As Aventuras de Nando & Pezão

“Jovem Cientista”

Capítulo 4 – Babalu Cósmico

— Bom, acho que já descobri qual era a bala que peguei por engano.

Desta vez peidamos juntos. Puta merda. Estamos com FODA?

O guri começou a rolar de rir. Fiquei puto da vida.

— Meu, não ri não, você também chupou uma bala daquela.

— Eu sei — respondeu ele, rindo muito.

— E por que diabos continua rindo???

— Porque eu peguei só uma. Você pegou três.

Santa Pixirica.

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A mãe do Pezão nos levou na melhor clínica particular da cidade. Nenhum sinal de FODA. Na verdade o médico nos disse que isso nem existe. Aquela clínica maluca onde fizemos os exames de DNA só tinha picareta mesmo. Como se fosse novidade, né? Dãããã!!!

O doutor nos receitou muito repouso e alguns remédios para o estômago, e foi só.

UFA! Eu não estava nada interessado em fazer uma cirurgia. Pior, uma cirurgia no rego. Sai pra lá!!!

Faz uma semana que estou de cama e não agüento mais. Eu preciso sair, tomar um ar fresco, beijar na boca, fazer sexo, sei lá ... qualquer coisa!!! Não agüento mais ficar preso neste quarto assistindo sessão da tarde e comendo bolacha água e sal.

E por onde será que anda o ... ???

Triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmm!!!!!!!!!

Putz ... Falando no diabo ...

— Fala, Pezão do caralho.

— Pezão é coisa do passado, Nando.

— Agora a onda é ... namorar pelado.

E caí na gargalhada, tipo uma hiena depois de tomar viagra.

Pezão não achou muita graça.

— Como é que você está? — perguntou ele, sério.

Meu, eu ouvi bem? O cara perguntou como é que eu estou? Eu, hein! Este não é o Pezão que eu conheço. O Pezão que eu conheço teria me mandado à merda ou pra lugares piores.

— Pezão, você comeu cocô?

— Eu? Claro que não. Só perguntei como você vai. Não posso? 

— Pode, mas ... você nunca me fez esta pergunta antes.

— Acabei de fazer. E, por favor, de agora em diante eu gostaria de ser chamado pelo meu nome. Pezão não existe mais. Agora sou Maurício.

Como é que é? Putz!!! O cara está muito esquisito. Parece um robô.

— Tua mãe bateu na tua cabeça? — perguntei.

— Não, por quê?

— Fala sério, você está muito esquisito. Parece até que enfiaram um bambu no seu cu.

— Ninguém enfiou nada em mim.

— Mas aconteceu alguma coisa. Você está meio afetado.

— Bom, aconteceu uma coisa extraordinária comigo.

— Eu sabia! Você está diferente. E pelo jeito deve ter comido alguém muito importante. Quero detalhes. Era tão gostosa assim?

— Não foi isso.

— Claro que foi. Só pode ser isso. Conta aí, porra!!!

— Será que você poderia maneirar nos palavrões? Isso carrega o ambiente e abala meu Babalu Cósmico.

Como é que é??? Eu ouvi direito? Babalu Cósmico???

— Pezão.

— Diga.

— Enfia teu Babalu Cósmico no cu e assovia!!!

— Não diga isso, cara!!! Meu, que blasfêmia!!!

— Blasfêmia??? Pezão, e por acaso você sabe o que esta palavra significa???

— Claro que sei. Significa falta de respeito.

Meu, o que está acontecendo com o Pezão? O cara pirou de vez? Nunca vi ele falando difícil.

— Bom, vamos por partes — eu disse. — Acho que já sei o que aconteceu. Aposto que você encontrou o Pigmeu numa balada e o camaradinha lhe ofereceu um cigarrinho do capeta. Foi isso, não foi?

— Passou longe. Drogas afetam o nosso Babalu Cósmico. Eu jamais ....

— Mas que porra de Babalu Cósmico é este, caralho??? É algum chiclete de maconha?

— Babalu Cósmico não é um chiclete, Nando.

— Se é ou não eu não sei, mas que você fumou alguma coisa ... fumou!!! E aposto que foi dos bons, porque você está doidaço!!! Só falta enxergar joaninhas pelo telefone.

— Não farei isso. Estou muito bem. Aliás, nunca estive tão bem em toda a minha vida.

— Sinto muito, mas não está. Você está doidão, isso sim. E o que é pior, um doidão chato pra caralho!!!

— Eu apenas entrei em sintonia com o meu Babalu Cósmico, Nando.

— Meu, se você falar "Babalu Cósmico" mais uma vez eu vou até a sua casa chutar o seu saco. Eu juro que vou. E de quebra ainda enfio um bambu no seu cu.

— Você precisa se acalmar. Aposto que você não está em sintonia com ...

— Nem pense nisso!!! Já entendi. Meu, agora vamos falar sério ...

— Eu estou falando sério desde o momento em que você atendeu o telefone.

— Pezão, pára de zoeira.

— Já falei que Pezão não existe mais. E não estou com zoeira nenhuma. Eu falei pra você: algo extraordinário aconteceu comigo.

— Extraordinário o cacete!!! Você pirou de vez, isso sim. De onde surgiu este papo de Babalu Cósmico dos infernos?

— Em primeiro lugar Babalu Cósmico não tem nada a ver com ... isso que você acabou de falar.

— Inferno?

— Não repete, por favor. Meu mestre me aconselhou a não dizer certas palavras, pois elas abalam o nosso Babalu Cósmico.

— Sei. E além de "inferno" o que mais você não pode dizer? 

— Muitas outras coisas. O mundo é cheio de palavras negativas, Nando. Cada vez que você as pronuncia atrai todo o Universo contra a sua pessoa.

— Pezão, seja honesto comigo, você entrou para alguma seita?

Silêncio. Xiiiiiiiiiii ... pelo jeito a resposta deve ser SIM.

— Não somos uma seita; somos apenas pessoas interessadas em vivermos em sintonia com o nosso Babalu Cósmico.

— E vocês possuem um mestre?

— Sim.

— Então vocês fazem parte de uma seita, seu idiota.

— Nando, seu Babalu Cósmico deve estar muito abalado.

— Pezão, corta essa!!! Eu acho que enfiaram um Babalu Cósmico daqueles bem grandes no seu cu, isso sim!!!

— Babalu Cósmico é apenas uma força da natureza, Nando. Não dá pra enfiar o Babalu Cósmico em lugar algum. Você apenas sente sua presença e sua energia.

Meu, não estou acreditando nisso. Fizeram uma lavagem cerebral no idiota? Não pode ser verdade. Só pode ser uma piada de muito mau gosto.

— Mas desde quando você está assim? — perguntei, de saco cheio.

— Depois que coisas extraordinárias lhe acontecem você perde a noção de tempo e espaço, Nando. Eu só sei que nunca estive tão feliz em toda a minha vida. Sério mesmo.

— Fala sério, você está parecendo uma bichona recém-assumida.

— Você está com inveja, isso sim.

— Inveja? Inveja do quê? Se liga!!!

— Inveja do meu Babalu Cósmico estar em sintonia e o seu não.

— Meu, eu já falei pra você: enfia este Babalu Cósmico no cu. Se você pirou de vez é azar o seu, só não me venha com estas veadagens!!!

E desliguei o telefone na cara do Babaca Cósmico.

Meu, era só o que faltava ... Pezão bicho-grilo. Ninguém merece.

E o pior ... eu não posso nem me levantar e ir até a casa dele chutar-lhe o saco.

Triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmmmm!!!!!

Ah, fala sério!!! Se eu ouvir Babalu Cósmico mais uma vez eu mesmo vou enfiar o dedo no meu cu e me matar. Ninguém merece.

— O que você quer, porra?

— Calma, Nando!

Não é o Pezão, é a voz do pirralho.

— Meu, o seu irmão mastigou um saco de cocô?

— Então você já está sabendo?

— Sobre o Babalu Cósmico?

O pirralho caiu na gargalhada. Depois disse:

— Pois é, de quatro dias pra cá ele só fala nisso. É Babalu Cósmico pra cá, Babalu Cósmico pra lá. O mano pirou na maionese.

— A sua mãe está sabendo disso?

— Não está. Ela viajou a trabalho, como sempre.

— Aposto que ela não vai curtir a idéia do seu irmão ter entrado para uma seita.

— Minha mãe é meio desligada. Ela só vai perceber quando o mano estiver fazendo algum sacrifício satânico com um bode no meio da sala. E só vai perceber porque sujou o tapete persa dela.

Putz!!!! Agora quem caiu na gargalhada fui eu. Nem tinha pensado nisso; será que a seita do Pezão tem estas coisas? Eu, hein! Chuta que é macumba!!!

— Esta foi boa — falei, ainda rindo muito.

— Vai rindo, vai! Você ainda não viu o naipe dos caras que fazem parte da seita dele. É um mais esquisito que o outro.

— Putz!!! E só tem homem? Não tem mulher?

— Na verdade vi umas duas ou três mulheres sim. Uma delas era até gatinha.

— Gatinha? Opa, começou a melhorar o esquema. Será que foi por isso que o seu irmão entrou para a seita?

— Nando, por favor, você não!!! Já basta um, né?

— Fica frio, guri. Estas paradas não são pra mim.

— E algum dia você chegou a imaginar que o mano entraria para uma seita? Agora veja onde ele está.

— Putz, você tem razão. Eu nunca poderia imaginar que isso fosse acontecer.

— Sinistro.

— Muito. Mas como será que isso aconteceu? Ele te contou como foi?

— Ele veio me contar ontem à noite.

— É mesmo?

— Mas era uma história tão chata que eu acabei dormindo.

— Putz!!!

E caí na gargalhada outra vez, tipo uma hiena com taquipnéia. Ah, você não sabe o que é taquipnéia? Sorte a sua. Não é nada agradável.

— Mas eu te liguei pra pedir um favor, Nando.

— Favor? Xiiiiii, Marquinho!!!

— Calma, pensando bem nem é um favor. Está mais para um convite.

— Não entendi. É favor ou convite?

— Lembra do concurso em que eu fiquei em primeiro lugar?

— Sim, claro. 

— Então, os vencedores receberão troféus e bolsas de estudo fora do país.

— Xiqui nu úrtimo, hein!!!

— Pois é. Mas o problema é que a minha mãe só volta na semana que vem.

— Onde e quando vai ser a premiação?

— Será em Campos do Jordão, depois de amanhã.

— Campos do Jordão? Uau ... faz muito tempo que não vou pra lá. E você ligou pra me convidar? Opa!!! Demorou!!!

— Então você topa, não é?

— Claro, to dentro! Aquele lugar dá muita mulher gostosa. Já vou até lhe ensinar uma cantada boa que funcionou muito quando eu estive lá pela última vez. Nós chegávamos na mulherada e ... "Posso te esquentar, gatinha?".

— Que podre. E funcionava?

— É claro que havia exceções ... mas falando com jeitinho elas não resistem.

E o pirralho deu risada.

— Meu — disse o guri, com um ar de alívio. — , ainda bem que você topou. Eu não conseguiria viajar só com aqueles dois retardados.

Dois retardados? Que dois retardados?

— Como é que é? Quem vai também?

— O mano vai nos levar com o carro dele. Este papo de Babalu Cósmico deixou ele meio doidão, mas pelo menos ele está bonzinho comigo.

— Bom, resta saber quem é o outro retardado.

— Não é outro; é outra.

— Quem?

— A minha irmã também quer ir.

Putz!!! A viagem promete. Será que a gente volta vivo?