As Aventuras de Nando & Pezão

“Jovem Cientista”

Capítulo 10 – Dinheiro Atrai Dinheiro

De repente todos nós tomamos o maior susto da viagem. Nari dá um grito do nada:

— Ubatuba!

— Credo, Nari!!! — resmungou a Maura. — O que foi isso? Quase me mata de susto, menina!

E Nari olhou pra mim, dizendo:

— Descobri o lugar que surge em minha mente quando olho pra você: é Ubatuba!

Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!

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Caralho, o que será que esta maluca viu?

— Ubatuba? — falei, fingindo surpresa.

— Sim, vejo que o seu passado está muito ligado a este lugar.

— Grande coisa! — falei em tom de deboche. — Aposto que todo mundo aqui já foi pra Ubatuba pelo menos uma vez na vida.

De repente Nari fechou os olhos. Percebi que Pezão ficara um pouco nervoso. Aposto que ele está morrendo de medo da Nari descobrir tudo sobre Ubatuba. Bom, pra ser sincero eu também estou um pouco apreensivo.

Pra que mentir? Apreensivo nada, estou com um puta cagaço mesmo.

E Nari finalmente abriu os olhos, dizendo:

— Tem outra pessoa aqui dentro deste carro com uma ligação muito forte com aquela cidade. Mas não consigo ver quem é.

Quase olhei para o Pezão, mas seria a mesma coisa que entregá-lo. Fiquei imóvel.

— Do que vocês estão falando? — perguntou o guri.

Nari olhou para mim, depois voltou a atenção para o guri e respondeu:

— Estou muito cansada, devo estar falando besteira.

— Deve ter comido cocô — falei. — A única coisa que eu me recordo de Ubatuba foi uma vez que eu fui lá e tracei uma pé-vermeio dos infernos.

— Foi tão bom assim? — perguntou a Maura, rindo.

— Porra nenhuma! A mina tinha um cê-cê tão fedorento que impregnou no meu corpo. O maldito cheiro só saiu de mim depois de uma semana. Não gosto nem de lembrar.

Esta história aconteceu mesmo, mas não foi em Ubatuba.

Estou preocupado, eu acho que a Nari descobriu alguma coisa sobre Ubatuba. O jeito como ela me olhou foi muito estranho. Bom, ainda bem que ela disfarçou e não contou nada.

E agora, o que será que ela viu? Será que viu tudo? Putz ... agora fiquei grilado.

— Pra onde vamos agora? — perguntou a Maura.

— Quando será a premiação mesmo? — perguntou Pezão para o pirralho.

— Falta muito tempo. No meu convite diz 21h30.

— Não deu nem cinco e meia da tarde ainda — falei. — O que faremos até lá?

— Vamos procurar um hotel — disse o Pezão.

— Hotel? — resmungou a Maura. — Ah, eu não vim pra Campos do Jordão pra ficar presa dentro de um hotel assistindo TV.

— Então eu não sei ...

De repente alguém dá duas batidas leves no vidro do carro. Era Meiry, a biscate que quase me atropelou. Pezão abaixou o vidro pra falar com ela.

— Oi, gato, está perdido em Campos? — disse a Meiry.

Pezão hesitou um pouco em responder. Maura respondeu por ele:

— Não sabemos pra onde ir. Tem alguma sugestão?

A mulher-girafa encolheu-se e procurou de onde tinha vindo aquela voz.

— Estou indo para a casa dos meus pais — disse ela. — Venham comigo.

— Agradecemos muito o seu convite — disse Pezão. — , mas nós temos que ...

— Lá tem lareira, piscina aquecida e ...

— Meu, demorou!!! — falou o guri, empolgadaço.

A biscate sorriu, depois olhou para o Pezão.

— Venham!!! Será bem divertido, eu prometo.

Ficamos todos olhando para o Pezão. São Maurício demorou pra tomar a decisão, mas acabou cedendo.

Meiry passou com seu Fiesta vinho e Pezão foi atrás.

Fala sério, mulher quando quer dar é igual touro bravo: ninguém segura. O único problema dela é que o Pezão virou monge, né? Agora a única coisa com a letra "B" que ele pensa é Babalu Cósmico, se é que vocês me entenderam. Eu ainda prefiro aquelas outras ... hehehe.

Caralho, os pais da mina devem morar no céu ou na puta que pariu. Ela não pára de subir. Já estamos subindo um morro faz quase vinte minutos. E o pior é que quanto mais a gente sobre mais frio faz.

— A morena está apaixonada por você, mano — disse a Maura para o Pezão.

— Ela só quer uma coisa comigo — respondeu ele, todo sério.

— Suponhamos que ela tire a roupa e venha peladinha pra cima de você — disse o pirralho. — O que você vai fazer? Vai fugir? Vai gritar por socorro?

— Isso não vai acontecer.

Começamos a rir, exceto Pezão e Nari, é claro.

— Não conte muito com isso, mano — falou a Maura. — , eu conheço mulher, vi o jeitão que ela olha pra você. Aposto que ela já está fantasiando vocês dois nus diante da lareira.

Pezão ficou nervoso, percebi suas mãos apertando o volante com muita força.

— Pára com isso, Maura.

Mas ela prosseguiu:

— Garanto pra você que ela já está toda molhadinha.

Pezão parou o carro no acostamento e olhou para a irmã, furioso. Já fazia tempo que eu não via aquela expressão de fúria em seu rosto. Vi o velho Pezão outra vez.

— Olha aqui, sua ...

Nari interveio a tempo:

— Calma, Cumbuca!!! Respire fundo, respire fundo!!! Pense nas suas plantinhas!!! Pense nas nuvens branquinhas lá do céu!!! Pense no som da cachoeira em noite de lua cheia!!! Pense no coaxar dos sapinhos verdes!!! Pense nas formiguinhas trabalhando!!! Respire fundo, Cumbuca!!!

E Pezão atendeu aos pedidos desesperados da Nari. Sua expressão enfurecida deu lugar a um rosto calmo e sereno. O velho Pezão transformou-se no São Maurício outra vez.

— Perdoe-me — disse Pezão. — Quase perdi o controle do meu Babalu.

— Não se preocupe, Cumbuca — disse Nari. — , assim que descermos do carro vou lhe ensinar uma técnica infalível para o seu auto-controle. Isso não vai se repetir jamais.

Bom, já deu pra perceber que o Pezão é muito mais vulnerável que a Nari. Resumindo: é mais fácil a morena conseguir dar para o Pezão do que eu fazer a Nari dar pra mim.

De repente ouvimos gritos, vinham do Fiesta, uns quarenta metros à nossa frente. Meiry com o cabeção pra fora do carro, berrando:

— O que houve? Vocês estão bem?

Pezão desceu o vidro da janela e esticou o braço para fora, fazendo sinal de positivo com a mão. Um vento super gelado entrou pela janela. Meu corpo todo estremeceu. Nunca senti tanto frio na minha vida.

E voltamos para a estrada. Pezão fechou a janela rapidamente, antes que todos virássemos picolés humanos. Eita lugarzinho frio da porra!!! Imagine fazer xixi neste lugar! O cara vai mijando e de repente o mijo vira um tubinho de gelo amarelo.

Quatro minutos depois o Fiesta parou diante de um portão enorme. A altona e a baixinha coxuda desceram do carro. Pezão parou logo atrás do Fiesta.

— Chegamos — disse Meiry, sorrindo.

Pezão desceu o vidro. Novamente o vento gelado entrou e quase congelamos.

— É bem distante do centro, hein! — disse o Pezão.

— Um pouquinho só — e Meiry deu uma piscada para o Pezão. O que me dá raiva é que ela é gata demais. Não acredito que o Pezão esteja fazendo cu-doce com um tesão como este. — Vou abrir o portão, aguarde só um segundinho.

— Tudo bem.

Meiry foi até a lateral do portão e enfiou uma chave numa caixinha branca. Ao girar a chave a caixinha se abriu. Dentro da caixinha havia uma espécie de teclado. Meiry digitou algumas teclas e de repente o portão começou a se abrir. Caralho, parece até coisa de James Bond.

Ficamos todos admirados, pra não dizer embasbacados.

Do outro lado do portão havia uma casa belíssima e um jardim daqueles que a gente só vê em filmes americanos.

— Caraaaaaaaaaaaalho! — sussurrei, maravilhado com a cena. Pobre é foda.

— Faz um favor pra mim, mano — disse o pirralho. — Casa com ela!!!

Meiry veio até nós outra vez.

— Vamos entrar — disse ela. — , está muito frio aqui fora.

E foi o que fizemos. Logo quando ultrapassamos o portão este começou a fechar-se sozinho. Talvez Meiry tenha usado algum controle-remoto ou sei lá. Rico inventa cada uma, né? Eu só sei que isso aqui está bonito demais para ser verdade. Parece que estamos todos sonhando. Porra, não é justo! Por que a altona não foi gostar de mim? O Pezão já é rico, não precisa disso aqui.

Droga, aquele ditado é verdade mesmo: Dinheiro atrai dinheiro.

Tomar no cu, viu? A vida é injusta. Eu sei que dinheiro não traz felicidade, mas manda buscar.

— Será que os pais dela são famosos? — perguntou a Maura. — Eu acho que já vi esta casa na revista Caras uma vez.

— Famosos eu não sei — falei. — , mas são milionários.

— Pessoas famosas ou ricas são iguais a todo mundo — disse Nari. — , o que conta é o Babalu Cósmico da pessoa, isso é o que interessa.

Meiry parou o carro diante de um portão de madeira. De repente o portão começou a subir, revelando uma bela e ampla garagem. Acreditem ou não, vi uma Harley-Davidson lindíssima num canto. A moto atraiu os olhares de todos nós.

Pezão estacionou bem ao lado da Harley.

Desci do carro e fui imediatamente contemplar a moto. Nem me lembrei do frio.

— Lindona, né? — disse Meiry, vindo ao meu encontro.

— Ahã. É sua?

— Não. É do meu pai. Ele tem mais ciúme dela do que de mim.

— Como você é exagerada, Me! — disse Jaqueline, a baixinha coxuda.

Só de ouvir sua voz lembrei-me do tapão que ela me deu. Tampinha de guaraná dos infernos.

— A casa de vocês é linda, hein! — disse a Maura.

— Obrigada — respondeu a Meiry. — Agora vamos entrar, minhas pernas estão congelando.

Claro, olha só o tamanho das pernas da mina! A Meiry é tão alta que parece jogadora de basquete. Nunca vi uma mulher tão grande na minha vida.

O interior da casa era tão bonito quanto o lado de fora. Havia quadros e mais quadros pendurados nas paredes. Eu não entendo absolutamente nada de arte, mas confesso que achei os quadros horrorosos. Meus irmãos fariam rabiscos mais bonitos.

Os móveis eram antigos, mas de uma conservação impecável, senti-me dentro de um museu. Os pais da morena devem ser realmente muito ricos.

— Seus pais moram aqui? — perguntou o guri.

— Não, eles moram em Belo Horizonte.

— E hoje eles estão lá ou aqui? — perguntou a Maura.

— Estão lá. Depois que minha mãe adoeceu eles raramente vêm pra cá. Eu venho sempre que posso, adoro esta cidade.

De repente senti algo vibrando na calça. Calma, gente, é só o meu celular. Vocês só pensam em sacanagem, hein!

O identificador de chamadas está mostrando o número lá de casa. O que será que houve? É raro ligarem pra mim.

— Alô — atendi.

— Onde você está, Fernando?

É a minha mãe. Xiiiiii. Fernando? Ela deve estar furiosa comigo.

— Estou em Campos do Jordão, mãe. Esqueceu?

— O que você fez para os seus irmãos, hein?

— Eu? Como assim? Eu não fiz nada!

— Fez sim, Fernando! Desembucha!

— Mas o que houve com eles?

— Os dois não abrem a boca pra nada! Ficam o dia todo sentados, quietos, olhando pro meio das pernas. Já estou quase chamando um psiquiatra.

Putz!!! Não acredito!!! Agora que caiu a minha ficha. Eu quase comecei a gargalhar, mas minha mãe ia suspeitar de mim. Segurei a risada e falei:

— Eu juro que não fiz nada, mãe. Mas não entendo, se eles finalmente estão quietos a senhora está reclamando do quê? É bom ter um pouco de paz, não é?

— Fernando, é bom que você não tenha culpa no cartório, ou vai se ver comigo.

— Fica fria, mãe. Sou inocente. Eles devem estar cansados, só isso.

— Quando você volta pra casa? Levou agasalho? Aí é muito frio, você sabia?

Frio? Não me diga!!!

Minha mãe é péssima para dar broncas. Ela começa, de repente pára e começa outro assunto.

— Amanhã estarei de volta — falei. — Eu trouxe agasalho, mãe. Não sou burro, né?

— Vou desligar, a conta de telefone veio um absurdo mês passado. Juízo, menino! Tchau.

— Tchau, mãe.

Quando dei por mim estávamos numa sala com sofás confortáveis e uma TV de plasma pendurada na parede. Rico é foda mesmo. Mas faltavam duas pessoas: Meiry e Pezão.

— Cadê o Pezão? — perguntei pra Maura.

Ela piscou pra mim e disse em tom de ironia:

— A morena o levou para conhecer a lareira.

Pezão filho da puta sortudo dos infernos.

Enquanto Pezão ia enfiar a "lenha" na "lareira" da morena eu fico aqui na sala com este bando de idiotas. Ninguém merece, viu?

— Eu estou faminta, e vocês? — disse a baixinha.

— Eu aceito um chocolate quente — disse o guri.

— Eu preparo um pra você então — e a baixinha olhou para Maura. — Aceita um vinho quente?

— Claro! — respondeu a Maura, encarando as coxas da baixinha. Tem horas que eu acho que a Maura é mais tarada do que eu.

Nari e eu estávamos sentados no mesmo sofá. A baixinha olhou para nós e perguntou:

— Vocês querem alguma coisa?

— Não — respondemos praticamente juntos.

Jaqueline e Maura foram pra cozinha. O guri pegou o controle-remoto sobre uma mesinha e ligou a TV de plasma.

Agora pode ser a minha chance com a Nari. Oportunidade pra xavecá-la ou descobrir o que a maluca sabe sobre Ubatuba, né? Tomara que dê a primeira opção.

Aproximei-me dela. Sentei-me bem ao seu lado. Notei que ela ficou meio inquieta.

— Lindos os móveis, não? — eu disse, puxando conversa.

— Sim, muito bonitos — ela respondeu sem olhar nos meus olhos.

Ela estava nitidamente desconfortável no sofá.

— Está com frio? — perguntei.

— Não.

— Mas você está tremendo.

— Estou bem.

Tirei a minha jaqueta e quando eu fui vesti-la sobre o corpo da Nari ela surtou:

— Não me toque, seu porco imundo!!!

Ela gritou tão alto que o guri quase caiu do sofá com o susto.

Maura e a baixinha voltaram para a sala, assustadas.

— O que você fez pra ela? — perguntou a Maura, olhando pra mim como seu fosse um maníaco do parque.

— Não fiz nada! Pergunte pro seu irmão. Eu só ia vestir a minha jaqueta nela.

— Eu não vou com a cara dele — sussurrou a baixinha para a Maura.

— Você está bem, Nari? — perguntou a Maura.

— Estou sim, obrigada.

— Vem pra cozinha com a gente — disse a baixinha.

Nari atendeu o chamado da baixinha. Mas antes ela sussurrou a seguinte frase no meu ouvido:

— Eu sei o que vocês fizeram em Ubatuba.

Sabe quando alguém sussurra algo bem sacana no seu ouvido e você se arrepia por inteiro? Então, foi exatamente isso que aconteceu comigo, a diferença é que ao invés de ficar excitado eu fiquei apavorado.

Senti meu sangue congelar. Meu coração quase saltou pela boca.

Eu já desconfiava que ela sabia de alguma coisa, mas ouvir de seus próprios lábios foi uma experiência atordoante.

Será que ela vai contar pra alguém? Caraca, bateu cagaço outra vez.

Calma, Nando, calma. Ela não seria capaz disso. Ou seria? Putz!!! E agora?

Fiquei tão transtornado que não consegui ficar sentado no sofá. Levantei-me e comecei a caminhar pela sala, de um lado para outro.

— O que você tem? — perguntou o guri, percebendo minha aflição.

— Nada.

— Está um frio do caramba e você está suando em bicas.

— Estou com calor. Não posso?

E o pirralho encolheu-se todo no sofá, voltando sua atenção novamente para a TV.

A sala ficou pequena para mim. Comecei a vagar pela casa. Cômodos e mais cômodos. É impressionante como esta casa é enorme. Olhando por fora nem parece ser tão grande.

De repente vi um quarto com a porta aberta. Uma cama enorme. Sobre a cama vi uma porção de roupas íntimas femininas. Tinha de tudo. Calcinhas de várias cores, sutiãs de vários formatos diferentes, cintas-ligas e outras coisas que eu nem sei o nome.

Aproximei-me da cama e peguei uma das calcinhas em minhas mãos. Senti uma vontade enorme de cheirá-la. Quando levei a calcinha até o meu nariz ouvi o um barulho vindo do banheiro. Tinha alguém tomando banho. Ou melhor, saindo do banho.

Corri para o armário e me escondi lá dentro. A porta do armário possuía pequenos furinhos para ventilação. Foi através destes furinhos que pude ver quando Meiry saiu do banheiro, enrolada numa toalha. Parou a pouco mais de cinco metros do armário.

Não contei nem um minuto e a toalha já estava ao chão. 

Eu não posso acreditar no que estou vendo. Vocês também não vão acreditar.

Meiry não ficou nua. Meiry ficou nu. Sim, Meiry é homem!!!

Só não sei o que é pior: descobrir que Meiry é homem ou ver que além disso tem o pinto maior que o meu.