As Aventuras de Nando & Pezão

“Mistério Misterioso”

Capítulo 8 – Nando Vê a Luz

Bom, saímos os dois pelo portão, sozinhos.

Eu pensei que ia dar de cara com o Opala, mas isso não aconteceu. Não havia o menor sinal do Pezão e do Mamute.

— Cadê aqueles filhos da puta? — perguntei, coçando a cabeça e olhando para os lados.

De repente, alguém saltou de um terreno baldio que havia ao lado do sobrado e acertou Zoinho com um pedaço de pau. Zoinho caiu desacordado na calçada. Foi tudo muito rápido e confuso. Quando eu pensei em me defender, fui atingido também. Pa!!!

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Tudo ficou escuro.

Depois tudo ficou claro, muito claro ... tão claro que meus olhos doíam.

Pronto, morri. Só pode ser isso. Puta merda, eu morri!!!

Ah, fala sério!!! Por quê? Por quê? Por que eu? Tão jovem ...

Oh, mundo cruel ... por que fizestes isso comigo? O que eu fiz para merecer tamanho castigo? Tem tanta gente pior do que eu, porra!!! Eu nunca fiz mal pra ninguém ... Quero dizer, eu já fiz ... mas ... Ah, deixa pra lá.

E a luz foi diminuindo de intensidade ...

Um corredor!!!

Putz!!! Agora fodeu de verdade, morri mesmo. Agora não tem mais volta.

E agora, será que estou indo paro céu ou para o inferno? Estou descendo ou estou subindo? Porra, não dá pra saber de nada disso!!! A única coisa que eu vejo é uma maldita luz branca na minha cara!!!

Se estou mesmo morto e estou indo para algum lugar, a única coisa que me interessa agora é saber se vai ter mulher lá. E o mais importante, é claro, será que ainda serei capaz de fazer alguma coisa? Meti a mão na cueca e ... Ufa! Nando Júnior continua no mesmo lugar de sempre. 

Ah, querem saber? Dane-se! Morto ou não, pelo menos ainda tenho meu pistolão.

Olhei para trás; outro clarão.

E um silêncio. Um silêncio tão limpo e puro que, por um instante, cheguei a esquecer todas as coisas ruins que eu já fiz na vida. Senti-me em paz ... Até parei de pensar em ... Não me lembro. Estou puro. E nem precisei do Mestre dos Magos e uma jarra de leite para isso.

Xiiiiiiiiiiiiiiiiiii, Marquinho ... Depois que morre a gente vira baitola? Eu, hein!!! Estou começando a não gostar desta história de morto.

De repente, uma voz!!! Uma voz feminina. Uma voz linda. E na hora eu não consegui identificar de quem era a voz, mas agora eu sei: Caroline. Sua voz linda entrou pelos meus ouvidos como um vento gelado numa manhã de inverno, ela disse o seguinte: "Muito cuidado com o homem da cicatriz".

E quando dei por mim ...

— Ele voltou!!! — disse alguém. Creio que tenha sido a Isabella, mas não tenho absoluta certeza. Eu estava bem grogue.

Meus olhos foram abrindo aos poucos. Eu não estava mais sob o clarão, mas num quarto de hospital. De um lado da cama havia um médico e uma enfermeira me olhando com olhos arregalados, do outro lado estavam Isabella e Pezão, com olhos ainda mais arregalados.

— Você nasceu de novo, rapaz — disse o médico, com um puta sorriso nos lábios.

Tentei responder alguma coisa, mas não consegui. Eu não conseguia me lembrar qual músculo eu deveria mexer para fazer isso. Está pensando que é gozação? Jamais queiram passar por esta experiência; foi horrível.

Até que senti um beijo nos lábios. Isabella me beijou. A filha da puta da enfermeira tentou impedi-la, mas não conseguiu. 

Ainda bem! O beijo dela me acordou totalmente. Até o Nando Júnior acordou. Meu, como foi bom sentir o meu companheiro de luta outra vez.

— O que aconteceu comigo? — disse eu, finalmente.

— Você sofreu um golpe violentíssimo e apagou — respondeu o médico, enquanto checava o meu pulso. A enfermeira não parava de escrever numa prancheta.

— Pensei que você tinha batido as botas, cara — disse Pezão, com um sorriso cínico nos lábios. Ele não sabia se olhava para mim ou para o decote da Isabella. Cuzão!

— Estávamos preocupadíssimos — disse Isabella, com um rostinho triste.

— E quando vou poder sair daqui? — perguntei, meio assustado.

— Só quando terminarmos todos os exames — respondeu o médico. — Até lá, é melhor você ficar em observação.

Putz!!! Ninguém merece. Eu devo ter jogado cocô na mulher do capeta, viu? Venho passar uns dias na praia e acabo numa cama de hospital. Assim não dá.

Bom, mas pelo menos eu estou vivo, certo? Certo. Eu preciso parar de ver somente o lado ruim das coisas. Vocês não acham?

— Mas quem me acertou? Como vim parar aqui? E o Zoinho? Ele está bem?

— O Zoinho está melhor do que todos nós juntos, cara — disse Pezão. — Foi pra casa da namorada. Dá pra acreditar nisso? O Zoinho tem namorada. Parece piada.

— Você precisa de repouso — disse a enfermeira, aplicando-me uma injeção. Nunca vi uma enfermeira tão feia em toda a minha vida. Mas o que vocês queriam? Isso aqui não é Cine Privet, porra!!!

E fui me sentindo cada vez mais sonolento ... A última coisa que ouvi foi a voz do Pezão, dizendo: "Deixa que eu tomo conta da Isabella".

Nããããããoooooooooooooooooooooooooooooooo!!!!!!!!!!! Filho da ...

E apaguei outra vez.

Mas desta vez não vi clarão algum. Em compensação, tive sonhos eróticos um atrás do outro. A maioria deles com a Isabella. Mas o melhor de todos foi um que estavam as duas irmãs juntas. Loucura, loucura, loucura!!! Pra falar a verdade eu sonhei até com a enfermeira mocréia. Bom, pelo menos no sonho ela tinha seios bonitos.

Abri os olhos e vi a luz do dia atravessando as cortinas do quarto. Olhei para a minha esquerda e vi Isabella, mais linda do que nunca. Ela estava sentada ao meu lado, segurando a minha mão. Quando me viu abrir os olhos, ela sorriu. Foi o sorriso mais sincero que eu já vi até hoje.

— Bom dia, moço da cabeça dura — disse ela, rindo e apertando a minha mão. E de repente ela olhou para o lençol ligeiramente levantado. Putz!!! Eu estava de pau duro e nem tinha percebido. — Ou devo dizer ... cabeças duras???

E ela caiu numa gargalhada maravilhosa. Eu teria morrido de vergonha, mas tudo que consegui sentir foi mais afeição por ela.

— Desculpa! — falei, enrolando-me no lençol. — Sonhei sacanagem a noite inteira — e dei um sorrisinho sacana.

Os olhos dela quase saltaram das órbitas.

— Sério? Agora me conta, vai!

Ela apertou meu braço com tanta força que senti suas unhas penetrarem minha pele. Quase gritei de dor.

E alguém abriu a porta. Era o Pezão, trazendo dois copos de café e um pacote de bolacha água e sal.

— Acordou, morto-vivo? — disse ele, rindo feito um louco. Isabella fez sinal para ele falar mais baixo, em respeito ao outro paciente que dormia na cama ao lado. — Podemos ir embora ou não? — ele abaixou a voz desta vez.

— Já poderíamos ter saído há muito tempo — falei. — Estou bem, muito bem!

— Mas agradeça ao seu santo, cara — disse Pezão, após tomar um longo gole de café. — Você ficou mal pra caralho. Nem acredito que esteja falando com a gente.

— Sério? — perguntei, olhando nos olhos da Isabella. — Fiquei tão mal assim?

Ela deu uma engolida seca e respondeu:

— Verdade, gato, todo mundo pensou que você ia ...

— Putz!!! Mas quem foi o cuzão que me acertou? Eu não consigo me lembrar de quase nada do que aconteceu.

— Você não vai acreditar — disse Pezão, puxando uma cadeira e sentando-se ao lado da cama.

— Conta logo, porra!!! — falei, impaciente.

E Isabella fez sinal para eu falar mais baixo também. Meu, o cara da outra cama deve estar morto, pois nem se mexe.

— Sabe quem te acertou? — disse Pezão, de boca cheia.

— Porra, se eu soubesse não teria perguntado — falei baixo desta vez, mas ainda irritado.

— Você não vai acreditar; foi o filho da puta do Chevete rosa.

Como é que é? Caraaaaaaaaalho!!!

— Mas ... mas ... ele passou batido por nós e ...

— Sei lá, cara. Mas era ele. O filho da mãe seguiu a gente direitinho. O punheteiro do Zoinho estava certo.

— Filho da puta!!!

— E tem mais ... — prosseguiu Pezão, após engolir mais uma bolacha. — Eu conheço o desgraçado de algum lugar. Eu posso jurar que já vi aquele babaca antes.

— Mas o que aconteceu com ele? Onde ele está?

— O covardão fugiu — disse Pezão. — Você deu muita sorte. O Mamutão e eu chegamos bem na hora em que ele estava arrastando você para o terreno baldio.

— Caralho!!! — falei tão alto que devo ter acordado o hospital inteiro. — O cuzão estava me seqüestrando?

Pezão fez sinal de positivo com a cabeça.

— Ele ia comer o teu cu no mato — falou Pezão, rindo feito uma hiena comendo churros.

— Vai se foder! — resmunguei. — Seria melhor ter morrido.

E Isabella me deu um tapa no braço, dizendo:

— Fala isso não, oh!

— E você? — perguntei para ela. — Viu tudo?

— Não. Quando cheguei à janela, o safado já tinha fugido. Não quero nem me lembrar do momento em que vi você e o Demétrius caídos na calçada. Eu quase desmaiei de tanto apavoramento. Minha irmã foi a mais sensata na história toda; foi ela que ligou para o hospital.

— Caramba — fiquei boquiaberto. — Puta merda, e os meus pais? — disse eu, apavorado. — Eles estão sabendo?

— Fica frio — disse o Pezão, calmamente. — Eu não deixei que o hospital entrasse em contato com eles. Eu sou foda.

Foda ou não, eu senti um puta alívio ao saber disso. Escapei do psicopata, mas eu não sei se teria a mesma sorte com os meus pais.

Ficamos em silêncio por alguns instantes. Até que ...

— Faz uma força aí, porra! — falei para o Pezão. — De onde você conhece o cara? Será que eu também conheço?

— Aposto que sim.

E foi aí que lembrei do sussurro de Caroline no meu ouvido, durante o período em que fiquei desacordado. Resolvi arriscar:

— Por acaso ele tinha uma cicatriz?

Pezão arregalou os olhos, parecia excitado.

— Porra, tinha sim!!! Uma puta cicatriz na testa. Lembrou quem ele é?

— Não — respondi, triste. Nunca me senti tão triste e apavorado na vida.

— O que foi? — perguntou Isabella, acariciando meu rosto.

— Deixa pra lá — disse eu. — Vocês não vão acreditar mesmo.

Parece que algumas peças estão se encaixando, vocês notaram? O assassino do irmão da Caroline é o dono do Chevete rosa. Mas por que este filho da puta está me perseguindo? Ninguém merece.

Bom, mas como eu disse anteriormente: tudo na vida tem um lado bom. Descobri que a minha querida Caroline continua do meu lado. Sinto a sua falta, gata.

A vida continua.

Finalmente deixei o hospital. Minha cabeça estava coberta de curativos e doía um pouco, mas fora isso eu estava me sentindo muito bem. O médico me recomendou repouso, mas o que eu quero mesmo é pegar uma praia. O sol está de rachar, porra!!! Quem é que fica de repouso numa cidade como Santos?

Ah, e vocês não imaginam a felicidade que eu fiquei ao ver o meu Opala no estacionamento do hospital. Sua pintura reluzia ao sol. Quase tive um orgasmo.

Isabella queria me arrastar para a delegacia a todo custo. Ela queria que eu registrasse um boletim de ocorrência contra o filho da puta da cicatriz. Mas algo me diz que isso não resolveria absolutamente nada. Sinto que este assunto terá que ser resolvido entre nós dois.