As Aventuras de Nando & Pezão

“O Primo”

Capítulo 11 – O Silêncio que Precede o Esporro

— Você não está falando sério, está? — disse eu para o Jibóia.

— Estou sim.

— Mas é muita grana, seu idiota! — disse o Pezão.

— E daí? O que eu tenho a perder? Posso morrer daqui a cinco minutos mesmo!

Bom, nisso ele tem razão.

— E você tem a grana? — perguntei.

— Tenho sim. Está no banco, mas tenho.

— Já sabe qual biscate vai escolher? — perguntou o Pezão.

— Eu quero a loira com luzes nos cabelos.

NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOO!!!

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Calma, Nando. A guria não é a Caroline. É apenas alguém que se parece com ela! A Caroline está morta. Morta! Entendeu?

A Val me passou o número do celular do tio dela. Jibóia não sossegou enquanto eu não liguei.

O cafetão dos infernos ficou puto quando soube que era eu, mas amansou quando mencionei os 3 mil dólares. É impressionante como dinheiro resolve uma porção de problemas, não é? Mas lembrem-se, não resolve todos.

Acertei todos os detalhes: local, garota e forma de pagamento. Por um instante fiquei de pau duro durante a conversa. Acho que Nando Júnior pensou que tudo aquilo seria para ele, coitadinho.

Desliguei o celular.

— Tudo certo? — perguntou Jibóia, ansioso feito um fumante que não vê cigarro há mais de uma semana.

— Sim, é hoje que você perde o cabaço.

Eu disse hoje porque já é madrugada, mas marquei a trepada dele para as 22h.

Os olhos do Jibóia até brilharam.

— Dá pra me levar pra casa agora ??? — resmungou a Val, bem nervosa.

Quando deixei a Val no portão de sua casa, ela me tratou da maneira mais fria possível; nem tchau ela me deu. Mas se eu a conheço bem, hoje mesmo ela me liga para sairmos outra vez. O problema é que eu não sei se vou querer atender. A Val é grudenta demais, não faz o meu tipo.

E assim terminou a nossa noite. Foi bem frustrante, eu esperava muito mais. Não que eu botasse muita fé na perda do cabacinho do nosso amigo Jibóia, mas no fundo eu achei que ele fosse ter uma morte digna: recebendo um sexo oral no estacionamento da choperia. Não sei se isso seria digno, mas pelo menos seria divertido. Melhor do que morrer no sofá da sala, assistindo a Sessão da Tarde.

Bom, mas o pior de tudo foi o maldito cheiro de gente morta que ficou no meu carro. Puta que pariu! Cinco minutos dentro dele e você começa a se sentir enjoado. Dá vontade de se jogar pela janela. Ah, e não nos esqueçamos do arranhão na lataria. Meu, acho que vou chorar.

A sorte é que o Jibóia se prontificou a pagar pela limpeza. Bom, era o mínimo que ele poderia fazer por mim, não é? Afinal de contas armei a primeira e (quem sabe?) a última trepada da vida dele. Quero dizer, se o Jibóia não morrer antes, é claro. Putz! Seria muito azar, não acham? Mas isso é coisa que geralmente aconteceria com um certo alguém que vocês já conhecem de longa data.

Pensei que ia dormir a tarde toda e descansar, mas não foi bem assim que a banda tocou ...

— Fernando, o que houve com o seu carro? — gritou minha mãe, enquanto abria a janela do meu quarto.

— Oi?

— O senhor ouviu muito bem a minha pergunta!

— O primo do Pezão passou mal e acho que não preciso contar o resto.

— E aquele arranhão, hein? Você estava dirigido bêbado, Fernando?

— Não, mãe.

— O carro está com um cheiro terrível!

— Mas aposto que não é cheiro de cerveja.

— E o mau cheiro está passando pra garagem, Fernando! É bom o senhor tratar de lavar aquilo, antes que o cheiro venha parar dentro de casa também!

— Tudo bem, mãe.

Ela puxou meu lençol com raiva. Poucas vezes vi minha mãe tão irritada assim.

— Agora levanta daí e dá um jeito naquilo, Fernando!

Caramba, vocês contaram quantas vezes ela disse Fernando? Bateu todos os recordes mundiais.

Levantei, tomei um banho, tomei café, peguei o telefone e liguei para a casa do Pezão. O próprio atendeu:

— Fala.

— Chama o filho da puta do seu primo aí.

— Impossível, cara.

— Chama logo aí, porra!

— Não dá.

— Mas não dá por quê?

— Porque ele morreu, Nando.

Putz!!! Sacanagem.

— Caralho! Quando ele morreu, cara?

De repente ouvi uma leve risadinha ao fundo.

— Pezão, seu filho da puta!!! — disse eu, irritado.

Aí o que era uma leve risadinha transformou-se numa puta de uma gargalhada.

— Peguei você direitinho, hein! — disse Pezão, rindo feito uma hiena que acabou de ser contratada pra fazer um filme pornô com a Gretchen.

— Pezão.

— Fala.

— Enfia o dedo no cu e assovia o hino da Coréia, seu porra!

— Ah, vai ser foda. Enfiar o dedo no cu eu até enfio, mas eu nem faço idéia de como seja o hino da Coréia, mano.

— Palhaço. Acordou engraçadinho hoje, não? 

— Muito. Não são nem 10 horas da manhã e já meti gostoso três vezes.

— Já sei, você resolveu aliviar a tensão do Jibóia e comeu o cuzinho dele.

— O dele não, mas o da nova empregada sim. Meu, a mina teve a moral de vir limpar o meu quarto sem calcinha. Ah, aí quando ela se inclinava para limpar as minhas coisas eu não resisti e créu!!! Essa empregadinha está me deixando louco.

Porra, por que estas coisas não acontecem comigo também?

— Ela não é bonita — prosseguiu o Pezão. — , mas a filha da mãe tem uma bunda muito gostosa e os peitinhos são durinhos e pontiagudos, umas belezinhas. Foi a primeira diarista comível que a minha mãe já contratou até hoje. As últimas eu não teria coragem de catar, nem bêbado.

— Quando eu for aí você me apresenta a Marinete?

— Apresento porra nenhuma! Vai te catar! E o nome dela não é Marinete, cara. Bom, para ser honesto eu nem sei qual é o nome dela.

— Meu, pára de me enrolar e chama logo a porra do seu primo!

— O cara deve estar numa punheta daquelas. Faz mais de meia hora que o maldito está no banheiro.

— Talvez você estivesse certo então: morreu.

— TÁ VIVO, PRIMO?????? — gritou Pezão. Ainda bem que ele afastou a boca do telefone, ou teria estourado meus tímpanos.

Não consegui ouvir a resposta muito bem, mas parece que o Jibóia deu sinal de vida.

— Espera aí, ele vem vindo — disse Pezão.

— Beleja.

E Jibóia assumiu o telefone.

— Fala, Nando.

— Seguinte, preciso que você pague a limpeza do meu carro o mais rápido possível.

— Sem problema. Você passa aqui?

Caralho, tão fácil assim? Bom, o cara está pra morrer a qualquer momento. Nada mais justo do que resolver as pendências antes de bater com as botas, né?

— Sim, já estou a caminho então.

— Beleza.

Chegando em frente a casa do Pezão, acho que dei de cara com a tal diarista fogosa. Ela estava empurrando sua bicicleta pela calçada. Aprovo tudo o que o Pezão havia dito sobre ela; a bunda é mesmo deliciosa e os peitinhos têm um formato bonito. Agora o rosto ... puta que pariu!!!!!! Vai ser feia assim lá na casa do capeta!!!!!! Será que a diarista do Pezão é parente da Lelê? Páreo duro as duas, não sei dizer qual das duas é a filha favorita do demônio. Meu, de onde saiu aquilo ali? Sai, coisa ruim!!!!!!

Não resisti; assim que ela subiu na bicicleta eu disse:

— Oi, Marinete!

Ela olhou pra mim e não entendeu porra nenhuma. Comecei a rir sozinho. E ela saiu pedalando sua bicicleta cor-de-burro-quando-foge, tão linda quanto ela.

Pezão apareceu na janela do quarto dele. Dei jóia e gritei:

— Fala, São Jorge!!!

Em seguida, Pezão e Jibóia vieram até o portão.

— Por que você me chamou de São Jorge? — resmungou Pezão.

— Porra, quem mata dragão é o quê? — respondi, às gargalhadas.

Jibóia parou pra pensar um pouco e, quando caiu a ficha, também desabou numa gargalhada.

— O pior é que ela é gostosa — disse o Jibóia.

— Ah, isso ela é — reconheci. — Do pescoço pra baixo dá um belo caldo.

— Vão se foder vocês dois — disse Pezão, nervosinho. — Isso é inveja. Imaginem ela sem calcinha, só de avental, fazendo faxina no quarto de vocês.

Pois é, acho que eu comeria também. E o Jibóia idem, o cara está no desespero, o que vier é lucro.

— Mas eu vim aqui para resolver outras coisas — disse eu. E olhei para o Jibóia. — Vamos nessa?

Jibóia fez que sim com a cabeça.

— Espera, eu vou também — disse Pezão. E saiu correndo pelo quintal.

— Aonde você vai? — gritei.

— Pegar um carro, né? Não entro no seu enquanto não sair aquele cheiro de merda. Passei mal a noite inteira.

Mas isso será resolvido o mais breve possível.

Entramos no carro, engatei a primeira e saí queimando os pneus. Nem me lembrei que o Pezão viria atrás. Ah, dane-se o Pezão, não é ele que vai pagar o serviço mesmo.

Quando eu era guri, lembro-me de ter vomitado no banco de trás do carro do meu pai. É lógico que ele ficou uma fera comigo. Fiquei uma semana de castigo. O mais curioso de tudo é que a empresa onde meu pai deixou o carro para limpar ainda existe: Limpinhu's Lava Car. Apesar da fachada estar mais moderna, o lugar continua idêntico.

Assim que eu estacionei no pátio da empresa, o celular tocou, é o Pezão. O Jibóia desceu do carro, acho que não suportou o cheiro.

Putz! Acho melhor eu descer também. O cheiro está foda mesmo.

Atendi o celular.

— O que você quer? — disse eu.

— Onde vocês estão, porra? Por que não me esperaram?

— Estamos aqui no Limpinhu's.

— Limpinhos? Que porra de bar é este?

— Não é bar, caralho! É a empresa que vai dar um trato no meu opalão.

— Ah, eu sei qual é. Os caras mandam bem. Uma vez minha mãe deixou o carro dela aí e voltou novinho em folha.

— É o que eu espero.

— Tô indo aí então.

E desliguei o celular. Um dos funcionários da empresa veio até a nossa direção.

— Bom dia, em que posso ajudar?

— Bom dia — e abri a porta do carro. — Chega mais perto e você vai entender o motivo de estarmos aqui.

Antes mesmo do cara entrar no meu carro, já deu pra ver ele fazendo careta.

— Caramba! — disse ele. — Desculpa a pergunta, mas morreu alguém aí dentro?

— Felizmente não, mas é exatamente o que parece.

— Este vai dar trabalho. Nunca senti um cheiro tão forte.

— Mas tem solução, né?

— Sim, fica sossegado. Tudo na vida tem solução. Menos pra morte, é claro.

— Com certeza — confirmou o Jibóia, balançando a cabeça.

Deixei o Opala para ser devidamente higienizado. Espero que consigam tirar aquele maldito fudum. Deram um prazo de dois a três dias para concluírem o serviço. Eu achei um exagero, mas se ficar bom, é o que importa. O preço do serviço também não ficou muito baratinho, mas como não sou eu que vou pagar mesmo, foda-se.

De repente Pezão apareceu com um Vectra azul bonito pacas.

— O Pezão está de Vectra agora? — perguntei para o Jibóia.

— Não é dele, é da minha tia.

— A mãe dele troca de carro direto, né?

— Quem pode, pode.

— Vamos dar um rolê por aí? — disse Pezão.

E saímos de Vectra. Olha, show de bola o carrinho. Vidro fumê, DVD e o escambau. Só faltou um frigobar.

— Pra onde a gente pode ir? — perguntou Pezão.

— Porra, se fosse noite teríamos mais opções — falei. — , mas não deu nem meio-dia!

— Eu estou morrendo de fome — disse Jibóia.

— Eu também — disse Pezão. — Tem uma churrascaria aqui perto.

— Demorou.

Almoçamos e depois acompanhamos o Jibóia até o banco. O cara foi sacar a grana para pagar o tio da Val. O gordinho cafetão me disse em alto e bom som que só aceitaria o pagamento em dinheiro vivo. Maldito gordinho sem-vergonha dos infernos.

Ao nos despedirmos, ficou combinado o seguinte: 21h30 o Pezão e o Jibóia vão passar na minha casa e iremos direto para a mansão do cafetão, onde irá rolar o vuco-vuco. Com certeza Pezão e eu não poderemos ficar para assistir, então nós sairemos para dar um rolê. Quando o Jibóia terminar o serviço, nós voltaremos para a mansão para pegá-lo e bebemorarmos a tão aguardada perda do seu cabaço.

O dia custou a passar. Imagine para o Jibóia então! O coitado deve estar numa ansiedade monstruosa. Mil coisas devem estar se passando em sua cabeça pervertida. Será que vai ser bom? Será que vou gozar? Será que vou brochar?

Quando o relógio marcou 21h43, Pezão buzinou. 

Assim que abri a porta de trás do Vectra, um cheiro forte me pegou de assalto. Reconheço que era um cheiro infinitamente melhor do que o cheiro que assola o meu pobre Opala, mas estava forte demais para o meu gosto.

— Caralho, quem foi que tomou banho de perfume? — perguntei.

— Eu não falei pra você, seu porra? — brigou Pezão com o primo.

— Mas eu passei só um pouco.

— Duvido! Deve ter despejado o frasco inteiro. Esta porra desse cheiro está me deixando tonto.

E Pezão saiu fritando os pneus.

— Trouxe camisinha? — perguntei.

— Ahã, uma porção — disse Jibóia.

É nítido o nervosismo em sua voz. E convenhamos, perfeitamente natural para a ocasião.

— Isso aí, rapaz, bota pra quebrar! Hoje é a sua noite.

— Você conhece a garota que eu escolhi?

Esta pergunta me pegou totalmente de surpresa.

— N... não, não. Ela apenas me lembra uma pessoa. Nada mais.

— Quer que eu confirme se é mesmo ela?

— Bom, acho meio difícil que você consiga fazer isso.

— Por quê?

— Porque putas raramente revelam seus nomes verdadeiros, Jibóia. Se você perguntar o nome dela, ela irá dizer o nome de guerra.

— Hmmmmm ....

Liguei no celular do tio da Val e avisei que estávamos chegando. Ele me falou algumas regras que o Jibóia deveria seguir lá dentro e bla bla bla. Nada de mais, coisas básicas como não poder entrar armado e não furtar nada da casa. Coisas que até eu e vocês não gostaríamos que o Jibóia fizesse em nossas próprias casas, não é?

Quando paramos o carro na frente da mansão, já tinha uma pessoa a nossa espera. O cara era grande feito um armário. Coitado do Jibóia se ele desrespeitar as tais regras de conduta.

— Vai lá, primo — disse o Pezão. — Não esquece de comer o cuzinho dela também. Por 3 mil dólares você deveria ter direito a comer até a mãe dela, porra.

— Pega leve, Pezão — falei. — Não pressiona o cara.

— Obrigado pela força que vocês me deram — disse Jibóia, agora com uma voz um pouco mais relaxada. — Se por acaso eu morrer e não conseguir me despedir de vocês ... venho puxar o lençol e assustá-los todas as noites!!!

— Pode parar com isso! — falei. — Se você morrer, vá para o inferno, mas não venha me encher o saco não! Fantasma ou não, chuto o seu saco.

Pezão abriu a porta do carro e gritou no ouvido do Jibóia:

— Chega de babaquice e vai logo, porra!

— E não se esqueça de ligar para o meu celular quando terminar — falei.

— Pode deixar.

Quando o Jibóia desceu do carro, o grandalhão o analisou de cima a baixo. Antes de deixá-lo entrar, o cara saiu e o revistou. Havia um certo volume na calça do Jibóia, só não sei se era o pau dele ou se era a grana no bolso da frente.