As Aventuras de Nando & Pezão

“Mistério Misterioso”

Capítulo 5 – Pé Na Estrada

— Enfia os cinco dedos no cu e assovia, porra!!!

— Depois. Agora eu preciso te contar que convidei o Mamute.

— O Mamutão?

— Encontrei o gordo dando bobeira lá no centro e decidi convidá-lo.

— Legal. O Mamutão é muito figura. A viagem vai ficar mais divertida com ele.

— Imagine aquele monte de banha balançando nas areias de São Vicente!

E caímos na gargalhada, feito duas hienas de sunga na praia.

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É lógico que depois daquela conversinha com os meus pais, não havia o menor clima para uma viagem à praia. Foi por isso que eu não contei para eles a respeito de São Vicente. Precisei mentir. Inventei uma história sobre uma faculdade em Itu e bla bla bla. Falei que ia dar uma olhada na faculdade e tal. Não vou entrar em detalhes; o importante é que eles engoliram a história e pronto. E o melhor de tudo, meu pai ainda me deu 200 paus. Pois é ... Quando eu morrer, meu lugarzinho no inferno já está mais do que garantido.

Putz!!! Só agora caiu a minha ficha; como é que eu vou explicar para eles quando eu voltar todo bronzeado da viagem? Porra, eu não tinha pensado nesse detalhe. Ah, querem saber? Foda-se!!! Depois eu me viro.

Eu estava terminando de arrumar a minha mala, quando o telefone tocou ...

— Fala, Pezão do caralho — atendi.

Nada. Silêncio total. Na verdade o silêncio não era total, pois dava para ouvir uma respiração do outro lado da linha.

— Desembucha, porra!!! — falei, nervoso. — Pezão, pára de graça!!!

Nada. Nenhuma resposta. E a pessoa desligou o telefone.

Eu, hein!!! Muito esquisito. Liguei imediatamente para o celular do cuzão, só para ter certeza de que foi realmente ele.

— Fala — atendeu o Pezão.

— Foi você que ligou pra cá?

— Eu? Claro que não, seu idiota! Você que me ligou. Comeu cocô?

— Perguntei se foi você que me ligou agora há pouco, no telefone da minha casa.

— Nem. Estou no vaso.

— Putz!!! Ninguém merece, cara.

— Espera! Não desliga! Eu nunca tinha experimentado conversar com alguém enquanto ...

— Ah, vai tomar no seu cu!!!

E desliguei o telefone, é claro. Era só o que me faltava! O filho da puta batendo um barro e eu aqui servindo de companhia. Ah, se liga!!!

Agora voltando ao assunto do telefonema misterioso, quem será que estava do outro lado da linha? Será que foi apenas um engano ou ... ??? Putz!!! Fiquei até arrepiado.

Bom, seja quem for, terá de me seguir até São Vicente, pois eu não vou adiar a nossa viagem por nada neste mundo. Já está tudo certo. O Opala está em ponto de bala; levei o carro num mecânico amigo meu e o cara não sabia se babava ou se gozava na cueca. Ele ficou impressionadíssimo com o estado de conservação do carango.

Em outras palavras, só não viajo amanhã se me der uma tremenda caganeira.

Ah, pára com isso, Nando!!! Pensamento positivo, porra!!!

Acordei com o alarme do meu celular. Oito horas em ponto. Bom, aparentemente não senti o menor sinal de caganeira. Para ser sincero, fazia muito tempo que eu não me sentia tão bem em toda a minha vida. Nunca acordei tão bem disposto assim. Senti-me como se eu tivesse transado a noite toda com a garota mais gostosa do bairro.

Passei pela cozinha com um puta sorriso nos lábios. Meus pais estavam sentados à mesa e perceberam logo.

— Nossa, o que houve? — perguntou minha mãe, curiosa.

— Nada — respondi. — O dia está bonito hoje, não?

— Conheço o rapaz — disse meu pai. — Arranjou outra ... ficante. É assim que vocês falam hoje em dia, não é? Daqui a pouco a palavra namorada irá sumir do mapa.

— Nem arranjei, pai — respondi.

— É hoje que você vai viajar para Itu?

E por um momento quase coloquei tudo a perder ...

— Pra onde? — disse eu. Putz!!! Esta minha cabeça de vento ainda me fode.

— Não é pra Itu que você vai? — disse minha mãe, com uma cara meio desconfiada.

E foi aí que caiu a minha ficha. Itu, Nando!!! Acorda, seu porra!!!

— Ah, sim ... claro! Itu! É que eu tinha entendido outra coisa. É hoje sim.

— Muito cuidado na estrada, hein! — disse meu pai. — Conheço aquela região; tem uns trechos bem perigosos.

— Pode deixar, pai.

E corri para o banheiro. Calma, não foi caganeira. A viagem continua de pé.

Quando consegui sair de casa o relógio marcava 9h45. Eu havia combinado de passar na casa do Pezão às 9h30. Ainda bem que o cara é enrolado pra caralho, aposto que vou chegar lá e ... Putz!!! Não acredito no que estou vendo: Pezão e Mamute já estão me esperando na frente da mansão. Cada um com uma mochila nas costas. O físico dos dois lembra dois surfistas aposentados.

Pezão bateu o dedo indicador no seu relógio de pulso e gritou para mim:

— Perdeu a hora, porra?

Estacionei o Opala e mostrei aquele famoso dedo para ele. Mamutão era só sorrisos. Caralho, o cara deu uma pequena emagrecida. Não chega a estar em forma, mas já não é aquela baleia cachalote dos velhos tempos.

— Está fazendo regime, Mamute? — perguntei.

— Pedalando muito, cara — respondeu ele, enquanto olhava admirado para o Opala. — Vou da minha casa para o trabalho de bicicleta. São quase 10 quilômetros.

Antes que ele pudesse perceber, Pezão deu-lhe um tapa na nuca, dizendo:

— Pedala, Mamute, pedala!!!

E os dois subiram a bordo. Mamute sentou-se no banco de trás e Pezão ficou ao meu lado. Que bosta, viu? Meu carro vai ficar com o pior cheiro da face da Terra ... cheiro de cueca!!! Isso por que eu nem mencionei as bufas.

— Massa o Opalão, Nando!!! — disse Mamute, excitado.

— E o bichão anda pra caralho!!! — disse eu, ainda mais excitado.

— Só espero que esta banheira não nos deixe no meio do caminho — disse Pezão, mais azedo que pum de velho.

Liguei o Opala e saí fritando os pneus.

— Aprendeu isso com alguém? — disse Pezão, rindo feito uma hiena gozada.

— O Zoinho não vai? — perguntou Mamute.

— Vai — respondi. Percebi o Pezão torcendo o nariz. — Fiquei de passar na casa dele por último, já que ele mora perto da rotatória.

— O mané ainda mora naquele fim de mundo?

Pezão olhou para trás e disse para o gordo:

— Olha só quem fala! Você também nunca se mudou daquele cortiço do caralho.

Mamute ficou vermelho de raiva.

— Cortiço é a puta que te pariu! — gritou ele.

— É cortiço sim, porra! — insistiu Pezão, rindo. — Parece até o cortiço do Chaves! Até os números nas portas são parecidos.

Tentei evitar, mas não consegui. Comecei a rir.

— Lá também tem a Bruxa do 71, Mamutão? — perguntei, tentando quebrar o clima tenso que estava começando a se formar.

E deu certo; Mamute começou a rir também.

— Na verdade tem uma velha feia pra caralho que mora lá. O número dela não chega a ser o 71, mas chegou perto: 73. A criançada chama a velha de Bruxa do 73. E o mais curioso é que ela paquera com um magrelo bigodudo muito parecido com o Seu Madruga.

E caímos na gargalhada, feito três hienas rindo de uma gazela recém-abatida.

Parei na frente da casa do Zoinho e buzinei três vezes.

De repente o maluco apareceu na janela. Ele estava usando um óculos escuro tão engraçado que nós três quase nos mijamos dentro do Opala.

— Fala, zangão!!!! — gritei.

Creio que Zoinho não entendeu a piada. Mesmo assim sorriu e fechou a janela. Dois minutos depois ela apareceu no portão, segurando uma bolsa preta.

— Cadê o computador pra você conversar com a sua namoradinha? — disse Pezão, esticando o cabeção pra fora do Opala.

Zoinho mostrou o dedo para Pezão e deu a volta no Opala. Desci o meu banco e Zoinho embarcou, sentando-se ao lado de Mamute, no banco de trás. Guardei a bolsa dele no porta-malas e voltei para dentro do carro.

— Você está noivo, Zoinho? — disse Mamute, com um sorriso irônico.

— Não viaja na maionese, gordo — respondeu Zoinho, meio desconfortável.

Dei um longo suspiro, fechei a porta do Opala e falei:

— Eu só vou falar uma vez: quem quiser brigar me avisa agora, pois ainda dá tempo de desistir da viagem. Estou falando sério, se tiver uma briguinha no meio do caminho eu paro esta porra e deixo vocês no meio da estrada.

— Calma, santa! — disse Pezão, irônico.

Olhei sério para o filho da puta.

— Não estou de brincadeira, cacete!!! — e dei uma olhada para o banco de trás. — Estamos entendidos?

— Fica frio, Nando — disse Mamute.

De repente Zoinho esticou a mão entre os dois bancos da frente.

— Vamos fazer as pazes, Pezão — disse Zoinho. — A gente sempre se deu bem, porra!

Pezão foi pego de surpresa. Notei que ele ficou sem saber o que fazer. Primeiro ele olhou para mim, depois olhou para a mão do Zoinho, depois olhou para o Zoinho, voltou a olhar para a mão entre os bancos e disse, por fim:

— Você acabou de tocar uma punheta, não foi?

E caímos todos na gargalhada, feito quatro hienas que se reencontram após um acidente de avião numa ilha deserta.

Não poderia ter sido melhor. Quebrou a tensão negativa que pairava no ar. Pezão não chegou a apertar a mão do Zoinho, mas pelo menos ele parou com as piadinhas estúpidas com o nosso amigo.

Após vinte minutos de viagem eu comecei a notar algo que me deixou preocupado. Muito preocupado.

— O que foi, Nando? — perguntou Mamute. — O que você tanto olha pelo retrovisor?

— Você está muito gostoso, Mamutão!!! — disse Pezão, sarcástico. — Eu percebi que ele não tira os olhos das suas pernas cabeludas.

Eu estava tão nervoso que nem dei bola para a brincadeirinha sem graça do Pezão. E olhei outra vez para o retrovisor.

— Viram? — disse Mamute. — Olhou outra vez!!!

Zoinho olhou para trás e percebeu o que eu já tinha percebido minutos atrás.

— Acho que tem um Chevete rosa seguindo a gente — disse ele.

Pezão e Mamute olharam imediatamente para trás, procurando o Chevete rosa.

— Aquele Chevete gay? — disse Pezão, rindo muito. — Ah, fala sério!

— Por que acha que ele está nos seguindo? — perguntou Mamute para Zoinho.

— Quando eu saí na janela da minha casa eu vi aquele Chevete parado na esquina.

— Ele não sai da nossa cola — disse eu. E olhei outra vez para o retrovisor. — Eu acelero, ele acelera; eu diminuo o ritmo, ele também diminui. Estou ficando preocupado.

Pezão olhou novamente para trás.

— Não conheço ninguém com um Chevete rosa — disse ele.

— Nunca vi um carro tão boiola na minha vida — disse Mamute.

— Nem eu — completou Zoinho.

— Encosta o Opala em algum lugar — disse Mamute. — Se a bichona também parar, a gente dá um cacete nela e descobre o que ela quer.

— Isso aí — concordou Pezão.

A idéia do Mamute foi muito boa.

Assim que avistei um daqueles restaurantes de beira de estrada, não pensei duas vezes. Parei o Opala no estacionamento mais próximo e ficamos todos de olhos atentos no Chevete rosa. Nossa concentração só foi abalada quando Mamute soltou um sonoro peido.

— Porra, gordo, vai cagar lá fora!!!