As Aventuras de Nando & Pezão

“Jovem Cientista”

Capítulo 12 – Descendo o Morro

De repente ela disse:

— Como você foi capaz de fazer aquilo, Cumbuca?

— Do que você está falando, Montanha!

— Não mente pra mim, você sabe muito bem! Ubatuba!

Putz! Pezão perdeu o controle do carro e quase fomos parar numa ribanceira. Faltou muito pouco.

Quase morro por causa de Ubatuba. Seria trágico, pra não dizer irônico.

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Dois metros a mais e teríamos saído da estrada. O tombo não seria pequeno. Ufa! Se eu pudesse daria um beijo na boca de quem inventou o freio. Falando nisso, será que algum dia a invenção do pirralho será famosa? Tipo alguém dizendo ... "se eu pudesse daria um beijo na boca de quem inventou o cheiro de peido com carniça concentrado numa garrafinha".

Mas voltemos ao assunto sério ...

— O que foi isso, mano? — gritou o guri com o Pezão.

— Desculpa — disse Pezão, suando frio e tremendo muito. — , acho que não estou me sentindo bem.

— Deve ser remorso por ter deixado a nossa irmã para trás.

— Sua irmã ficou lá por livre e espontânea vontade, guri — eu disse. — Acho que esquecemos de lhe contar.

Pezão tirou o cinto de segurança e desceu do carro. Nari continuava encolhida no outro canto, olhando para o nada. 

— Acho melhor você dirigir daqui pra frente — disse o guri para mim.

Fiz que sim com a cabeça, e desci do carro. Acreditem ou não, tive uma forte sensação de que Pezão iria se suicidar.

— Você está bem? — perguntei, aproximando-me lentamente.

Pezão estava de pé, bem na pontinha de uma ribanceira. Um passo a mais e tchau pardal. Ninguém seria capaz de sobreviver a uma queda daquelas. Olhei rapidamente lá pra baixo e já fiquei até meio zonzo. O lugar é muito alto.

— Tem mil coisas passando pela minha cabeça, Nando — Pezão respondeu, de costas para mim.

— Que coisas?

— Coisas ruins. Quando a Montanha disse Ubatuba a minha cabeça começou a girar e vi um filme passar diante dos meus olhos. Foi bem assustador.

Caralho, será que após a purificação o Pezão esqueceu de tudo o que aconteceu em Ubatuba? Poxa, se isso aconteceu eu também quero ser purificado. Seria muito bom apagar tudo aquilo.

Pezão ficava cada vez mais na ponta da ribanceira.

— Dá pra você recuar um pouco? — falei, apreensivo. — Você vai cair daí, porra!

— E faria alguma diferença?

Xiiiiiiiiiiiiiiiii! Agora fodeu, hein! O mano está pensando mesmo em se jogar. Calma, muita calma nesta hora. Todo mundo já assistiu aqueles filmes onde um policial tenta convencer o suicida a não pular de um prédio, né? Em todos eles o policial convence a vítima de que a vida é linda e maravilhosa. Bom, vamos lá então ...

— Você vai cair, porra!!! — gritou o guri, logo atrás de mim.

Que susto, cacete!!! Meu, ainda bem que não era eu ali na ponta da ribanceira, ou eu teria caído. Levei o maior susto com o pirralho filho da puta dos infernos.

Por sorte o Pezão nem se mexeu. Continuou parado feito uma estátua.

Olhei feio para o pirralho, é claro.

— Você comeu cocô??? — sussurrei. — Fica quieto aí, porra!

— O que está acontecendo aqui? — perguntou o pirralho.

— Diz pra mamãe que eu a amo muito — falou o Pezão, de repente.

Putz grila, o cara já está se despedindo?

— Como assim? — disse o pirralho.

Meu, fala sério!!! O guri é tão inteligente, mas tem horas que ele demora pra sacar as coisas!!! Quase dei um "Pedalada, Murilo!!!".

— Pára com isso, Pezão — falei. — Você vai voltar pra casa e abraçar sua mãe muitas vezes ainda.

— Ele está pensando em se jogar dali? — sussurrou o guri no meu ouvido.

Aleluia!!! Finalmente caiu a ficha do moleque.

Fiz que sim com a cabeça. O guri ficou branco.

— Mas o que aconteceu, mano? — gritou o guri para o Pezão.

Pezão não respondeu de imediato, levou algum tempo até ele responder:

— Sangue, muito sangue.

Putz!!! Ele está recordando Ubatuba.

— Mas que sangue? — disse o guri. — Não estou vendo nada!

Pezão olhou para trás, na nossa direção, e disse para o guri:

— Você não estava lá.

— Lá onde?

E Pezão voltou o olhar para a ribanceira outra vez. Meu, estou ficando assustado, acho que ele vai mesmo se jogar dali. Daqui pra frente serão apenas as "Aventuras de Nando".

— Volta para o carro, Murilo — sussurrei pra ele. — Deixa que eu resolvo isso aqui.

— Não saio daqui enquanto o meu irmão não voltar para o carro com a gente.

Putz!!! Vão começar as viadagens justo agora? Olhei feio para o guri.

Bom, o jeito é aproveitar isso para alguma coisa, certo?

— Não faça nenhuma bobagem — falei para o Pezão. — , viu como o seu irmão gosta de você? Vamos voltar para o carro e sair daqui.

— Nando — disse o Pezão.

— Diga.

— Aquelas visões que eu tive agora há pouco realmente aconteceram?

Caralho, e agora? Se eu disser que sim ele pula da ribanceira?

— Não sei do que você está falando — resolvi dar de louco.

— Acho que sabe. Você também estava nas minhas visões.

— Não, sinto em lhe informar, mas sua mente comeu cocô.

E o pirralho começou a rir. Olhei feio para ele.

— Desculpa — disse o guri.

Voltei os olhos para o Pezão novamente.

— Agora deixa de frescura e vamos embora daqui! — falei firme.

— Não, eu não posso voltar para aquele carro.

— Claro que pode! Deixa que eu dirijo.

— Não tenho coragem de olhar para a Montanha-Russa outra vez. Estou me sentindo a escória do Universo.

Porra, vai tomar no cu! É por isso que ele quer se matar? Está com vergonha de olhar pra Nari? Ah, puta que pariu! Ninguém merece.

Olhei para o carro e lá estava ela, Nari, olhando a situação toda pela janela. Parecia muito tranqüila. Será que ela sabe o que realmente está acontecendo aqui?

Bom, só perguntando. Fui até o carro.

— Por sua culpa o meu amigo quer se matar — fui bem direto, olhando nos olhos da maluca.

— Por minha culpa? Tem certeza?

— Sim, ele acabou de dizer que ... — senti um calafrio. Olhei pra fora do carro, só pra garantir se Pezão tinha pulado ou não. Não pulou. Ufa! — ... não quer voltar para o carro por estar com vergonha de encará-la novamente.

— Eu também ficaria, você não?

— Não. Quem me garante que o seu passado não é pior que o nosso?

E Nari deu uma recuada. Acho que acertei na mosca. Sua expressão facial mudou totalmente. Por incrível que pareça ela ficou feia. Bom, não ficou tão feia como a Lelê, mas ficou bem estranha.

— Não diga bobagem — ela disse, seus lábios tremiam. — , eu jamais seria capaz de fazer o que vocês fizeram.

— Será? Por que você está tremendo tanto?

— Estou com frio. Estamos em Campos do Jordão, esqueceu?

Bela resposta, mas não me convenceu nem um pouco. Convenceu vocês? Aposto que não.

Dei outra olhada pra fora do carro. Pezão ainda está no mesmo lugar, imóvel. Olhei para a Nari, decidido, falei bem sério:

— Agora você vai lá fora ajudar o Pezão a voltar para o carro.

— Não posso.

— Claro que pode. Pode e vai. Que raio de Babalu Cósmico é este? Ficam com esta viadagem pra lá e pra cá e na hora de ajudar um amigo vocês viram as costas? Vão todos vocês tomarem no cu então!

— Não posso influenciar no destino do Cumbuca. Se ele escolheu morrer eu não posso fazer nada, é uma escolha dele, somente dele.

— Foda-se! Você vai lá fora e vai fazer com que ele desista de pular.

E fiz algo que eu não gosto muito: peguei no braço da maluca e puxei a Nari para fora do carro, à força. Sei que não é legal, mas vocês concordam comigo que foi por uma boa causa, certo? Teriam feito o mesmo por um amigo.

Nari lutou um pouco, mas acabou cedendo.

O guri estava com os olhos lacrimejantes.

— Calma — falei baixinho pra ele. — , vai dar tudo certo.

— Oi, Cumbuca — disse a Nari, aproximando-se do Pezão.

Pezão não disse nada, e continuou imóvel. Pensando bem, será que eu conseguiria me aproximar e puxá-lo para trás? Não, seria arriscado demais. Vamos ver se a doida varrida consegue alguma coisa.

— Você não está pensando em pular, está? — prosseguiu ela, falando carinhosamente.

Pezão finalmente respondeu:

— Sim, eu não mereço viver.

— Não diga bobagem! Todos nós merecemos viver.

— Não depois do que eu fiz.

E Nari olhou rapidamente para mim. Seu olhar me provocou calafrios. Foi aquele mesmo olhar do Mestre dos Magos. Credo.

— O que foi que ele fez de tão horrível, Nando? — perguntou o guri pra mim.

— Seu irmão está delirando, guri — respondi, baixinho. — Acho que o travecão deixou ele meio lelé da cuca.

— Eu mato aquela bichona!!!

— Muita calma nesta hora, guri.

Quando dei por mim, Pezão e Nari estavam se abraçando. Porra, nem vi como tudo aconteceu! Merda, a vida real é uma bosta mesmo! Nos filmes a gente ainda pode apertar o botão " << " e voltar a fita. Aqui não tem jeito. Piscou, fodeu.

Bom, o importante é que o Pezão não pulou da ribanceira.

— Você comeu cocô? — falei pro Pezão, puto da vida. — Quase mata a gente de susto, porra!

— Não sei o que deu em mim — Pezão parecia muito envergonhado.

— Fica esperto, se você fizer isso outra vez eu serei o primeiro a empurrar! Não ajudo mais.

— Não farei novamente — e Pezão olhou para a Nari, sorrindo. — , ela me convenceu a ficar.

— Não diga isso, Cumbuca, a decisão foi sua, somente sua.

E voltamos para o carro, aliviados. O guri até deu um abraço no Pezão, coisa raríssima de se ver. Vocês já viram isso em algum outro episódio? Aposto que não. Porra, isso aqui está virando novelinha das seis? Eca!!!

Invertemos as posições no carro. Assumi o volante e Nari passou para o banco da frente, sentando-se ao meu lado. O guri foi lá para trás fazer companhia para o irmão.

Meu, sentado ao volante deu pra ver bem como estivemos bem próximos da morte. Não quero nem imaginar como teria sido a nossa queda. Putz grila!!!

Engatei a ré e finalmente deixamos aquele lugar sinistro.

— Acelera aí, Nando — disse o guri. — Já são 8h10.

— Calma, ainda dá tempo. O bagulho vai ser às 9h30, certo?

— Isso.

— Beleja. Fica frio.

Tudo bem que estamos descendo uma ladeira, mas não é bom arriscar. Sou bom motorista, mas não sou doido. Acelerei, mas nem tanto.

Procurei algum CD interessante pra tocar, mas só achei CD's com o Mestre dos Magos narrando suas boiolagens. Por fim acabei sintonizando uma rádio mesmo.

A viagem estava tranqüila. Pezão e o guri acabaram dormindo. Nari estava acordada, olhando para a estrada e com os pensamentos distantes. Garota estranha, vocês não acham? O problema é que eu me sinto atraído por ela, este jeitinho enigmático me deixa doido. Aposto como ela também guarda um segredo bem cabeludo.

Falando em "cabeludo" ... vocês já pensaram sacanagem, não? Vocês não prestam mesmo. Putz grila!

— Obrigado — falei pra ela, gentilmente.

Ela não me deu resposta. Até que de repente ela resolveu se manifestar:

— Ele não ia pular.

— Será? Eu acho que se você não tivesse falado com ele, tchau pardal.

— Suicidas não pensam duas vezes. Quando eles querem vão lá e se matam.

— Sei lá. Mesmo assim, obrigado.

Silêncio outra vez.

Já estávamos quase terminando de descer o morro quando senti uma mão acariciando minha perna direita. Senti até um calafrio, a mão estava gelada.

Bom, o guri e o Pezão estão roncando lá atrás, então ... Nari???

Caralho, ou é ela ou é um espírito dos infernos.

Dei uma olhada rápida para o lado e ela continuava olhando a estrada, mas a mão era dela sim, e seus movimentos ficavam cada vez mais ousados.

Nem preciso dizer que fiquei excitado, né? Nando Júnior ficou empolgado rapidamente.

Fiquei calado, ela leva jeito pra coisa! Uau!

Pezão e o guri continuam roncando.

Eu olhava para o lado e nada, ela não me retribuía o olhar, mas continuava a me provocar com sua mão esquerda. Ela apertava minha coxa direita com vontade, às vezes até doía um pouco, mas vale a pena.

Num determinado momento a mão subiu para o zíper.

Opa!!! Será??? Sim, caros amigos e amigas, ela baixou lentamente o zíper da minha calça e depois enfiou a mão por dentro da minha cueca.

— Já chegamos? — era a voz do guri.

Porra, o pirralho tinha que acordar justo agora?

Nari não deu a menor atenção pro guri. Sua mão continuou dentro da minha cueca. Ela começou a acariciar os meus ... pentelhos! Eu, hein! Tanta coisa pra ela pegar e ela foi logo para os pentelhos? É doida varrida mesmo.

— Onde estamos? — insistiu o guri, irritado.

— Calma, já estamos quaaaaaaaaaaaaaa ... — nem preciso dizer o que foi que a Nari pegou agora, né? — ... aaaaase lá.

Ainda bem que a mão dela já não estava tão gelada.

— Que foi isso, Nando? — perguntou o guri.

— Nada, é sono.

E Nari começou a tocar uma pra mim. Loucura, loucura, loucura!!!

O mais estranho é que eu olho pra ela e nada! A cabeça dela nem se mexe, ela continua olhando para a estrada, séria, como se nada estivesse acontecendo. A impressão que dá é que sua mão esteja possuída, tipo uma criatura com vida própria. Vocês me entendem? Mas isso não existe, existe? Sinistro.

Porra, se existe eu não sei, o que eu sei é que está bommmmmm demais!!! Continua! Assim! Vai, Nari! Com força! Mais rápido! Hmmmmmmmm!