As Aventuras de Nando & Pezão

“Mistério Misterioso”

Capítulo 4 – Mais Dois

Pezão estendeu suas mãos com as palmas viradas para cima. Bati nelas com as minhas e selamos o pacto: São Vicente ... aí vamos nós!!!

Uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!

Para o dia ficar perfeito só falta eu ganhar na loteria.

Por via das dúvidas, passei na primeira lotérica que encontrei e resolvi arriscar. Quem sabe, né? O sol nasceu para todos, inclusive para os filhos da puta.

----------------------------------------

De repente alguém passou buzinando com uma moto vermelha. O motoqueiro estava de capacete, então não consegui reconhecê-lo de prontidão.

— Sabe quem é? — perguntei para o Pezão.

— Não tenho a menor idéia. 

E o motoqueiro misterioso veio na nossa direção, diminuindo a velocidade. Acho que estou desconfiado de quem seja, mas não vou arriscar.

Acertei. É ele mesmo.

— Fala, Zoinho, beleja? — disse eu.

— Beleja, Nando. Quanto tempo, cara!

— Virou motoboy? — perguntou Pezão.

— Não — respondeu ele, descendo da moto. — Mas até que você me deu uma boa idéia. Eu não tinha pensado nisso.

— É sua? — perguntei, apontando para a moto.

Zoinho fez que sim com a cabeça.

— Ah, roubou de quem então? — falou Pezão, rindo. — Você nunca pagou nem cerveja pra gente! Só tem dinheiro pra comprar revistas de putaria.

— Vendi todas elas.

— Como é que é? — fiquei até branco de surpresa. — Não acredito. Você vendeu sua coleção todinha?

— Sim. Vendi tudo pela internet.

— Pela internet? Porra, Zoinho, estou orgulhoso de você.

E estendi minha mão para cumprimentá-lo.

— O cara está de gozação com a gente, Nando — disse Pezão. 

— Não estou. Existe um site que você pode vender de tudo. Vocês não entram na internet, porra?

— Não — respondeu Pezão.

— Ah, algumas vezes — respondi.

— Então vocês estão por fora! — disse Zoinho, excitado. — O bagulho é muito louco!

— Mas você nunca teve grana pra comprar computador — disse Pezão.

— E quem disse que pra acessar a internet você precisa ter computador? Eu acesso lá na lan-house do centro.

Putz! Pezão ficou com a cara lá no chão.

— Mas me fala uma coisa — disse eu. — Quanto pagaram pela sua coleção?

Zoinho olhou desconfiado para mim.

— Ah, prefiro não responder. Mas foi uma grana legal. O cara que comprou é um puta colecionador de revistas eróticas. Parece que ele já saiu até no Guiness.

— Puta colecionador o caralho! — disse Pezão. — Um grande punheteiro, isso sim!

— Punheteiro ou não; foda-se! — disse Zoinho, revoltado. — O importante é que ele me pagou direitinho.

Ficamos em silêncio por alguns instantes.

— Viva a internet — disse eu, sorrindo.

— Com certeza — completou Zoinho. — Ah, e falando em internet, alguns dias atrás recebi umas fotos no meu e-mail; tinha um cara comendo uma loira gostosa na frente de um clube. Meu, o cara era muito parecido com você, Nando! Impressionante!

Fiquei branco, claro!

— Quem te mandou estas fotos? — perguntei.

— Uma amiga minha lá de Salvador.

— Salvador? Na Bahia?

— Não, lá do Egito! Claro que é da Bahia, porra!

— Mas como é que esta foto foi parar ... ?

— Puta que pariu! — disse Zoinho, prestes a explodir na maior gargalhada do século. — Não vá me dizer que era você?

— A foto era de noite? E atrás do casal tinha um portão verde?

— Do portão eu não lembro direito, mas a foto foi batida de noite sim. E dá pra ver um segurança todo bem vestido lá atrás.

Zoinho quase se mijou de tanto rir.

— Então era você mesmo? Caraaaaaaaalho! Parabéns, Nando! Se deu bem, hein! A loira era muito gostosa!

— Mas eu não cheguei a comê-la — falei, meio triste. — Na hora da foto eu só estava abraçado com ela.

— Acho que já recebi esta foto mais umas três vezes ... só esta semana!

— Putz!!!

— Vocês dois já são praticamente celebridades na internet, cara.

E Zoinho olhou para o seu relógio. Meu, um puta relógio novinho em folha! Daqueles que não saem por menos de 300 paus.

— Caralho, estou atrasado! — disse ele, aflito.

— Atrasado pra fazer o quê? — perguntou Pezão. — Você nunca fez porra nenhuma, além de tocar punheta.

— Minha namorada entra no serviço daqui a pouco.

Namorada??? Não é possível. Este mundo está prestes a acabar mesmo. 

— Você está namorando, Zoinho? — perguntei, incrédulo. — Quem é ela? Onde ela trabalha? A gente conhece?

— Acho que não — Zoinho olhou para o relógio outra vez. Ele parecia nervoso. — Ela não é daqui.

— Xiiiiiiiiiiiiiii, Marquinho! — disse Pezão. — Você está namorando aquela americana do Mamute?

— Não viaja, Pezão! — falei. — Aquela biscate já voltou para os Estados Unidos faz tempo.

— Minha namorada mora em Santos.

— Tá fraco não, hein, Zoinho! E como é que ela é?

Zoinho passou de nervoso a desanimado. Seus olhos murcharam.

— Eu não sei. Mas aposto que é ...

— Como assim não sabe? — perguntou Pezão. — Ah, eu sabia que era mentira.

— Não estou mentindo, porra! — disse Zoinho, puto da vida.

— Espera um pouco aí — falei. — , acho que já sei o que está acontecendo aqui. — e olhei para o Zoinho. — Você conheceu sua namorada pela internet, certo?

Zoinho fez que sim com a cabeça.

Pezão começou a rir feito uma hiena com tendinite.

— E como é que vocês trepam? — disse ele. — Você bate o pinto no monitor e ela esfrega a xoxota no teclado? Ah, vai tomar no seu cu, Zoinho!

Zoinho saltou da moto e partiu pra cima do Pezão. A sorte dele é que eu fui rápido e segurei a moto, caso contrário teria feito um belo estrago.

Ajeitei a moto com o descanso e parti pra cima dos dois, tentando apartar a briga. Ao invés disso, acabei levando alguns safanões.

— Parem com isso, porra!!! — disse eu para eles.

Mas não adiantou muita coisa. Os dois continuaram se esbofeteando e trocando pontapés.

De repente tive uma idéia. Entrei no Opala e comecei a buzinar sem parar. O barulho era tão irritante que eles passaram a dar mais atenção para o Opala do que para a briga.

— Pára com esta porra de buzina, Nando! — gritou Pezão.

— Desliga esta merda! — reclamou Zoinho.

— Só paro de buzinar quando vocês pararem esta briguinha ridícula. Parecem duas moças brigando por causa de namorado.

E deu certo. Não fizeram as pazes, mas pelo menos a briga parou.

Saí do carro e fiquei no meio dos dois.

Zoinho olhou para o relógio outra vez. Desta vez ele ficou irritado.

— Puta que pariu! — disse ele, balançando a cabeça. — Por causa deste imbecil a Camilla vai brigar comigo!

Pezão ficou vermelho de raiva.

— Se você me chamar de imbecil mais uma vez eu te arrebento a ....

— Calma, porra! — disse eu. — Muita calma nesta hora.

Silêncio por alguns instantes. Até que Zoinho disse:

— Todas as tardes a gente se encontra pelo MSN.

— Aquele programinha de bate-papo, né? — disse eu. — Sei qual é. O irmão do Pezão usa direto. O pirralho criou até uma conta pra mim.

— Coisa de nerd — disse Pezão. Na verdade foi mais um resmungo.

— Aquele negócio é muito doido — falei. — Aparece até a foto da pessoa e ...

— Mas a Camilla é muito tímida — disse Zoinho. — Ela nunca coloca a foto dela.

— Ela deve ser o cão chupando pirulito no escuro — disse Pezão.

Zoinho ficou puto da vida; tentou partir pra cima do Pezão outra vez. Mas desta vez eu o impedi.

— Está esperando o quê? — disse Pezão, chamando Zoinho para a briga. — Vem, seu punheteiro do caralho!

Mas Zoinho não caiu na provocação. Pegou o capacete que estava sobre o capô do Opala, colocou-o na cabeça e subiu em sua moto.

— Vou pra lan-house encontrar minha gatinha — disse Zoinho. Sua voz saiu abafada por causa do capacete.

— Isso aí, Zoinho — disse eu. — Pau pra dentro!

E Zoinho deu a partida na moto. Antes de sair fincando ele deu uma olhada no Opala. Depois olhou para mim.

— De quem é este Opala? — perguntou ele. — É seu, Nando?

— Sim. Ganhei do meu pai. Estiloso, né?

— Muito doido. Já batizou o bichão?

Pezão olhou para mim, aflito. Seu olhar me disse tudo. Ele não queria que eu contasse para o Zoinho a respeito da nossa viagem.

— Já batizei sim — respondi. — Fui para o Rio de Janeiro semana passada.

— Dahora!

E Zoinho saiu fincando com sua moto. Pra fazer uma graça ele passou raspando os pés do Pezão. Faltou muito pouco para não passar por cima. Muito pouco mesmo.

— Cuzão, filho da puta, punheteiro do caralho! — gritou Pezão, irado. — Volta aqui e passa por cima, se você é homem!

Mas Zoinho já estava longe pra caralho.

Logo depois foi a minha vez de sair fincando. Mas não arrisquei a mesma graça que o Zoinho; era perigoso eu mudar de idéia na última hora e passar por cima do Pezão, né?

Voltei pra casa, enfim.

É claro que meu celular já estava cheio de ligações da minha mãe. A coitada estava desesperada. Achou que eu tinha batido o carro em algum lugar.

Bom, sejamos honestos, no lugar dela eu também teria pensado a mesma coisa, afinal de contas eu saí para uma voltinha e cheguei em casa às 3 horas da tarde.

Depois do almoço, meus pais me chamaram para uma reuniãozinha na sala.

Xiiiiiiiiiiiiiiiii, Marquinho! A última vez que fizeram isso comigo eu fiquei de castigo por duas semanas. Se não me falha a memória eu tinha 16 anos, e mereci o castigo. Meus pais me flagraram com a vizinha em cima da cama deles. Putz!!! Estávamos no melhor e mais gostoso 69 de nossas vidas ... e de repente meus pais abrem a porta do quarto. Nunca vi meu pau murchar tão rápido em toda a minha vida. Foi uma das situações mais embaraçosas que eu já vivi. Não desejo aquilo pra ninguém.

E a reuniãozinha começou:

— Vinte anos — disse meu pai, olhando sério para mim.

— E parece que foi ontem — completou minha mãe, sorrindo. — Você foi um bebezinho tão lindo!

— Pronto. Muito bonitinho. Agora posso ir para o meu quarto?

— Precisamos ter uma conversa séria, Nando — disse meu pai.

Ufa! Não me chamou de Fernando. Já é um bom sinal.

— Uma conversa muito séria, Fernando — disse minha mãe.

Putz!!! Lascou.

— O que foi que eu fiz? — perguntei, um pouco assustado.

— A questão é justamente esta, Nando. Você não está fazendo nada!

— Mas se eu não fiz nada, por que estão zangados comigo? Olha, aquele cheiro lá no carro não foi minha culpa, eu apenas ...

— A conversa não tem nada a ver com o carro, filho — disse minha mãe.

— O que nós estamos tentando dizer, Nando, é que você anda meio ... relaxado.

— Relaxado?

— Muito relaxado. Você largou o cursinho, não fala mais em faculdade ...

Putz!!! Agora eu me lasquei de vez. Pensei que eles não tinham percebido.

— Ah, eu penso em faculdade sim. O problema é que cada hora eu quero fazer uma coisa diferente.

— Mas nunca vai pra frente! — reclamou minha mãe. — Se não estou enganada, você já montou uma banda e não deu certo; diz que trabalhou como ator naquele programa Linha Direta, mas até hoje eu nunca vi você. Fernando, meu filho, você precisa dar um jeito na vida! Você não é mais moleque, é um homem!

— Eu sei, mãe, eu sei.

Meu pai começou a coçar o queixo. É sinal de que ele está preocupado.

— Você vai voltar para o cursinho, e vai arranjar um trabalho também.

— Pode deixar.

— E vai se afastar daquele seu amigo, o Maurício.

Nossa! Por esta eu não esperava.

— O que o Pezão tem a ver com isso? — perguntei.

— Ele é má influência. Você não pode ficar a vida inteira na cola de um filhinho de mamãe como ele. Aquele rapaz não faz nada da vida, Fernando! Mas a mãe dele pode bancar aquela vida pra ele, nós não!

— Nós somos apenas amigos, mãe. Não vivo na cola de ninguém. Ele tem a vida dele e eu tenho a minha. Eu sei que a mãe dele tem muita grana e nós não. Porra, não sou idiota, né?

— Fernando! — esbravejou meu pai. Certamente foi por causa do "porra" que eu soltei sem querer. Putz!!! Este lance de soltar porra sem querer ficou meio esquisito.

Não vou aborrecê-los com esta conversa fiada, a qual durou muito mais tempo do que eu esperava. Depois de detonarem o Pezão eles partiram para o assunto namoradas. E ficaram buzinando no meu ouvido que eu nunca tinha uma namorada fixa e bla bla bla. Porra, eu até procuro uma namorada bacana, alguém que não seja apenas uma trepada casual, né? Mas vocês são testemunhas ... eu só me estrepo!!! E quando eu finalmente encontro, ela morre a pauladas. Ninguém merece.

Mas é claro que eu não contei estas histórias para os meus pais. Eles ficariam chocados, e muito provavelmente não acreditariam em mim.

Admito que eu ando meio relaxado nestes últimos meses. No fundo tudo isso tem uma explicação lógica: Ubatuba.

Minha vida ia muito bem, até que resolvemos fazer aquela maldita viagem pra Ubatuba. Depois do que aconteceu lá eu nunca mais fui o mesmo. Perdi a concentração nos estudos, fiquei mais largado e minha vida está cada vez pior. Nada dá certo para mim; já perceberam? Porra, é claro que perceberam, né? Hahaha ... E não adianta mentir, eu sei que vocês se divertem às minhas custas, sei que vocês adoram me ver na pior. Calma, não vou brigar com vocês. Berinjela no cu dos outros é refresco, eu sei disso.

Aquela conversa com os meus pais me deixou tão nervoso que eu peguei o Opala e saí para dar mais uma volta. Mas desta vez eu não trombei com a Magnólia; desta vez aconteceu algo muito pior.

Num cruzamento eu esqueci de olhar para os lados e não vi uma moto vindo a toda velocidade. Preciso dizer de quem era a moto? O coitado do Zoinho desviou do Opala e foi parar num canteiro. Zoinho escapou ileso, mas a moto ficou toda amassada, além de ter quebrado os espelhos retrovisores e as lanternas dianteiras.

Eu já estava chateado por ter feito aquilo com a moto, e fiquei ainda mais triste quando soube que Zoinho iria com ela até Santos para encontrar sua amada Camilla.

Pobre Zoinho, está completamente apaixonado pela mina virtual; tão apaixonado que nem se preocupou em me cobrar o conserto da moto. A única coisa que ele se lamentava era o fato de não poder mais viajar até Santos. Putz!!! Fiquei de coração partido.

E foi aí que tive uma idéia. Acho que vocês até já sabem que idéia foi esta, né?

Isso mesmo, para me redimir da canalhice que aprontei com Zoinho, resolvi convidá-lo para ir até São Vicente comigo e com o Pezão. Para vocês que não conhecem, Santos e São Vicente são cidades-irmãs, coladinhas uma na outra.

Nem preciso dizer que Zoinho ficou uma alegria só. O coitado quase me deu um beijo na boca de tanta felicidade. Mas é claro que eu não deixei. Sai fora, oh!!!

Agora eu tinha outro problema: contar para o Pezão a respeito do nosso novo companheiro de viagem. Pezão ia ficar uma fera.

E ficou.

Liguei pra ele mais tarde e contei tudo o que tinha acontecido. Pezão adorou quando contei sobre a moto destruída, mas perdeu imediatamente o bom humor quando contei que tinha convidado Zoinho para ir até São Vicente conosco.

Pezão disse que não ia mais participar da viagem, depois mandou eu enfiar o Zoinho naquele lugar, e bateu o telefone na minha cara.

Na manhã seguinte ele me ligou.

Trrrrrrrimmmmmmmmmmmmmmmmm!!!

— Fala, Pezão.

— Arranjei mais um maluco pra ir com a gente.

— Mas ontem você disse que não ia mais.

— Esqueceu que a tia é minha? Se eu não for, não tem viagem.

— Foda-se, a gente ia dormir no Opala mesmo.

— Abraçadinhos, é? Bichonas!

— Pezão.

— O quê?

— Enfia os cinco dedos no cu e assovia, porra!!!

— Depois. Agora eu preciso te contar que convidei o Mamute.

— O Mamutão?

— Encontrei o gordo dando bobeira lá no centro e decidi convidá-lo.

— Legal. O Mamutão é muito figura. A viagem vai ficar mais divertida com ele.

— Imagine aquele monte de banha balançando nas areias de São Vicente!

E caímos na gargalhada, feito duas hienas de sunga na praia.