As Aventuras de Nando & Pezão

“Jovem Cientista”

Capítulo 13 – Um Babalu Perturbado

E Nari começou a tocar uma pra mim. Loucura, loucura, loucura!!!

O mais estranho é que eu olho pra ela e nada! A cabeça dela nem se mexe, ela continua olhando para a estrada, séria, como se nada estivesse acontecendo. A impressão que dá é que sua mão esteja possuída, tipo uma criatura com vida própria. Vocês me entendem? Mas isso não existe, existe? Sinistro.

Porra, se existe eu não sei, o que eu sei é que está bommmmmm demais!!! Continua! Assim! Vai, Nari! Com força! Mais rápido! Hmmmmmmmm!

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Gozei. O bagulho saiu com tanta potência que foi parar no painel do carro.

Eca!!!

Meu, se o Pezão descobre é bem capaz de voltar ao normal rapidinho. Sei lá, o cara pode ter perdido o tesão por mulher, mas o tesão pelo carro eu acho que ainda persiste.

Nari recolheu sua mão delicada. Dei uma olhada rápida pra ela e não vi alteração alguma. Mesma cara de bunda. Voltei Nando Júnior pra dentro da cueca e subi o zíper.

Resolvi tentar algo mais ousado do que apenas olhar para ela. Pra ela ter feito isso comigo é sinal de que está a fim de alguma coisa, né? Belisquei-lhe as coxas.

Putz! Eu deveria ter ficado quieto no meu canto. Olha no que deu:

— Tarado!!! — ela gritou, assustada.

E pra ajudar ainda me deu um tapão na cara. Quase perdi o controle do carro.

— O que aconteceu? — perguntou o guri.

— Este sem-vergonha estava querendo abusar de mim!

Dá pra acreditar nisso? A mina enfia a mão na minha cueca e depois eu é que sou o tarado? Ah, vai se foder, biscate maluca dos infernos!

— Foi só um beliscão, mina — falei, enquanto olhava o sinal fechando de repente. Pisei no freio como uma gorda pisa numa barata. Por muito pouco não enfio o Corsa do Pezão dentro de uma Kombi. Faltaram milímetros.

A freada foi tão brusca que Pezão e o pirralho caíram do banco.

— O que foi isso? — gritou Pezão, assustado. 

— É o Nando querendo nos matar — disse o guri.

Fiquei puto.

— Se liga, anãozinho de jardim, cala esta boca.

— E quem vai me obrigar?

O sangue subiu. Mas quando eu me preparei pra pular para o banco de trás o sinal abriu. Pisei com raiva no acelerador.

— Cuidado aí, Nando! — disse Pezão. 

— Vamos chegar atrasados, droga! — resmungou o guri.

— Não vamos — falei, agora um pouco mais calmo. — Onde fica o bagulho?

— Centro de Convenções Capivari.

— Tudo bem, mas onde fica esta porra?

— E você acha que eu sei? Tem o nome da rua aqui no convite, mas eu também não tenho a menor idéia de onde fica.

Parei o carro em frente a um barzinho. Tinha um casal de velhos. Desci o vidro e ... porra, que frio!!!! Entrou um puta vento gelado na minha cara. Quase virei picolé.

— Senhor — falei pro velhinho. — , por acaso você sabe onde fica o Centro de Convenções Capivari?

O velho me olhou estranho. Acho que depois de 1 século ele entendeu que eu tinha falado com ele.

— O quê? — gritou a velhinha.

— Centro de Convenções Capivari!!! — gritei duas vezes mais alto.

— A Marli? — gritou o velho.

— Não!!! — tomei fôlego e gritei o mais alto que pude: — CENTRO DE CONVENÇÕES CAPIVARI !!!!!!!!!!!!!!!!

E a velhinha me respondeu:

— Não, meu filho, a Marli não mora mais aqui não.

Puta que pariu!!! Velha surda do caralho!!!

Desisti. Dei a partida no carro e resolvi perguntar em outro lugar. Depois de duas tentativas eu consegui achar alguém que conhecia a porra do lugar.

E estávamos a menos de dois quarteirões. Se fosse uma cobra teria nos mordido.

Difícil mesmo foi achar um lugar para estacionar, o lugar estava lotado.

— Vai ter algum show de rock pra animar a festa? — perguntei, enquanto puxava o freio de mão.

— No cronograma do evento não diz nada — respondeu o guri.

E saímos do carro. Ao abrir a porta eu quase derrubei uma garotinha. Ela segurava um pequeno aquário. Dentro do aquário não havia água nem peixes, mas um sapo.

— Você viu aquilo? — disse o guri, apontando para a menina.

— Vi um sapo feio pra caralho — falei. — Parecia o Mamute.

— Foi impressão minha ou o sapo tinha duas cabeças? — disse o Pezão.

— Não viaja — eu disse.

— Tinha sim, Nando! — corrigiu-me o guri. — Você não viu?

— Vocês comeram muito cocô quando eram crianças, isso sim.

— Eu vi a foto no site. Aquela garotinha ficou em segundo lugar na categoria Experiências Bizarras.

— Não quero nem imaginar quem ficou em primeiro — disse Nari, após um longo e tenebroso inverno.

E o guri começou a rir feito uma hiena após uma lipoaspiração.

— Qual a graça? — perguntou Pezão.

— Em primeiro lugar ficou um moleque da minha idade. O garoto só pode ser doente das idéias. Implantou dois pintos no Pastor Alemão dele.

Putz!!! Tive um ataque de risos também. Nari e Pezão continuaram sérios.

— O cachorro ficou com três pintos?

— Sim, mas os dois novos ele implantou na cabeça do cachorro, tipo chifrinhos, saca?

— Caralho! O guri é doente mesmo.

O guri ficou branco após olhar o relógio. Acho que já deve ter passado das 9h30. Ele pegou as chaves do carro comigo e correu para o porta-malas. Já sei o que ele quer.

— Tem certeza que é seguro pegar nisso aí? — perguntei, olhando assustado para aquela garrafa de vidro nojenta, aquela com o cheiro maldito.

— Desde que ela fique fechada.

— Mas no caso de alguma emergência você trouxe aquelas balinhas especiais, né?

— Claro, Nando ... dããããããã!!! Acha que eu sou doido??? Sem as balas a minha invenção não tem razão de ser. Sem as balas isso aqui seria apenas um vidro com um puta cheiro ruim.

— Pior. Um puta cheiro ruim que pode matar.

— Claro, isso também.

Meu, o guri é foda. Nem sei por que eu parei de chamá-lo de Bill Gates Júnior.

Nem bem entramos no lugar e as atenções voltaram-se para nós. O motivo? Nós éramos os mais mal vestidos do pedaço. Acho que nunca passei tanta vergonha na minha vida. Tive vontade de sair de fininho, mas seria ainda pior.

Querem saber? Foda-se! Saiu na chuva é pra se queimar.

De repente parou uma mulher super esquisita bem na nossa frente. Ela ficou olhando por alguns segundos, até que resolveu dizer alguma coisa:

— Você é o garoto do cheiro assassino?

— Sim, eu mesmo! — disse o pirralho, excitado.

E a mulher correu os olhos por uma prancheta, procurando alguma coisa.

— Murilo, é isso? — disse ela, sorrindo para o guri.

— Exatamente.

E a mulher puxou o guri pelo braço.

— Vamos, vamos! Você está super atrasado para a sua premiação. Venha, eu levo você até lá.

Quase que o guri derrubou a garrafa com o cheiro mortal. Nem quero imaginar o que teria acontecido.

E lá fomos nós atrás do guri e da mulher esquisita.

— O moleque vai longe — disse o Pezão.

— Tomara que vá longe mesmo, e leve a garrafa junto. Eu não quero sentir aquele cheiro de peido azedo nunca mais na minha ...

— Não. Eu quis dizer que ele vai ser alguém importante um dia.

De repente Nari caiu dura no chão.

— Montanha, o que houve? — Pezão ficou branco de susto. — Fala comigo! Fala comigo!

Ela estava desacordada. Experimentei uns tapinhas no rosto, mas não resolveram.

Antes que levantássemos para pedir ajuda surgiu um homem vestido num terno branco super elegante.

— O que houve com ela?

— Não sabemos! — disse o Pezão. — Ela desmaiou de repente.

E o homem colocou as mãos sobre o peito de Nari. Espertinho, não?

— Não se preocupem — disse ele, apertando as mãos sobre o peitos dela. — , eu sou médico.

Ou doutorzinho de meia-tigela aproveitou e fez um boca-a-boca na Nari.

E ela finalmente recobrou os sentidos. Bom, espertinho ou não, ele a ajudou. Nari abriu os olhos e voltou a respirar normalmente.

— Você está bem, moça? — perguntou o doutorzinho safado.

— Ahã, só estou um pouco tonta, obrigada.

O cara beijou-lhe a mão e ajudou Nari a se levantar. Que meigo.

Vai tirando o seu cavalinho branco da chuva, doutor! Só por que você é médico acha que vai conseguir comê-la? Com essa aí não rola.

— Vou ficar de olho em você, hein! — disse o doutor, afastando-se.

E Nari olhou assustada para nós.

— Quanto tempo fiquei apagada?

— Acho que menos de 1 minuto — disse Pezão. — Pensei que você ia nos deixar.

— Isso já me aconteceu antes.

— Lembre-me de não deixá-la dirigir — falei.

Nari fez uma cara assustada, como se tivesse visto um fantasma ou o capeta.

— Eu tive uma visão terrível — disse ela.

— Durante o seu apagão?

— Não, segundos antes. Existe uma força do mal aqui neste local.

— Hã?

— Tem uma pessoa com o Babalu perturbado aqui entre nós. 

— Mas quem é? — perguntei.

— Tenho medo de olhar novamente para ela. Meu Babalu está fraco. Posso apagar de novo.

— Diga como ela é — disse o Pezão, curioso. — É homem? É mulher? Que roupa está usando?

Também fiquei curioso. Comecei a olhar em todas as direções, tentando adivinhar quem é a tal pessoa do Babalu perturbado.

— Quem é, porra? — perguntei.

Nari hesitou um pouco, mas acabou revelando:

— É a garotinha do sapo.

Putz!!! Caí na gargalhada. Pensei que o Pezão também acharia graça, mas não achou.

— Você acredita se eu lhe disser que também notei algo sinistro nela? — disse ele.

— O Babalu dela é perturbado ao extremo. Nunca vi coisa igual. Fico arrepiada só de imaginar.

— Meu, é apenas uma garotinha, porra!!! — chutei o balde. — Vocês comeram cocô?

— O fato dela ser uma garotinha não quer dizer nada. Um Babalu perturbado independe de sexo e idade.

— Sei, sei ... Mas se o Babalu dela é tão feio assim, por que você não percebeu nada quando ela passou bem pertinho de nós lá na rua?

— Se eu tivesse resposta para tudo eu não estaria aqui perdendo tempo com você.

— Ahá! Peguei você, né? Ficou sem respos...

De repente vi a garotinha aproximando-se de nós. Nari teve outro ataque, caindo ao chão feito um saco de batatas. Desta vez ela não ficou desacordada, mas ficou se debatendo e babando feito um cachorro raivoso. Lembrei do filme O Exorcista.

Uma multidão de curiosos reuniu-se em torno de nós. Ajudar que é bom, nada. Cambada de gente esnobe dos infernos. Onde está aquela porra de médico quando se precisa?

— Tira ela de perto de mim! — repetia a Nari, desesperada. Ela gritava e babava ao mesmo tempo. Bem nojento.

— Faça o que ela está pedindo! — disse o Pezão para mim.

Levantei-me e procurei a menina do sapo. Ela estava ao lado da mãe, olhando curiosa para a Nari.

Putz! E agora? Não dá pra eu chegar na menina e dizer: "Olha, seu Babalu está todo fodido e a minha amiga tem medo dele. Dá pra você sumir daqui, sua biscatinha?".

Opa! Tive uma idéia.

— Olá! — falei pra menina. A mãe dela me olhou estranho. — Minha amiga é alérgica a sapos. Será que você poderia ... ?

E a mãe da menina a puxou pelo braço. As duas afastaram-se da multidão.

Quanto mais distante a menina ficava, mais calma ficava a Nari.

E o mais curioso é que não era fingimento, pois a Nari não estava vendo a menina. 

Sinistro.

Será que o Babalu da guria é tão perturbado assim? Eu, hein! Deu até arrepio.