As Aventuras de Nando & Pezão

“O Primo”

Capítulo 4 – Um Segredo

— Meu, acho melhor você descer logo do carro e ...

Tarde demais. Jibóia vomitou tudo o que podia e o que não podia no painel do meu Opala. Na hora eu fiquei tão horrorizado que meus músculos congelaram. 

Pezão não conseguia parar de rir. 

— Fica frio, Nando — disse ele, quase sem fôlego de tanto rir. — Você trouxe o carro pra gente limpar mesmo, não foi?

Puta que pariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiu!!! Hoje eu mato alguém.

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E eu estava decidido a matar mesmo. Nunca senti tanta raiva de alguém, como senti naquele exato momento. Voei no pescoço do Jibóia e ...

— O que está acontecendo aqui? — gritou uma voz atrás de mim.

— Tá viva ainda, mulher? — disse Pezão, em tom irônico.

Pela voz eu já tinha desconfiado. É ela, a Maura, irmã do Pezão.

Caraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaalho!!! Será que ela só voltou pra casa hoje? O esquema lá em Belo Horizonte foi bom, hein!!!

— Maura, é .. é .. é você? — perguntou Jibóia, tentando disfarçar as manchas de vômito em sua roupa.

Maura fez uma puta cara de nojo e respondeu:

— Sim. Mas você me conhece de onde?

— Sou eu, o Athirson!

Maura deixou suas duas bolsas no gramado e ficou encarando o Senhor Vômito.

— Athirson? Não conheço nenhum ...

— Sou o seu primo Jibóia!

— Não acredito! Filho da tia Palmirinha?

— Não. Tia Palmirinha morreu solteira e sem filho algum.

— Tia Palmirinha morreu?

— Morreu — disse Pezão. — É uma longa história. Não é, Nando?

— Com certeza — disse eu, balançando a cabeça positivamente.

— Puta merda, como é bom estar em casa outra vez — disse a Maura, pegando as bolsas outra vez.

Meu, a filha da puta está gostosa demais, além disso pintou o cabelo de preto e mudou totalmente o penteado. Ela veste um tomara-que-caia abóbora e uma saia azul curtíssima. Aposto como ela andou malhando. Ela não tinha este corpinho!

Quando ela passou por nós, Jibóia e eu ficamos embasbacados com tanta sensualidade. Ficamos olhando aquele bumbum empinadinho rebolar pra lá e pra cá.

Resolvi aloprar o filho da puta do Pezão. Gritei pra Maura:

— E o travecão? Continua apaixonado pelo Pezão?

Ela parou, virou-se para nós e disse:

— Não fala assim, Nando. O nome dela é Meiry — e olhou para o Pezão. — Não sei que diabos ela viu em você, mano. A coitadinha chorou por dias e mais dias.

Pezão ficou vermelho de raiva. Ou de vergonha. Sei lá.

— Coitadinha o caralho!!! Um puta travecão daqueles!!!

Caí na gargalhada, tipo uma hiena com coceira no sovaco.

— Vai se foder, Nando!!! — e Pezão mostrou aquele famoso dedo pra mim.

Reparei uma coisa: Jibóia não tirava os olhos de cima da Maura nem por um segundo. Meu, tudo bem que ela está super hiper mega gostosa com aquela saia curtinha. Mas ...

Passei as mãos na frente dos olhos do cuzão. Ele nem piscou. Jibóia continuava olhando para a porta da cozinha, por onde a Maura já havia entrado há séculos.

— Cuidado pra não gozar na cueca, Athirrrrrrrrrrson — falei no ouvido dele.

Jibóia deu uma longa suspirada. Xiiiiiiiiiiiiiiiiiii, Marquinho. Já vi tudo.

— Pezão, o Jibóia gamou na tua irmã.

— Ela é tua prima, seu mané! — disse Pezão, encarando Jibóia com cara feia.

De repente Jibóia ficou com uma cara triste pra caralho. Sentou-se na grama, enfiou a cabeça entre as pernas e chorou feito um garotinho após um tombo de bicicleta.

Eu fiquei com pena do Jibóia, já o Pezão estava louco pra rir. Mas segurou.

— Se você disser que está chorando por causa da minha irmã — disse o Pezão. — , eu vou chutar o seu saco com tanta força que ...

— Pega leva, cara — falei para o Pezão.

Jibóia levantou a cabeça, limpou as lágrimas do rosto e disse com uma voz melancólica:

— Desde pequeno que eu sou apaixonado por ela.

Putz!!!!!!

— Ela quem, a Maura? — disse o lerdo do Pezão.

— Não, seu imbecil! — disse eu. — A Xuxa!

Pezão mostrou o dedo pra mim. E olhou para o primo.

— Mas ela é tua prima, porra!!!

Jibóia abaixou a cabeça outra vez. Senti pena do coitado. O cara está todo sujo de vômito, fedido, chorando, ama alguém que nunca deu a mínima pra ele e ... é bem provável que nunca venha a dar. Apesar de nunca ter gostado do cara, fiquei com pena do Jibóia.

— Tem tanta mulher por aí, caralho! — falei pra ele, tentando animá-lo.

— Xoxota é o que mais tem neste mundo, brother — disse Pezão, sentando-se perto do Jibóia.

— E tem mais, a Maura não é muito chegada em ... homem.

Jibóia ficou pasmo. Levantou a cabeça rapidinho. Pezão me olhou torto, depois olhou para o Jibóia.

— Não é bem verdade — disse Pezão. — Ela é ...

— Bi — completei.

Jibóia ficou de queixo caído. Parecia não acreditar no que estávamos contando.

— A Maura não gosta de homem? — disse Jibóia. Parece até que vi um sorriso em seus lábios.

— Gosta, primo, mas ela também gosta de mu ...

— Então é por isso que ela nunca me deu bola! — disse Jibóia, com um sorriso de ponta a ponta.

— Ou talvez tenha sido por que você é ... PRIMO dela, caralho!!!

— Deixa o cara em paz, Pezão. Ele até já parou de chorar feito uma bichona.

Jibóia olhou feio pra mim.

— Mas espera um pouco — disse o Pezão para o Jibóia. — , você me ligava pra contar as suas aventuras com as biscates e nunca mencionou deu um pio sobre a minha irmã.

Jibóia ficou branco feito um copo de leite. Seu rosto voltou a murchar.

De repente a ficha do Pezão caiu. A minha já tinha caído faz tempo.

— Era tudo mentira, né? — disse Pezão, puto da vida.

Jibóia confirmou com a cabeça. Em seguida voltou a chorar.

— Porra, mano, outra vez? — falei. — Você não sabe fazer outra coisa?

— Desculpa, desculpa, desculpa ...

Puta merda!!! Se o Jibóia falar desculpa mais uma vez eu não sei o que vou fazer.

— Sua mente era fértil, hein! — disse Pezão. — As suas histórias eram tão boas que eu tocava umas três punhetas após desligar o telefone.

— As histórias eram de uma revista de contos eróticos que eu lia na época.

Puta merda, pensei que o Pezão fosse pular no pescoço do Jibóia. Mas ele ficou só na vontade. Sorte do Jibóia, pois eu não iria protegê-lo. Meu, o cara é muito chato! Ninguém merece.

— Eu ligava pra sua casa — disse Jibóia. — , só pra ouvir a voz da Maura. Mas ela nunca atendia a droga do telefone.

Pezão ficou ainda mais puto.

— Então era você que ligava pra cá de vez em quando e desligava na minha cara?

— Provavelmente sim.

Putz!!! Agora não teve jeito. Pezão voou no pescoço do Jibóia.

E agora, o que eu faço? Ajudo ou não ajudo? Separo ou não separo?

Droga, por mais que eu odeie o babacão do Jibóia, não suportei ficar apenas olhando. Tirei o Pezão de cima do Athirrrrrrrson, o Senhor-Vômito-e-Lágrimas.

— Tiaaaaaaaaaaaaaaaaa! — gritou o Jibóia. — O Maurício ficou maluco! Ele quer me matar!

Pezão ficou mais enfurecido ainda. Deu um puta trabalho segurá-lo.

— Se você chamar a minha mãe outra vez, sua bicha, eu juro que ...

E Jibóia desabou sobre a grama. Parecia um saco de batatas caindo sobre o chão do supermercado.

— Deve ser um teatrinho dele — disse o Pezão.

— Acho que não, cara. Você não viu o jeito que ele caiu?

Larguei o Pezão e corri até o Jibóia. Coloquei minha mão sobre o peito dele e tomei um puta susto. Seu coração não batia.

— Fodeu! — disse eu, bem assustado. — O Jibóia morreu.

— E daí? Um cuzão a menos no mundo.

— Não brinca, Pezão. Estou falando sério, porra!

— Eu também.

— Anda logo, chama uma ambulância! Faz alguma coisa, caralho!

— O que aconteceu??? — gritou uma voz lá longe.

Era a mãe do Pezão, na janela do quarto do Pezão.

— O Athirson passou mal e desmaiou sobre o gramado! — gritei.

— Puta que pariu!!! Eu não acredito nisso.

Ela tirou seu celular do bolso e correu apavorada para dentro da mansão.

Olhei assustado para o Pezão.

— O que a gente faz agora? — perguntei.

— E eu tenho cara de médico, porra?

Jibóia deu sinal de vida. Tossiu. Uma tossida bem feia e nojenta. Mas pelo menos tossiu. Mortos não tossem, não é?

— Eu não falei que era teatrinho dele? — resmungou Pezão.

De repente Jibóia ficou com os olhos brancos e começou a se debater sobre a grama. Não sou médico, mas creio que ele esteja tendo algum tipo de convulsão. Sei lá! Como o Pezão disse ... Eu não sou médico, porra!!!

A Maura e a mãe do Pezão vieram correndo, bem nervosas.

— Ele não pode morrer aqui na minha casa — disse a mãe do Pezão, apavorada. — Se isso acontecer, minha irmã vai ficar ainda mais puta da vida comigo e ...

Parou uma ambulância em frente ao portão. Ufa!

Jibóia foi levado para o hospital.

Os médicos descobriram um tumor maligno no seu cérebro. A pior parte nós ficamos sabendo no dia seguinte, quando estávamos indo para o hospital visitá-lo: Jibóia só terá alguns dias de vida. Seu último suspiro poderá ser amanhã ou daqui a duas semanas. Pobre Athirrrrrson.

Pezão e eu entramos no quarto juntos. Ficamos calados por alguns instantes. Não sabíamos o que dizer. Eu nunca conversei com alguém nesta situação.

Depois de algum tempo, Jibóia tomou a iniciativa:

— Vocês já devem estar sabendo de tudo, não é?

— Sim, sua tia nos contou — disse eu, um pouco sem-graça.

— Não precisam ficar com estas caras — e Jibóia sorriu. — Todo mundo morre um dia.

— Com certeza — disse Pezão, também constrangido. Acreditem se quiser.

— Volto pra puxar os pés de vocês nas madrugadas.

E acabamos rindo um pouco.

Como é possível isso? O cara era um mala-sem-alça, e agora que lhe faltam alguns dias de vida, parece até outra pessoa. Até o seu olhar está diferente.

Bom, deve ser muito estranho você saber que pode morrer daqui a dois minutos. Se bem que ... eu também posso morrer daqui a dois minutos, não posso? Claro que posso. Para morrer, basta estar vivo.

Melhor mudarmos de assunto, isso aqui está ficando triste demais e ...

— Eu queria contar um segredo a vocês dois, antes que eu ...

— Bata a cachuleta — disse o Pezão, sério.

Jibóia começou a rir feito uma hiena com micose.

— Cachuleta?

— Que segredo é este? — perguntei.

Jibóia parou de rir e olhou sério para mim.

— Nunca tive coragem de contar pra mais ninguém. Mas eu não posso levar este segredo para o túmulo. De jeito nenhum!

— Você tem um tesouro enterrado no seu quintal! — disse Pezão, rindo.

— Não.

— Assassinou umas trinta mulheres e enterrou os corpos no seu quintal!

— Hã? Também não. Você é louco, primo?

— Eu não, mas você tem uma carinha de psicopata.

— Desembucha logo, porra! — disse eu. Perdi a paciência.

— Tudo bem — e Jibóia respirou fundo. — Eu ...