As Aventuras de Nando & Pezão

“Mistério Misterioso”

Capítulo 3 – O Sol Nasceu Para Todos

Bom, só tem um jeito de descobrir, não é?

Diminuí a marcha e passei ao lado dela, quase na mesma velocidade em que ela caminhava. Eu estava louco para ver o seu rosto. Vira pra cá, meu bem!!!

De repente ela virou o rosto na direção do Opala e olhou direto para mim. Foi aí que me dei conta de que eu a conhecia. Uau!!!

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O nome dela é Magnólia.

— Nando, é você? — disse ela, fazendo um olhar de surpresa.

A Magnólia sabe o meu nome? Não é possível. Galera, esta filha da mãe já me deu uns três foras. Lembro exatamente de cada um deles. Tento comer esta biscate desde que me conheço por gente. 

Encostei o Opala e tirei os óculos. Ela veio falar comigo.

— Oi, Magnólia — disse eu. — Tudo bem com você?

— Tudo, e você?

Quando ela se abaixou, seus peitos quase saltaram para dentro do Opala. Acho que ela não está usando sutiã. Puxa vida, o tempo passou e ela continua gostosa.

— Comigo está tudo ótimo — respondi, tentando não encarar seus peitões. — Quer uma carona?

— Muito obrigada. Quero sim. Ninguém merece este sol.

Sorri e abri a porta para ela. Magnólia deslizou pelo banco de uma forma tão sexy e natural que parecia estar acostumada com o meu carro há séculos. Seu perfume tomou conta do Opala em questão de segundos. Fazia tempo que eu não sentia um cheiro tão bom.

Durante o trajeto até a casa da garota, descobri que Magnólia estava solteiríssima. Isso acontece muito com as garotas de beleza acima da média. Já perceberam? A maioria delas se sente tão gostosa, mas tão gostosa, que acaba não ficando com ninguém. Ou acabam ficando com os piores tipos. É impressionante!!! Parece que quanto mais nóia é o cara, mais linda é a garota do lado dele. Não me conformo com isso.

De repente ela fez sinal para eu encostar o carro. Acho que chegamos. Coincidência ou não, Magnólia mora perto da casa do Pigmeu.

— Muitíssimo obrigada pela carona — disse ela.

— De nada — respondi. 

Desta vez eu tive que olhar para os peitões. Não resisti. Quem é homem sabe do que estou falando. Vestido decotado atrai nossos olhos da mesma forma que uma moeda é atraída por um ímã. São as leis da física e da natureza.

Ficamos em silêncio por alguns instantes. Até que ela disse:

— Você lembra da Julieta?

— Julieta? — disse eu, franzindo a testa e puxando pela memória.

— Sim, uma moreninha baixinha que estudou com a gente.

Não me lembrava porra nenhuma, mas ...

— Acho que lembro — disse eu, por fim.

— Vai ter uma festa na casa dela hoje. Gostaria de ir comigo?

Uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!

Esperei anos por este momento. Finalmente!!!

1 ... 2 ... 3 ... e:

— Não — respondi.

— Não? — disse ela, olhando espantada para mim.

Já viram o olhar de uma criança mimada que nunca ouviu um não na vida? Pois foi exatamente este olhar que Magnólia me lançou.

— Não — repeti. — Mas agradeço o convite.

Agora ela me olhou como se eu fosse um alienígena.

— Tudo bem — disse ela, meio atônita. — Fica para uma próxima.

E nos despedimos com um beijo no rosto. 

Confesso que quase ... quase voltei atrás. Mas continuei firme até o final.

Quando Magnólia desceu do carro e rebolou aquela bundinha gostosa, caminhando até o portão de sua casa, estive prestes a pedir para ela voltar.

Mas não gritei.

Vocês perceberam o que acabou de acontecer aqui, não? Meu, esta maldita nunca me deu bola; e agora, só porque eu tenho carro, me convida para sair? Ah, vai se foder! Agora eu não quero mais. Eu sei que daqui para frente isso vai acontecer mais e mais vezes, mas eu precisava dar um fora nesta filha da puta. Questão de honra, saca? Uma humilde vingança pelos três foras que ela me deu.

Vou me arrepender mais tarde, mas agora já foi.

Quando eu ia ligar o motor novamente, surgiu um vulto do meu lado, dizendo:

— Credo, camaradinha!!!

Preciso dizer quem é? Puta merda, era só o que me faltava ...

— Fala, Pigmeu — disse eu, protegendo meu rosto de um possível tapa — Beleja?

O maluco ficou me olhando com aqueles olhos vermelhos e com uma cara de quem viu um fantasma fazendo sexo com uma vampira.

— Cadê o defundo? — disse ele, de repente.

— Defundo?

— Sim. Cadê o defundo?

Defundo? Mas que porra é esta de defundo?

E foi aí que a minha ficha caiu.

— Não seria defunto? — perguntei.

— Isso. Cadê o defundo?

Era só o que me faltava. O maluco está pensando que o meu Opala é carro funerário? Puta que pariu! Ninguém merece.

— Não tem nenhum ...

Vi a mão do Pigmeu vindo em minha direção. O filho da puta ia me acertar mais um daqueles seus famosos tapas. Mas desta vez eu fui mais rápido do que ele; coloquei meus braços sobre a minha testa, formando um X, e escapei.

— Porra, Pigmeu! — falei, puto da vida.

— Ela deve ter saído de um dos defundos!

— Ela quem? Ah, já sei: uma joaninha irada.

— Onde? Onde? Você também viu?

Ninguém merece o Pigmeu. O maluco está cada vez pior.

Magnólia apareceu na varanda de sua casa. Será que ela veio me convidar outra vez? Assim que me ajeitei no banco para vê-la melhor, senti o tapão do Pigmeu acertar a minha nuca. Gritei de dor.

— Caralho, Pigmeu!!! — falei, olhando nos olhos do maluco. — Por que não vai bater na puta que te pariu?

Pigmeu ficou me olhando assustado.

Quando olhei para a varanda de Magnólia outra vez, ela não estava mais lá. Se por acaso ela pensou em me convidar outra vez, desistiu no meio do caminho. E foi até bom; eu não conseguiria dizer não para ela outra vez. Meu, a filha da mãe é gostosa pra caraaaaaaaaaaaaalho!!! Só de imaginar aqueles peitos balançando na minha frente eu já fico excitado.

Agora já foi. Bola pra frente senão vem porra quente.

Deixei de comer uma loiraça gostosa, mas outras virão. A fila anda, não anda? É claro que anda. Sempre andou e sempre andará.

De repente o Pigmeu deu a volta no Opala. Nunca vi o maluco correr daquele jeito. Foi tão engraçado que comecei a rir sozinho. Quando dei por mim, Pigmeu já estava sentado ao meu lado. Seus olhos estavam arregalados. Ele tremia mais que gelatina. Só falta o maluco sofrer uma overdose dentro do meu Opala.

Com a sorte que eu tenho, né?

— O que foi? — perguntei. — Outra joaninha?

E comecei a rir. Mas ele estava super sério. Nunca vi o maluco tão assustado assim.

— Está fugindo de alguém? — perguntei, agora sério.

Ele deu uma olhada para os lados; depois voltou o olhar assustado para mim e disse:

— Estão querendo me enterrar vivo, camaradinha.

Putz!!! E o bobo aqui pensando que era alguma coisa séria.

— Verdade, Pigmeu? — disse eu, segurando para não rir.

— Juro pra você.

— Então você está no lugar certo. Estou com dois defundos no porta-malas. Se quiser eu enterro ...

O maluco abriu a porta do Opala e saiu fincando. O Pigmeu correu tanto que deve ter quebrado o recorde mundial dos 100 metros rasos para maconheiros.

Eu dei tanta risada, mas tanta risada, que num determinado momento eu não sabia se estava rindo da corrida do Pigmeu ou se estava rindo porque o Opala estava com um forte cheiro de maconha. Pra ser sincero eu acho que foi por causa das duas coisas.

— Volta aqui! — gritei e dei uma buzinada em seguida.

Mas Pigmeu já estava longe, muito longe.

Que pena! Eu ia perguntar para ele a respeito da música que fizeram em sua homenagem. Será que ele está sabendo? Eu acho que ele nem faz idéia.

Puta que pariu! Meu carro está parecendo um maconhódromo. Eca!!!

Passei no primeiro supermercado que vi, comprei três desodorantes e borrifei dentro do carro. Se eu chegasse em casa com o carro cheirando maconha seria o meu fim. Nem quero pensar nisso.

Bom, antes de voltar para casa, resolvi mostrar o carango para o Pezão.

Estacionei bem na frente do portão dele e liguei no seu celular.

— Ué, o assassino não te pegou? — disse ele, debochando da minha cara.

— Muito engraçado. Agora olha pela janela do seu quarto.

— Por quê?

— Cala a boca e olha, porra!

— Se for alguma sacanagem ...

— Anda logo, cacete!

Menos de um minuto depois ele apareceu na janela, segurando o celular.

— Não estou vendo nada — disse ele.

— Nada? Tem certeza?

— Espera. Estou vendo um carro de uma funerária parado no meu portão. Será que morreu alguém aqui em casa e eu não estou sabendo?

— Carro funerário é a puta que te pariu!!!

Saí do Opala e acenei com os braços. Pezão caiu na gargalhada quando me viu.

— Eu não sabia que você trabalha numa funerária, Nando! — disse ele, rindo feito uma hiena que acabou de fugir de uma penitenciária de segurança máxima.

— Pezão.

— Fala.

— ENFIA O DEDO NO CU E ASSOPRA, PORRA!!!

Pezão deixou a mansão e veio falar comigo.

— De onde saiu esta bicheira? — disse ele, abrindo o portão.

— Bicheira o caralho! — respondi, louco para dar um soco no estômago dele. — O bichão anda bem pra caralho.

Pezão começou a analisar cada canto do Opala. Ele olhava para o carro e olhava para mim; olhava para o carro e olhava para mim outra vez. Ficou assim uns dois minutos, fazendo aquela cara cínica que só um grande filho da puta sabe fazer.

— Quanto você pagou? — disse ele, por fim.

— Meu pai que me deu de aniversário.

— Aniversário?

— Pois é, hoje é meu aniversário. Eu nem me lembrava disso.

Pezão me deus dois tapas nas costas. Doeram mais que o tapa do Pigmeu.

— Parabéns — disse ele, saboreando minha dor. — Vai ter bolinho e guaraná também? — agora sua voz era de deboche.

— Vai se foder.

O babaca ficou rindo outra vez. Mas reparei que ele não tirava os olhos do Opala. De repente ele disse:

— Quer saber? Até que é um belo carro. Tirando o fato de ser bicheira, é claro.

— Pode falar o que quiser. Não vai me afetar.

— Qual a data de fabricação?

— Segundo o meu pai: 91.

Pezão começou a fazer contas usando os dedos das mãos.

— Caralho, Nando — disse ele. — O bagulho é mais velho que o meu irmão.

— E daí? O motor ainda funciona; isso é o que importa.

— Não é bem assim. Todo mundo sabe que carro tem uma função primordial na vida de um homem: atrair biscates.

Lembrei de Magnólia sentadinha ao meu lado. Quase senti o cheiro do seu perfume outra vez. Se não fosse o maconheiro do Pigmeu, o Opala ainda estaria com o perfume delicioso dela. Maldito Pigmeu dos infernos!!! Tomara que algum dia um grupo de pagode bem fuleiro grave uma música sobre ele. Ou pior ainda ... Sandy e Júnior. Eca!!!

— Quanto a isso eu posso ficar sossegado — falei.

Pezão franziu a testa e coçou alguns pêlos debaixo do seu queixo. Agora que eu percebi; Pezão está deixando crescer um cavanhaque daqueles bem sem-vergonha.

— Não vá me dizer que você já comeu alguém no Opala? — disse ele.

— Não. Mas ia comer esta noite.

— Sério? Quem? E por que você disse ia? Não vai mais?

— Lembra da Magnólia?

— Aquela que você tentou comer umas vinte vezes e nunca conseguiu?

— Vinte vezes o caralho! Foram três. Três!

Pezão começou a rir. Por fim, acabei rindo também.

— Pois é — disse eu. — Encontrei com a filha da puta lá no centro. Ofereci carona e ela veio toda posuda. Quase esfregou aqueles peitões na minha cara.

— Não acredito. Faz tempo que eu não a vejo. Ela era muito gostosa.

— Era não; continua gostosa pra caralho. Deixei a biscate na porta da casa dela.

— Mas e daí? Peru pra dentro ou não?

— Ela bem que se ofereceu. Mas eu disse um não bem gostoso na cara dela.

Pezão ficou até branco. Foi a terceira cara de espanto que vi hoje. A primeira foi Magnólia, quando eu disse o não; a segunda foi do Pigmeu, quando pensou que meu carro levava defundos.

— Meu, você está zoando comigo — disse Pezão. — Não pode estar falando sério.

— Pior que estou. A mina ficou até tonta.

— Nando, você comeu cocô? Vai se ferrar, porra! Isso não é coisa que se faz, meu!

— Aquela filha da mãe merecia uma lição.

— E não dava par dar uma lição na cama? Comprasse um chicotinho e desse uma boa lição nela! Mas na cama, porra!!! Peru pra dentro!!! Caralho, Nando, foi a coisa mais idiota que você já fez em toda a sua vida. Desta vez você se superou.

Será que o Pezão tem razão? Será que exagerei na dose? Afinal de contas a Magnólia é realmente uma das garotas mais gostosas que eu já vi na minha vida. Eu sei que a fila anda, mas não é sempre que aparece uma loiraça de um metro e oitenta e quatro de altura; olhos verdes; seios fartos e coxas grossas.

Sentei-me sobre o capô do Opala, cabisbaixo e pensativo.

— Agora já foi, cara — disse Pezão, encostando-se na porta do carro.

— Tem muita mulher por aí — disse eu, sem muita convicção nas palavras.

— Um montão.

Ficamos em silêncio por alguns instantes. A única coisa que eu conseguia pensar era na Magnólia nua sobre o banco traseiro do Opala; seus seios saltando para cima e para baixo; sua boca quente no meu ...

— Tive uma idéia do caralho! — disse Pezão, de repente. Tomei um puta susto.

— Que idéia?

— Vamos batizar o Opala. Que tal?

— Batizar? Não estou gostando muito ...

— Calma. Batizá-lo com uma viagem.

— Viagem? Mas viagem pra onde?

Pezão fez uma concha sobre os olhos, tapando o sol.

— Para a praia, é claro! — disse ele, excitado. — Olha que sol!

Poxa, até que não é uma má idéia.

— Com o Opala?

— Não, seu bosta! De bicicleta! É claro que é de Opala, porra!!!

Se já não bastasse eu ter feito uma pergunta idiota, fiz outra:

— Pra onde vamos, Ubatuba?

Pezão ficou branco outra vez. Já vi tudo. Tirei o dia para assustar os outros.

— Não seria arriscado demais voltarmos lá? — disse ele.

— Com certeza — respondi prontamente. — Nada de Ubatuba.

Silêncio outra vez. 

Mil e uma coisas passaram pela minha cabeça. Mas acho que é melhor eu ficar quieto.

— Já sei! — disse Pezão. Sua voz parecia empolgada outra vez. — Vamos pra São Vicente.

— Perto de Santos?

— Isso. Tenho uma tia que mora lá.

— Sério? Porra, demorou então!!!

Pezão estendeu suas mãos com as palmas viradas para cima. Bati nelas com as minhas e selamos o pacto: São Vicente ... aí vamos nós!!!

Uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!

Para o dia ficar perfeito só falta eu ganhar na loteria.

Por via das dúvidas, passei na primeira lotérica que encontrei e resolvi arriscar. Quem sabe, né? O sol nasceu para todos, inclusive para os filhos da puta.