As Aventuras de Nando & Pezão

“O Primo”

Capítulo 6 – Uma Ex-Namorada

— Meu, o cara anda pra lá e pra cá de pau duro o dia todo! Não agüento mais!

Minha gargalhada triplicou de intensidade. Quase engasguei.

— Dá o rabo pra ele que resolve, oras!

— Nando.

— O quê?

— Enfia o dedo no cu e assovia o hino da Coréia, seu porra!!!

E Pezão desligou o telefone na minha cara, puto da vida.

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Estou ansioso para conhecer a nova choperia da cidade. Dizem que o lugar é chique e que o público é selecionadíssimo. Resumindo: só playba e patricinha. Confesso a vocês que eu odeio lugares assim, mas ... o Jibóia merece perder a virgindade com carne de primeira, não é? Seria sacanagem o coitado comer uma pé-vermeio, pegar uma DST e morrer cheio de perebas no pinto.

Tudo bem, admito que vai ser uma tarefa mais difícil, afinal de contas uma pé-vermeio a gente leva pra qualquer motelzinho barato de beira de estrada; já uma patricinha demanda um esforço maior. Mas estou confiante. O Jibóia vai ser dar bem.

Fiquei sabendo que uma ex-namorada minha é promoter da choperia. Demorou pra eu descolar umas entradas na faixa! Antes que você me chame de mão de vaca, saiba que eu tenho grana para pagar, viu? Mas admita ... entrar de graça é tão gostoso, não? Aposto que você vive pedindo convite para seus amigos descolados. Pede, né? Eu sabia. Brasileiro adora levar vantagem em tudo.

Será que eu ainda tenho o telefone daquela lambisgóia? Sim, lambisgóia! Olha só que absurdo! Uma vez eu peguei esta guria tocando uma pro meu vizinho no cinema. Acreditam? Vocês precisavam ver a cara da biscate quando me viu. Putz grila! Não gosto nem de lembrar daquele dia que eu fico muito puto da vida. Que ódio!

Ah, achei! O telefone dela ainda está no meu caderninho. Não foi difícil de achar, afinal de contas eu anotei a palavra LAMBISGÓIA bem grande ao lado do nome dela: Valeriana.

Bom, vamos lá ... A gente não se fala desde aquele fatídico episódio da punheta no cinema, mas ... Ela tem os convites, né? Posso deixar meu orgulho de lado; será por uma boa causa.

Disquei o número. Está chamando.

— Alô! — é ela. Reconheço esta voz esganiçada em qualquer lugar do planeta.

— Val? — nós namorávamos, né? Eu tinha intimidade e a chamava de Val.

— Quem está falando?

— Sou eu, o Nando.

— Que Nando?

— Caramba, Val, não reconheceu a minha voz?

Pequena pausa da parte dela. Creio que ela vá bater o telefone na minha cara e...

— Nandinho, é você?

Eu avisei que tínhamos intimidade, né? Ela me chamava assim. Eu sei que é ridículo. Mas qual é o casal de namorados que não tem apelidos ridículos um para o outro, né? Pituzinho e pituzinha, mozinho, benzinho, titinha, tchutchuquinho, bibinha, etc ...

— Lembrou, né? — disse eu, bem cínico.

— Nunca pensei que fosse falar com você outra vez.

Para ser bem honesto, nem eu. Mas se eu disser isso ... ADEUS convites.

— O que passou, passou — falei, tentando parecer o mais sincero possível. — Como vai você?

— Meio pra baixo ultimamente, e você?

— Pra baixo? O que você tem?

— Meu namorado terminou comigo ontem.

Provavelmente pegou a lambisgóia tocando uma pro vizinho no cinema, né?

— Pobrezinha! Fica assim não, Val!

Ouvi Valeriana dar uma longa suspirada do outro lado do telefone. De repente ela voltou a falar:

— E você, já se casou?

— Eu? Comeu cocô, guria?

E Valeriana caiu na gargalhada. Parecia uma hiena mascando chiclete de tuti-fruti.

— Você é doido, Nandinho! Eu adorava estas suas frases divertidas. Sinto saudade de você, sabia?

Epa! Não estou gostando do rumo desta conversa. Estão notando um clima no ar? Eu estou. Porra, eu liguei apenas para descolar três convites. Não estou nem um pouquinho interessado num Vale a Pena Ver de Novo.

Melhor eu mudar logo de assunto.

— O que anda fazendo da vida, Val?

— Nada, e você?

Porra! Que papo é este? Será que me passaram informação errada? Será que é outra ex-namorada que trabalha lá na maldita choperia?

— Nada? — disse eu, confuso. — Não está trabalhando ... ?

— Ah, sim, claro que estou! Mas como sou tapada, Nandinho! É que eu não faço praticamente nada, então até me esqueço que é um trabalho. Eu sou promoter da Brusque, uma nova choperia que abriu lá no centro.

Agora sim!!! Já assistiram aqueles documentários que mostram os leões se preparando para dar o bote em veadinhos indefesos? Pois é exatamente assim que eu estou me sentindo ... hehehe.

— Que bacana, Val! Ouvi dizer que o lugar é estaile pra caralho

— O lugar é show de bola. Meu tio investiu muita grana.

— A choperia é de um tio seu?

— Sim. Como você acha que eu descolei este trampo? Eu não sei fazer nada, Nandinho!

Claro que sabe! E o filho da puta que ficou com ela no cinema também sabe que ela sabe. Maldita lambisgóia dos infernos! Perdão, eu fico muito irritado quando me lembro daquela cena nojenta. Não sei o que me irrita mais: lembrar da cara de lambisgóia dela ou da cara de alegria do filho da puta do meu vizinho.

Calma, Nando! Concentre-se nos convites!!! Concentre-se nos convites, porra!!!

— Falando em descolar ... — disse eu. — Val, será que você poderia me descolar três convites pra hoje?

— Claro, Nandinho! Três, né? Um pra você, um pra mim e ... ?

E Valeriana deu uma risadinha daquelas que só as mulheres sabem dar. Conheço esta risadinha muito bem, é a risadinha que diz: "Eu sou mulher e você é um otário. Eu sou mulher e vou fazer você comer na minha mão. Viva o poder da minha vagina!"

Resumindo: fodeu.

Se eu disser que ela não está incluída nos planos para hoje, perco os convites. Conheço muito bem a Valeriana. Ela foi a namorada mais mimada que eu tive até hoje. Quando ela queria algo, batia os pezinhos e não sossegava até consegui-lo. Nem preciso dizer que ela sempre conseguia, né? Nós homens somos todos otários mesmo, de carteirinha e tudo.

O pior de tudo é que Valeriana é uma gracinha. Ela é baixinha, corpinho de bailarina, rostinho de anjo, cabelos loiros na altura dos ombros, olhos azuis tão azuis que nem parecem reais, mas são. Seu narizinho de boneca, seus lábios finos e o queixinho ponteagudo completam suas feições delicadas. Mas não se engane, ela tem esta aparência de bonequinha de porcelana, mas na cama é uma felina selvagem. E gosta da coisa, viu? Como gosta! Gosta tanto que não se contenta com apenas um. Depois que terminei o namoro com ela é que fiquei sabendo dos inúmeros chifres que ela me colocou.

Maldita lambisgóia!

Calma, Nando. Vamos voltar aos convites ...

Dei uma risadinha sem graça e falei:

— Mas você não está trabalhando lá? Não quero atrapalhar seu trabalho e ...

— Vai atrapalhar em nada não, bobo! Já falei pra você, eu não faço porcaria nenhuma. Meu tio descolou este emprego só para o meu pai parar de pegar no meu pé.

— Mas você recebe salário no final do mês?

— Claro! Emprego é emprego, né? — e ela deu uma risada muito bonitinha.

Putz!!! Tem gente que nasce com o cu virado pra lua mesmo.

— E não tem uma vaguinha pra mim lá?

— Posso ver com o meu tio.

— Isso! De preferência um emprego idêntico ao seu, hein!

E caímos na gargalhada, feito duas hienas taradas fazendo um filme erótico pela primeira vez.

— E então, que horas você passa aqui em casa para me pegar? — disse Valeriana, decidida e empolgada.

— Você ainda mora na mesma casa?

— Ahã!

— Beleja. Passo aí .... 10 e meia, pode ser?

— Ótimo! Nossa, Nandinho, fazia tempo que eu não ficava tão ... ansiosa.

Ela ia dizer excitada. Eu sei que ia. Mas mudou de idéia no último segundo. Mulher é um bichinho sem-vergonha mesmo, né? Sabe como nos tirar do sério. Todas elas já nascem com este dom. Dom ou maldição? Sei lá.

— Val, será que você poderia descolar mais dois convites?

— Claro que sim!

Pronto. Tudo armado para hoje à noite.

Meus planos mudaram um pouco, né? Sair para a balada com uma ex-namorada que me traiu com metade da cidade não era bem o que eu tinha em mente, mas ... Vamos ver no que dá. Talvez seja até bom, pois a Valeriana com certeza tem muitas amigas, e podemos apresentar uma delas para o Jibóia e conversa vai conversa vem ... pimba na gorduchinha!!! Peru pra dentro!!! Ou melhor, Jibóia pra dentro!!!

O relógio marca 22h16 ...

Saio pisando baixo com o opalão. Cheguei na casa do Pezão tão rápido que nem eu sei como consegui. Bati o recorde.

Dei duas buzinadas e vi o Jibóia aparecer na janela do quarto do Pezão. Ele deu uma acenada rápida e correu para dentro da mansão.

Feito uma flecha, Jibóia atravessou todo o imenso jardim. Pezão veio logo em seguida, mas bemmmmmmm mais devagar.

— Meu, você parece um cachorrinho no cio — falei para o Jibóia.

— Fiz o que você me pediu: tomei banhos frios o dia todo.

— Mas pelo jeito não resolveram em nada, hein! Você parece um ator pornô que ficou em coma por 5 anos e agora quer recuperar o tempo perdido. Fica calmo, porra!!!

— Eu estou calmo — disse ele, agitado dos pés a cabeça. O cara parece um vibrador ligado numa tomada de 220 volts.

— As bocetas não vão fugir, cara. Fica frio.

Pezão passou pelo portão; totalmente o oposto do primo. Pezão está tão relaxado que ...

— Quem você comeu? — perguntei. — Conheço esta cara, seu filho da puta. Você comeu alguém.

Pezão me mostrou os cinco dedos da mão direita, depois disse:

— Cinco vezes só nesta tarde — e o filho da mãe abriu um puta sorriso, aquele sorriso que só o Pezão filho da puta sabe. — Fazia tempo que eu não trepava tão gostoso, cara!

E ambos entraram no Opala. Jibóia sentou-se no banco de trás; Pezão sentou-se ao meu lado. Antes de engatar a primeira, eu tinha que perguntar, né?

— Mas quem você comeu, porra?

Pezão parecia em transe. Virou-se lentamente para mim e respondeu:

— A diarista.

Putz!!! Não resisti. Caí na gargalhada. Pezão mudou de zen para puto num segundo.

— Do que você está rindo, seu bosta?

— Imaginei você comendo aquela baixinha do programa "A Diarista", que passa na Globo.

— A Marinete? — disse Jibóia, rindo.

— Mari o quê? — disse Pezão, vermelho de raiva.

Dei a partida no carro e saí queimando os pneus.

— Esquece, Pezão — falei. — Mas conta aí ... faz tempo que você está comendo ... a diarista?

Agora quem caiu na gargalhada foi o Jibóia. O cara parecia uma hiena-saci fumando cachimbo.

— Eu não estou entendendo qual é a graça — disse Pezão, vermelho de raiva.

— Ao invés de dizer diarista, não dá pra você dizer empregada? — disse eu, rindo muito. — Acho que já resolveria o problema.

— Vocês dois são uns idiotas mesmo — disse Pezão. — É por isso que vocês não comem ninguém. Podem rir à vontade, o importante é que hoje eu tive o melhor sexo da minha vida. Meu, a filha da puta me chupou de uma forma que nunca me chuparam antes! Estou vendo estrelas até agora! Uhuuuuuuu!

Agora ninguém riu. Acho que Jibóia até sentiu uma pontinha de inveja. Eu não. Já fui chupado de todas as formas e duvido que ainda haja alguma maneira inédita de se fazer isso.

Ficamos em silêncio por alguns instantes, até que resolvi quebrar o gelo, dizendo:

— Por acaso ela não te chamou de "polha", chamou?

Pezão me olhou sem entender porra alguma. Enquanto isso, Jibóia quase botava as tripas para fora lá atrás. Nunca vi alguém rir tanto na minha vida.

Acho que consegui deixar o Jibóia relaxado. Que bom, né? Homem de pau duro no meu carro não, porra!!!

Só eu, é claro.