As Aventuras de Nando & Pezão

“Mistério Misterioso”

Capítulo 10 – O Almoço

— O que você quis dizer? — perguntei baixinho no ouvido dela.

Ela fez sinal com os dedos para que eu me aproximasse mais. Quando nossos rostos ficaram colados ela me deu um beijo na testa, depois disse baixinho:

— Mais tarde eu te conto — e saltou do sofá numa pressa danada. — Putz grila! Esqueci o arroz no fogo!

E Isabella voou para a cozinha feito um jato supersônico.

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Camilla e Zoinho chegam do supermercado. Ela entra segurando uma sacolinha minúscula; ele entra com vários pacotes, todo atabalhoado.

Pezão cresce os olhos para cima de Camilla.

— Já disseram que você é muito mais gata que a sua irmã? — disse Pezão, levantando-se do sofá e parando na frente dela.

— Impossível — disse ela, secamente. — Somos gêmeas idênticas.

— Mas eu sou muito mais você — insistiu ele.

— Tudo bem; se você acha — e ela olhou na direção do Zoinho. — Vem, vamos descarregar tudo isso lá na cozinha.

Por trás daquele monte de pacote dava para ver Zoinho vermelho de raiva. Poxa, e com toda a razão, não é? O filho da puta do Pezão xavecou a Camilla bem na frente dele.

Zoinho passou encarando o Pezão nos olhos. Nunca vi tanto ódio no olhar de uma pessoa só. Vai dar merda se eles continuarem sobre o mesmo teto. Ah, vai!

Quando os dois deixaram a sala eu falei para o Pezão:

— Não mexe com a mina do cara, porra.

— É muita maionese pra pouco sanduíche.

— Hã?

— Ah, você entendeu, porra! Eu quis dizer que ela é muito gostosa pro Zoinho. O cara não vai dar conta de ... tudo aquilo.

— Deixa ele, Pezão — disse Mamute. — O Zoinho é inexperiente, mas a gente só pega experiência fazendo.

— Pra isso existe o bom e velho puteiro — disse Pezão, abrindo um sorriso bem sarcástico.

Pronto o almoço, fomos todos para a cozinha e nos ajeitamos à mesa. Isabella e eu ficamos de um lado; Zoinho e Camilla do outro; nas pontas ficaram Pezão e Mamute. O cheiro estava maravilhoso. Meu, que fome!

— Espero que tenha preparado uma porção bem grande — disse eu, rindo. — Pois o meu amigo aqui — olhei na direção do Mamute. — come por cinco.

Isabella deu tanta risada que quase deixou escorrer lágrimas dentro das panelas. Mamute acabou rindo também.

Olha, vou contar uma coisa para vocês: há muito tempo eu não comia um feijão com arroz tão gostoso. Putz! E a macarronada, sensacional! Comi dois pratos bem servidos. Meu, a Isabella é uma cozinheira de mão cheia! Será que eu finalmente encontrei a mulher ideal? Poxa, a mina é bonita, gostosa, cozinha bem e, o mais importante, parece gostar bastante de mim. Como diria minha mãe: esta é pra casar!

Segurei a mão da Isabella, olhei bem naquele par de olhos verdes e falei:

— Foi o melhor almoço que eu já tive em toda a minha vida.

Uau! A carinha de felicidade que ela fez ... foi indescritível.

— Sério? — disse ela, quase vertendo lágrimas. — Você está falando só para me agradar, não é?

Balancei a cabeça negativamente.

— Só não estou lambendo os beiços porque é falta de higiene.

Isabella caiu na gargalhada. 

— Então deixa que eu lambo por você — e ela me beijou. Após o beijo ela fez uma cara estranha.

— O que foi? — perguntei. — Não gostou do beijo.

— Claro que gostei. Só estou com uma dúvida; agora há pouco eu falei: "lambo" por você. É assim mesmo que se fala? Lambo? Que palavra mais estranha, né? Lambo!

E Isabella caiu na gargalhada outra vez.

— Eu gostei mais do Lambo 2, A Missão — disse eu. E agora fui eu que a beijei.

— Você é fofo demais — disse ela, apertando as minhas bochechas. 

Putz! Apertou tanto que até doeu.

De repente senti algo vibrar na minha calça. Calma, gente, é só o meu celular. Vocês são muito maliciosos.

Aposto que é a minha mãe.

Na mosca! É ela. Atendi:

— Oi, mãe. Tudo bem?

— Por que não me ligou, senhor Fernando!

— Calma, mãe. Não liguei porque eu fiquei tão empolgado com a faculdade que acabei até me esquecendo da vida.

Isabella me olhou curiosa. Ela não entendeu bulhufas quando falei a palavra "faculdade".

— Não custava nada ter me ligado pra dizer que está tudo bem — insistiu minha mãe.

— Desculpa, mãe.

— Que falatório é este? Onde você está?

— Almoçando ... num restaurante.

— Tem alguém aí com você? Estou ouvindo uma voz bem conhecida. — Putz! Aposto que ela ouviu o .... — O Maurício está aí com você?

Fodeu.

— Não, mãe! — tentei ser o mais convincente possível.

— Está sim, continuo ouvindo a voz dele. 

Fiz sinal para que o Pezão falasse mais baixo ou não falasse absolutamente nada. Mas o filho da puta nem me deu bola. Levantei-me e fui correndo até a sala.

A conversa durou mais uns dez minutos. Não sei se ela ficou totalmente convencida sobre o Pezão não estar aqui comigo, mas pelo menos a história da faculdade em Itu ela continua engolindo. Menos pior.

Voltei para a cozinha e, acreditem se quiser, o assunto à mesa era sexo.

— Na minha opinião — ia dizendo Mamute. — , um papai-e-mamãe, quando bem executado, vale mais do que uma noite de sexo animal.

Putz! Eu ouvi isso? Comecei a rir. Sentei-me novamente ao lado da Isabella.

— Ah, vai tomar no seu cu, gordo! — disse Pezão, rindo muito. — Você fala isso porque deve ser a única posição que você consegue fazer com esta banha toda.

— Você é que pensa, meu filho!

— Ah, papai-e-mamãe é gostoso quando estamos apaixonados — disse Isabella, me encarando nos olhos.

Todos na mesa fizeram aquele ... "hmmmmmmmm" ...

— Se deu bem, Fernandinho!!! — gritou Pezão, rindo e assoviando.

— Mas é sério! — prosseguiu Isabella. — É muito bom mesmo.

— E você? — disse Pezão para Camilla.

— Eu o quê? — respondeu ela, meio encabulada, brincando com o garfo sobre o seu prato.

— Qual a sua posição favorita?

Por um instante eu pensei que ela ia pegar o garfo e lançá-lo bem no peito do Pezão.

— Isso é uma intimidade minha e não compartilho com estranhos — respondeu ela, enrubescida até o dedão dos pés. — Principalmente à mesa.

— Concordo plenamente! — completou Zoinho. — Isso aqui não é lugar pra se falar de sexo!

— Discordo — falei. — A cozinha é um ótimo lugar pra se falar e ...

— Fazer também — completou Isabella, me encarando nos olhos outra vez.

— Transar na cozinha é a coisa mais gostosa que tem — disse Mamute. — Porque depois que você termina, basta esticar o braço e pegar alguma coisa da geladeira.

— Maldito gordo — falei.

— Na verdade eu acho que sexo independe do lugar — disse Isabella. — Contanto que seja com a pessoa certa, sempre é bom.

— Lugares esquisitos! — disse Pezão de repente. — Vamos ver quem ganha. O lugar mais estranho que eu já trepei foi ...

— Show do Zezé Di Camargo e Luciano — completei por ele.

Todos nós caímos na gargalhada, inclusive o próprio Pezão.

— Cara, eu nem me lembrava mais dessa parada! — disse ele, rindo muito.

— Ficou estranho isso, hein! — disse Mamute, olhando para mim. — Por acaso foi uma transa gay entre vocês dois?

É claro que mostrei aquele famoso dedo para o gordo filho da puta.

— Vai se foder, gordo inútil dos infernos!!! — disse eu, puto.

— Agora conta a história toda — disse Isabella para o Pezão.

— Não sei se foi a trepada mais bizarra que eu já tive, mas foi muito engraçada. A mina era filha do cara que organizou o show, então ela tinha passe livre em praticamente tudo: camarim, palco e o caralho a quatro.

— Vocês transaram no camarim do Zezé Di Camargo e Luciano? — perguntou o Zoinho.

— No camarim? — Pezão quase surtou de tanto rir, parecia uma hiena com uma receita de viagra. — Nós trepamos em cima do palco mesmo, durante o show dos manés. O foda é que tinha tantos fios que num determinado momento eu pensei que seríamos eletrocutados.

— Se fosse comigo eu teria broxado — falei. — Odeio música sertaneja.

— Eu também não sou fã — disse Isabella, fazendo cara de desgosto. — Mas o Luciano é uma gracinha.

— Ah, fala sério!!! — disse Mamute. — Seja honesta com a gente; se ele fosse um pobretão da roça você daria bola pro cara?

— Acho que sim, né?

E todos caímos na risada, até a Isabella.

— E o lugar mais estranho que você já transou? — perguntei pra ela.

— O mais estranho eu não sei, mas o mais incômodo é a praia, disparado!

— Com certeza — confirmei com a cabeça. — , é uma droga. Mas não fuja da pergunta.

Ela riu.

— Não estou fugindo, gato. Bom, deixe-me ver ... — e fez uma cara pensativa.

— Enquanto você lembra da sua — disse Mamute. — , eu conto a minha.

— Fique à vontade — disse Isabella.

Pezão caiu na gargalhada, apontando na direção do gordo.

— O lugar mais estranho que o gordo já trepou eu não sei, mas sei qual foi a mina mais estranha!

Mamute ficou vermelho de raiva.

— Ah, vai se foder, Pezão! — disse o gordo.

— Lá vem besteira — disse Isabella, rindo.

— Eu já falei que só comi a Lelê porque deu pena da mina, porra!!!

Percebi Camilla indignada. Ela balançava a cabeça negativamente sem parar.

— O linguajar de vocês é uma coisa linda, hein! — disse ela, de forma sarcástica.

Ficamos em silêncio por alguns instantes, até que ...

— Lembrei!!! — disse Isabella. Tomei um susto tão grande que quase caí da cadeira. — Lembrei qual foi o lugar mais estranho que já transei.

— Aposto que foi no elevador de algum condomínio — disse Pezão.

— Passou longe, rapaz.

— Vai contar ou não? — falei.

— Esperando um X-Salada — disse ela, rindo muito. — Dá pra acreditar?

— Esperando um X-Salada? — disse Mamute, com uma cara espantada. — Como assim?

— Fim de balada. Meu namorado e eu havíamos deixado o clube e estávamos famintos. Quero dizer, famintos e com um tesão enorme também.

— Não vá me dizer que vocês transaram em cima do carrinho de lanches? — disse Pezão.

Isabella deu uma gargalhada muito gostosa. Depois disse:

— Não, claro que não! Ficou louco? Teríamos nos queimado!

— Não estou entendendo nada — disse Mamute. — O que vocês fizeram então?

— Bom, a rua estava deserta — recomeçou Isabella. — Acho que nós éramos os últimos fregueses. Estávamos lá, parados diante do carrinho de lanches, abraçadinhos. Meu namorado estava me abraçando por trás. Resumindo a história, o cara estava demorando para terminar nossos lanches e então ...

— Vocês fizeram ali mesmo na rua? — perguntou Camilla, perplexa.

— Sim — respondeu Isabella. — Eu estava de saia, aí o Felipe a ergueu um pouquinho atrás, baixou o zíper da calça dele e ... fizemos ali mesmo.

— Não acredito nisso! — disse Camilla, ainda mais perplexa.

— Eu nunca contei isso pra ninguém.

— Mas o cara que fazia o lanche não percebeu nada? — perguntei.

Isabella olhou para mim e respondeu:

— Se percebeu, ficou quietinho e não falou nada.

Caraca, só de imaginar a história eu fiquei de pau duro. Sossega, Júnior!!!

— Mas que pouca vergonha! — disse Camilla, levantando-se com seu prato nas mãos. Fodeu! Ela vai jogar o prato na irmã!

Não. Não jogou. Meu, que susto eu levei agora.

— A vida da gente precisa de uma emoção forte uma vez ou outra — disse Isabella para a irmã. — Sem isso, qual é a graça?

Camilla não disse nada; debruçou-se sobre a pia, abriu a torneira e começou a lavar seu prato e seus talheres. Percebe-se que ela ficou bem injuriada com a irmã.

— Deixa que eu te ajudo — disse Isabella.

Nós homens voltamos para a sala.

— E aí, Zoinho — disse eu. — Já conseguiu o primeiro beijo?

Notei Pezão bem interessado na resposta.

— Ainda não — respondeu Zoinho.

Pezão deu um sorriso com o canto dos lábios. Ainda bem que Zoinho não percebeu.

— Sério, Zoinho? — disse Mamute. — Nem um beijinho?

— Só no rosto — respondeu Zoinho, triste. — Meu, a Camilla parece uma freira!

— Freira? — disse Pezão, rindo.

— Pega leve — falei para o Pezão.

— Chega junto, cara! — disse Pezão para o Zoinho. — Mulher gostosa é igual encontrar uma nota de 100 paus na rua: se você não cata, vem outro e cata no seu lugar, entendeu?

Milagre! Pezão dando conselhos para o Zoinho? Confesso que por esta eu não esperava.

— Eu não posso fazer isso! — disse Zoinho, cabisbaixo. — Eu preciso chegar com calma. Ela não é como as outras mulheres.

— Mulher é tudo igual, cara! — insistiu Pezão.

— Não, ela é diferente! Ela é um anjo! — e Zoinho olhou para mim. — Eu te contei que a Camilla é voluntária do CVV?

— CVV? O que é isso?

— Aquele lance que a pessoa liga quando está desesperada e precisa de alguém pra conversar. Chama-se Centro de Valorização da Vida.

— Ah, tô ligado.

— Semana passada ela salvou a vida de quatro pessoas. Elas iam se suicidar. Mas depois que conversaram com ela ...

Zoinho colocou a mão na barriga e fez uma puta careta.

— O que foi? — perguntei.

Mas antes que ele respondesse, o mau cheiro no ar respondeu por ele.

— Caralho, Zoinho! — disse eu. — Vai cagar no banheiro, porra!

— Onde fica o banheiro mesmo? — disse Zoinho, suando frio.

— E eu é que sei? Você é que passou a noite aqui, porra!

Assim que Zoinho desapareceu do mapa, Pezão levantou-se do sofá e ...

— Aonde você vai? — perguntei.

Na verdade eu vi muito bem aonde ele estava indo: para a cozinha.

— Vou tomar um copo d´água — respondeu ele. — Não posso?

— Filho da puta — falou Mamute. — Você vai ... catar a nota de 100.

Pezão deu um sorriso bem sacana e foi para a cozinha.

— Sacanagem com o Zoinho, Pezão! — falei. Mas ele nem me deu atenção.

— Tomara que o Zoinho esteja com uma puta caganeira e fique preso no banheiro — disse o Mamute. — Se ele topar com o Pezão xavecando a Camilla ...

— Vai sair morte — completei.

— Ah, vai!