As Aventuras de Nando & Pezão

“O Motel”

Capítulo 3 – O Peladão

Neste momento ouvi um carro buzinar atrás de mim. Certamente um casal com pressa de meter. Olhei para trás e vi dois carros engarrafados por minha causa.

Puta que pariu!!! Agora que caiu a ficha, entrei no motel com o Pigmeu sentado ao meu lado. Vão pensar que somos um casal gay.

Era só o que me faltava.

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O desgraçado que estava logo atrás de mim começou a buzinar várias vezes.

— Calma, porra!!! — gritei, colocando meu famoso dedo para fora da janela.

Melhor resolver isso logo e ir para casa. Já estou perdendo a paciência.

A recepcionista do motel ficou me olhando por alguns instantes, até que disse:

— Boa noite!

— Boa? Só pra quem está aí dentro metendo, porque pra mim ...

Ela não esboçou nenhuma reação.

— Já escolheu a suíte, senhor?

— Na verdade eu não vou entrar.

— Como assim, senhor?

— Eu só vim trazer a grana que meu amigo está devendo aí pra vocês.

A recepcionista fez uma cara de bunda e disse para alguém do seu lado:

— Vieram pagar a suíte 19. — e depois olhou para mim. — São 215 reais, moço.

— Puta merda!

Bom, pelo menos a grana que eu trouxe vai dar para pagar. Menos pior.

Enquanto eu pegava o dinheiro da carteira, o filho da mãe lá atrás voltou a buzinar e o celular começou a tocar; provavelmente Pezão desesperado.

Deixei o celular tocando e paguei a maldita conta.

— Você vai ter que entrar e sair pelo outro lado — disse a recepcionista, enquanto o portão abria lentamente. — É só seguir as setas para a direita.

— Certo. Muito obrigado.

— De nada. Tenha uma boa noite.

Tarde demais. Minha noite já está uma bosta faz tempo. Farol quebrado e 215 reais a menos na carteira.

Será a primeira vez que entro num motel e saio sem meter. O Pezão me mata.

— Está calado, Pigmeu. O que houve?

O maluco ficou me olhando com aqueles olhos de peixe morto, depois disse:

— Seu carro fede, camaradinha.

— É, eu sei.

E tive um ataque de risos, tipo uma hiena entrando no motel com a Hellen Ganzarolli.

De repente vi algo que vocês não vão acreditar: um cara nu correndo atrás de uma garota enrolada numa toalha. Por uma incrível coincidência, a garota se parece muito com a Hellen Ganzarolli.

— Socorro! Alguém me ajuda! — gritava a garota, desesperada.

Ninguém saiu dos quartos para ajudá-la. Bom, alguém da recepção vai ouvi-la e chamar os seguranças do motel, certo? Provavelmente, mas até agora nada!

A garota viu o farol do meu carro aceso e veio correndo em nossa direção.

— Me ajudem! — gritou ela mais uma vez. A toalha era curta e no desespero ela mal conseguia se proteger. Suas pernas estavam nuas. E que pernas! A morena é mais alta do que eu. Gostosa, de parar o trânsito.

Assim que ela se aproximou do Opala, saltei para fora e fiz sinal para ela entrar no meu lugar. É claro que ela não pensou duas vezes. O peladão vinha logo atrás dela. Ele conseguia ser ainda mais alto do que a morena, parecia um lutador de kickboxing. E foi aí que me dei conta da cagada que eu havia feito. O cara vai me matar!!!

— Cuidado! — gritou a Hellen Ganzarolli cover. — Ele está fora de controle!

Fiz sinal para ela se acalmar.

Eu tenho um plano. Bom, se este falhar, provavelmente não estarei aqui para terminar a história. Então torçam por mim.

— Eu vou te quebrar, seu filho-da-puta!!! — gritou o peladão, enfurecido. 

É agora! Quando o peladão se aproximou do Opala, abri a porta do motorista com toda a velocidade que eu pude. PLAFT!!! Acertei em cheio o peladão.

Meu, deve ter doído pra caralho, pois o grito que o cara deu foi de arrepiar os ossos. Ele foi ao solo feito um pacote de açúcar. A porta do Opala amassou legal.

Um dos seguranças do motel veio correndo na nossa direção.

— O que está acontecendo aí? — gritou ele, segurando um porrete de respeito.

Agora quem veio me salvar foi a morena. Meu, ela é muito gata. A Hellen Ganzarolli é a Dercy Gonçalves perto dela. Quero dizer, exagerei um pouco, mas ela é muito gata!

— Ele ia me estuprar! — disse ela, apontando para o peladão. Depois olhou para mim, com um sorriso nos lábios e sussurrou: — Obrigado! — E me abraçou tão apertado que pude sentir os bicos dos seios durinhos debaixo da toalha.

— Se deu bem, camaradinha! — disse Pigmeu, dando a volta por trás do Opala.

Fiz sinal para ele se calar. Espero que ele tenha entendido.

— Você o conhece, moça? — perguntou o segurança para a morena, apontando para o peladão.

Ela balançou a cabeça positivamente, limpou as lágrimas do rosto, ajeitou os lindos cabelos morenos para trás e, por fim, disse:

— É meu ex-namorado.

O segurança me lançou um olhar sacana, como se dissesse: "A biscate deve ter provocado o cara, depois chegou na hora H deu para trás, e agora o coitado vira o vilão da história". A morena também percebeu o olhar, e ficou furiosa.

— Acha que eu estou mentindo, seu idiota? Acha mesmo que eu inventei tudo isso só para sair correndo seminua pelo motel? Responde, babaca!

— Sei lá. Só acho a palavra "estupro" um pouco forte demais.

— Vocês homens são uns porcos mesmo! Um defende o outro. Oh, raça!

E a Hellen Ganzarolli cover olhou para mim, vermelha de raiva.

— Você viu o estado em que ele estava, não viu?

— Ahã — respondi, praticamente hipnotizado por ela. Seus olhos verdes brilhavam de tanto ódio.

— Eu pedi para ele ir devagar com aquele maldito uísque. Foi por causa disso que eu já larguei dele uma vez. O filho-da-mãe bebe demais e perde a noção.

— Cuidado, camaradinha! — gritou Pigmeu para o segurança.

O peladão já se preparava para atacá-lo por trás. Para se proteger, o segurança desceu o porrete no estômago do peladão. O cara foi ao chão outra vez, nocauteado.

— Vou chamar a polícia — disse o segurança.

— Lá vamos nós outra vez — disse a morena, com uma puta cara de desânimo.

— Você precisa denunciá-lo — disse eu. — Senão ele vai continuar fazendo.

— Com outras! Porque não quero olhar na cara dele nunca mais!

Nem preciso dizer que adorei ouvir isso, né?

O segurança e outros dois funcionários do motel embrulharam o peladão num lençol e o carregaram até a recepção. Logo depois o segurança voltou.

— Vou ter que pedir para que espere a chegada da polícia também.

— Eu? — perguntei, assustado.

— Claro, você foi testemunha. Quero dizer, além de testemunha, você quase matou o cara.

— Mas foi para me salvar! — disse a morena.

— Eu sei, mas vocês que se entendam com eles. A diretoria do motel não quer se envolver.

— Porcaria — sussurrei. A morena ouviu.

— Fique calmo. Você é o mocinho da história. Mocinhos sempre se dão bem no final — e ela piscou para mim.

Uhuuuuuuu!!! O negócio está esquentando.

— Por favor — disse o segurança para mim. — , estacione o seu carro ali naquele canto, assim você não atrapalha a saída dos outros veículos.

Fiz sinal de positivo para o segurança cuzão. E fiz o que ele me pediu. Enquanto isso a morena foi até o quarto para se trocar. Voltou ainda mais gata, vestindo uma calça preta apertada e uma blusa amarela com um decote maravilhosamente mal intencionado.

— Você é muito gata.

Acho que ela não esperava que eu fosse tão direto. Notei que seu rosto ficou todo vermelho.

— Obrigada.

— Você merece coisa melhor — e sorri para ela.

— Eu sei disso. É que eu sempre fui muito burra. Mas a partir de hoje eu vou mudar.

Quando a conversa estava ficando boa, ouvi o Rappa tocando sem parar dentro do meu carro. Caralho, esqueci do Pezão!

— Só um segundo — falei para a morena. — Meu celular está tocando.

— Fique à vontade. Não vou poder ir a lugar algum mesmo, né?

Atendi a porra do celular.

— Fala, Pezão dos infernos.

— Cadê você? Estou esperando aqui fora do motel. O que aconteceu? Resolveu dar uma bimbada também? Está com alguém? Quem é?

— Calma. Não estou com ninguém. É uma longa história.

— Conta aí, cacete! O que está acontecendo aí dentro? Me informaram que você pagou tudo. Se pagou, por que ainda não saiu?

— Vai pra casa, brother. Amanhã eu te conto com calma.

— Nem pensar! Não saio daqui enquanto você não me contar o que está acontecendo. Você está com alguém, né? Fala pra mim, porra!

— Já falei que não estou com nin...

De repente tomei um tapão nas costas. O susto foi tão grande que eu quase pulei no colo da morena.

— PORRA, PIGMEU!!!!!!!!!!!!!!! — por muito pouco não joguei o celular no maluco filho-da-puta. Que ódio!!!

— Vi duas joaninhas iradas em você, camaradinha.

Deu pra ouvir o Pezão às gargalhadas no celular.

— Você e o Pigmeu no motel? — disse ele, rindo feito uma hiena assistindo o desenho A Vaca e o Frango.

— Não é o que você está pensando, porra!

Reparei que a morena começou a me olhar de outro jeito. Acho que foi só agora que ela se deu conta de que eu não estava no motel com uma mulher, mas sim com um cara. E um cara maluco que vê joaninhas! Putz!

Entrei em pânico. Desliguei o celular na cara do Pezão e dei um sorriso meio amarelo para a gostosa.

— Olha, não sei o que você está pensando, mas eu não sou gay!

— De boa, fica frio.

— Ele tentou comer o meu cu! — gritou o Pigmeu, de repente.

Puta merda!!! Hoje eu mato o Pigmeu!!!

A morena começou a rir.

— Calma, ele não está falando de mim. Foi outro cara que tentou comer o cu dele.

— Tudo bem se você for gay. Eu até já desconfiava mesmo.

Porra!!! Como é que é? Agora ela vai ter que explicar isso direitinho.

— Por quê? Eu não sou gay! Por que desconfiou que eu fosse gay?

— Porque eu te achei muito bonitinho. E parece ser um cara sensível.

— Porra, só por causa disso?

— Ahã.

— Não sei se sou tão sensível assim. Mas pelo menos nunca tentei estuprar nenhuma ex-namorada.

— Aposto que não mesmo.

E ficamos alguns segundos em silêncio, constrangidos, olhando um para o outro.

— Você ainda não me disse o seu nome — falei.

— Angelina. E o seu?

— Brad Pitt.

Ela teve um ataque de risos. Nunca vi dentes tão perfeitos.

— Aposto que todo mundo faz esta piadinha sem graça com você.

— Sim, mas eu sempre acho graça.

— Que bom. Pode me chamar de Nando.

Vi Pigmeu se preparando para dar um tapa na Angelina. Olhei furioso para ele.

— Meu, se você fizer isso eu chuto o seu saco até ele sair pelas suas narinas.

— Seu amigo comia fezes quando era criança, né?

— E continua até hoje.

Começamos a rir tão alto que vi casais pararem de meter para olhar a gente pelas janelinhas dos quartos. Sem exagero, vi mesmo!

Putz, o segurança voltou.

— Os policiais estão aí — disse ele, sério. — Venham comigo, por favor.

A primeira coisa que eu fiz foi pedir para o Pigmeu entrar no Opala e não sair dali. A última coisa que eu quero é a polícia interrogando o maluco, né? Já imaginaram a cena? PÁ!!! "Tinha uma joaninha irada no seu revólver, camaradinha!!!".

Melhor evitar.