.

— Seu parceiro parece ser muito sério — sussurrei no ouvido do Mandureba, referindo-me ao japa.

— Não precisa falar baixinho, ele não vai entender nada mesmo.

— Como assim?

— Ele chegou do Japão ontem. Veio conhecer o trabalho da polícia brasileira.

— Putz! Sério?

Mandureba fez que sim com a cabeça.

— E não fala nada de português? — perguntei.

— Bom, eu ensinei algumas coisinhas, é claro — Mandureba olhou para o japonês e deu dois tapinhas em suas costas. — Certo, Tanaka?

O japa continuou com aquela cara de quem está dormindo, e disse sorrindo:

— Oh, Tanaka ... gosta ... chupa lola, né?

Eu quase mijei na calça.

— Lola? — perguntei.

— Tentei fazer o japa dizer "rola", mas o mané não consegue de jeito nenhum.

Olhei para a Angelina, ela estava super séria; não tirava os olhos do ex.

— Ele está bem? — perguntou ela para o Mandureba, referindo-se ao ex.

— Tirando o fato de não lembrar do próprio nome, está.

— Nossa! É sério?

Mandureba fez que sim com a cabeça, depois olhou para mim e perguntou:

— Vocês brigaram, não foi?

Antes de responder, Angelina se adiantou e disse:

— Mas foi para me defender! Nem sei o que teria acontecido comigo se o Nando não estivesse lá para me ajudar.

Ela me abraçou e começou a chorar.

— Calma, moça — disse Mandureba, colocando uma mão sobre o ombro dela. Aí ele olhou nos meus olhos e disse, calmamente: — Vou precisar saber tudo o que aconteceu aqui, meu amigo.

Contei tudo, detalhadamente. Tive a ajuda da Angelina também, é claro. O ex dela ficou o tempo todo sentado no sofá, totalmente perdido. Calmo daquele jeito, e usando roupas, ele até parecia outra pessoa. Era difícil imaginar que era o mesmo cara que eu nocauteara minutos atrás.

— O que vai acontecer comigo? — perguntei.

— Calma, Nando, vai ficar tudo bem — Mandureba chegou mais perto de mim e disse bem baixinho no meu ouvido: — Eu conheço aquele cara; já foi detido outras vezes por violência contra mulher. Bota aquela banca de pitboy e só bate em mulher. Ele teve o que merece, amigão.

Fiquei feliz por ter nocauteado aquele cuzão. Homem que bate em mulher não vale a bosta que caga. Mas fiquei mais feliz ainda quando o Mandureba me disse que eu estava liberado para ir embora.

Ufa, que alívio! Sair do motel num camburão era a última coisa que eu precisava. Já a Angelina e o pitboy não tiveram tanta sorte; tiveram que acompanhar meu amigo Mandureba. Segundo este, o ex da Angelina terá que passar por alguns exames, por causa da aparente perda da memória. Se é que ele realmente perdeu a memória, né? Eu tenho certas dúvidas. Querem saber? Foda-se, o vilão da história era ele. Eu apenas protegi a mocinha.

E por falar na mocinha, peguei o número do celular dela. Uhuuuuu!!! A madrugada começou mal, mas parece que vai terminar bem.

Puta merda!!!!!!!!!!! Só agora que eu me lembrei do Pigmeu abandonado lá no meu carro. Espero que ele não tenha aprontado nada por lá.

Abri a porta do carro e aquele bafo azedo veio ao meu encontro. Nem sei como o Pigmeu agüentou ficar ali dentro tanto tempo.

Ah, já sei como ele conseguiu; estava dormindo. Tentei entrar no carro sem acordá-lo, mas meus planos foram para o saco quando eu fechei a porta. 

— Tira o dedo do meu cu!!! — gritou Pigmeu, com vontade.

E para ajudar, bem na hora do grito passou um carro por nós. O motorista desceu a janela e ficou olhando para nós, rindo feito uma hiena descabelada no carnaval.

Para não criar mais confusão, ignorei. Em compensação, dei um tapão na orelha do Pigmeu. O maluco deve estar vendo estrelas até agora.

— Carácoles!!! O que foi isso? — disse ele, atordoado.

— Fui eu que te bati, seu imbecil.

— Tem certeza?

— Pára com este negócio de dedo cu, porra! Daqui a pouco vão começar a pensar que fui eu.

— Você enfiou o dedo no meu cu?

— NÃO, PORRA!!! Foi o baitola do padeiro, não lembra?

— Foi ele que me bateu? Eu nem vi, camaradinha.

Meu, ninguém merece. Eu gosto do Pigmeu, mas ele estressa. Puta que pariu!

— Pigmeu, fica quieto. Nós vamos embora daqui.

— O que viemos fazer no cemitério mesmo? Quem morreu?

— Ninguém morreu. Isso aqui não é um cemitério.

Putz, não sei por que eu perco o meu tempo explicando. Pigmeu ficou me olhando com aqueles olhos de peixe morto.

— Seu carro fede, camaradinha. Seu carro é um cemitério.

— Nisso eu concordo.

Enfim, deixamos o motel.

Confesso que foi a pior noite que passei num motel. Além de não trepar, ainda entrei e saí acompanhado do Pigmeu. Sem contar com a visão horrenda de um homem correndo nu. Quer coisa mais feia do que um homem correndo nu? Pior que isso, só dois homens correndo nus. Ninguém merece!

Virando a esquina do motel, quem eu vejo? Adivinhem!!! Parei o Opala bem do lado, estiquei o pescoço para fora e gritei:

— Vocês ainda estão aí?

Pezão e Margareth nem me deram atenção; estavam se comendo lá dentro do carro. Estava um tremendo vuco-vuco! Caraça, praticamente um filme pornô caseiro. Deu vontade de ficar ali assistindo de camarote.

Pigmeu, no auge da sua sabedoria, olhou para mim e disse:

— Tem uma mina estrupando o Pezão, camaradinha.

Comecei a rir feito uma hiena assistindo o filme pornô da Gretchen. Devo ter gargalhado tão alto que o casal se deu conta de que tinham platéia. Pararam com os malhos na mesma hora. Margareth estava sem sutiã e uma das alças da sua camiseta caiu, pude ver um dos seios. Olha, eu perderia meia horinha ali, viu? Show de bola.

Pezão desceu do carro, todo cambaleante e com marcas de batom por todos os lados.

— Por que não voltam para o motel? — disse eu, zoando. — Mas dessa vez você paga essa porra, caralho!!!

Pezão ficou me olhando com cara de poucos amigos.

— Que diabos aconteceu lá dentro, porra?

— É uma lonnnnnnnnnga história.

( FIM )