As Aventuras de Nando & Pezão

“Mistério Misterioso”

Capítulo 11 – Uma Visitinha Surpresa

Pezão deu um sorriso bem sacana e foi para a cozinha.

— Sacanagem com o Zoinho, Pezão! — falei. Mas ele nem me deu atenção.

— Tomara que o Zoinho esteja com uma puta caganeira e fique preso no banheiro — disse o Mamute. — Se ele topar com o Pezão xavecando a Camilla ...

— Vai sair morte — completei.

— Ah, vai!

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Alguns minutos depois, Pezão passou bufando pela sala, parecia uma leoa com TPM.

— Estou indo pra São Vicente — disse ele, puto da vida. — Alguém vem comigo?

Aposto a minha vida; Pezão deve ter levado um puta fora da Camilla.

— Eu falei pra você não ir atrás da mina, mas você não ...

— Vai se foder, Nando — e Pezão olhou para o Mamute. — Vamos pra São Vicente, gordo. Lá sim tem mulher de verdade. 

Na última frase ele dobrou o tom de voz, a fim de que as irmãs o ouvissem.

— Demorou — concordou Mamute. — Vou lá pegar a minha mochila.

Pezão abriu a porta e saiu para a varanda . Fui atrás dele.

— Você não está pensando em pegar o meu carro outra vez, está? — perguntei.

— Fica frio — respondeu Pezão. — Não quero aquela porra do seu carro.

— Vocês vão de busão?

— Voando é que não é, caralho!

Zoinho apareceu de repente.

— Cadê o gordo? — perguntou Zoinho, olhando ao seu redor.

— Foi pegar as coisas dele — respondi. — Ele e o Pezão vão pra São Vicente.

— Sério?

Zoinho abriu um puta sorriso. Percebi que Pezão ia dizer alguma coisa, mas desistiu no último instante. Acho que o chega-pra-lá da Camilla deixou o camarada meio desnorteado.

Mamute voltou com sua mochila nas costas. Pezão já foi logo abrindo o portão.

— E as suas coisas? — perguntei para o Pezão.

— Deixei na sua lata velha — respondeu ele. — Você vai pegar pra mim ou vou ter que arrombar aquela bosta?

Mostrei aquele famoso dedo para ele.

Pezão estava com uma pressa descomunal. Enquanto eu não tirei sua mochila do carro ele não sossegou.

— Vamos dar o fora daqui — disse Pezão para o Mamute.

— Espera um pouco — falei. Pezão olhou nos meus olhos. — Me diz pelo menos o endereço da sua tia.

— Pra quê?

— Porra, se a gente precisar ...

— Você tem meu celular.

— Deixa de ser vacilão, cara! Diz o endereço aí.

Pezão virou as costas e saiu andando. Mamute passou por mim e sussurrou algo no meu ouvido:

— Fica frio. Quando chegarmos lá eu te ligo e passo o endereço direitinho.

Fiz sinal de positivo para o gordo. Mamute me deu dois tapinhas nas costas e saiu correndo atrás do Pezão. Foi uma boa idéia termos trazido o Mamutão, o cara é gente fina.

Antes que eu fechasse o portão, alguém me abraçou por trás. Ufa! Era a Isabella. Pensei que fosse outro ataque do maluco do Chevette.

— Quer me matar de susto? — falei. Meu coração estava bem acelerado.

— Desculpa! — disse ela, rindo.

Girei o corpo rapidamente e ficamos frente a frente, agarradinhos.

— Seus amigos foram embora?

— Embora não, foram pra casa da tia do Pezão, em São Vicente.

— Que bom.

— Às vezes o Pezão fica insuportável.

Ela balançou a cabeça positivamente, depois encostou os lábios nos meus e nos beijamos. De todos os nossos beijos, este último foi sem dúvida o mais longo e o mais gostoso também.

— Vem — disse ela, me puxando pelo braço. — Tem um cômodo da casa que você ainda não conheceu: o meu quarto.

Aaaaaaaaaaaoooooooooooooooooooo!!! É hoje!!! Me dei bem!!!

Subimos as escadas e eu não conseguia parar de sorrir.

No corredor eu não resisti ao impulso; peguei Isabella nos braços, como se estivéssemos chegando num hotel para curtirmos nossa lua-de-mel.

Putz!!! Ela é mais pesada do que eu imaginava. Meus braços começaram a doer.

— Qual é o seu quarto? — perguntei, tentando esconder meu sufoco.

— O último, lá no final do corredor.

Claro, né? Tinha que ser. Nada é fácil para mim, lembram?

Mas não tem nada não, pois hoje eu vou me dar bem!!! Uhuuuuuu!!!

Entrei finalmente no quarto e a primeira coisa que fiz foi tropeçar num tapete. Resultado: fomos os dois ao chão, nos estabacamos feito sacos de batatas.

Fiquei morrendo de vergonha, claro.

— Machucou, meu anjo? — perguntei para ela, desesperado. — Desculpa!

Isabella olhou para mim e começou a rir feito uma hiena solta na Disney.

— A culpa foi minha — disse ela, levantando-se. — Eu devia ter avisado que este tapete é traiçoeiro. Já caí várias vezes.

— Mentirosa — falei, rindo. — Não precisa me defender.

Isabella fechou a porta e depois a trancou. Enfim sós. Nem acredito que daqui a pouco ela estará peladinha na minha frente. Tudo parece tão perfeito. Será que é sonho? Bom, sonho não é, mas se eu tivesse namorada, ia jurar que isso aqui é um Teste de Fidelidade, do programa do João Kleber.

O quarto dela parece quarto de criança; vários ursinhos de pelúcia e uma porção de almofadas com desenhos do Bob Esponja. Meu, vai ser fã do Bob Esponja assim lá longe!!! Nunca vi tanto Bob Esponja na minha vida. Fiquei até zonzo.

Apesar do quarto infantil, a cama é um espetáculo à parte. Cama de casal. Enorme!

— Você vai me deixar aqui sozinha? — disse ela, deitadinha sobre a cama. — Tem lugar pra mais um, sabia?

Fiquei de pé imediatamente. Tirei meu par de tênis numa rapidez inacreditável. Joguei as meias longe e saltei sobre a cama.

Mal começamos as preliminares e ... TOC! TOC! TOC!

Três batidas na porta. Ah, fala sério!!! Ficamos um mais frustrado que o outro.

— O que foi? — gritou Isabella, irritadíssima.

— Eles vieram mais cedo! — era a voz da Camilla.

— Do que você está falando? Eles quem?

— O pai e a mãe!

Meu, quando a Camilla disse isso, vocês não fazem idéia de como ficou a cara da Isabella. Foi como se outra pessoa tivesse possuído o seu corpo. Ela se transformou totalmente. Parecia estar frente a frente com um demônio de oito cabeças.

— O que houve? — perguntei, apavorado. — Você está bem?

Isabella saltou da cama como uma perereca enlouquecida.

— Vista-se imediatamente! — gritou ela para mim. Seu rosto estava mais branco que um copo de leite.

— Mas eu estou vestido, gata — e realmente estava, com exceção das meias e do tênis, é claro.

Já deu pra perceber que ela está super nervosa, né? Saltei da cama e antes que eu procurasse as minhas meias, Isabella as entregou para mim, bem como meu par de tênis. Guria rápida no gatilho, hein!

— Vai me contar o que está acontecendo ou não? — perguntei.

— Aposto que foi idéia da minha mãe — disse Isabella, andando de um lado para o outro. — Ela adora uma visitinha surpresa.

— Mas por que tanto drama? Basta dizer que somos namorados e que ...

— Não é tão fácil assim, Nando! — o jeito que ela falou me assustou um pouco. Meu, a guria está apavorada!!!

— Calma, meu anjo — e passei minhas mãos na cintura dela. — Tudo vai dar certo.

Ela me olhou com o rabo dos olhos e disse com uma voz bem séria e preocupada:

— Você diz isso porque não conhece o meu pai.

Putz!!! Agora quem está preocupado sou eu.

— Ele não pode ser tão ruim assim — falei. — Uma vez eu tive um sogro que era a cara do Hitler e o cara ...

— Hã? — ela me olhou feio. — Você acha que estou brincando, não é? Meu pai é casca grossa, Nando. Reze para que ele não sinta o seu cheiro nesta casa.

O que ela quis dizer com casca grossa? É bravo? Anda armado? É militar?

Isabella não parava de andar de um lado para o outro. Aquilo me deixava ainda mais apreensivo.

— O que eu devo fazer? — perguntei, meio perdido.

— Bom — disse ela — , eles vieram de longe, vão ficar uma semana inteira com a gente. Droga, droga, droga!

— Você disse uma semana? Putz!

— Pois é. Mas eu pensei que eles só viriam na semana que vem. Não acredito nisso!

TOC! TOC! TOC! 

Três batidas na porta outra vez. Meu coração quase saltou pela boca.

Isabella fez sinal desesperado para que eu me escondesse embaixo da cama, e foi exatamente o que eu fiz. Parece que eu já fiz isso outras vezes, não é?

— Abra esta porta! — era a voz da Camilla, desesperada. — Sou eu!

Isabella correu até a porta e a destrancou.

— Estamos perdidas! — disse Camilla, com uma voz trêmula.

— Calma — disse Isabella, tão nervosa quanto a irmã.

— O papai vai matar a gente!

— Não vai. Quero dizer, se ele não desconfiar de nada.

— Eles já viram o Demétrius!

— O quê? — Isabella quase surtou. — Mas como? Você é doida?

— Não tive culpa! Estávamos na janela e eles apareceram do nada.

— Então estamos perdidas mesmo.

De repente ouvi uma voz chamando as irmãs. Deve ser a mãe delas.

— E agora? — disse Isabella para a irmã.

— Acho que tive uma idéia.

— Que idéia?

Camilla saiu correndo pelo corredor.

— Volta aqui! — tentou Isabella, mas foi em vão.

Isabella trancou a porta outra vez.

— Não sei o que será de nós — disse ela, desabando sobre a cama.

Rastejei-me para fora da cama e deitei-me ao lado de Isabella.

— Vai dar tudo certo — falei, mas sem muita convicção. — Seus pais só viram o Zoinho.

— Você não conhece os meus pais, Nando. Eles vão descobrir você também. E eu não quero nem imaginar o que pode acontecer.

Ficamos uns dez minutos ali deitados, quietos ... e apavorados.

De repente ... TOC! TOC! TOC!

Suamos frio. Meu coração disparou pra valer.

— É você, Milla? — disse Isabella, quase sussurrando.

— Sim, abre a porta!

Isabella saltou da cama e abriu a porta. Camilla e Zoinho entraram rapidamente.

Foi muito estranho, as duas irmãs estavam com expressões tão diferentes que nem pareciam irmãs gêmeas. Camilla estava sorridente e aparentemente aliviada. Isabella estava prestas a surtar.

— E aí? — disse Isabella para a irmã. — Sua idéia deu certo?

— Por enquanto sim.

Isabella levou as mãos à cabeça.

— Vai me contar que idéia foi esta ou vai esperar que eu morra do coração?

Camilla respirou fundo e disse:

— Modéstia à parte, foi uma idéia brilhante, mas tem um porém.

— Ai meu Deus ...

— Só vai funcionar com a colaboração de todos nós.

— Como é que é? — falei. — Todos nós?

— Sim, e vocês dois — ela olhou para o Zoinho e depois para mim. — serão fundamentais.

Não estou gostando nada disso. Isso aqui está com cara de programa policial. Manchete: "Pai assassina namorados das filhas a golpes de machado". Putz!!!

— Como assim? — disse Isabella. — O Nando não vai participar de nada não. Eles nem precisam saber que ele está aqui!

— Mas eles já sabem — disse Camilla, calmamente.

— Mas como? Eles nem ...

— Eu contei para eles.

Putz!!! A Isabella quase saltou no pescoço da irmã.

— O quê? Você ficou maluca?

— Calma! — disse Camilla. — Tudo faz parte do meu plano.

— Conta logo, porra!!! — perdi a calma.

— Vou contar, seu boca suja! — e Camilla olhou para a irmã. — Lembra do Cirilo e do Guto?

— Claro que me lembro.

— Lembra que mamãe sempre foi louca para conhecê-los?

— Sim, mas ela nunca conseguiu ...

E Isabella caiu na maior gargalhada que eu já vi até hoje, parecia que todas as hienas do planeta haviam possuído o seu corpo. Camilla começou a rir também, mas não tanto quanto a irmã. Zoinho e eu ficamos feito bobos, um olhando para a cara do outro. Não entendemos bulhufas.

— Do que estão rindo? — perguntei.

— Já entendi qual é o plano da Milla — disse Isabella, ainda rindo bastante.

— Pretendem nos contar ainda hoje ou não? — falei, impaciente.

— Cirilo e Guto são dois amigos meus — disse Camilla. — , eles são ...

— Afeminados! — completou Isabella, às gargalhadas.

— E daí? — disse Zoinho.

— Ainda não caiu a ficha? — perguntou Isabella.

Putz!!! Acho que a minha ficha caiu. A de vocês também?

— Mamãe está tão contente! — disse Camilla, rindo.

— Claro que está! — completou Isabella — Ela finalmente vai conhecer o Cirilo e o Guto, não é?

— Isso aí! 

E as duas irmãs caíram na gargalhada, como duas hienas num salão de cabeleireiros.