As Aventuras de Nando & Pezão

“O Primo”

Capítulo 7 – Chove Chuva

Ficamos em silêncio por alguns instantes, até que resolvi quebrar o gelo, dizendo:

— Por acaso ela não te chamou de "polha", chamou?

Pezão me olhou sem entender porra alguma. Enquanto isso, Jibóia quase botava as tripas para fora lá atrás. Nunca vi alguém rir tanto na minha vida.

Acho que consegui deixar o Jibóia relaxado. Que bom, né? Homem de pau duro no meu carro não, porra!!!

Só eu, é claro.

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— Aonde você pensa que vai, mané? — gritou Pezão para mim. — A choperia fica do outro lado, cara.

— Eu sei disso. Mas a mina que vai com a gente mora pra lá — e apontei com a cabeça na direção contrária.

Pezão arregalou os olhos. E foi aí que a minha ficha caiu: eu não tinha contado para eles a respeito da Valeriana!

— Que mina? — perguntou Pezão. — É uma só? Não tem uma pra mim?

— Bom, o combinado era apenas ela, mas sei lá ... tudo é possível. Mulher raramente sai pra balada sem levar uma amiga, né?

— Você namora, Nando? — perguntou Jibóia.

— Não. Esta mina é uma ex-namorada minha, biscate pra caralho.

— Já sei! — disse Pezão, rindo. — É a Val, não é?

— Caralho, como você adivinhou?

— Matemática, porra. Somei "ex-namorada" e "biscate" ... deu "Val". A mina traía o Nando com a cidade inteira, primo. Só o idiota não percebia.

— É sério, Nando?

— Foda-se! Todo mundo já levou chifre uma vez ou outra na vida. Não fui o primeiro e nem serei o último. E tem mais, a Val é passado.

— Será mesmo? Pra onde estamos indo neste exato momento?

— Calma aí. Eu só aceitei levá-la porque senão adeus convites.

— Porra, só por causa disso? É tão caro assim para entrar naquela birosca?

Fiquei sem saber o que responder. De repente me bateu um desespero e eu encostei o carro.

— O que foi? — perguntou o Pezão. — Por que parou?

— Acho que levar a Val com a gente não foi uma boa idéia — respondi. — Vou fazer o retorno e ...

— Faz isso não!!! — gritou o Jibóia, desesperado. Tomei um puta susto.

— Comeu cocô, Jibóia??????? Vai dar susto assim na puta que te pariu!

— Desculpa. Mas não dê meia-volta não. Sacanagem com a garota.

Pezão virou-se para trás, olhando de forma cínica para o Jibóia.

— O primo quer comer a Val, Nando!

De repente senti uma lâmpada acender sobre a minha cabeça, igual àquelas que a gente vê em gibis.

— Como é que eu não pensei nisso antes? — falei, todo empolgado. — Meu, a Val é a maior biscate que eu já vi. O Jibóia nem vai precisar de muito esforço.

De repente o Jibóia foi murchando.

— Mas, tipo assim, ela dá pra todo mundo? — perguntou ele, desanimado.

— Mais do que chuchu na serra, primo — respondeu Pezão, rindo.

E foi aí que vi outra lâmpada ... hehehe. Descobri algo que pode retomar o ânimo do Jibóia. Querem ver? Olhei para o Pezão e falei:

— Mas ela nunca deu pra você, né?

— E daí? Só não deu porque eu não quis!

— Ah, ta! — e dei uma piscada irônica para o Jibóia. Este riu.

— É sério, porra! — Pezão começou a ficar vermelho de raiva. — Teve uma vez que nós fomos juntos num barzinho e ...

— Oi, Nandinho!

Puta merda! Que susto! A Valeriana surgiu do nada.

— Como você nos encontrou? — perguntei, totalmente abismado com a sua presença.

— Eu moro logo ali — e Valeriana apontou para uma linda casa de esquina, a uns cinqüenta metros de distância. 

Putz! O destino é um negócio engraçado mesmo. Vocês acreditam que eu estava indo para outro lugar totalmente diferente? Provavelmente para a casa de outra ex-namorada. Já imaginaram a confusão que ia dar? 

— E por que você não parou mais perto, hein? — resmungou ela. — Meu irmão é grande, mas não morde, viu?

— Desculpa. É que aqui fica mais fácil para fazer o retorno.

— Sei, sei ...

E aos poucos fui relembrando do nosso tempo de namoro. Esse jeitinho mimado da Val me irritava tanto!

Desci do carro e quando eu me preparava para dar um beijo no rosto da Val, ela me surpreendeu e me lascou um beijo de língua. Juro para vocês que eu não esperava por isso. Fiquei até meio sem graça.

— Você ainda beija muito bem — disse ela, sorrindo para mim.

Val não tem mais aquele corpinho de bailarina, mas também não está de se jogar fora. A única coisa que mudou bastante foram os cabelos: agora estão escuros e bem mais curtos. Estilo Fátima Bernardes, do Jornal Nacional.

Ela está uma graça, usando uma blusinha verde abacate e uma saia jeans justa, um palmo acima do joelho. Suas pernas estão mais grossas, mas continuam branquinhas como antigamente. Analisando friamente, ela está mais gostosa hoje do que na época em que namoramos.

— Obrigado — respondi, ainda meio bobo.

Reclinei o meu banco e pedi para que ela entrasse no carro. Val me olhou torto.

— Não vou do seu ladinho? — disse ela, fazendo bico.

— Já tem gente ali e ...

— Pede pra ele sair! Eu quero ir pertinho de você.

Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! A Val está querendo levar uma pinguelada do Nando Júnior esta noite. Olha, numa outra noite eu até toparia! Mas hoje a Val tem que dar para o Jibóia, né? O coitado precisa muito mais do que eu.

Só para não criar caso, pedi para o Pezão remover sua bunda branca do banco da frente e sentá-la confortavelmente no banco de trás, ao lado do primo.

Nem preciso dizer que o Pezão ficou no horror, né? Mas para a sorte de todos, ele não fez nenhuma cena mais dramática.

Todos devidamente acomodados dentro do carro. 

Apresentei a Valeriana para o Jibóia. Acho que o cara ficou de pau duro só de segurar nas mãos dela.

— O Pezão você já conhece, né? — falei, enquanto soltava o freio de mão.

— Quem? — disse Valeriana, tentando enxergar melhor o rosto do Pezão.

Putz! Nem preciso dizer que Pezão ficou puto da vida, né? Eu sei que ele não comeu a Valeriana porque ele mesmo já me contou que não. Só que ele não se lembra que me contou.

Dei meia-volta. Agora sim ... Choperia, aqui vamos nós!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Não sei o que vocês estão captando, mas eu estou captando ótimas vibrações. Acho que esta noite promete. Só espero que o coitado do Jibóia agüente firme e sobreviva a ela.

Quem está empolgada até demais é a Val. No primeiro semáforo que eu parei, senti sua mão esquerda alisando minha coxa direita. Não consegui evitar, fiquei excitado.

Sossega, Nando Júnior! A mina é do Jibóia!

Mas por mais que eu tentasse me controlar, a mão habilidosa da Val não deixava. Ela apertava, alisava e me beliscava. Aquilo estava me deixando louco! Quase pedi para ela parar, mas estava tão bom! Garota com prática é outra coisa, viu?

Pobre Jibóia, se ela fizer isso nele, o cara goza em dois segundos.

Parei o Opala no estacionamento da choperia. Meu, só tinha carro de playba. O meu era o mais modesto de todos. Mas sei lá, pelo menos o meu tem cara de carro de macho. Os outros são tão enfeitados que mais parecem carrinhos de brinquedo, recém adquiridos por filhinhos de papai.

Desci do carro e notei que o tempo havia mudado bastante. Não estava tão calor como antes. Ventava frio e caía um leve sereno.

Valeriana desceu pelo outro lado e veio correndo para os meus braços.

— Está frio! Me abraça, Nandinho!

Nem tive como recusar, né? Ela já chegou abraçando e agarrando a minha bunda. Levei um beliscão tão forte que mais pareceu uma ferroada de abelha.

— Caralho! — esbravejei. — Doeu, Val!

E ela deu aquela risadinha de menina mimada.

Pezão desceu do carro e veio caminhando lentamente até nós, com uma cara de pouquíssimos amigos.

— Cadê o Jibóia? — perguntei.

Pezão não disse nada, apenas apontou para o carro.

— O que deu nele?

— Acho que seu plano foi pro saco.

Val arregalou os olhos para mim, dizendo:

— Que plano?

Meu, que ódio que eu fiquei do Pezão!!! Se eu pudesse, arrancaria o saco dele e daria para os cachorros da minha vizinha.

— Tem plano nenhum — respondi calmamente.

Soltei-me da Val delicadamente e voltei para o carro para ver o que estava acontecendo com o Jibóia.

— O que houve? — perguntei, inclinando o banco para a frente.

Jibóia estava todo encolhido no banco de trás. Tremia um pouco e parecia assustado. Sentei-me ao seu lado.

— Ainda está chovendo? — disse ele, com a voz abafada.

— Chovendo? Não! Está caindo um sereno, só isso.

— Mas eu estou ouvindo os pingos sobre o capô do carro.

— Você comeu cocô, Jibóia? E daí se estiver caindo uns pinguinhos de chuva ou sereno? Você não é feito de barro, é? Você por acaso derrete?

— Não.

— Então foda-se!!! Levanta esta bunda magra daí e ...

— Eu sou alérgico à água de chuva.

Putz!!!!!!!!!!!!! Eu não acredito nisso. Ele só pode estar de zoeira, né?

— Jibóia, pára de palhaçada e levanta daí, caralho!!! A Val está molhadinha! E não é de chuva, viu?

— Se eu sair do carro e cair uma gota de chuva sobre a minha pele, vou ficar mais inchado que uma balão de Festa Junina.

Meu, ninguém merece!

E para piorar a situação, o que era apenas um sereno transformou-se numa chuva torrencial. O barulho sobre nossas cabeças era tão alto que parecia chuva de granizo.

Val e Pezão vieram correndo para dentro do carro. Estavam encharcados.

— Puta merda, está desabando o mundo lá fora! — disse Pezão.

— Ai que frio!!!!! — resmungou Val, tremendo e esfregando as mãos.

Jibóia estava mais encolhido do que nunca. Acho que ele estava com medo do Pezão espirrar água de chuva nele.

— Pezão, dá pra você se enxugar mais devagar? — falei.

— Como é que é? — Pezão não entendeu nada, é claro. — Vai tomar no seu cu, Nando! Você não estava lá fora, né?

Valeriana passou as mãos nos seus poucos cabelos, mas eu senti alguns pingos tocarem o meu rosto. Jibóia entrou em pânico.

— Fiquem quietos vocês dois! — gritou ele, apavorado. — Vocês estão encharcados com esta água imunda!

Valeriana começou a ficar assustada. Ela arregalou aqueles lindos olhos para mim e disse:

— Seu amigo fumou muita maconha hoje?

— Ficou louco, primo? — gritou Pezão.

— Calma, gente — falei. — Ele é alérgico à água de chuva.

— Ah, fala sério! — disse Valeriana em tom de deboche.

— Isso não existe — disse Pezão. 

E em seguida, Pezão encharcou as mãos sobre seus cabelos molhados e ameaçou sacudi-las na direção do primo.

— Não faça isso, cara — sussurrei para ele.

Mas Pezão fez aquela cara de filho-da-puta que só ele sabe fazer, mergulhou suas duas mãos sobre os cabelos molhados outra vez e ... mandou ver.