As Aventuras de Nando & Pezão

“Mistério Misterioso”

Capítulo 13 – A Casa da Tia 

Saltei até a porta da sala, girando a chave desesperadamente. 

— Aonde vocês vão? — disse Isabella, apavorada.

— Qualquer lugar bem longe daqui!!!! — respondi, tremendo dos pés a cabeça.

E saí correndo desesperado até o portão. Zoinho veio logo atrás.

Entramos rapidamente no Opala, nem arrisquei olhar para trás. Pisei fundo no acelerador e saí queimando os pneus.

O destino? Sei lá!!! Qualquer lugar bem longe daquela casa!!!

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Celular tocando. Mas não era o meu. Era o celular do Zoinho. O coitado tremia tanto que quase não conseguiu atender o bagulho.

— Alô — disse ele, meio assustado. — Ah, é você? Não, não estamos mais na casa das garotas.

— Quem é, porra? — perguntei.

— É o Pezão. Ele quer falar com você.

E Zoinho me passou o celular.

— Fala — disse eu.

— Está rolando a maior suruba aqui na casa da minha tia — disse Pezão.

— O quê?

— Suruba, Nando, suruba!

— Suruba? Ah, fala sério! Brincadeira tem hora, porra!

É mentira do Pezão. Ninguém diz que está numa suruba com este desânimo todo.

— Estamos saindo de Santos — falei. — Agora me ensina a chegar aí na casa da sua tia.

— Então vocês estão vindo pra cá?

— Sim. Tivemos um probleminha lá na casa das gêmeas.

— Legal. Estão só vocês dois ou as biscates também?

— Só nós dois. E o que te importa?

— Vem logo. O negócio está bom aqui. Descolamos umas gostosas na praia.

— Está me achando com cara de idiota, Pezão? Pára de graça, cara. Agora me diz como eu faço pra chegar aí.

Pezão me deu algumas dicas e me forneceu alguns pontos de referência.

Mas tem algo de estranho nesta história. O Pezão me pareceu nervoso. Ou será que o papo de suruba é verdade? Será que tinha alguma biscate fazendo glu-glu enquanto ele conversava comigo? Ah, sei lá ...

Enquanto isso, Zoinho chorava.

— O que foi, cara? — perguntei.

— Não é justo, Nando.

— E quem disse que a vida é justa? Bola pra frente, Zoinho.

— Finalmente encontro uma garota bonita que gosta de mim ... e me acontece isso.

— Não é o fim do mundo. A gente volta lá depois que tudo se acalmar.

— Mas os pais da Camilla jamais aceitarão o nosso namoro.

— Fodam-se, Zoinho!!! Você quer namorar a Camilla ou os pais dela?

Zoinho ficou em silêncio, triste.

— Vai dar tudo certo — falei, tentando animá-lo um pouco.

— Eu já te contei que ela impediu vários suicídios lá no CVV, né?

Puta merda, homem apaixonado é um porre.

— Já, Zoinho, já contou.

— A Camilla é um anjo, Nando!!!

Eu ainda prefiro a Isabella.

De repente Zoinho começou a rir.

— Isso aí, mano, bola pra frente — falei.

— É verdade mesmo que o pai delas tentou te agarrar?

Filho da puta. Então é por isso que ele estava rindo, né?

— E eu ia inventar por quê?

— E ele te beijou?

— Ah, vai se foder, Zoinho!!!

Santos e São Vicente são praticamente coladas. Você nem percebe quando sai de uma e entra na outra. Segundo as informações do Pezão, para chegar na casa da tia, eu preciso encontrar uma tal de Ponte Pênsil, atravessá-la e virar à esquerda.

Encontrei a ponte rapidamente. Nem foi preciso perguntar pra ninguém. Havia placas por toda a cidade.

O celular do Zoinho tocou novamente. Quando ele viu que era o Pezão, passou o aparelho para as minhas mãos.

— Fala, Pezão do caralho, e a suruba?

— Continua rolando.

Me engana que eu gosto. Se o filho da puta estivesse mesmo numa suruba, vocês acham que ele nos convidariam? É lógico que não.

— Vocês já estão chegando? — perguntou ele.

— Já estou vendo a tal da ponte. Mais alguns minutinhos e a gente chega aí.

— Legal — silêncio ao telefone. De repente ... — Nando ...

E caiu a ligação.

— Estranho — disse eu.

— O que houve? — perguntou Zoinho, pegando o celular de volta.

— O Pezão ia me dizer alguma coisa e parece que alguém o interrompeu.

— O Mamutão?

— Sei lá. Pode ser.

— E que papo é este de suruba? É verdade?

— Duvido muito. Mas seria legal se fosse verdade, hein!

— Justo hoje??? Porra!!!

— Como assim?

— Eu não poderia trair minha doce Camilla.

— Se a suruba for de verdade você esquece a Camilla em dois segundos, cara.

— Não mesmo.

— Quer apostar comigo? Nós somos guiados pelo pinto, Zoinho. Ou será que você não percebeu?

— Eu sei me controlar.

Caí numa gargalhada, tipo uma hiena com uma calculadora na prova de matemática.

— Vai se foder, Zoinho!!! Pra cima de mim? Esqueceu da sua coleção gigantesca de revistas de sacanagem? Você sempre foi o mais punheteiro da turma.

— Mas agora é diferente. Estou apaixonado pela Camilla.

— Fica frio. A suruba é invenção do Pezão.

— Ufa.

— Você não resistiria à tentação, não é?

— Claro que não. Não sou de ferro, porra.

Viu só, mulherada? Nós homens somos todos iguais mesmo. Nenhum presta.

Passei pela ponte, virei à esquerda e subi por uma rua esquisita. O número da casa é 584 ... Ali está ela!!! Chegamos.

Parei o carro em frente ao portão da casa. Uma casa bem modesta, diga-se de passagem. Eu estava esperando mais. Mas dane-se, pelo menos não tem nenhuma bicha enrustida tentando me agarrar.

— Agora eu entendi por que o Pezão ligou para o seu celular — falei.

— Você esqueceu o seu na casa das garotas — respondeu Zoinho, nada surpreso.

— Sim. Só percebi isso agora.

— Mais um motivo para voltarmos lá.

— Pois é.

E falando em celular, o celular do Zoinho tocou outra vez. Peguei o aparelho das mãos dele e atendi:

— Já chegamos, porra!!! Vem abrir este portão.

— Ele já está aberto — respondeu Pezão, com uma voz meio estranha. — Entrem, estamos esperando por vocês.

— Não tem cachorro bravo, tem?

— Não.

E desliguei o celular.

Meu, tem alguma coisa estranha. Ou será que a suruba está rolando solta e eu estou me preocupando à toa? Bom, vamos descobrir logo.

Empurrei o portão e entramos. Passamos por um estreito caminho de cimento até chegarmos numa porta de madeira. As janelas da casa estavam fechadas, bem como as cortinas. Muito estranho, principalmente para o tremendo calor que faz aqui nesta região.

Quero dizer, a não ser que a tal suruba seja verdade e ...

Bati três vezes na porta. Ninguém apareceu.

— O Pezão está armando alguma coisa pra cima da gente — disse o Zoinho.

— Eu também acho. Ah, quer saber de uma coisa? Foda-se!

Girei a maçaneta da porta. A porta estava aberta. Empurrei-a com cuidado e entrei na casa. Zoinho veio atrás de mim.

— Onde vocês estão? — gritei.

— Aqui, Nando! — era a voz do Pezão. — Estamos na cozinha.

Por um breve momento eu tive uma visão maluca: Pezão transando com três loiras sobre a mesa da cozinha. Porra, eu não tenho culpa? O cara ficou falando em suruba! A minha mente é fértil, caramba!!!

Dei três passos na direção de onde veio a voz do Pezão, quando fui me preparar para o quarto passo ... PÁ!!! Senti uma forte pancada na cabeça.

Infelizmente não era o Pigmeu e suas joaninhas iradas.

Fiquei desacordado não sei por quanto tempo.

Quando acordei, minha boca estava fechada com fita isolante e meus pés e minhas mãos estavam amarrados com cordas. Nunca senti tanto medo e desespero em toda a minha vida.

Só percebi a presença dos meus amigos, alguns minutos depois. Eles estão na mesma situação que eu. Estamos todos numa espécie de porão. Há uma lâmpada bem fraquinha acesa, o suficiente para eu ver que está faltando um de nós: o Mamute.

Nem tive tempo para pensar no que teria acontecido com o gordo, pois um vulto surgiu diante da porta, fazendo o meu coração acelerar ainda mais.

— Assustados? — disse o homem. 

A luz é fraca demais e não pude vê-lo direito. O homem aproximou-se mais, e apontou para mim, dizendo:

— Você é o que tem mais motivos para ficar assustado.

Agora eu pude ver melhor, é o maluco da cicatriz.

Putz!!! Fodeu. De hoje eu não passo. Adeus, mundo cruel.