As Aventuras de Nando & Pezão

“Jovem Cientista”

Capítulo 2 – O Caçula é Foda

— A mina tirou o maior sarro com a sua cara, brother.

— Quem?

— A Maria Rita, caralho!!! Acorda!!!

— Nas quatro vezes em que eu fiz ela gozar gostoso não vi ela tirar sarro nenhum com a minha cara.

— Você não lava o cu?

— Do que você está falando?

— A mina me contou que você estava com uma puta freada de bicicleta na cueca!!!

Biscate dedo-duro dos infernos.

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— Que culpa eu tenho se naquela droga de banheiro não tinha papel higiênico? O que ela queria que eu fizesse? Eu não ia dar uma de Creitão, né?

Creitão Porção. Acho que já mencionei esta criatura abominável uma vez ou outra nas minhas narrativas. Meu, vocês não têm noção do naipe deste cara. Estudamos juntos no colégio. O cara tinha a moral de fazer coisas que até o capeta duvidava. Se algum dia filmarem aquele programa "Jackass" no Brasil ... Creitão ficaria famoso da noite para o dia.

Tenho muitas histórias sobre o Creitão, só não sei se vocês possuem estômago suficiente. Vou contar justamente a que me levou a citar o seu nome.

Colégio. Retorno às aulas. Creitão chega ao colégio dando bom dia pra todo mundo, sorridente como nunca estivera antes. Cumprimentava um, cumprimentava outro, muito gentil e educado. É claro que todos acharam super estranho e bizarro aquele comportamento oposto ao Creitão que conhecíamos. Muitos pensaram que ele havia finalmente mudado. Houve até professor quem bateu palmas para o nosso ilustre Porcão. Parecia uma outra pessoa. Mas eu sabia que havia algo sinistro por trás daquilo tudo. Sapo que vira príncipe da noite para o dia só acontece nos livros.

No final da aula nós descobrimos o verdadeiro motivo de tanta gentileza. Eca!!!

Antes de entrar na sala Creitão havia usado o banheiro da escola. Perda total num dos vasos. PT dos bons mesmo. Dizem as más línguas que a diretora teve de arranjar verba do próprio bolso para comprar um novo. Mas o pior da história ainda está por vir; não havia papel higiênico naquele dia. Será que alguém adivinha o que aconteceu? Hahaha .... Pois é, acreditem se quiser, Creitão limpou-se com a própria ...

Pra evitar a rima eu decidi não completar a frase acima.

Bom, pra encerrar esta linda história ... Praticado o "crime" ele passou apenas uma água nas mãos e fez aquela palhaçada toda que eu já citei acima ... cumprimentou metade da escola com tapinhas nas costas e apertos de mão fervorosos e animados. Mal sabiam eles que estavam recebendo milhares de coliformes fecais.

Dizem que dali em diante nunca mais cumprimentaram o pobre do Creitão. Eu já não pegava na mão dele antes mesmo, então pra mim não fez a menor diferença.

Meu, fala sério ... nem o Pezão teria a moral de fazer aquilo. Bom, sei lá, eu não boto a mão no fogo por ninguém.

Minhas leitoras devem amar este tipo de história, né? Hahahaha ... Perdoem-me, mas eu tinha de explicar o motivo por ter citado o Creitão. Vocês entendem, né? Hahahaha.

— Porra, você acredita que eu vi o Creitão ontem? — disse Pezão.

— Ele está vivo ainda?

— Pior que está, cara. Meu, continua a mesma coisa.

— Como você sabe, conversou com ele?

— E acha que era necessário? Meu, eu tinha ido comprar um bagulho pra minha mãe no supermercado e o cara passa do meu lado. Vai vendo.

Pezão começou a rir feito uma hiena com coceira. Pensei até que o filho da puta ia ter um ataque.

— Mas o que aconteceu? — perguntei, impaciente.

— Meu, o cara passa do meu lado e solta um peido tão foda, mas tão foda que metade do supermercado pensou que o teto estava desabando. Teve uma mulher que saiu correndo desesperada para fora.

— Porra, não exagera.

— Sério, caralho. Eu estava lá.

— Pra início de conversa eu nunca vi você fazendo compras pra sua mãe em supermercado.

— A empregada estava de folga, e daí?

— Sei.

— Além disso eu preciso readquirir a confiança da velha, né? Depois daquele lance da delegacia ela anda meio ....

De repente gritos empolgados ecoam pela mansão. Alguém repetia "Eu sou Foda!" diversas vezes.

— O que deu no guri? — falei.

— A coroa deve ter comprado alguma bugiganga nova pra ele, sei lá.

E Pezão correu para o corredor. Fui atrás.

— O que houve, apareceu o seu primeiro pentelho? — disse Pezão, entrando no quarto do pirralho.

O moleque estava pulando feito um canguru tarado. Gritava e jogava as mãos para cima, parecia um daqueles bonecos de carnaval. Nunca vi o guri tão excitado assim.

— Eu sou foda!!! — gritava o pirralho. — Eu sou foda pra caralho!!!

— Mas o que aconteceu, ganhou na loto? — perguntei. — Não vá se esquecer dos amigos, hein! Lembre-se que eu sempre fui legal com você e ...

— Não ganhei na loto — respondeu o guri. — , isso é coisa pra gente que acredita na sorte.

E ele finalmente sossegou o rabo. Sentou-se na cama e prosseguiu seu raciocínio:

— Eu prefiro acreditar na minha inteligência. 

— Está fraco não, hein!

Meu, este guri vai longe. Escreve aí o que eu estou dizendo.

De repente a mãe do Pezão apareceu no quarto.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou ela. — Ouvi uma gritaria maluca. Vocês dois estão brigando outra vez?

O guri apontou para o monitor, olhou para a mãe e respondeu:

— Eu fiquei em primeiro lugar no concurso, mãe!

— Ficou? Que ótimo! Mas que concurso?

— Aquele que eu me inscrevi no final do ano passado, lembra?

A mãe do Pezão fez uma cara de bunda que eu nunca vi na minha vida. Putz! Nunca vi alguém ficar tão sem graça.

— É claro que lembro — respondeu ela, sem convencer a ninguém, é claro.

— Mas você vai ganhar alguma grana com isso? — pergutou Pezão.

— Isso eu não sei, mas meu nome vai sair na capa da revista Jovem Cientista!!! Uhuuuu!!!

— Nerd Zé Mané do caramba — disse Pezão, sorrindo de forma sarcástica.

— Não fala assim do seu irmão, Maurício!

— Meu, mas é muito trouxa mesmo — continuou Pezão. — , todo animado só porque o seu nome vai sair numa bosta de uma revista que eu nunca ouvi falar na minha vida. Ah, vai te catar!!!

O guri ficou uma fera.

— É claro que você nunca ouviu falar! Você nunca leu uma revista decente na sua vida, seu imbecil. Se bobear nem sabe ler.

A mãe do Pezão entrou no meio. Afinal de contas ela conhece os dois. Na próxima resposta ia voar safanão e pontapé por todos os lados.

— Vamos parar por aqui, entenderam? Cada um tem o seu dom — aí ela olhou para o guri. — Você sempre gostou de fazer experiências, sempre foi o primeiro da turma, aposto que vai ser um grande cientista algum dia — e terminou com um beijo na testa do pirralho. Que meigo. Aí ela olhou para o Pezão, mas não disse nada.

Pezão ficou até roxo de raiva.

— E eu não tenho dom pra nada, porra? — disse ele, irado.

— Deve ter — disse a mãe dele, com cara de bunda outra vez. — , mas eu estou tentando me lembrar qual é.

Putz!!!!! Depois dessa eu jogava meu boné e ia pra casa. Hahahaha .... Sacanagem, a própria mãe da gente dizer isso deve ser foda, hein! Coitado do mano Pezão.

— Valeu — disse Pezão, meio abatido.

O maluco passou fincando por mim e foi para o seu quarto. Bateu a porta com tanta força que a mansão até tremeu. Caralho, ele ficou magoado pra valer. Algo raro, não é? Pezão magoado. Será que eu já disse esta frase alguma vez na vida?

— Eu só estava brincando com você, volta aqui! — gritou a mãe dele, ainda mais constrangida do que já estava minutos atrás. E ela olhou pra mim — Ele levou a sério mesmo, hein!

— Ahã — fiquei sem saber o que dizer na hora.

— Ele fez de propósito, mãe.

— Como assim?

— Sempre que acontece alguma coisa boa pra mim ele faz o showzinho dele, assim ele consegue mais atenção do que eu.

— Espera aí — eu disse. — , não era pra ser o contrário? Afinal de contas você é o caçula da casa, certo?

— E daí? Posso ser o mais novo da casa, mas se você juntar o Q.I. da minha irmã e o Q.I. daquela anta ali não dá metade do meu.

Comecei a rir.

— Não fala assim dos seus irmãos — A mãe do Pezão se segurou pra não cair na gargalhada também.

— Mas é a verdade, o que eu posso fazer? Eu queria tanto que eles entendessem de química para tirar algumas dúvidas minhas.

Putz! Agora quem não se segurou fui eu. Caí na gargalhada. Imaginei a cena: Pezão e Maura ensinando química para o guri. Fala sério! Tão bizarro como imaginar o Creitão ensinando boas maneiras para o Papa.

— Pára com isso — disse a mãe do pezão outra vez. — , eles não são tão burros assim. Você está exagerando.

Agora foi a vez do pirralho cair na gargalhada. Parecia uma hienazinha recém-nascida.

— Mãe, ontem quase que eu fiz xixi de tanto rir com a Ma.

Ma, que Ma? Ah, a Maura. Entendi. Disfarça.

— Lá vem besteira — disse a mãe do Pezão — , o que você aprontou com ela desta vez?

— Eu? Nada, mãe! Ela é que é uma anta mesmo. Ontem pediu pra eu ensiná-la a mandar e-mail.

— A sua irmã? E-mail? Mas mandar e-mail pra quem?

— Sei lá, pra uma amiga.

Amiga? Sei, sei ... amiga, né? Hahaha ... O guri é esperto, não disse namorada porque ia dar um rolo dos infernos pro lado dele. O pirralho é liso que nem corrimão de hospital.

— Mas e aí? — eu disse. — Conseguiu ensinar?

— Eu juro que tentei, Nando. Ela sentou aqui do meu lado e fomos passo a passo. Aí depois ela foi lá pro quarto dela. Uma hora depois ela voltou.

— Está vendo como ela não é burra? — disse a mãe. — Você ensinou, ela foi lá no notebook dela e mandou, certo?

O pirralho caiu na gargalhada outra vez, depois respondeu:

— Ela voltou pra me perguntar como é que ligava o coiso.

— Ah, você está inventando história. Faz um ano que eu comprei aquele notebook pra ela. Não venha me dizer que até hoje ela não usou.

Agora o guri quase fiz xixi na cueca.

— Mãe, ela não sabia nem abrir o pobre coitado.

A coroa levou as mãos à cabeça, balançando lentamente em sinal de descrédito.

— Não acredito nisso. Gastei uma nota preta; comprei o melhor que tinha. Pensei que seria útil para os estudos dela. Eu preciso prestar mais atenção em vocês. Esta correria me deixa maluca, não tenho tempo pra mais nada.

— A senhora esqueceu do meu concurso, não foi?

E agora? Será que ela admite?

— Esqueci, meu anjo. Você perdoa a mamãe?

— Claro, mãe, não esquenta.

Que meigo. Hahahaha .... Porra, isso aqui está parecendo novela das seis! Eu, hein!

Meu, o Pezão está quieto demais no quarto dele. Será que o mala se enforcou? Putz! Do jeito que as coisas andam sinistras nestes últimos meses ... eu não duvido de mais nada.

— Mas diz aí — eu falei. — , que concurso foi este que você ganhou?

— Eu estava navegando aqui e resolvi olhar meus e-mails. Quando abri eu nem acreditei. Tinha uma mensagem me avisando que eu peguei em primeiro lugar no concurso da revista Jovem Cientista. Foram mais de 8 mil inscrições.

— Caraaaaaaaaaaaca!!!

A mãe do guri arregalou os olhos, estava emocionada.

— Oito mil inscritos e você foi o primeiro, meu filho?

A coroa deu um beijo tão nervoso no moleque que ficou até roxa a bochecha dele.

— Parabéns, guri — estendi-lhe a mão e o cumprimentei.

De repente até me lembrei da história do Creitão.

— Mas o que foi que você inventou, meu anjo? Agora fiquei super curiosa.

— Você achou a cura pra Aids? — Ok, a minha pergunta foi besta, mas ... vai que é verdade, né? O caçula é foda.

— Não, Nando, ainda não tenho capacidade técnica pra isso. Mas fica frio que há grandes nomes da ciência trabalhando neste assunto. Eu inventei outra coisa.

— Quanto suspense.

— Não é nada assim tãããããããããão espetacular. Não tive muito tempo para criar algo melhor. Mas se ganhou o concurso deve ter alguma utilidade, não é?

— Filho, você está parecendo autor de novela ... Desembucha, logo!!! O que foi que você inventou?