As Aventuras de Nando & Pezão

“Mistério Misterioso”

Capítulo 9 – De Volta ao Sobrado

Ah, e vocês não imaginam a felicidade que eu fiquei ao ver o meu Opala no estacionamento do hospital. Sua pintura reluzia ao sol. Quase tive um orgasmo.

Isabella queria me arrastar para a delegacia a todo custo. Ela queria que eu registrasse um boletim de ocorrência contra o filho da puta da cicatriz. Mas algo me diz que isso não resolveria absolutamente nada. Sinto que este assunto terá que ser resolvido entre nós dois.

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Eu estava louco para dirigir meu Opala outra vez, mas Isabella não me deixou. "Você ainda não está 100 porcento!", disse ela de um jeito duro, mas maternal ao mesmo tempo.

Sei lá, mas acho que a Isabella é o tipo de namorada que eu preciso neste momento; alguém que me ajude a entrar na linha. Nunca tive uma namorada mandona.

Pezão sentou-se ao volante; Isabella e eu fomos para o banco de trás.

— Porra, virei taxista agora? — resmungou Pezão, vermelho de raiva.

— Virou sim — respondeu Isabella, com um sorriso maroto. — E agora pega aquela avenida ali à direita e segue até a rotatória. Quando chegar lá eu te passo o resto do caminho. Sacou?

— Puta que pariu.

E Pezão deu a partida no Opala.

Pezão sempre foi um péssimo perdedor; principalmente quando o assunto é mulher. Ele não admite quando uma garota prefere ficar comigo. Pezão fica uma fera! Suas veias da testa estão até dançando.

Opa! Isabella colocou suas mãos quentes nas minhas coxas. Senti até uma cutucada. Nando Júnior acordou.

— Você é valente — disse ela, olhando nos meus olhos. Até arrepiei.

— Nem tanto, gata — respondi, acariciando seus belos cabelos morenos.

— Você é sim! — insistiu ela, beijando carinhosamente a minha mão. — Ontem eu pensei que estaria no seu velório, e agora estamos aqui, como se nada tivesse acontecido. Nem abalado você está!

Ela que pensa. Estou disfarçando o máximo que posso, mas por dentro estou apavorado. Quem garante que o maluco do Chevette rosa não está me perseguindo neste exato momento?

— Valente o escambau! — disse Pezão, de repente. — Se não fosse por mim, o tarado teria comido o cuzinho dele ali mesmo no mato e ...

— Pezão — falei.

— O quê?

— Enfia o dedo no cu e assovia!!!

Isabella quase morreu de rir, parecia uma hiena fugindo do zoológico.

— Vocês são doidos, sabiam? — disse ela, ainda rindo bastante.

Dei uma olhada rápida para trás, procurando algum Chevette cor de rosa. Ufa! Aparentemente nenhum sinal do maluco.

Quando virei meu rosto novamente, Isabella me beijou. Foi um beijo tão bom, mas tão bom que senti uma enorme vontade de pular em cima dela e transar com ela ali mesmo. Eu queria arrancar aquela sua blusa decotada, agarrar seus peitos macios e beijar aqueles biquinhos duros e ...

— Já chegamos na maldita rotatória! — gritou Pezão, puto da vida, ou posso dizer ... MORRENDO DE INVEJA!!!

Para provocá-lo ainda mais, não amoleci os lábios e continuei beijando a sósia da Camila Pitanga.

— Oh, psiu! — prosseguiu Pezão, mais irritado do que nunca. — Já estamos na rotatória, porra!

Bom, é melhor eu deixar a Isabella falar com ele ou vai dar briga isso aqui. O Pezão já deixou de ser São Maurício há muito tempo, não é? Putz! Tem horas que eu sinto saudade daquelas paradas de Babalu Cósmico do caralho. Tudo bem que ele ficou um chato dos infernos, mas pelo menos nós vivíamos em paz.

Dei uma pausa no beijo. Isabella não gostou muito da idéia, mas entendeu o motivo.

— O que você quer? — disse ela para o Pezão.

Pezão não disse nada, apenas apontou para a rotatória, fazendo cara de pouquíssimos amigos.

— Vire para a direita ali no restaurante e siga reto, depois passe o viaduto, vire à esquerda, depois direita ... e pronto, já estaremos praticamente em casa. Sacou?

— Saquei, belezinha.

Pezão pisou com tanta raiva no acelerador que cheguei a pensar que ia varar o assoalho do meu carro. Já vi ele fritar pneus, mas não como ele fritou os do Opala agora.

— Oh, pega leve aí! — gritei com ele. — O carro é meu, porra!

Ele fez a curva no restaurante tão fechada que Isabella e eu quase fomos jogados para fora do Opala. Eu me senti praticamente dentro de um foguete, com gravidade zero.

— Quer nos matar, cara? — reclamou Isabella, apavorada.

Meu, quando eu vi aquele baita viaduto lá na frente eu senti o maior cagaço.

— Pega leve aí, Pezão! — gritei. — A gente vai sair voando desta porra, cara!

E vamos mesmo! Se ele não diminuir a velocidade nós vamos sair voando daquele viaduto e vamos parar lá no Guarujá. Puta que pariu!!!

Isabella olhou para mim com os olhos arregalados.

— Seu amigo é louco? — disse ela, segurando forte a minha mão.

— Louco eu não sei, mas comeu muito cocô quando era criança!!!

E o viaduto está cada vez mais próximo. Agora eu morro de verdade. Fodeu, vou chegar do outro lado com a Isabella grudada no meu pescoço, aí o espírito da Caroline vai ver a gente e ... Não quero nem pensar!!! Isso não vai dar certo.

Ufa!

Pezão deu uma desacelerada e subiu o viaduto de boa. Meu, quase caguei na calça. Sem brincadeira. Maldito Pezão dos infernos!!!

Isabella fez algo que eu não via ninguém fazer há muitos anos, e me fez rir um pouco. Ela chegou atrás do Pezão e deu um puta croque nele. Putz!!! Ardeu até em mim.

— O que é isso, gata? — gritou ele, surpreso. — Caralho, doeu!!!

— E era pra doer mesmo!!! — disse Isabella, irritadíssima. — Quer me matar do coração, rapaz?

Depois do susto nós perdemos até o tesão para nos beijarmos outra vez. Ela encostou sua cabeça no meu peito e seguimos o resto do caminho calados.

Mamute nos aguardava na janela de cima do sobrado.

— Que bom te ver, cara — disse ele, bem animado.

— Vaso ruim não quebra — disse eu, enquanto ajudava a Isabella a descer do Opala.

Pezão desceu do carro soltando fogo pelas ventas.

— Será que nós podemos ir para São Vicente agora ou não? — disse ele, com as mãos na cintura.

— Nossa, como a moça está nervosa! — debochou Mamute.

Pezão mostrou aquele famoso dedo para o gordo, é claro.

— Por que você não faz um favor para a humanidade, seu gordo inútil? Pula daí, pula! Ninguém vai sentir tua falta, pode apostar que não.

— Sua mãe vai!

— Gente, calma, gente! — gritou Isabella, impaciente. — Vocês parecem crianças num jardim de infância! Cruzes!

Pezão e Mamute ficaram vermelhos de vergonha, acreditem se quiser.

— Dois homens barbudos já! — prosseguiu ela. — Ah, fala sério! Me poupem! — e ela pegou na minha mão e me puxou em direção ao portão. — Vem, vamos entrar e comer alguma coisa. Comida de hospital não é comida.

Mesmo contrariado, Pezão acabou entrando também.

Isabella foi para a cozinha preparar alguma coisa para nós. Enquanto isso nós ficamos esperando na sala. Mamute desceu a escada e veio ao nosso encontro.

— Não dá pra acreditar, Nando — disse ele, me olhando com olhos arregalados. — Você estava mais pra lá do que pra cá.

— Eu sei — respondi. — Pra falar a verdade eu até vi um pouquinho do lado de lá.

Os olhos do gordo ficaram ainda mais arregalados, parecia um peixe-boi fora d'água.

— Sério, cara? — perguntou ele.

— Ah, larga mão de ser mentiroso, porra! — disse Pezão, impaciente.

— Isso é perfeitamente possível — disse o gordo, encarando Pezão com uma cara super séria. — Já vi no Discovery Channel.

— Discovery Channel? — assustou-se Pezão. — E desde quando você assiste Discovery Channel? Você nem sabe o que é isso, gordo.

— Claro que sei, babaca! Meu primo fez uma gambiarra lá no meu bairro e conseguiu TV a cabo pra mim. Estou pegando todos os canais feras agora. Só de putaria tem uns vinte.

— Porra — falei. — , e teu primo não consegue descolar isso pra mim também?

— Claro que sim. Coloca duzentinho na mão dele e o cara faz até uma chupetinha pra você. Meu primo é foda.

— A chupetinha eu dispenso.

Ficamos em silêncio por alguns instantes.

— Cadê o Zoinho, porra? — perguntei.

— Deve estar tirando o atraso — disse o Pezão.

E Mamute caiu na gargalhada, parecia uma hiena gorda que acabou de sair de um rodízio de pizzas.

— Acho muito difícil, viu? — disse o gordo, quase engasgando com a própria risada.

— O punheteiro finalmente se deu bem, Nando.

— Eu vi. A Camilla é muito gostosa, apesar de fazer um pouco de cu doce.

— Um pouco??? — disse Mamute. — Bota cu doce naquilo!!! Nando, você acredita que o Zoinho não conseguiu nem um beijo na boca até agora? O coitado já está entrando em parafuso. Pobre Zoinho.

— Putz!!! — exclamou Pezão, debochado. — Então deixa que o Pezão vai entrar em ação.

— Você vai ajudar o Zoinho? — perguntei, na maior inocência.

— Ajudar? — Pezão quase caiu no chão de tanto rir. — Ajudar o caralho! Ele já teve a chance dele com a mina virtual. Agora é a minha vez. A fila anda, camarada.

— Sacanagem — disse Mamute baixinho.

— Sacanagem é uma gostosa daquela perder tempo com um punheteiro desengonçado como o Zoinho. É um desperdício muito grande. O cara passou a vida inteira folheando revista; aposto que ele nem sabe tirar um sutiã.

Isabella entrou na sala de repente. Todos ficamos em silêncio.

— Aposto que estavam falando de mulher! — disse ela, com uma cara desconfiada.

— Nada a ver — falei, sorrindo pra ela.

Ela me devolveu o sorriso e depois olhou sério para o Mamute, dizendo:

— E onde está a minha irmã? Não a encontrei em lugar algum da casa.

— Ela saiu com o Zoinho — respondeu o gordo.

— Foram à praia?

— Não. Foram comprar alguma coisa no supermercado.

Isabella fez um misterioso "Hmmmm!" e depois soltou uma risadinha irônica.

— O que foi? — perguntei. — Supermercado aqui em Santos quer dizer outra coisa?

— Pela cara que ela fez — disse Pezão. — , eu acho que significa motel. Eu não disse que o Zoinho ia tirar o atraso?

Isabella deitou-se no sofá e colocou sua cabeça no meu colo. Uau! Vocês não fazem idéia do visual maravilhoso que eu tenho agora. Ai ai ... Controle-se, Nando Júnior!!! Ou você vai cutucar a nuca da menina!!!

— Vocês estão viajando — disse ela, piscando para mim. — Supermercado é supermercado mesmo. Mas ... dependendo do que eles trouxerem de lá ....

E ela caiu na gargalhada, parecia uma hiena com pobrema.

Dei de ombros e olhei para Pezão e Mamute, dizendo:

— Não entendi nada, e vocês?

— Muito sol na cabeça deixa o povo meio sem-noção — disse Pezão. — É por isso que eu jamais quero viver em cidades praianas.

— O que você quis dizer? — perguntei baixinho no ouvido dela.

Ela fez sinal com os dedos para que eu me aproximasse mais. Quando nossos rostos ficaram colados ela me deu um beijo na testa, depois disse baixinho:

— Mais tarde eu te conto — e saltou do sofá numa pressa danada. — Putz grila! Esqueci o arroz no fogo!

E Isabella voou para a cozinha feito um jato supersônico.