As Aventuras de Nando & Pezão

“Jovem Cientista”

Capítulo 8 – Enfim, Campos do Jordão

— Quando eu era bem pequena eu tive um sonho terrível. 

— Deixa pra lá, Montanha — disse o Pezão, sério.

O guri colocou novamente a cabeça entre os bancos, curioso.

E Nari prosseguiu:

— Não se preocupe, Cumbuca, eu quero contar. Eles têm o direito de saber.

— Mas que segredinho é este entre vocês? — perguntou a Maura.

— Não é um segredo só entre nós dois, todos do nosso grupo já sabem. Mas eu não gosto de contá-la por que eu sempre deixo as pessoas muito assustadas.

— Conta logo! — disse o guri, quase babando.

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Silêncio total dentro do carro. Nari respirou fundo e começou a nos contar:

— Eu tinha só oito anos de idade quando tive este sonho devastador, e até hoje sou assombrada por ele. O sonho foi tão real que eu acordei em estado de choque. Se meus pais não tivessem acordado com os meus gritos e me levado imediatamente para o hospital eu não estaria aqui para contar esta história.

— Cruz credo, menina! — disse Maura, jogando a mão boba no joelho de Nari.

— Você faz suspense demais, oh! — disse o guri, sem piscar. — Conta logo o que você viu no sonho!

Os olhos de Nari encheram-se de lágrimas, mas antes que a primeira gota escorresse pelo seu rosto ela prosseguiu:

— Eu vi todos os tipos de desastres naturais possíveis e imagináveis, e havia uma voz que ia narrando tudo o que estava acontecendo. Era a voz mais horrível que eu já ouvi. Só de lembrar eu já me arrepio toda.

— Você sonhou com o Cid Moreira dando uma notícia no Jornal Nacional, filha! — disse a Maura, ainda com a mão boba no joelho da mina.

Ninguém achou muita graça. A Nari muito menos.

— Não era a voz do Cid Moreira — disse a Nari, agora chorando. — E eu sei exatamente o que sonhei. Eu vi o fim do mundo.

— E como você sabe disso? — perguntei.

— A voz assustadora me disse. 

— Mas tem alguma coisa errada — disse o guri. — Você ficou abalada e chorou quando eu mencionei o furacão Katrina. Mas o mundo não acabou com o Katrina.

— Pois é aí que entra a parte assustadora.

Caralho, ela disse de um jeito tão sério que deu um certo cagaço.

E a porra da Maura continua com a mão no joelho dela. Biscate sem-vergonha, só podia ser irmã do Pezão mesmo.

Nari prosseguiu:

— A voz me disse que o fim dos tempos viria com a chegada do Kaká.

Putz! Agora todo mundo dentro do carro caiu na gargalhada. Bom, todos menos a Nari e o Pezão. Este último estava concentradíssimo ao volante, acho que nem ouviu o que a Nari disse.

— Kaká? — disse o guri, rindo feito uma hiena com infecção pulmonar. — Mas o que o coitado do Kaká tem a ver com isso? O cara está lá na Itália jogando futebol.

— Kaká é aquele bonitinho que jogava no São Paulo? — perguntou a Maura.

— Não é deste Kaká que a Montanha está falando — disse o Pezão, enfim. Então ele estava prestando atenção, né?

— Não é o Kaká da seleção? — perguntei.

— Não — respondeu Nari, super séria, como sempre.

— Então deve ser um apelido que a voz misteriosa deu para o Katrina, né? — completou o guri.

— Também não. Kaká são as primeiras sílabas dos dois furacões que destruirão o nosso planeta.

Silêncio dentro do carro outra vez. De repente o guri perguntou:

— Um deles foi o Katrina, é isso?

Nari não disse nada, apenas balançou a cabeça afirmativamente. Ela estava super estranha, aparentava estar muito cansada, apesar de não ter feito esforço físico algum. Meu, juro pra vocês, olhando pra ela a gente tem a impressão de que ela acabou de correr a São Silvestre. Eu, hein! Sinistro.

Esperei alguns instantes, e perguntei:

— Se o primeiro Ka foi o Katrina, quando e qual será o segundo?

Putz! Pra que fui perguntar isso? A mina caiu aos prantos, e agora feio mesmo, saíam tantas lágrimas de seus olhos que eu cheguei a pensar que era chuva.

— Eu não sei, eu não sei! — repetia ela, várias vezes, desesperada.

Pezão parou o carro outra vez.

— Vocês vão deixar a Montanha em paz ou não? — disse ele. Mas sua voz não demonstrava raiva; era até gentil. Estranho!

Ficamos sem graça. Ninguém disse nada. E Pezão deu a partida novamente.

Com o tempo Nari acalmou-se e a viagem seguiu em paz. Estou começando a me arrepender de ter vindo. Isso aqui está um porre. Estou preso num carro com um monge no volante, um nerd punheteiro, uma biscate que corta pros dois lados, mas que eu já comi e nem foi tãããããão bom assim, e por último a Mãe Dinah cover.

E não sei se vocês notaram, mas as previsões da Nari são meio fora de ordem. Como é que ela prevê o fim do mundo com oito anos de idade e os atentados ao World Trade Center aos dez anos de idade? Não é esquisito? Não deveria ser o contrário? Ah, sei lá! Quem garante que ela esteja dizendo a verdade, né? A mina é bonita, gostosa, tem os peitinhos mais lindos e chupáveis que eu já vi, mas convenhamos, é bem neurótica.

Bom, neurótica ou não, eu quero comer. E a Maura também, é claro. Acharam que eu tinha me esquecido da aposta? Claro que não.

De repente Pezão coloca outra vez aquele maldito CD com o Mestre dos Magos recitando versinhos de sabedoria.

"Amigos e amigas, o nosso mundo é um mundo cheio de coisas mundanas. Esqueçam estas coisas, não precisamos delas para ... "

Na hora eu senti uma vontade imensa de gritar para que ele retirasse aquela porra de CD, mas o clima dentro do carro não estava propício. Acho que os outros também sentiram isso. O guri pegou uma revista pra ler e ficou quieto. Maura colocou fones nos ouvidos e ligou seu discman. Nari continuava com a mesma cara de bunda. Resolvi ficar na minha. Encostei a cabeça no vidro da janela e fui apreciando a bela paisagem. Esta viagem está me dando sono.

Tanto sono que adormeci durante o restante da viagem.

Acordei com um estrondo. Depois do estrondo ouvi:

— Babalu babaloá! — era o Pezão, com as mãos na cabeça.

Estávamos na entrada de Campos do Jordão. O dia ainda estava claro, o relógio do meu celular marcava 15h38. Quando despertei totalmente percebi o que tinha acontecido. O estrondo que me acordou tinha vindo da nossa traseira. Bom, não exatamente da NOSSA traseira, mas da traseira do carro, né? Porra, vocês entenderam, não venham com gracinha.

Olhei para trás e vi um Fiesta vinho com a frente um pouco amassada. Nada sério.

— Não foi sua culpa — disse o guri para o Pezão. — Você freou normal. O imbecil aí de trás é que veio sobre nós.

Pezão saiu do carro e foi ver o estrago.

Putz! Será que agora o Pezão volta a ser o Pezão? Meu, a gente sabe que ele trata este carro melhor do que a própria família, né? Acho que agora ele perde as estribeiras e volta a ser o filho da puta de sempre. Vamos ver? Saltei do carro e fui lá ver a cagada.

Ele passou direto e nem olhou para a traseira do seu carro, foi em direção ao Fiesta. É agora! Aposto que ele vai mandar o motorista enfiar o volante no cu e ....

— Vocês estão bem? — perguntou Pezão, gentilmente.

Caralho!!! Não acredito nisso.

De repente as portas do Fiesta se abriram e ... Puta merda!!!! ... saíram duas morenas gostosas pra caralho. Meu amigo, eu já vi morenas bonitas, mas fala sério!!! Nando Júnior deu até uma beliscada na cueca. A morena que saiu pela porta do motorista chega a ser mais alta do que eu, talvez um metro e noventa de altura. A outra é baixinha, talvez um metro e sessenta e poucos. Apesar da diferença tão grande eu não saberia qual escolher. A altona veste uma calça jeans super apertada, dá até pra ver a marquinha da calcinha. Meu, que delícia! A baixinha está de minissaia preta, uma gracinha. As duas estão usando jaquetas pretas muito elegantes. Aposto como são filhinhas de papai.

— Você é maluco? — disse a altona para o Pezão. Ela estava com a mão direita sobre a testa. Mas não havia sinal de sangue nem nada. Acho que é frescura ou encenação.

— Mil desculpas! — disse Pezão, quase ajoelhando-se diante das gostosas.

— Mil desculpas o cacete! — gritou alguém atrás de mim. Era a voz do guri. — Meu irmão não teve culpa de nada!

Putz! A baixinha ficou uma fera.

— O imbecil do seu irmão não sabe dirigir, moleque!

— Moleque o cacete, sua tampinha de guaraná!

Enquanto isso eu olhava para a marquinha da calcinha da altona. Perdoem-me, mas a mina é muito gostosa. E pra piorar a situação tem olhos azuis. Fala sério, uma morena de olhos azuis? De onde surge isso? Ah, me esqueci, estamos em Campos do Jordão! Este lugar é foda pra dar mulher bonita. Caralho, foda pra dar mulher bonita e foda pra fazer frio também. Putz grila, eu quero a minha blusa!!! Está friiiiiiiiiiiio!!!

— Eu vou pagar pelo estrago no carro de vocês — disse o Pezão para a altona.

— Além de santo ficou burro — esbravejou o guri, antes de voltar para dentro do Corsa, revoltadíssimo.

— Não se preocupe — disse a altona, passando as mãos sensualmente sobre os seus cabelos negros. — A culpa foi minha mesmo.

Porra, foi impressão minha ou a gostosa está dando em cima do Pezão?

— Eu faço questão de pagar — disse Pezão — , eu não devia ter parado daquela forma e ...

A baixinha aproximou-se sorrateiramente e entrou no meio dos dois, dizendo:

— Deixa ele pagar, Meiry! Não seja boba!

Meiry? Sei lá, a altona não tem cara de Meiry. Ela tem um jeitão de Nádia ou ... ah, sei lá!

— Mas a culpa não foi dele, Jaque.

Jaque? Hmmmm ... deve ser de Jaqueline, né? Ah, a baixinha até que leva jeito pra Jaqueline sim. Combina. Meu, a baixinha tem umas pernas violentas, hein! Loucura, loucura, loucura!!! Fiu-fiu!!! A baixinha não tem olhos azuis, mas tem uma boca carnuda maravilhosa.

Puta merda, eu não saberia escolher uma das duas. Páreo duríssimo. A Meiry, altona, parecer ser do tipo romântica e sonhadora, já a baixinha deve ser osso duro de roer, do tipo que numa crise de ciúme é capaz de jogar o celular na sua cabeça. Confesso que ambos os tipos me atraem.

— Claro que foi! — disse a baixinha enfezada.

E Meiry finalmente deu um sorriso, mas para o Pezão. Sortudo filho da puta.

— Está bem — disse ela, colocando a mão direita carinhosamente sobre o ombro do Pezão. — , se você quer tanto me pagar, por que não me paga um jantar hoje à noite?

Puta merda! Olha a Meiry! Romântica e sonhadora o caralho! A mina partiu pra cima. Pezão se deu bem, hein!!! Ah, moleque!!!

Depois dessa eu voltei pro carro. Admito minha dor de cotovelo.

Ah, assim não é justo! O outro vira monge e a mulherada ataca. Eu estou aqui para o que der e vier e a baixinha coxuda nem me olhou. Assim não vale! Minha mãe deve ter comido muito cocô quando estava grávida de mim, só pode ser isso.

A polícia rodoviária apareceu, mas não deu em nada. Os guardas não tiravam os olhos da bunda da baixinha. Bom, quem sou eu pra falar alguma coisa dos guardas, né? Eu também estava babando pela mina.

Uns sete minutos depois o Pezão voltou para o carro, mas não demonstrava felicidade alguma no seu rosto. Meu, só falta ele ter recusado a oferta da morena. Se o babaca fez isso eu chuto o saco dele. Juro que chuto!

— E aí? — perguntei pra ele.

— E aí o quê?

— Combinaram o jantar ou não?

— Não.

Putz!!!

— Chuta o saco do seu irmão por mim, por favor!!! — falei pro guri.

O pirralho caiu na gargalhada, sem entender nada.

— Do que vocês estão falando? — perguntou a Maura.

Resolvi explicar:

— A morena de dois metros ali convidou o seu irmão pra jantar e o bicha recusou.

A Maura olhou pra mim, boquiaberta.

— Sério? — e olhou para o Pezão. — Xiiiiiiiiii, meu irmão, seu Babalu Cósmico é gay? Deixou passar um filé daqueles?

— Ela queria relações carnais comigo — disse Pezão, olhando a irmã pelo espelho retrovisor. — , eu percebi quando ela acariciou os cabelos.

— Mas é claro, seu bosta! — falei, fulo da vida. — Você queria que ela lhe convidasse pra jogar xadrez?

— Sei lá, eu até toparia uma partida.

Putz!!! Ah, ninguém merece!!! Só não me levanto pra chutar o saco do Pezão por que eu chutaria com tanta força que mandaria o filho da puta pra lua.

Nari resolveu abrir a boca, depois de um longo tempo calada. Ela disse para o Pezão:

— Estou orgulhosa de você, Cumbuca. Hoje você provou que a sua purificação realmente foi um sucesso. E fico ainda mais orgulhosa por ter participado ativamente do ritual.

— Muito obrigado, Montanha. Serei eternamente grato por tudo o que você e o mestre fizeram por mim.

E Nari finalmente sorriu, após um longo e tenebroso inverno.

— Depois vocês namoram — disse o guri, meio irritado. — agora eu preciso comer! Estou faminto!

— Eu também — falei. — , e com frio! Quero a minha blusa.

— Vamos procurar um restaurante — disse o Pezão, ligando o carro.

Só espero que a porra funcione, né? Não estou a fim de ficar empurrando, ainda mais com o frio que está lá fora. Oh, cidade fria da porra! Bom, mas é por isso que a gente gosta, né?

E o Corsa pegou. Ufa!

— Nada de restaurante vegetariano, hein! — disse a Maura.

— Por que está olhando pra mim? — disse Pezão, encarando a irmã pelo espelho retrovisor.

— Sei lá, vocês não xingam, não peidam, não bebem, não fumam, não trepam, não fazem porra nenhuma! Acho que também não devem comer carne, né?

— Muito pelo contrário — respondeu a Nari. — Eu adoro carne! O mestre nos ensinou a comer de tudo. Se a vaca existe é para virar comida mesmo. Que outro objetivo na vida teria a vaca a não ser fornecer carne e leite para nós?

— A vaca é um animal sagrado para algumas culturas — disse o guri.

— Eu respeito. Mas entre uma vaca e um hambúrguer, eu fico com o hambúrguer.

— Porra, agora fiquei com mais fome ainda!!!

Tinha alguém seguindo o nosso carro. Sim, era o Fiesta das morenas tesudas. 

Bom, ou elas estão nos seguindo ou indo coincidentemente para o mesmo lugar, né? Eu fico com a primeira hipótese. O que será que elas querem?

Um ménage à trois cairia bem neste friozinho, vocês não acham? Hehehe ...