“Jovem Cientista”
Capítulo 7 – Só Nari
— Campos? — seus lindos olhos até brilharam. Finalmente vi um sorriso naquele rosto perfeito. — Nossa, eu adoraria!
— Então vamos, ora! Será um prazer tê-la conosco.
— Muito obrigada pelo convite! Amo aquela cidade!
E a gatinha com nome de remédio me deu um puta abraço apertado. Acreditam?
Eu sou foda.
Mas eu não sabia se ficava contente por ter recebido o abraço ou se chorava por estar tão perto daqueles peitinhos e não poder fazer ... fom-fom, bi-bi!!!
-----------------------------------------------------
Fiquei tão decepcionado quando Montanha-Russa foi embora! Nem tanto pela ausência, mas sim por ela ter vestido uma camiseta. Ah, sacanagem!
Porra, a camiseta não reprime a porcaria do Babalu Cósmico também? Aparentemente não. Ela disse que a sociedade ainda não está preparada para mulheres com os seios nus pelas ruas. Bom, de certa forma ela tem razão. Seria um desastre total para o trânsito. Bateríamos todos os recordes mundiais em acidentes.
Bom, mas com ou sem camiseta, o importante é que ela topou viajar conosco.
Sairemos da casa do Pezão amanhã, após o almoço.
Acordei bem cedinho, tomei um banho, arrumei minha mala, almocei, dei tchau pra minha mãe e corri pra casa do Pezão.
Montanha-Russa já estava lá, sentadinha no sofá da sala. E para a minha decepção, usando uma blusa de manga comprida. Mas a decepção passou rapidinho quando olhei para o seu rosto lindo. Como uma garota tão bonita e gostosa pode me decepcionar, né? Jamais!
— Você está muito bonita — eu disse para ela.
— Ah, gentileza sua — disse ela, sorrindo meio sem graça.
De repente Maura surgiu do nada, com dois copos nas mãos.
— Toma, Nari — disse Maura, oferecendo um dos copos para Montanha-Russa. — , está bem geladinho.
Epa! Maura oferecendo bebida para a minha gatinha? Será que tem alguma substância duvidosa? E que papo é este de Nari? Que intimidade é esta? Não gostei.
— Obrigada — disse Montanha-Russa. — , você é um amor.
Putz grila, a Maura é foda! Meu, se eu perder uma garota para ela vou ficar sem moral alguma, hein! Isso não pode ficar assim, preciso contra-atacar.
— O que aconteceu com o seu nome-símbolo, não vai mais usá-lo?
Montanha-Russa quase engasgou-se com a bebida.
— Claro que vou! — disse ela, assustada. — Mas reconheço que Nari ficou bonitinho. Além disso é menor e mais fácil de dizer.
— Nem se compara, né? — disse a Maura, sentando-se bem do ladinho da ... Nari. — Ah, fala sério! Motanha-Russa? Narishcova? Ninguém merece, oh!
E ... Nari ... quase teve um ataque de risos, parecia uma hiena cantando La Bamba.
O guri apareceu. Putz grila, o moleque passou tanto perfume que até me deu enjôo.
— Caralho, tomou banho de perfume ou o quê? — reclamei.
— Ah, não exagera — respondeu ele, ligando a TV.
Caralho, olha a qualidade do bagulho! Até esqueci de mandar o pirralho enfiar o perfume no cu.
— Cadê o São Maurício? — perguntou a Maura para o guri.
— Quando eu passei pelo corredor vi a porta do banheiro fechada.
— Mas ele está lá até agora? Será que o filho da puta morreu?
Montanha-Russa, quero dizer, Nari, ficou indignada com a Maura.
— Não fale assim do seu irmão! O Cumbuca é uma pessoa tão legal.
— Quem? — e depois que a ficha caiu a própria Maura caiu na gargalhada. — Ah, Nari, você vai me perdoar, mas que apelidinho mais ridículo vocês arranjaram pro meu irmão, hein! Cumbuca?
— Cumbuca Rasa — completou o guri, quase mijando na cuequinha.
Nari não moveu um músculo dos lábios, permaneceu super séria.
— Pois eu não vejo nada de ridículo.
Opa! Nari chateada com a Maura? Preciso aproveitar a oportunidade e trazê-la para o meu lado.
— Concordo — falei. — , de certa forma até combina com ele.
Nari sorriu para mim. Uhuuuuu! Ponto pra mim! Enfia no rabo, Maura!
— Mas falando sério agora — disse a Maura. — , faz mais de uma hora que eu passei em frente ao banheiro e ele já estava lá com o chuveiro ligado. Os banhos dele nunca passaram de vinte minutos.
— Isso é verdade — confirmou o guri, fuçando no controle-remoto da TV.
— Não se preocupem — disse Nari, de repente. — , nossos banhos são assim mesmo, bem longos. O mestre que recomendou.
— O Babalu Cósmico tem muito cê-cê? — zoei.
— Não fala isso, oh! — Nari olhou feio pra mim.
Que bosta! Eu e minha boca grande. Por que é que eu não fico quieto?
— Gostei — disse a Maura. — , o mestre é esperto. Eu também adoro um banho bem longo. Saio relaxada.
— Banhos longos ajudam a tirar as cargas negativas acumuladas em nossos Babalus Cósmicos durante o dia. E é exatamente isso que o Cumbuca está fazendo.
— Mas o filho da mãe acabou de acordar! — disse a Maura. — Nem deu tempo pra acumular nada no Babalu dele.
— Não creio que ele tenha acordado tão tarde — disse Nari.
— Aquele filho da mãe nunca acordou cedo na vida!
— Não quero defender o mano — disse o guri. — , mas a Montanha-Russa está certa. Ele acordou umas 7 horas da manhã e foi regar as plantas da mamãe no jardim. Acredita nisso? E o pior é que é verdade, eu vi com os meus próprios olhos. E detalhe: peladão. Putz!
— Ah, ninguém merece! — disse a Maura, fazendo cara de nojo.
— O contato com a mãe natureza precisa ser feito sem roupas — disse Nari para a Maura.
— Não dá pra acreditar nisso — eu falei. — , o Pezão regando plantinhas, com a bunda branca de fora, às 7 horas da manhã? Eu, hein!
E caímos na gargalhada, tipo hienas numa rodinha de pagode, exceto a Nari. A guria não moveu um músculo dos lábios.
Que seita mais idiota é esta? As pessoas não acham graça em nada? Bela porcaria! O bom da vida é você sorrir, não é? Quem sorri adoece menos e vive mais. Sorrir é o melhor remédio pra tudo. Vocês não concordam?
E Pezão finalmente apareceu, vestido com aquela túnica amarela ridícula.
— Enfim o São Maurício! — disse a Maura, batendo palmas.
— Não sou santo — respondeu ele, sério.
Galera, é impressionante, parece outra pessoa. A impressão que eu tenho é que o Pezão verdadeiro foi abduzido por alienígenas e deixaram um clone no lugar dele, mas um clone bem chato!
— Limpou bem o Babalu? — perguntei, rindo.
Pensei que ele ia se irritar, mas nem. Respondeu-me tranqüilamente:
— Sim, obrigado.
Fala sério, eu vou lá dar um chute no saco do Pezão. Quem sabe assim ele acorda!
Tudo bem que o camarada sempre foi um tremendo filho da puta, e que ele já aprontou muito comigo e com muitas outras pessoas, mas Pezão Bento XVI não dá! Não combina!
— Vamos? — disse ele, apontando com o polegar para a porta.
— Pensei que tinha esquecido da viagem — disse o guri.
— Claro que não esqueci, meu irmão! Hoje é um dia importante para você e estaremos lá para aplaudi-lo de pé.
O guri tomou um susto tão grande com a resposta gentil que nem soube o que dizer. Ficou até vermelho. Que meigo! Hahaha ... Mas não vem pro meu lado! Se o Pezão disser coisas bonitas e simpáticas pra mim eu chuto o saco dele. Não vem com esta veadagem pra cima de mim!
Pezão ao volante e o guri ao seu lado. Atrás: Maura num canto, a Nari no meio e eu no outro canto.
E a viagem começa.
Nada de Pezão acelerar e sair queimando os pneus. Ele saiu de boa.
Putz! Esta viagem está com cara de que vai ser um porre.
— Quando iremos voltar? — perguntei, só por curiosidade.
— Amanhã — respondeu o guri.
— Ah, tão cedo?
— Aquele clima gelado me faz muito mal, eu começo a espirrar e não paro mais.
— Porra.
— Vocês dizem muitos palavrões — disse a Nari, é claro.
— Desculpa.
— Por que vocês não entram para o nosso grupo?
Cada um disfarçou como pôde, e no final ninguém respondeu que sim nem que não. De repente Pezão quebrou o silêncio.
— Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida. Estou vendo tudo de forma tão clara.
— Está vendo tão bem que agora há pouco você quase atropelou um casal de velhinhos — disse o guri.
— Não era a hora deles.
— Como você sabe?
— Eu não os atropelei, portanto ... não era a hora deles. Simples assim.
— A vida é simples — completou a Nari. — , vocês é que complicam demais.
Silêncio por alguns instantes.
— A Montanha já contou pra vocês que ela tem o dom de prever o futuro?
— É verdade isso? — perguntei, aproveitando para colocar minha mão esquerda sobre a perna dela.
— Sim, às vezes eu tenho algumas visões — ela respondeu, removendo gentilmente a minha mão da sua perna.
— Que incrível! — disse a Maura. — E como são estas visões? Tipo um filme no cinema?
— Mais ou menos. Algumas visões são tão reais que eu tenho a impressão de estar presente no local. É bem assustador.
O guri colocou a cabeça entre os bancos da frente e perguntou para a Nari:
— E você teve alguma previsão que se concretizou?
— Sim, várias.
— Fenomenal — disse Pezão. — , vocês não acham?
— Bobagem — disse a Nari. — , além disso eu ainda estou aprendendo a lidar com estas visões.
— O que você já acertou? — prosseguiu o guri.
Caralho, o moleque nem pisca. Será que arranjamos mais um concorrente? Era só o que nos faltava, mais um com tesão pela Montanha-Russa, quero dizer, Nari.
— Quando eu tinha 10 anos eu vi os aviões derrubando o World Trade Center.
— Caralho!!! — eu disse.
— Com 10 anos? — disse a Maura. — Quanto tempo faz isso?
— Tem uns 9 anos.
Nossa, então a Nari só tem 19 aninhos? UAU! Mas parece mais velha. Acho que é por que ela sorri muito pouco.
— Putz grila! — disse o garoto, fascinado. — Conta mais, conta mais!
— Ah, eu não gosto de ficar falando sobre isso.
— Ah, só mais uma! Conta!
E Nari acabou cedendo aos apelos do pirralho.
— Eu também vi as ondas gigantes devastando a Ásia.
— Tsunami — disse o garoto.
— Isso.
Senti uma tristeza muito grande na voz da Nari.
— Meu, mas você só prevê desgraça??? — perguntou a Maura.
— Infelizmente sim.
— Que legal! — disse o guri. — Eu queria saber fazer isso também.
— Não fale assim, é terrível. Eu daria tudo pra que isso parasse.
Daria tudo? Opa! Hehehe ... Meu, fala sério ... eu não presto ... nem pra trocar lâmpada.
— Você também previu o furacão Katrina? — perguntou o guri.
Neste momento Pezão puxou o irmão pela orelha e pediu para ele ficar quieto no lugar dele.
— Porra, o que deu em você? — reclamou o guri, puto da vida. — Eu perguntei pra ela, não pra você!
— Vamos mudar de assunto — disse o Pezão.
— Concordo com o Cumbuca — disse Nari.
O guri colocou a cabeça novamente entre os bancos e perguntou mais uma vez:
— Você viu, não viu? Seus olhos dizem tudo.
Nari começou a chorar. Pezão parou o carro imediatamente no acostamento.
— Viu só o que você fez? — gritou ele para o irmão.
— Mas eu só fiz uma perguntinha de nada! Era só responder sim ou não.
— Vocês não sabem de toda a história por trás disso, gente. Deixem-na em paz, por favor. Eu nem deveria ter tocado neste assunto.
Enquanto isso eu aproveitei para consolar a pobre coitada.
Maura ficou possessa comigo. Ela me olhava com raiva e inveja ao mesmo tempo.
— Calma, não chora — eu repetia no ouvidinho da Nari, acariciando seus cabelos.
Putz! Ela pode ser bonitona e gostosa, mas seus cabelos são meio sebosos. Só falta ela me dizer que passa mijo também. Não, acho que não chega a tanto.
Pezão engatou a primeira e voltamos para a estrada. Aos poucos Nari foi voltando ao normal.
— Obrigada, Nando — disse ela, limpando o rosto molhado.
— De nada, meu anjo.
Do outro lado a Maura fazia caretas para mim, morrendo de inveja.
De repente uma voz muito esquisita e conhecida invadiu nossos ouvidos. Pensei que estava ouvindo fantasmas, mas é claro que não eram fantasmas, era um CD.
— Vamos fazer silêncio e ouvir o mestre — disse Pezão.
Claro, era a voz do Mestre dos Magos, e dizia:
"Cultive a plantinha irradiante de amor que existe dentro de você, liberte o seu corpo das tentações tentadoras do fornicamento carnal do satanás"
... e bla bla bla bla ... Babalu Cósmico alguma coisa ... bla bla bla bla ...
— Meu, desliga esta porcaria aí, oh! — gritei.
— Fala sério, São Maurício! — gritou a Maura.
— Silêncio! — gritou Pezão. — Ouçam o mestre!
— O mestre o escambau! Desliga esta porra agora mesmo! Comeu cocô?
Nós azucrinamos tanto a cabeça do Pezão que ele acabou tirando o CD. UFA!
Foi até um alívio quando o silêncio voltou.
— Coloca Foo Fighters aí, meu! — disse a Maura.
— Ou liga o rádio mesmo — eu disse. — , qualquer coisa, menos aquilo.
Mas Pezão não fez nem um nem outro. Então ficamos no silêncio.
— Cadê os seus CD's? — perguntou o guri, fuçando pelo carro.
— Joguei tudo fora — respondeu Pezão. — Todos os meus CD's antigos evocavam o Satanás Fornicador que existe dentro de mim.
Satanás Fornicador? Não resistimos e caímos na gargalhada. Claro, nem todos. Nari estava séria, como sempre.
De repente, enquanto nos divertíamos às custas do Pezão, ela disse algo:
— Quando eu era bem pequena eu tive um sonho terrível.
— Deixa pra lá, Montanha — disse o Pezão, sério.
O guri colocou novamente a cabeça entre os bancos, curioso.
E Nari prosseguiu:
— Não se preocupe, Cumbuca, eu quero contar. Eles têm o direito de saber.
— Mas que segredinho é este entre vocês? — perguntou a Maura.
— Não é um segredo só entre nós dois, todos do nosso grupo já sabem. Mas eu não gosto de contá-la por que eu sempre deixo as pessoas muito assustadas.
— Conta logo! — disse o guri, quase babando.