As Aventuras de Nando & Pezão

“O Primo”

Último Capítulo – Um Charlatão e um Segredo

Pezão abriu a porta do carro e gritou no ouvido do Jibóia:

— Chega de babaquice e vai logo, porra!

— E não se esqueça de ligar para o meu celular quando terminar — falei.

— Pode deixar.

Quando o Jibóia desceu do carro, o grandalhão o analisou de cima a baixo. Antes de deixá-lo entrar, o cara saiu e o revistou. Havia um certo volume na calça do Jibóia, só não sei se era o pau dele ou se era a grana no bolso da frente.

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— E agora, pra onde a gente vai? — perguntei.

Pezão estava concentrado, procurando CD no porta-luvas.

— Sei lá, nem estou muito animado hoje — respondeu ele, enquanto tentava descobrir de que banda era o CD que estava em suas mãos.

— É Deftones, seu cego!

— Defeitones?

— DEFTONES! Não conhece?

— Não. Esta porra deve ser do meu irmão.

— Não vou dizer que é uma super banda do caralho, mas é melhor do que todas as bandas de pagode juntas, isso eu te garanto.

— Grande bosta. Qualquer coisa é melhor do que pagode.

E Pezão colocou o CD pra tocar.

— Vamos sair pra encher a cara ou vamos ficar parados aqui? — resmunguei.

— Espera — e fez sinal para eu ficar quieto. — Quero saber que porra de música esta banda toca.

O som começou a rolar. Pezão colocou o volume no máximo. Puta merda, meus tímpanos quase foram arrancados fora. Por que a mãe do Pezão precisa de um som tão potente assim? Será que ela curte uma Tati Quebra-Barraco nas horas vagas?

Pezão olhou para mim e deu aquele sorriso filho-da-puta que só o cara sabe fazer.

— Caraaaaaaaaaalho!!! — disse ele, empolgado. — Até que o pirralho tem bom gosto!

Bom, eu acho que foi isso que ele disse. O som está alto demais.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Pezão saiu fritando os pneus do Vectra.

Demos um rolê pelo centro da cidade e acabamos no Guerreiro's Bar.

Ah, antes que vocês façam insinuações, esta porra não é bar GLS. A julgar pelo nome, vocês podem ter a impressão de que o lugar só dá baranga, mas é aí que vocês se enganam; já encontrei cada filé neste barzinho! E digo barzinho apenas por força de expressão, pois o local é bem grande; tem dois ambientes: Dance e Rock.

Os garçons são meio lerdos, mas em compensação a cerveja é barata e a porção de batatas fritas é a melhor que eu já comi. Hoje nem está tão lotado, mas foi a melhor opção que encontramos.

Assim que paramos, notei alguns olhares femininos sobre nós. O foda é que o Vectra da mãe do Pezão está show de bola, e sair com carro bacana deixa você com aquela pulga atrás da orelha: será que as minas estão olhando para mim ou para o carro?

Ah, querem saber? Foda-se!!! Elas podem desejar o carro, desde que o meu bilau entre em ação no final da noite, certo? E falando em bilau, será que o Jibóia já está mandando ver?

— E o Jibóia? — disse eu para o Pezão, enquanto descíamos do carro.

— O que tem ele?

— O que será que ele está fazendo neste exato momento?

Pezão bateu a porta do carro com força. Depois respondeu:

— Porra, se ele não estiver metendo, é bom que esteja morto! Porque não levo ele de volta pra casa nem a pau.

Não agüentei, caí na gargalhada, tipo uma hiena chegando ao motel com outras cinco hienas biscates.

Escolhemos uma mesa.

Quase cinco minutos depois, fomos finalmente atendidos. Eu avisei que os garçons daqui são lerdos, né?

— Amigão, aquelas três morenas ali — apontei com o dedo indicador — estão desacompanhadas?

O cara olhou discretamente para a mesa delas, depois voltou a atenção para a nossa mesa e respondeu:

— Sozinhas, sozinhas. Dá para acreditar? E a do meio está louquinha pra dar.

— É hoje! — disse Pezão, esfregando as mãos.

— Acabei de vir da mesa delas. A da esquerda acabou de pegar o namorado com outra; está meio deprimida. E a que está de costas para nós é a mais bonita, mas fuma mais do que uma chaminé.

— Foda-se! — falei. — Eu cato.

— Eu também tenho um negócio para ela fumar — disse Pezão, passando a mão na virilha.

— Ali é só chegar e levar — disse o garçom. — Querem uma dica?

— E eu preciso de dica? — resmungou Pezão, batendo a mão na mesa. — Eu não sou o Jibóia, porra!

— Cala a boca, Pezão! — falei, quase metendo a mão na cara dele. — O cara está querendo ajudar, cuzão! — e olhei para o garçom, dizendo: — Desculpa, amigão, diz aí.

— As três estão carentes. Paguem um drink para cada uma das três. Eu entrego e digo que foram vocês dois que ofereceram. É tiro e queda.

— Fechado — disse eu. — Manda ver.

— Para a deprimida, uma Batidinha de Frutas; isso vai animá-la rapidinho. Para a assanhadinha, uma dose de Nevada; ela vai ficar ainda mais excitada. E para a fumante, um bom Licor de Chocolate; isso vai tirar um pouco aquele bafão de nicotina.

— Caralho — disse Pezão. — O cara manja mesmo. Desculpa aí, mano.

Pezão estendeu a mão e cumprimentou o garçom. Foi legal da parte dele.

— E vocês vão querer uma cerveja, certo?

— Claro, né? — falei. — Já imaginou se a galera passa aqui e pega a gente tomando Licor de Chocolate?

— Nem a pau, Juvenal! — disse Pezão.

O garçom deu risada e saiu com os nossos pedidos debaixo do braço.

— Porra, gente fina o cara — falei.

— Sei lá, tenho medo de gente boazinha demais.

— Nem todo mundo é filho da puta como a gente, brother.

A nossa cervejinha chegou bem antes, é claro. Já nos preparávamos para a segunda garrafa, quando os drinks das garotas foram entregues pelo garçom gente boa.

Não sou nenhum PHD em leitura labial, mas eu saquei quando ele disse para elas: "foram aqueles dois rapazes". Aí ele gesticulou e apontou para a nossa mesa.

A deprimida e a assanhadinha olharam para nós. A primeira deu um sorriso meio amarelo; a outra abriu um puta sorrisão, do tipo que diz: eu topo uma transa a três!

A fumante nem se deu ao trabalho de olhar para trás. Continuou de costas para a nossa mesa. Foda-se! Eu fico com a tarada e o Pezão que se vire com a deprimida corna chifronésia.

Drinks entregues; o garçom veio até a nossa mesa, com um sorriso nos lábios.

— Eu não disse que ia ser molesinha? — disse ele, todo cheio de si.

— Elas curtiram? — perguntou Pezão.

— Claro! E a do meio já convidou vocês dois para a mesa delas. Agora é com vocês.

— É hoje! — falei, esfregando as mãos.

Cumprimentamos nosso amigão garçom, mas de forma discreta. E depois fomos direto e reto para a mesa das morenas. Putz! Estou sentindo que o bicho vai pegar!

No meio do caminho eu me atrapalhei com uma garçonete e o maldito Pezão chegou à mesa delas primeiro. Resumo da história: ele ficou com a tarada só pra ele. Restou uma cadeira entre a deprimida e a fumante. Bom, o que vier é lucro. Aquela que der mole primeiro, eu caio pra dentro.

A deprimida é uma graça! Linda, parece uma indiazinha. Longos cabelos negros, lisos e brilhantes; tão brilhantes que quase vi o meu reflexo neles. Olhos grandes e expressivos, atrás de um discreto e elegante par de óculos. O narizinho é tão pequenino e delicado que a gente quase não o percebe. A boca é grande e seus lábios não chegam a ser finos nem grossos; eu diria proporcionais ao rosto. Quando ela se levantou para me cumprimentar, surpreendi-me com sua estatura; ela é bem alta.

— Muito prazer — disse eu. — Eu sou o Nando. Na verdade é Fernando, mas ...

— Aposto que só a tua mãe te chama pelo nome, né?

— Exatamente — e sorri para a indiazinha.

Ela sorriu de volta. Agora um sorriso mais bonito e verdadeiro do que aquele sorriso amarelo de agora há pouco.

— Muito prazer, Nando — disse ela, olhando bem nos meus olhos. — Eu sou a Nayra. Esta é a minha amiga ...

Quando tudo parecia estar caminhando bem, olhei para a minha direita e dei de cara com a terceira morena: a chaminé ambulante.

— Oi, Nando — disse ela. A voz é anasalada e tremendamente irritante. — Lembra de mim?

Putz! O pior de tudo é que esta voz é familiar. E o rosto também não me é estranho.

— Vocês se conhecem? — perguntou a assanhadinha. Esta, com as mãos nas coxas do Pezão.

— Eu me lembro muito bem de você, Nando — disse a fumante, após uma enorme baforada na minha cara.

— Desculpa, mas eu confesso que não consigo me lembrar de você. Qual o seu nome?

— Aparecida — respondeu ela, sentando-se novamente e cruzando as pernas. Lindas pernas, diga-se de passagem.

A indiazinha e eu nos sentamos também. Fiquei sentado entre as duas amigas.

— Desculpa — disse eu, olhando para a fumante — , mas você deve estar enganada. Não conheço nenhuma Aparecida.

— Talvez você se lembre da Cidinha Rolha dePoço.

Como é que é? Cidinha Rolha de Poço? Porra, é claro que eu lembro. Era uma gorda horrível, cheia de espinhas na cara e ....

— O que tem ela? — disse eu, espantado.

A fumante apagou o cigarro no cinzeiro, ficou de pé, olhou bem fundo nos meus olhos e respondeu:

— Está olhando para ela, babaca!

E a chaminé ambulante passou bufando por mim. Ela pisava com tanta força que o seu tamanco deve ter trincado o chão do bar.

— Aquela gostosa é a Cidinha Rolha de Poço? — disse o Pezão, com os olhos vidrados na bunda dela.

Não pode ser!!! A Cidinha Rolha de Poço era enorme! A menina era tão gorda que a escola precisava encomendar cadeiras e carteiras especiais só para ela.

Como é que ela se transformou naquele pedaço de mau caminho? Galera, aquilo ali que estava bufando fumaça era um tremendo mulherão. Tudo bem que parecia uma chaminé, mas era uma morena de parar o trânsito. Concordo com o garçom; é a mais bonita das três.

— Volto logo, tá? — disse a indiazinha, indo atrás da amiga. — Vou ver o que deu nela.

Bom, eu sei exatamente o que deu nela.

Nós estudamos juntos, há muitos e muitos anos atrás, quando éramos crianças. Todos os anos, em junho, acontecem as tradicionais Festas Juninas. Nem preciso dizer quem sobrou para ser meu par na quadrilha, né? Sim, ela, a Cidinha Rolha de Poço.

Mas a guria era muito gorda!!! Como poderíamos dançar sem que ela me esmagasse? Como eu poderia escapar daquela humilhação? A escola todinha estaria lá para me ver pagar aquele mico histórico.

Resumo da história: no dia da festa eu não fui. A coitada da gorda foi a única que dançou a quadrilha sozinha.

Depois daquele dia ela pegou um ódio mortal da minha pessoa. Sempre que nos encontrávamos ela jurava vingança.

Bom, só espero que ela não resolva se vingar hoje, pois eu estou louco para levar a sua amiga indiazinha para o motel.

Enquanto eu esperava o retorno das duas, Pezão quase engolia a tarada em pleno bar. Era língua pra cá. Mão cega pra lá. Uma pegação sem igual. Os dois estavam quase transando ali do meu lado.

Ah, esqueci de dizer que o nome da morena assanhadinha é Margareth. O Pezão se deu bem, a desgraçada é muito gatinha. Pele branquinha, seios durinhos, barriga tanquinho, pernas compridas e uma voz rouca sexy pra caralho. Aposto como ela é locutora de alguma rádio. Nunca tinha ouvido uma voz tão linda.

Porra, se não fosse aquela maldita garçonete, eu teria chegado primeiro à mesa e ...

Meu celular está tocando: é o Jibóia. Será que ele já terminou o serviço?

— Fala, Jibóia dos infernos — disse eu. — Perdeu o cabaço?

— Me ajuda, Nando! — disse ele, apavorado.

— O que foi, cara?

— Como é que eu tiro a porra da camisinha?

— O quê? Deixa a porra na camisinha, cara. Depois é só dar um nó e ...

— Não é isso! Eu quero saber como é que eu tiro a camisinha da embalagem?

— Jibóia, você está de brincadeira comigo, né? E cadê a biscate?

— Ela desceu pra pegar uma garrafa de vinho. Eu não consigo abrir esta maldita embalagem, Nando! Me ajuda, caramba!

Fala sério, hein!

— É fácil, seu idiota! Está vendo os lados picotadinhos?

— Picotadinhos?

— Sim, repare que há diferença entre os lados picotadinhos e os outros.

— E o que eu faço?

— Porra, Jibóia, usa a cabeça! Segura firme a embalagem com as duas mãos sobre um dos lados picotados. Com uma das mãos você empurra para frente; com a outra você puxa na direção do seu peito. Entendeu?

— Espera. Vou tentar.

Ninguém merece.

— Conseguiu? — perguntei. — Conseguiu, porra?

E a ligação caiu.

O filho da mãe deve ter ficado empolgado com a camisinha nas mãos. Talvez nunca tenha visto uma na vida, né? Se bobear, até gozou ao abrir a embalagem.

Quando dei por mim, Pezão e Margareth já haviam se mandado dali. Maldito Pezão filho da puta dos infernos!!!

Levantei-me e pude vê-lo deixando o estacionamento com o Vectra. O cuzão me largou aqui sozinho e saiu com a tarada para o motel. Com um amigo como este, quem precisa de inimigo?

Mas parece que nem tudo está perdido ...

— Voltei — disse a indiazinha, sentando-se ao meu lado.

— Ufa — disse eu, aliviado. — Pensei que vocês tinham ido embora.

A indiazinha finalmente percebeu a ausência da outra amiga.

— Cadê a Margareth?

— Será que preciso mesmo responder?

E sorri de forma sacana.

— A Ma é foda, viu? — disse ela, fazendo bico. — Só pensa em sexo. Eu agüento ficar até uns seis meses sem.

— Sério? Seis meses? Seis dias sem umazinha e eu já entro em parafuso.

— Homem é tudo igual mesmo. Fala sério, viu?

— Não é bem assim. Conheço garotas que não suportam ficar três dias sem.

— A Margareth não agüenta nem dois dias.

— Putz! O Pezão será estuprado então.

— Ah, aquele seu amigo também tem uma cara de tarado, viu?

E ficamos os dois rindo feito bobos. Gostei da indiazinha! Além de muito gata, parece ser gente fina também.

Quando percebi um certo clima, parti pra cima dela e tentei um beijo. Ela recusou. Há muito tempo eu não ficava tão sem graça.

— Aqui não! — ela sussurrou no meu ouvido.

— Por que não? — falei baixinho também.

— Prometi para a Aparecida que não rolaria nada entre nós dois.

— Ah, não seja boba!

— Ela disse que nunca mais olharia na minha cara.

E tentei beijá-la outra vez. Ela desviou novamente.

— A Aparecida não está passando muito bem. Vou levá-la para casa Aí saímos para um lugar mais tranqüilo. O que você acha?

— Adorei a idéia — respondi, esfregando minha mão direita sobre a coxa dela.

De repente ela me surpreendeu com um beijo. Um beijinho rápido, praticamente um selinho. Foi muito bom.

— Mas cadê a sua amiga? — perguntei.

— Já está vindo. Ela está com alguns problemas estomacais esta noite. Pobrezinha.

— Pobrezinha? Peça para ela parar de fumar, isso sim. Se o estômago dela está ruim, imagine o pulmão!

— Verdade. Eu não me canso de pedir para ela parar de fumar, mas não adianta. Quanto mais a gente pede, mais ela fuma.

— Mas uma coisa eu preciso admitir, ela está linda.

— Como assim? Quando você a conheceu ela não era?

Comecei a rir.

— Deixa pra lá — falei, segurando para não soltar uma gargalhada monstro.

Cidinha, quero dizer, Aparecida, voltou. Estava com uma cara de pouquíssimos amigos. Além disso estava pálida e transpirava bastante.

— Você está bem? — perguntou Nayra para a amiga.

— Não. Me leva urgente pra casa, Naná.

— Claro, amiga.

Cidinha não gostou muito quando soube que eu iria junto, mas também não fez nenhum escândalo.

E lá fomos nós três. Nayra tem um Ka prata. Bonitinho, mas não faz meu gênero. O bagulho parece um ovo com rodas.

Ao engatar a ré, Nayra quase atropelou um casal que estava encostado num Corsa. Depois, ao engatar a primeira, quase entrou dentro do bar. Fiquei com medo de perguntar, mas achei melhor arriscar:

— Você está em condições de dirigir?

Eu a vi me olhando torto pelo retrovisor.

— Homem é tudo igual mesmo. Machista!!!

Nayra saiu do estacionamento do bar e quase entrou no meio de um ônibus que passava pela avenida. Demorei um pouco para entender que Nayra não está bêbada, ela é barbeira mesmo.

— Gatinha, você não acha melhor eu ir dirigindo? — tentei outra vez.

Ela nem me deu bola. Engatou uma primeira bem longa e meteu a segunda aos trancos e barrancos.

Parece que a aventura está só começando. Fechei os olhos e entreguei tudo nas mãos do meu anjo da guarda. O problema é que vocês conhecem muito bem o meu anjo da guarda, né? O desgraçado costuma cochilar de vez em sempre.

Se já não bastasse uma meia-roda no volante, a outra ao seu lado estava com caganeira. O problema estomacal da Cidinha era mais grave do que eu imaginava. Aposto que a mina já está toda cagada.

— Eca, que cheiro horrível é este? — resmungou Nayra.

Imediatamente, a Cidinha inclinou-se sobre a amiga e cochichou alguma coisa no ouvido dela. A reação da Nayra foi imediata.

— Credo, Nando! — disse ela, super irritada. — Não dava para esperar e soltar lá fora?

— Como é que é? — fiquei muito puto. — Eu não fiz nada!

— Seu porco! — gritou Cidinha.

— Eu, né? Ah, se liga! Quem é que está com problemas estomacais?

— Vou ter que parar! — disse Nayra, dirigindo pelo meio da pista. — Não estou conseguindo dirigir direito com este cheiro!

Minha filha, com ou sem cheiro, você não sabe dirigir!!!

— Ele soltou mais um, Naná! — gritou a maldita Cidinha.

E foi aí que aconteceu uma cena que ficará gravada em minha mente pelo resto da vida: Nayra entrou em pânico, soltou as mãos do volante e começou a gritar de forma histérica. Daí pra frente eu não me lembro de mais nada.

Testemunhas dizem que o Ka passou em altíssima velocidade sobre uma lombada e decolou. Acertamos um Uno de raspão e acabamos batendo no muro de um casal de velhinhos. Quase fomos parar dentro do quarto deles.

Por incrível que pareça, nós três, ocupantes do Ka, sobrevivemos. Infelizmente o casal de velhinhos não teve a mesma sorte; os pobrezinhos morreram na hora. O susto foi grande demais para eles.

Dois dias após o acidente, Pezão e Jibóia foram me visitar no hospital. Quando Jibóia entrou no quarto, pensei que nós dois havíamos morrido e estávamos nos encontrando em algum lugar do infinito.

— Cara, seu anjo da guarda é forte, hein! — disse Jibóia.

— Será?

— Claro que é! Se você visse o estado em que ficou o carro ... Putz!!!

— Quase que você foi pro saco antes do Jibóia — disse Pezão.

— Falando nisso — disse eu para o Jibóia. — , você continua vivinho da Silva.

— Pois é, não morri ... ainda.

Ficamos em silêncio.

— E aí, perdeu o cabaço?

Antes que Jibóia respondesse, Pezão caiu na gargalhada.

Xiiiiiiiiiiii, já estou vendo que não comeu porra nenhuma.

— Continua virgem?

Jibóia balançou a cabeça afirmativamente.

— Porra, Jibóia!!! O que houve? Não conseguiu tirar a camisinha da embalagem?

— Consegui.

— E ???????????

— E foi aí que eu descobri que sou alérgico ao látex.

— Você está brincando comigo, né?

Jibóia balançou a cabeça negativamente.

— Ele foi internado às pressas, Nando — disse Pezão, rindo feito uma hiena com coceira no ânus. — Até ontem ele era seu vizinho de quarto aqui no hospital.

— Sério? — perguntei.

Jibóia balançou a cabeça afirmativamente. Sacanagem, fiquei com pena do cara.

— E não rolou nem uma chupetinha?

Aí os olhinhos do Jibóia brilharam e ele abriu um sorrisão feito uma criança quando descobre que o pai trouxe sorvete.

— Aeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee, Jibóia!!! Só no glu-glu, hein!!!

Eu até queria estender minha mão direita e fazer um "toca aqui!", mas foi aí que eu me lembrei de que estava com mais da metade do corpo enfaixado.

— É muito bom, né? Principalmente quando ....

Um médico entrou no quarto, às pressas. Parecia apavorado com alguma coisa.

— Se perguntarem por mim — disse o médico. — , digam que não me viram. Combinado?

Jibóia estendeu a mão na direção do médico e disse:

— Lembra de mim, doutor? Está tudo bem com o senhor?

O homem nem lhe respondeu. Escondeu-se atrás da cama onde eu estava deitado.

— Espera aí — disse Pezão, indo na direção do médico. — Eu conheço este safado filho de uma puta do caralho!!!

— Foi ele que me examinou quando eu bati a cabeça, primo — disse Jibóia.

Pezão pegou o médico pela gola do jaleco e o obrigou a ficar de pé.

— Foi este cuzão que disse que você ia morrer a qualquer momento?

— Sim, mas por que você está chamando o doutor de cuzão?

— Você o conhece? — perguntei.

— Claro que conheço!!! Olha bem para este filho da puta, Nando! Não lembra?

Antes que eu pudesse olhar bem para a cara dele, o cara empurrou o Pezão e saiu correndo em direção à porta. Quando esta se abriu, uns cinco policiais avançaram nele e o algemaram.

E foi só aí que a minha ficha caiu ... Este médico é aquele mesmo médico que operou o pinto do Pezão naquela clínica falsa, meses atrás. Lembram? O cara é um puta charlatão. Acho que nem diploma ele tem.

Ficamos contentes por descobrirmos que o Jibóia não tem nenhuma doença grave, e que não está para morrer a qualquer momento, como afirmara o falso médico.

Saímos para celebrar e tomamos um porre daqueles. Margareth foi junto com a gente, afinal de contas agora ela é a Sra. Pezão. Pois é, acreditem se quiser, Pezão está namorando firme.

Antes do famoso "FIM", preciso lhes contar algumas coisas muito importantes:

Lembram da loira com luzes nos cabelos? Além do glu-glu que ela fez no Jibóia, os dois também conversaram. Durante a conversa, Jibóia tocou no assunto Caroline. A loira afirmou que tudo não passava de uma coincidência, mas ... parece que ela ficou bem abalada ao ouvir o nome da falecida.

A melhor parte vem agora ...

Quando Jibóia sofreu o ataque alérgico e teve que ser levado às pressas para o hospital, a loira pensou que ele fosse morrer. Com a consciência pesada, ou sabe-se lá por quê, ela acabou lhe contando um segredo ao pé do ouvido.

A loira que fez o primeiro sexo oral da vida do Jibóia não é a Caroline, mas sim irmã dela.

E agora, para terminar, acabei de ficar sabendo que o Jibóia comeu a Maura.

Ele e a torcida do Flamengo, né? Hehehe ...

( FIM )