As Aventuras de Nando & Pezão

“O Primo”

Capítulo 1 – Jibóia

Lar, doce lar.

Pobre só se fode mesmo, não é? Raramente pego uma praia, e quando decido pegar, olha o que acontece ... sou seqüestrado por dois psicopatas e meu amigo Mamute morre. Eu devo ter jogado muito cocô na cruz numa outra encarnação.

Azar por um lado, sorte pelo outro, pois foi um verdadeiro milagre termos escapado daquela dupla de malucos. Vocês não fazem idéia do tamanho da ficha criminal daqueles dois. Somando as atrocidades cometidas por ambos, o PCC parece até brincadeira de criança. 

Falando em criança, pobre guri, irmão da Caroline. Antes do garoto morrer esfaqueado, sua madrasta havia assassinado seu pai e suas duas irmãs de sangue. E ao que tudo indica, a velhota também assassinou a própria filha, a minha querida Caroline.

Fala sério! A velhota teria sido a pior sogra de todos os tempos, hein!!!

Bom, mas chega de histórias tristes ... Vamos falar de coisas boas.

E tem?

Tem. Meus pais caíram direitinho na história da Faculdade ... hehehe. Pobrezinha da minha mãe, está toda empolgada com o vestibular que irei prestar. 

E talvez eu até preste mesmo, mas é claro que não em Itu.

O Pezão, acreditem se quiser, bancou todo o funeral do Mamutão. E o gordo merecia mesmo um funeral decente, não é? Claro que sim. Se não fosse o telefonema dele, nenhum de nós estaria aqui neste momento. Seremos gratos ao Mamutão pelo resto de nossas vidas.

Diga-se de passagem, o funeral ficou mais caro do que o normal, afinal de contas o Mamutão não tinha um corpinho de bailarina, né? O caixão não custou barato.

Mas é claro que o Pezão não poderia deixar de dar uma sacaneadinha de leve. Mandou escrever na lápide a seguinte frase: Descanse em Paz, Bunda Gorda dos Infernos.

Trrrrrrrrrrrriiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmm!!!

Já passou da hora de trocar este telefone, hein!!! Porra, os telefones de hoje fazem um barulho bem mais suave. Esta porcaria aqui ainda me mata do coração, caralho!!!

— Fala, Pezão — disse eu, meio deprê.

— Porra, que ânimo é este? Hoje é sexta-feira, cara!!!

— Pezão, você não faz nada da vida. Que diferença faz se hoje é sexta ou não?

— Sei lá, porra! Mas hoje é sexta-feira!!! Sexta-feira!!!

— Pezão.

— Fala.

— Enfia o dedão no cu e assopra.

Silêncio por alguns instantes. Será que ele está enfiando o dedão no cu e assoprando?

— Cara, eu acho que estou ficando velho — disse Pezão, de repente. Sua voz ficou bem mais desanimada. Parecida com a minha, pra ser honesto.

— Claro que está ficando velho, seu bosta! Não tem jeito de ficar novo.

— Eu sei disso, cuzão. Mas sei lá, aconteceu um negócio estranho hoje de manhã, quando eu fui mijar.

— Caraca, você mijou sangue?

— Vira esta boca pra lá, cara!!! Não foi isso não!!!

— Então o que foi, porra?

— Achei uns fios brancos nos meus pentelhos. Até no saco eu achei alguns.

Putz!!! Eu mereço???

— Eu não acredito que você me ligou às 11 horas da manhã pra me contar isso.

— E não liguei mesmo. Liguei por outro motivo.

— Se for outra babaquice como esta, eu juro pra você que pego o Opala e vou aí chutar o seu cu, porra!!!

— Fica frio, cara. Ô, você lembra do Jibóia?

— Se o Ji bóia eu não sei, mas a merda bóia.

E caí numa gargalhada gigantesca, tipo uma hiena francesa comemorando o chapéu do Zidane no Ronaldo.

— Cara, foi a piadinha mais ridícula que eu já ouvi em toda a minha vida — disse o Pezão, claramente irritado.

— Pior que a história dos pentelhos brancos eu juro que não foi.

— Meu, você lembra do Jibóia ou não?

— O seu primo comedor de menininhas inocentes?

— Lembrou, né?

— Claro que sim. Na nossa infância você era o fã número 1 do cara. Era Jibóia pra cá, Jibóia pra lá. O meu primo Jibóia fez isso, fez aquilo, comeu aquela, comeu não sei quem, chupou a fulaninha, lambeu a siclaninha ...

— O cara é foda.

— Eu quero que ele se foda.

— Ele está vindo me visitar. Deve chegar daqui a pouco lá na rodoviária.

— E eu com isso?

— Porra, cara!!! Hoje é sexta-feira!!! Faz tempo que a gente não sai pra gandaiar. E hoje teremos um convidado ilustre, o Jibóia!!! O Jibóia vem aí, cara!!!

— Ah, sei lá, não estou muito animado pra gandaiar hoje não.

— Pois trate de se animar, seu bosta!!! Passaremos aí na sua casa mais tarde.

E o filho da puta desligou o telefone. Maldito Pezão dos infernos.

Meu, eu odeio este tal de Jibóia. O cara se acha!!! Ele mora (ou morava, sei lá!) em Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Ele costumava passar as férias na mansão do Pezão. O filho da puta é mais velho, então ele sacaneava muito com a gente. E é claro, por ser maior, ele também levava vantagem quando brigávamos.

Resumindo, eu tenho péssimas lembranças desse filho da puta. Por mim, poderia estar morto e enterrado. Eu não sentiria a menor falta.

Em compensação, Pezão o idolatrava. Nem sei explicar por quê, pois o filho da puta do Jibóia também não dava moleza pro Pezão. Teve uma vez em que estávamos jogando vídeo-game e o Pezão estava dando uma verdadeira surra no Jibóia. Surra no jogo, claro, pois fisicamente isso seria impossível. Jibóia ficou tão puto, mas tão puto, que levantou-se, abaixou a bermuda e mijou em cima do vídeo-game do Pezão.

Depois de uma certa idade, Jibóia deixou de passar suas férias pra cá. Ainda bem!!! Ou eu juro que teria assassinado o filho da mãe.

Bom, Jibóia deve ser uns seis ou sete anos mais velho do que eu. Se estou com vinte anos ... use um pouquinho das aulas de matemática e faça as contas.

Mas a questão principal é: que diabos este cuzão vem fazer aqui? Será que é apenas uma visita? Ou será que o cabação vem pra ficar?

Putz!!! Se for a segunda opção, eu juro que me mudo daqui. Ninguém merece o Pezão e o Jibóia juntos. Um filho da puta já é difícil de suportar, imagine dois!!!

Quer saber? Eu estou precisando dar uma volta. Opalão, aqui vou eu.

Levantei-me, tomei um banho, comi dois pães com maionese e ... Percebi que minha mãe estava louca pra me dizer alguma coisa.

— Eu conheço a senhora, mãe — falei, enquanto lavava a xícara na pia. — Desembucha.

E dei um sorriso maroto pra ela.

— Você sabe que não somos ricos, filho — disse ela, meio sem jeito.

— Era isso que a senhora queria me dizer? Poxa, eu sei disso faz tempo.

— Não se faça de bobo, Fernando. Você entendeu o que eu quis dizer.

Xiiiiiiiiiiiiiiiii! Fernando? Lá vem bomba.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, assustado. — O pai perdeu o emprego?

— Credo! Vira esta boca pra lá! — e minha mãe bateu três vezes na mesa.

Curioso. Já é a segunda vez que ouço esta frase hoje.

— O que foi então?

Minha mãe ficou em silêncio por alguns instantes, depois disse:

— Você sabe que pra pagar a sua faculdade, você vai ter que vender o carro.

Putz!!! Saber eu até sabia, mas precisava me lembrar disso agora, mãe? Sacanagem, hein!!!

— É, eu sei — lógico que respondi quase chorando. E minha mãe percebeu minha dor, é claro. Mãe é mãe, você sabe.

— E mesmo vendendo o carro, você terá que arranjar um emprego também.

Putz!!! Se eu já estava deprimido, imagine agora. Resolveram me dar todas as notícias ruins num dia só??? Assim não vale, porra!!! Só falta eu passar pela sala e meu pai me contar que tenho câncer no pênis.