As Aventuras de Nando & Pezão

“Jovem Cientista”

Capítulo 9 – Xiiiiiiiiiiiii!!!

Tinha alguém seguindo o nosso carro. Sim, era o Fiesta das morenas tesudas. 

Bom, ou elas estão nos seguindo ou indo coincidentemente para o mesmo lugar, né? Eu fico com a primeira hipótese. O que será que elas querem?

Um ménage à trois cairia bem neste friozinho, vocês não acham? Hehehe ...

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— Vamos parar pra comer ou ficar dando voltas no quarteirão? — resmungou o pirralho.

— Paciência, meu irmão, paciência — disse Pezão. 

O cara está virando monge mesmo, até o jeito de falar mudou completamente.

Olhei novamente para trás e lá estavam elas, as gostosas do Fiesta. Agora não tenho a menor dúvida, elas estão mesmo nos perseguindo.

E Pezão finalmente parou o carro. Estacionamos de frente para uma churrascaria.

— Você bebe, Nari? — perguntou a Maura.

— Bebida alcoólica? — pelo tom de voz já deu pra perceber que deve ser pecado mortal. — Nem pensar!

— Credo, menina! Não sabe o que está perdendo.

— Provavelmente nada. O álcool altera o seu Babalu Cósmico.

— Claro que altera — eu disse, sorrindo. — , mas a graça é justamente esta!

— Não vejo a menor graça em perder o controle sobre o meu Babalu. É muito perigoso.

O pirralho desceu do carro, impaciente. Pezão desceu logo em seguida.

— Você já perdeu o controle sobre o seu Babalu alguma vez? — perguntei.

Nari não gostou muito da brincadeira. Ela olhou feio pra mim e disse:

— Engraçadinho você, não? 

Maura, muito filha da puta, aproveitou o momento pra ganhar pontos. Pegou Nari pelo braço e a puxou para fora do carro, gentilmente.

Fui o último a descer do carro. Quando fui fechar a porta quase fui atropelado pela porra do Fiesta!

— Oh, se liga! — gritei para a biscate. Meu, fiquei muito puto.

Meiry, a altona, estacionou e olhou para mim. Ela estava usando uns óculos escuros super estilosos, daqueles que não saem por menos de duzentos reais.

— Você não olha por onde anda? — gritou a biscate.

Fiquei ainda mais puto. A filha da mãe passa tirando lasca do meu traseiro e ainda quer pagar uma com minha cara? Ah, fala sério! Ainda bem que eu curti a outra, a baixinha coxuda.

— Vem, Nando! — era o pirralho, gritando da porta da churrascaria.

Enquanto eu caminhava na direção do pirralho vi a baixinha descendo do Fiesta. Meu, que pernas! Quanta carne! A churrascaria perdeu até a graça diante daquelas coxas grossas.

— A baixinha é um tesão, você não acha? — falei pro guri.

— Aquele chaveirinho ali? — respondeu ele, fazendo cara de desgosto.

— Olha quem fala! Você é muuuuuito alto, né?

— Mas pelo menos eu sei que vou crescer. Já aquela tampinha de guaraná vai morrer daquele tamanho.

Comecei a rir feito uma hiena se afogando no Mar Vermelho. Depois eu disse:

— As baixinhas são ótimas na cama, guri.

— Sei lá, pode ser.

E ele correu em direção aos talheres. Caramba, o moleque está mesmo com fome. Quase derrubou dois garçons que passavam por ele.

Pezão e Maura já estavam se servindo. Nari parecia meio perdidona, acho que ela não gostou muito do local. Aquele monte de gente enchendo a cara parecia irritá-la um pouco.

— Não vai comer? — perguntei, passando por ela.

— Daqui a pouco. Estou desintoxicando.

Como é que é? Desintoxicando?

— Não entendi.

— Este lugar está cheio de Babalus infectados, Nando. Os nossos Babalus são como esponjas, absorvem tudo o que está ao nosso redor. Um lugar como este pode ser muito perigoso.

— Não entendo como uma simples churrascaria pode ser tão perigosa assim.

— Não tem nada a ver com a churrascaria. Eu sinto presenças negativas aqui, é isso.

E Nari olhou assustada para um senhor barbudo sentado num canto. Depois de observar o homem por alguns segundos ela olhou novamente para mim, dizendo:

— Está vendo aquele homem de barba comprida?

— Feio pra caralho.

— Evite palavrões, Nando! Isso é ruim para o seu ...

— Já sei, já sei ... agora me diz ... o que tem o barbudo?

Ela engoliu seco, aproximou-se de mim e sussurrou no meu ouvido:

— Ele acabou de estuprar duas mulheres.

Caralho!!! Galera, tomei um susto tão grande que quase derrubei uma pilha de pratos. Devo ter ficado tão branco que vi algumas pessoas olhando assustadas para mim.

— Como é que é? — falei baixinho, é claro. — Aquele barbudo feio acabou de estuprar duas mulheres? Mas como você sabe disso?

— Da mesma forma que você sabe que ele tem barba.

— Não entendi. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Eu estou vendo a barba dele, é muito diferente de acusar o coitado de ser estuprador.

— Justamente, Nando, eu também vi — e Nari começou a olhar para as mesas. De repente ela parou os olhos numa moça loira com um vestido azul. — Está vendo aquela linda mulher sentada sozinha?

— Linda mesmo. Ela também é estupradora?

— Não.

— Ah, sacanagem! Eu estava pensando em me oferecer como próxima vítima.

— Não fala assim! Isso atrai coisas ruins para o seu Babalu Cósmico, Nando!

— Entendi. Mas vai me contar o que a loira fez de ruim ou não?

— Ela veio até esta churrascaria em busca de uma próxima vítima.

— Demorou então! Eu, eu, eu, eu!!!

Se vocês vissem o naipe da loira também iriam se oferecer. Linda, e estava sozinha! A cuecada toda da churrascaria não tirava os olhos de cima dela, é claro.

— Está vendo aquele carro preto parado em frente àquele bar ali? — disse Nari, apontando para um Opala preto, estacionado do outro lado da rua.

— Sim, estou vendo.

— Aquele carro pertence ao namorado da loira.

— Que pena, ela tem namorado?

— Sim, o namorado dela é o terceiro assassino mais procurado de Pernambuco. E juntos eles já cometeram mais de vinte assassinatos. A loira está aqui na churrascaria esperando a próxima vítima. Alguém que jamais retornará pra casa novamente.

Quando olhei para a mesa da loira vi um coroa boa pinta sentando-se ao seu lado. Provavelmente jogando uma cantada idiota.

— Pronto — disse Nari, triste. — , ela já achou sua próxima vítima. Será a vigésima oitava. Sim, isso mesmo, a vigésima oitava, acabei de ver em minha mente.

— Vocês vão ficar aí o dia todo? — era o guri. Meu, que susto!

— Caralho, meu! — falei, assustado.

— Sobre o que estão conversando?

— Já estamos indo — respondi, nervoso.

E o moleque voltou para a mesa. Nari e eu decidimos pegar nossos pratos e nos servirmos, afinal de contas já estava ficando estranho nós dois ali cochichando no meio da churrascaria.

Enquanto pegava o arroz vi a loira e o coroa deixando a churrascaria. Olhei imediatamente para Nari, ao meu lado, e disse baixinho para ela:

— Você tem certeza do que me contou?

— Absoluta.

— E não vamos fazer nada para salvar aquele homem?

— É o destino, Nando, não podemos influenciar no destino das pessoas.

— Destino uma ova! O coroa tem uma pinta de quem tem muita grana. Se a gente salvar o cara pode até pintar uma recompensa!

— Pior ainda, você quer influenciar no destino dele e ainda lucrar com isso?

— Claro, mina.

— Nando, sinto muito em lhe informar, mas seu Babalu Cósmico é muito afetado.

E soltei uma gargalhada rápida, a churrascaria toda olhou para nós.

A loira e o coroa desapareceram da churrascaria. Olhei para o outro lado da rua e notei que o Opala preto também desaparecera. Sinistro, hein! Bom, talvez seja apenas coincidência.

Finalmente nos sentamos para comer. O guri estava sentado ao lado de sua irmã. Pezão não estava com eles.

— Ué, cadê o seu irmão? — perguntei para o guri.

Maura apontou para uma mesa a uns oito metros da nossa. Pezão estava sentado com Meiry e Jaque. Filho da puta sortudo do caralho!!! Será que ele vai comer as duas e nem vai me convidar? Putz, esqueci que ele virou monge, é mais fácil ele fugir das duas e ninguém comer ninguém. Ou pior, se bobear a Maura ainda chupa as duas.

Sentei-me, enfim.

— Vocês demoraram, hein! — disse a Maura — Já marcaram a data do casamento?

— Sim, semana que vem — falei, tentando provocá-la ainda mais.

O garçom veio até a mesa. Eu pedi cerveja, Nari pediu uma laranjada.

— Sério, sobre o que vocês tanto conversavam? — insistiu a Maura.

Nari olhou pra mim e eu logo percebi o que ela queria: discrição.

— Eu estava contando pra ela como o seu irmão está mudado — falei.

Fui rápido, hein! Mentir é comigo mesmo. Sempre fui bom.

— Mudado? — disse o guri, rindo. — Eu tenho a impressão de que ganhei outro irmão. Aquele ali não é o Pezão.

— Lembram do filme O Exorcista? — disse a Maura, em voz alta. — O Pezão está parecendo a menininha no final do filme, quando o demônio foi expulso. Igualzinho!

— Boa comparação — falei, rindo muito e quase engasgando com a comida.

Nari estava séria, como sempre.

— Não vou negar para vocês, o Cumbuca tem um passado terrível mesmo.

— Bota terrível nisso!!! — falei.

E Nari me olhou estranho, de uma forma como ela nunca tinha me olhado antes. Ela me olhou da mesma forma que o Mestre dos Magos me olhava lá na cozinha da casa do Pezão. Não gostei, é assustador.

— O que foi? — perguntei pra ela.

— O seu passado também não é dos mais belos.

— Ah, nem tanto, Nari. Não exagera.

Ela continuou me olhando daquele jeito estranho, como se estivesse tentando ler meus pensamentos. Muito esquisito, muito esquisito!!! Isso está me dando nos nervos.

— Quando eu olho pra você eu vejo um nome de um lugar — disse ela, ainda me encarando. — , mas não consigo decifrar qual é.

Eu, hein! A Montanha-Russa é muito esquisita, vocês não acham?

Mas eu ainda comeria. De quatro, de ladinho, papai-mamãe, como vocês quiserem.

Após terminar o meu prato decidi dar uma bisbilhotada no Pezão e as duas gostosas.

— Seu amigo é sempre assim? — perguntou a Meiry, a filha da puta que quase me atropelou.

Em outras situações eu teria respondido: "Sim, o filho da puta já nasceu deste jeito".

Mas hoje ...

— Assim como?

— Ele é o cara mais tímido e fofo que eu já vi! — disse a baixinha.

Porra, a minha baixinha??? Ah, fala sério!!! Pezão filho da puuuuuuuuuuuuuuta!!!

Sentei-me com eles, bem do lado da baixinha. Mas ela nem me olhou direito.

— Não sou tímido — respondeu Pezão, falando baixinho e calmamente.

— Ele bateu com a cabeça — falei, sério.

— É mesmo? — disse a Meiry, espantada. — Ai, tadinho!!!

E a morenaça sentou-se mais perto do Pezão. Este ficou totalmente desconfortável, eu quase notei sofrimento em seus olhos. Ah, fala sério!!! Será que o Pezão virou uma bichona enrustida? Não é possível uma morenaça gostosa daquelas se debruçar sobre o cara e ele fazer cara de quem peidou debaixo do cobertor e não conseguiu colocar a cara pra fora.

Realmente, aquele ali não pode ser o Pezão. Concordo com o guri, alguém deve ter raptado o irmão dele e colocado um robô no lugar. Um robô gay.

— Não é verdade — disse Pezão. — , não bati a cabeça em lugar algum.

— Porra, então você comeu cocô!!!

Caralho, falei tão alto que a churrascaria inteira olhou para a nossa mesa. Tudo bem que não tinha mais quase ninguém na bagaça, mesmo assim fiquei sem graça pra caralho.

Pior de tudo foi a baixinha. Ela olhou estranho pra mim e disse:

— Você é bem esquisito, sabia?

— E você é bem gostosa, sabia?

E vocês acreditam que a baixinha me virou um tapão nas fuças?

Tampinha de guaraná filha da puta de uma figa! Doeu pra caralho. Ela acertou em cheio mesmo. Vi até estrelas.

— Pra que violência, Jaqueline? — disse Pezão.

— Odeio caras folgados! — disse a baixinha, olhando furiosa pra mim. — Você precisa aprender muito com o seu amigo. Ele sabe como tratar uma mulher.

Putz!!! O que foi que ela me disse? Eu devo aprender com o Pezão como tratar uma mulher? Meu, esta foi boa. Será que eu conto pra elas o dia em que o Pezão comeu uma pé-vermeio num parquinho abandonado, roubou as roupas dela e deixou a coitada pelada no escorregador? E a vez em que ele convidou uma guria pra sair e ao chegar à casa dela viu que a irmã era mais gostosa e resolveu convidá-la em seu lugar?

Meu, eu poderia passar horas contando histórias absurdas como estas, mas Time is Money!

Levantei-me e, por incrível que pareça, Pezão veio junto comigo.

— Você está bem? — perguntou ele, colocando a mão direita no meu ombro.

Calma, não teve nenhuma boiolagem. Senti que foi sincero e amigo, coisa que eu nunca tinha visto no Pezão em todos estes anos.

— Estou bem pra caralho — respondi, ainda com o rosto dolorido. A filha da puta da baixinha deve praticar boxe, sei lá.

— Eu te ligo mais tarde — disse a Meiry para o Pezão.

— Tudo bem — respondeu ele, com um sorriso meio amarelo.

E voltamos para o carro. Maura, o guri e Nari já estavam lá nos esperando, impacientes.

— O que vocês combinaram para hoje à noite? — perguntei para o Pezão, logo quando entramos no carro.

— Nada.

— Nada? Ouvi a barbeira dizer que vai te ligar hoje à noite.

— Vai tentar a noite inteira então, pois eu passei o telefone errado.

Putz!!! Ninguém merece.

De repente todos nós tomamos o maior susto da viagem. Nari dá um grito do nada:

— Ubatuba!

— Credo, Nari!!! — resmungou a Maura. — O que foi isso? Quase me mata de susto, menina!

E Nari olhou pra mim, dizendo:

— Descobri o lugar que surge em minha mente quando olho pra você: é Ubatuba!

Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!