As Aventuras de Nando & Pezão

“O Motel”

Capítulo 2 – Companhia

Um pouco mais calmo, procurei pela carteira. Ela estava caída sobre o meu colo. Havia um pouco mais de 200 reais. Duzentos e trinta e três, para ser mais exato.

Bom, se o Pezão não pegou a suíte mais fodona de todas, acho que dá para eu pagar.

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Quando eu me preparava para engatar a primeira, notei um vulto passar na frente do carro pelo lado esquerdo, o mesmo lado do farol quebrado. Puta merda, será que os policiais voltaram?

— É você, camaradinha? — gritou a voz do meu lado.

Preciso dizer quem é? Creio que não.

— O que você faz por estas bandas, Pigmeu?

Ele ficou me olhando com aqueles olhos de peixe morto e após uma longa pausa, respondeu:

— A mulher do padeiro mora nesta rua.

A resposta foi tão sem nexo que eu não tive o que dizer. Apenas balancei a cabeça.

— Ela é boa de chup-chup — prosseguiu ele, de repente.

Bom, a frase sem nexo fez mais sentido agora.

— Eita Pigmeu safado!

— Eu não! Ela que faz — Pigmeu fechou o punho direito, colocou-o próximo a sua boca e imitou sexo oral, balançando a cabeça para frente e para trás. Foi hilário.

Sei que vou me arrepender, mas ...

— Quer uma carona?

Pigmeu enfiou a cara dentro do carro, parecia estar procurando por alguma coisa.

— O que foi? — perguntei, sem esperança alguma de obter uma resposta lúcida.

— Hoje não tem gente morta, né?

— Não, maluco, hoje não.

E Pigmeu me abriu um puta sorriso. Curioso, foram raras as vezes em que o vi sorrir. Também, com estes dentes amarelados, seu sorriso está longe de ser um cartão de visitas.

Bom, como dizia um amigo meu: "O que é um peido pra quem já está cagado?".

Sigam-me os bons! Engatei a primeira e saí rasgando o asfalto. Pigmeu não havia colocado o sinto e quase saiu voando.

— Pigmeu botando chifre no padeiro — falei, rindo.

— Filho-da-puta! Filho-da-puta, isso sim! Filho-da-puta!

— O padeiro?

— Sim, tentou botar no meu cu.

— Hmmmm! Então você comeu a mulher dele por vingança?

— Vingança, camaradinha?

— Sim, pra dar o troco!

— Que troco? Ele nem quis me pagar!

Puta merda, isso aqui está parecendo conversa de maluco.

— Deixa pra lá, mano — disse eu, tentando encerrar a conversa.

Mas Pigmeu prosseguiu:

— O padeiro gosta de ver a mulher trepar.

— Como é que é?

— E eu gosto de trepar, camaradinha.

— E quem não gosta?

Agora fiquei curioso.

— E o padeiro te paga pra comer a mulher dele?

— As duas primeiras vezes sim — fez-se uma pausa. De repente ele deu um grito enraivescido: — Filho-da-puta!!!!!!!!!!!

— Porra, Pigmeu, fica frio! Está reclamando do quê? Comeu a mulher do cara, fez chup-chup e ainda queria grana?

— Ele tentou botar no meu cu, camaradinha!

Putz! Acho que finalmente entendi o que aconteceu.

— Tipo, você estava lá comendo a mulher, certo?

— Sim.

— Aí ele chegou por trás e ...

— Tentou botar no meu cu, camaradinha.

— Filho-da-puta!!!

Dizem que cu de bêbado não tem dono. Parece que de maluco tem, né?

Comecei a rir sozinho, feito uma hiena solitária no zoológico.

Estou começando a achar que não foi uma má idéia trazer o Pigmeu comigo. Pelo menos aliviou um pouco o clima tenso que pairava no ar.

Falando em pairar no ar ... Pigmeu começou a fazer caretas. Acho que o cheiro do Opala começou a fazer efeito.

— Eu quero descer!!!! — gritou ele, de repente.

— Calma, Pigmeu, por quê?

— Tem gente morta aqui!

— Não tem, cara. Fica frio.

— Tem gente morta neste carro! Eu conheço este cheiro! Eu quero descer!

— Não é cheiro de gente morta, porra! É vômito, mijo e suor! Só isso!

— Que nojo, camaradinha!

— Já mandei lavar. Mas o cheiro não sai.

Pigmeu ficou me olhando, imóvel. Nem piscava.

— O que foi? — perguntei.

Antes que eu pudesse fazer alguma coisa, ele me deu mais um de seus famosos tapas. Pá!!!

— Seu idiota do caralho!!! — gritei com ele. — Não vê que estou dirigindo? Quer nos matar, porra?

— Salvei sua vida! A joaninha já estava prestes a te morder, camaradinha!

— E desde quando joaninhas mordem?

— Elas não sabiam, mas aprenderam.

— Aprenderam com quem?

— Com as largatixas — ele disse bem baixinho. Quase não pude ouvi-lo.

Para sacaneá-lo, falei bem alto:

— Ah, ta, com as LAGARTIXAS!!!

O maluco se encolheu todo, apavorado. Olhava para todos os lados, com olhos arregalados.

— Calma, Pigmeu, elas já se foram.

— Tem certeza? — e Pigmeu ficou apontando para a minha testa.

— Absoluta. E se você me der mais um tapa eu juro que arrebento a sua cara!

— Ufa! Ela foi embora, camaradinha.

O Pigmeu é maluco, mas não é besta.

E finalmente chegamos ao motel.

Como eu já havia contado, o Bally-Bally é chique. Você passa por um jardim todo florido até chegar à recepção.

— Eu conheço este lugar! — disse Pigmeu, agitado no banco.

— Fica na tua, Pigmeu. Shhhh! — fiz sinal pra ele ficar calado.

Mas não adiantou porra alguma.

— Eu quero descer!!! — Pigmeu começou a fazer escândalo. — Isso aqui é um cemitério!!! Eu quero descer!!!

— Sossega aí, Pigmeu!!! Isso aqui não é um cemitério, é um motel!!!

Pigmeu arregalou os olhos para mim, parecia ter visto um exército de lagartixas.

— Camaradinha, eu gosto de você, mas ...

Putz! Ninguém merece.

— Não é o que você está pensando, porra!!! — disse eu.

— Até você quer botar no meu cu, camaradinha?

— Se liga, Pigmeu!!! Tá me estranhando?

— Mas por que você me trouxe num motel?

— Pra livrar a cara do Pezão.

Neste momento ouvi um carro buzinar atrás de mim. Certamente um casal com pressa de meter. Olhei para trás e vi dois carros engarrafados por minha causa.

Puta que pariu!!! Agora que caiu a ficha, entrei no motel com o Pigmeu sentado ao meu lado. Vão pensar que somos um casal gay.

Era só o que me faltava.