As Aventuras de Nando & Pezão

"O Show do Rappa"

Capítulo 3 – O Caminho até o Clube

Quase 11 horas. Estou sentindo a vibração. O sabadão vai ser foda! A fuga da Maura foi muito legal pra ajustar a dose de adrenalina. Vocês precisavam estar lá pra ver, parecia cena de cinema, daquelas em que mostram os bandidos fugindo após assaltar um banco. Porra, agora eu só preciso dar um jeito neste linguão preto. Eu sabia que tinha alguma coisa estranha naquela bala do inferno.

— Seu irmão é foda, Pezão! Tomar no cu, viu!

Pezão riu histericamente.

— Você chupou a bala, né? Você tá fodido, cara. Meu padrinho colocou aquela porra na boca e ficou quatro dias com o linguão preto.

— Filho da puta! O que é que eu faço agora?

— Sei lá, vamos dar uma parada lá no bar do Gordo. Aproveito pra tomar umas e você tenta alguma coisa.

Foi exatamente o que fizemos. Tentei de tudo, mas a minha língua ficava cada vez mais preta. Pezão aproveitou e tomou duas latinhas. Tomei apenas uma, afinal o linguão preto me deixou deprê.

— O que houve com a sua língua, Nando? — perguntou o Gordo, preparando uma dose de pinga para um cliente. Querem uma dica? Se algum dia vocês passarem aqui no bar, NUNCA bebam ou comam nada que não estivesse totalmente embalado ou selado. Só hoje eu já vi o Gordo tirar meleca do nariz umas cinco vezes. Limpar as mãos? Acho que ele nem sabe o que isso significa.

— É a nova onda do momento, Gordo.

— Porra, muito louco. Deixe-me adivinhar... é coisa de americano, certo?

Eu e Pezão quase caímos na gargalhada. Segurei o riso e respondi.

— Tu é foda, Gordo. Acertou.

— Americano é um povo filho da puta mesmo. Eu queria ser americano.

— O Mamute passou as férias lá. — disse o Pezão, tomando o último gole da latinha.

— É verdade, cara. — eu disse. — Será que ele já voltou? 

— Acho que sim.

— Mamute? — perguntou o Gordo. — É algum amigo de vocês?

— Sim, é um gordão feio pra caralho. O apelido dele é Mamute porque além de gordo ele tem um monte de pêlo no corpo. 

— Acho que sei quem é. Sempre que ele vem aqui come umas duas coxinhas e algumas empadinhas. Bom freguês.

Putz! Está explicado o dia em que ele ficou dois dias entalado num vaso sanitário.

— O Mamute não manja nada de inglês. — paguei pau. — Imagino a confusão que não aprontou por lá.

— Eu queria falar inglês. — disse o Gordo, novamente com o dedão no nariz. Putz! Ainda bem que eu nunca comprei outra coisa a não ser latinha de cerveja nesta bagaça. Acho que já sei o motivo de tanta gente morrer por intoxicação nesta cidade. Se fizerem uma investigação vão descobrir que eram todos fregueses do Gordo. — Deve ser legal assistir um filme sem precisar ler as letrinhas chatas que ficam passando em baixo da tela.

Putz! Depois dessa é melhor ir embora.

— Caralho, Gordo! Tu é muito burro! Nos Estados Unidos os filmes não têm legenda!

— Cassete! É verdade? Americano é foda mesmo. — o Gordo guardou a garrafa de 51 e voltou pro balcão. — Como se fala bar em inglês?

Antes de voltar pro carro resolvi fazer uma boa ação. Ajudar o Gordo a falar inglês.

— Deixe-me ver. Acho que é "Shit".

— Oh, legal. Até isso em inglês é mais bonito. Shit. Shit. Shit. Gostei! Como se escreve isso?

Soletrei letra por letra. Pezão não manja nada de inglês, portanto o único a entender a piada era eu. Putz! 

— Vamos indo nessa, Gordo. Beleja? Falou aí.

— Falou, galera. Bom show pra vocês.

Olhei pra trás e vi o Gordo apagando os preços dos salgadinhos que estavam escritos numa losinha. Preciso dizer o que foi que ele escreveu? Hahahaha. S H I T. Em letras garrafais.

— Issaê, Gordo! — gritei da porta do bar. — Ficou estaile, mano!

Saí rindo como um louco. Pezão já me esperava no Gol.

— Do que está rindo, mano?

— Nada, deixa pra lá.

Saímos cantando os pneus novamente. 

Obs.: Nunca tente fazer isso em casa. Sair cantando os pneus é apenas para criaturas abomináveis e desmioladas como o Pezão. Além disso o cara é podre de rico, mesmo se entrar com esta porcaria no poste amanhã a mãe dele compra outro zerinho bala. Quero dizer, isso se o coisa-ruim não vier buscá-lo. E virá, assim como eu o Pezão também tem encontro marcado com o coisa-ruim.

— Você está fodido, cara. — disse eu, tentando sintonizar uma rádio que não estivesse tocando axé ou pagode.

— Do quê você está falando?

— Sua irmã já deve estar preparando alguma vingança.

— Que nada, a Maura late mas não morde. Conheço a figura.

— Lembra daquela vez em que ela entrou no seu quarto e quebrou todos os seus cd's? Ela é foda!

— Hoje saí preparado. Tranquei porta e janela. No meu quarto ela não entra nem fodendo.

Uhuuuu! Achei uma rádio que não estivesse tocando axé ou pagode. Putz! KLB??? Fala sério!

— Porra, Nando! Tira estas bichas do meu som, caralho!

Continuei apertando o botãozinho e não achei nada que prestasse.

— Deixa aí, deixa aí! — gritou o Pezão repentinamente.

Tirei o dedo do botãozinho e o dial mostrava 69,69Khz. Putz!

— Esta rádio é duka, mano! Já ouviu? Só tem putaria.

— Acho que já, sei lá. Não ouço rádio não.

O locutor da rádio dizia: "E agora vamos às ruas com a nossa pergunta do dia!" E tocou uma musiquinha cafona.

— Puta merda, você vai cagar de rir, Nando! Este programa tem um cara que sai perguntando um monte de coisas sobre sexo pelas ruas. Tem cada resposta idiota!

Eu estava mais a fim de ouvir um Black Sabbath ou Judas Priest pra entrar no clima do sabadão, mas como o carro não é meu....

O locutor continua: "E a pergunta de hoje é.... O que você faria se descobrisse que seu filho é heterossexual?"

— Puta merda! — gritou Pezão, afundando o pé no acelerador. — Esta vai ser engraçada! Deixa aí.

Quando eu disse que o Pezão é estúpido você ficou com peninha dele? É mesmo? Então saca só.

Esperei alguns minutos daquela babaquice, abaixei o volume do rádio e disse sério:

— Puta merda, e o que VOCÊ faria se seu filho chegasse um dia e lhe dissesse que é heterossexual?

— Porra, sai fora! Filho meu não pisa na chapinha! Filho meu tem que ser macho! Filho meu vai comer todas as minas do bairro, saca? Filho meu só vai usar o redondo pra cagar e pra peidar!

Bom, caro amigo, acho que não preciso dizer mais nada, né? 

 

O clube fica numa região afastada da cidade. Grande e com uma qualidade de som espetacular. Sempre que fui nunca me arrependi. O sabadão promete! Uhuuuuu! Desculpa ter falado isso novamente, mas é que estou muito animado! E ainda nem tomei nada! Aquela latinha? Ah, uma latinha só não conta. Vou comer todo mundo hoje!

Estávamos passando pelo puteiro mais conhecido da cidade...

— Cara, o negócio aí deve estar pegando fogo! Olha só quanto carro estacionado ali na bagaça!

Pezão reduzindo a velocidade. Aí tem.

— Qualquer dia a gente precisa vir aqui pra sentir como é o esquema.

Pezão pára o carro no acostamento. Fodeu.

— Por quê parou?

— Estou vendo uma puta muito gostosa ali parada.

— E daí? Não vai dar uma rapidinha agora, vai?

— Vontade não falta. — e riu. Maldito Pezão do inferno.

— Acelera esta bosta aí, meu.

— Calma, cara! Eu só me lembrei de um bagulho engraçado que vi num filme alguns dias atrás.

Fodeu. Fodeu.

O Pezão continuou: — No filme o cara chegava perto da puta e perguntava se ela fazia uma determinada posição.

— E qual a graça disso?

— Calma, eu ainda não terminei, porra! Só que ele inventava uns nomes muito loucos. Tipo assim... "Ei, você sabe fazer cavalo-marinho com hemorróida?". Aí a puta ficava sem jeito. Foi muito engraçado no filme.

Putz! Será que ele quer fazer o que estou pensando?

Pezão ligou o carro e foi em segunda marcha até a prostituta. Diga-se de passagem, uma loiraça super gostosa, usando nada mais do que um top e um shortinho rosa. Nada mau. Pezão encostou devagar e abaixou o vidro do carro.

— Eu não acredito! — Sussurrei, enquanto procurava um lugar para esconder minha cara. O Pezão é louco! Eu avisei, né?

— E aí, gata! 

— Oi, tudo bem? 

Xiiiiiiiiiiii, imediatamente eu percebi uma coisa. A voz. Aquilo ali não era uma loira, mas sim um loiro, ou sei lá o quê! Ele devia estar muito tempo sem abrir a boca, e quando abriu deu uma entregada legal.

— Pezão, isso é homem! — Sussurrei desesperado, e louco para cair na risada.

Pezão não me deu atenção.

— E aí, gata, você sabe fazer um pica-pau com diarréia?

Quase me mijei de tanto rir! Mas a loira, ou o loiro, não gostou! Puxou um 38 da meia e falou grosso:

— Fodam-se, seus filhinhos de papai de uma merda!

— Acelera, Pezão! — gritei desesperado. — O cara tá armado!

Pezão pisou o mais fundo que pôde. Saímos dali quase que voando. E o traveco gritando:

— Acham que podem vir aqui e tirar uma com a minha cara?

Ouvimos um tiro! Mas acho que foi pra cima, sei lá. Mas foi um tiro!

— Cara, que loucura!!! — Eu não sabia se gritava, se gozava ou me mijava. Talvez mais tarde eu faça as três ao mesmo tempo!

— Uhuuuuu! — gritou o Pezão. — Você viu o 38 do cara? 

Voltamos para a estrada à toda velocidade.

— Cuidado, Pezão!!! — gritei desesperado, atrás de nós vinha um ônibus ainda mais rápido.

— Caralho!!! — Nunca vi os olhos do Pezão tão esbugalhados.

O motorista do ônibus pisou no freio com toda a força, pois os pneus cantaram como eu nunca ouvira antes. Pezão jogou o volante para a direita e fomos parar no mato. O ônibus passou raspando a traseira do Gol. Ufa! Escapamos por pouco. Muito pouco mesmo. O coisa-ruim já estava prestes a levantar sua bunda gorda do inferno para vir nos buscar. 

— Puta merda, cara! — gritou Pezão, com um sorriso mórbido. — Eu sou foda ou não?

— Como é que você me entra na estrada sem olhar para o retrovisor? Vai tomar no cu, Pezão!

O ônibus parou uns cem metros a nossa frente.

— Fodeu! — eu disse. — Agora vai descer o ônibus inteiro pra querer bater na gente.

— Putz! Será?

Pezão engatou a ré. Nada, o Golzinho nem deu sinal. Tentou novamente, a bagaça funcionou. Está pensando o quê? Isso aqui não é filminho americano barato não, daqueles em que o carro pifa e só pega no último segundo, justamente quando o trem ia pegá-lo em cheio. A vida real não é assim. Não tem eletricista baixinho que come a patroa, a irmã, a cunhada e a cozinheira. A vida é um complexo jogo de rápidas decisões. Putz! Será que ter passado por uma experiência de quase-morte mexeu com a minha cabeça? Eu, hein! Prometa-me, seu eu começar a falar assim você me dá uma bolacha nas fuças, ok? Beleja. Combinado. Segue a bagaça.

O ônibus tomou seu rumo novamente. Acho que o motorista só parou pra ver se os passageiros estavam bem, sei lá.

— Você viajou na maionese, Nando. Ninguém desceu do busão.

— Sorte a nossa. — Olhei para o relógio, 11:48hs. — Pisa fundo! Já estamos atrasados.

Pra quê fui dizer isso? Se em condições normais ele já pisa fundo, imagina agora! Saímos como uma Ferrari. Não a do Rubinho, a Ferrari do alemão, a que funciona. Alcançamos o ônibus em questão de segundos. Quando passávamos por ele o motorista abriu a janelinha e mostrou aquele simpático dedo para nós, e gritou:

— VÃO TOMAR NO CU, SEUS FILHOS DA PUTA DO CARALHO!!!

O grito do motorista não foi tão raivoso quanto aquele da irmã do Pezão, mas foi legal. Em retribuição eu também mostrei o meu dedinho lindo para ele. Pezão pisou mais fundo ainda e deixamos o busão comendo poeira.

 

Chegamos ao clube uns dez minutos depois. Meu, uma penca de gente! Carros estacionados pra tudo que é lado. Por sorte achamos uma vaguinha. Fechamos as janelas do Golzinho e descemos.

— Um Real, moço.

Putz! Zé Biruta me seguiu? Não, não é o Zé Biruta, mas um pirralho usando um boné do Chicago Bulls virado para trás.

— Não tenho, garoto. — disse o Pezão, trancando o Gol.

— Não estou pedindo esmola, cara. — disse o pirralho. — É um Real ou eu não garanto a integridade física do veículo.

Putz! O pirralho tomou umas aulinhas de dicionário Aurélio ou o quê?

— Sai fora, pirralho. — Pezão é um cavalheiro.

— Então é assim? — o pirralho ficou puto. — Se depois do show você encontrar um arranhão no Golzinho eu não tenho culpa, falô ? Ah, também pode acontecer de alguém pegar uma moedinha de 10 centavos e escrever "Cuzão" nos vidros. Pois é. Às vezes acontece, sabe?

Pezão deu meia-volta, meteu a mão na carteira e colocou cinco notas de um Real na mão do pirralho.

— Se eu encontrar alguma coisa diferente no carro, nem que seja um cocô de passarinho, eu pego estas notas novamente e enfio no seu rabo. Uma a uma. Entendeu?

O pirralho ajeitou o boné, pegou as notas e respondeu:

— Pó dexá, moço. Também não vou deixar que os pingaiadas mijem nos pneus. Fica frio.

O Pezão é cheio de querer, mas no fundo não passa de um bundão filhinho da mamãe. Ele tem sorte por ter grana, senão estaria completamente fodido.

 

Do lado de fora do clube já dava para se ouvir um puta som alto. Mas não estávamos perdendo grande coisa. Conheço a banda que está tocando, os "Nóia do Espaço Sideral". Bandinha filha da puta. Só tocam Reggae. Eu até curto Reggae, mas quando é bem tocado. O vocalista dos caras se veste como o Ozzy Osbourne, é mole? Agora tente imaginar um palco com alguém vestido de Ozzy cantando Reggae. Putz! Pra esta porra ficar famosa é mais fácil cada um pegar um pandeiro, rebolar a bunda e cantar pagode. Afinal qualquer um pode fazer isso. Se eu chegar aos 30 anos pobre eu já tenho uma saída, chamar aqueles meus amigos vagabundos e montar um grupo de pagode. Ganho uma puta grana e me mudo para Búzios. Fácil, né? Pior que é mesmo. Eu só conheço uma coisa mais fácil do que gravar um cd de pagode, a irmã do Pezão.

 

A fila para entrar está gigantesca. Acho que a região inteira baixou aqui. Meu, pra onde eu olho vejo mina gostosa. Bom, mas também tem os tribufus do inferno rondando. O negócio é procurar alguém conhecido para furar fila. Eu e Pezão começamos a caça. Encontro a primeira, a Claudinha. Xiiiiiiiiii, esta não, de jeito algum. Opa, espera aí, ela está acompanhada, mas o cara não é o vendedor de mamão papaia.

— Não é a Claudinha? — grita Pezão, apontando.

Claudinha nos vê. E o pior acontece, faz sinalzinho com a mão nos chamando. Putz! 

— Cuzão. — dei um murro no braço do Pezão.

Chegamos até eles. Mesma ladainha de sempre, aperto de mão, abraços e beijinhos falsos, etc... Coisas de ex-namorada mala.

— Curtem Rappa? — pergunta o cara com a Claudinha. Jurandir é o nome dele.

— Não, odiamos, — respondi. — por isso viemos aqui para matar todo mundo. — eu tinha de tirar uma onda com o cara. Que pergunta idiota, não acham? Putz!

Todos rimos.

— O que houve com a sua língua, Nando? — perguntou a Claudinha, agarrada à cintura do Jurandir.

— Não sabiam? Última moda nos Estados Unidos. A minha está preta, mas tem de tudo quanto é cor. — e olhei bem para a Claudinha. — Até cor de mamão papaia deve ter.

Claudinha me olhou feio.

— Bom, precisamos entrar na fila. — eu disse, louco para sumir dali. — Foi bom te ver, Cláudia. — Aproximei-me para o beijinho falso na bochecha. Claudinha encostou seus lábios no meu ouvido e sussurrou:

— O do Jurandir é 8cm maior que o seu.

Fiquei pasmo. Eu não esperava isso dela. Perdi a cabeça, e disse:

— Então combina com o seu cuzão enorme! Ah, vá pra puta que o pariu!

Putz! Todos que estavam ali ouviram e olharam pra mim. Ah, dane-se, eu não me arrependo. Jurandir tentou vir pra cima de mim, mas Pezão o segurou. 

— Segura tua onda aí, Jurandir.

A vantagem de sair com os amigos é esta.

 

Saímos dali e continuamos nossa busca. Encontrei muitos rostos conhecidos na fila, mas era um mais mala que o outro. Prefiro perder um pedacinho do show a encarar uma destas figuras:

Jonas Cravo – Estudante de programação, com certeza virá com aqueles papos chatos sobre Delphi e Visual Basic. Vetado.

Mário Martelinho – Viciado em automóveis, certamente vai querer me contar todos os lançamentos do mercado automobilístico, vai querer dar aula sobre o que é um 2.0, um turbo, etc... Vetado.

Juliana Argolinha – Acabou de ser promovida a gerente na loja da sua tia, sempre que me encontra me enche o saco para aparecer por lá pra comprar alguma coisinha. Meu, o que eu vou fazer numa loja de lingerie? Comprar um par de calcinhas pra minha mãe? Vetada.

Gerson Papudo – O falso comedor, este é um dos mais chatos. Cada mina que passa pela fila ele insiste em dizer quando e onde a comeu. Geralmente apenas 1% costuma ser verdade, o resto é puramente trabalho manual e muitos sites de sacanagem.

E por aí vai.... muitas outras figuraças estão por aqui, espero não esbarrar com nenhuma delas esta noite. O sabadão promete, só não sei o quê. Por enquanto estou desconfiado de que promete ser um pé no saco.

— Eu vi o Mamute! — gritou o Pezão de repente, apontando para um pedaço da fila.

Olhei atentamente. Era ele mesmo. Localizei-o facilmente, o Mamute é grande pra caralho.

— Não acredito. Olha a loira que está com ele!

— Puta merda! Não é possível, o Mamute é feio pra caralho.

Precisávamos ver mais de perto aquilo. Meu, só vendo vocês acreditariam naquela cena bizarra. O Mamute, puta gordo feio pra caralho, ao lado de uma loira maravilhosa. Os dois juntos pareciam um trailer do filme Shrek.

— Grande Mamute! — gritou o Pezão, dando dois tapinhas na barriga do Mamute.

— Olha só quem está aqui...

Eu ainda estava admirando a loira. Cara, que coisinha fofa!

— Beleja, Mamute? — disse eu.

— Tudo ótimo, cara. — e olhou para minha boca. — Mas que diabos aconteceu com a sua língua? Caralho!

— Última moda nos Estados Unidos, você sabe.

— Cara, acabo de chegar de lá, não vi porra nenhuma disso não.

— Ah, deixa quieto. — e olhei pra loira. — Não vai nos apresentar?

— Gostosa pra caralho, né? — disse o Mamute, bem na frente da mina.

A loira nem deu bola.

— Ela é americana, cara. Não sabe uma palavra em português. Bom, "quase" nenhuma. — Mamute lascou um puta beijo de língua na loira. Meus olhos quase cegaram. Ao término do beijo a loira vira pra mim e Pezão e diz:

— Eu, gostar, Brasil. — disse bem lentamente, e sorriu. Meu, que loira!

— Ela só sabe dizer isso? — perguntei.

— E o que mais ela precisa dizer? — disse Pezão, encarando os peitos fartos da loira.

— Sai fora, Pezão! Não é para o seu bico. Eu conheci a Jennifer na Disney.

— Mas como foi isso? Ela não fala português e você não fala inglês!

— Ah, sei lá. Coisas do amor.

Meu, ri muito. O Mamute apaixonado! Hahahaha De repente a loira começa a falar para o Mamute:

— Io quero te chupar todino.

— Putz! — diz o Mamute. — Eu ensinei um monte de frases pra ela, o problema é que ela troca tudo!

— Filio da puta, caralio — disse a loira com um baita sotaque gringo.

— Putz! No No No — dizia o Mamute, fazendo sinal com o dedo.

Eu e o Pezão rimos muito. O importante é que encontramos alguém pra nos ajudar a furar a fila. Meu inglês não é perfeito, mas eu conseguiria me virar com a loira. O problema é que o Mamute é ciumento pra caralho, e levar uma porrada do cara não estava nos meus planos. Achei melhor ficar na minha.

 

A fila ia andando lentamente. De repente meu celular toca.

— Alô! — precisei falar em voz alta.

— Nando?

— Lógico, caralho!

— Isso é jeito de falar com a sua mãe?

— Mãe? Desculpa, desculpa! O que foi? Por quê está me ligando?

— Estamos no pronto-socorro, Nando!

— Pronto-socorro? — gritei espantado. — O que houve?

— Seu primo, o Tadeu.

— O que aconteceu com ele, mãe?

— Eu ainda não entendi direito. Parece que ele amarrou um tijolo no ....

Tive o maior ataque de risos da minha vida. Todos na fila olharam pra mim. Pezão começou a me cutucar pra eu contar o que tinha acontecido, mas ignorei. Minha mãe prosseguiu: — Do que está rindo? Nando! Você não tem nada a ver com isso, tem? O garoto amarrou um tijolo no .... Ah, acho que você já entendeu. Parece que foi o seu primo mais novo que falou isso pra ele. Essas crianças!

— Mãe, dá um tempo! Por quê eu teria alguma coisa a ver com isso? Eu, hein!

— Você sabe muito bem porquê. — é, eu sei. Certa vez eu falei pro meu vizinho que se ele comesse sabão em pó ele peidaria bolinhas de sabão. Resultado, ele comeu meio pacote de OMO. — Bom, eu só liguei pra avisar, pois não sei quando vamos sair daqui do pronto-socorro.

— Valeu, mãe. Espero que não seja grave aí o problema do Tadeu... — não consegui segurar o riso. Notei que minha mãe também começou a rir, mas aí ela desligou o telefone.

Eu não conseguia parar de rir. Peço perdão, leitores, mas foi incontrolável. Quando contei para o Pezão e o Mamute ficamos os três às gargalhadas. Até a loira, que não tinha a menor idéia do que estávamos falando, deu risada.

 

Aproximávamos cada vez mais do portão de entrada, foi quando Pezão avistou a gordinha que ele comera no dia anterior. Lembram? A Jurumina.

— Puta merda, olha quem está ali.

Eu já tinha visto antes, mas fingi surpresa.

— A gordinha! — e dei uma risada alta.

— Fala baixo, cara! Eu não quero que ela me veja aqui.

— Seu cuzão, com a Claudinha você fez o maior escândalo, né?

Amigo que sou, retribuí o favor. Dei várias batidas na grade e chamei a atenção da gordinha. A mina estava com a mesma roupa, só mudara a cor, verde. Ela já estava para dentro dos portões do clube. Conversava com o chefe dos seguranças. A gordinha olhou para nós e localizou o Pezão imediatamente.

— Vacilão, você me paga! — sussurrou Pezão pra mim.

Mamute notou nossa briga e ficou curioso.

— Vocês conhecem a Jurumina? — perguntou o Mamute.

— Você a conhece? O Pezão comeu ela ontem.

— Não só comi como mandei ela pra casa do caralho.

— Puta que o pariu! — Mamute fez uma cara não muito boa para o Pezão, e olhou na direção da gordinha, esta ainda estava parada conversando com o chefe dos seguranças. — Está vendo aquele cara conversando com ela?

Pezão balançou a cabeça negativamente.

— Cara, aquele é o irmão dela! 

Putz! Dei outra olhada pro cara. Baixinho, atarracado, certamente praticante de Jiu-Jitsu ou sei lá o quê. Cabelo com rabo de cavalo e um cavanhaque bem sem-vergonha. Figuraça. Um mano-a-mano com o cara não seria fácil. A gordinha não parava de olhar para nós, apontava e tudo mais, eles estavam falando de nós, com certeza.

— E daí? — disse Pezão, fingindo tranqüilidade. — Foda-se! O que ele vai querer fazer? Brigar? Nós três damos um jeito nele, certo?

Mamute fez uma cara não muito boa.

— De jeito nenhum, mano. O cara é chefe dos seguranças. Pensa bem.

— Puta merda. — disse Pezão, olhando para os dois.

A gordinha veio em nossa direção, sua cara não enganava, estava furiosa.

— Lembra de mim? — perguntou ela, com as mãos na cintura.

— Claro, gata! — os lábios de Pezão até tremiam. — Precisamos marcar um dia pra gente sair novamente. Eu gostei muito de você.

— Dá um tempo, cara! Eu tenho nojo de você.

— É mesmo? Ontem você não teve.

Dei um baita beliscão no Pezão. Ele enlouqueceu? O irmão da mina é chefe dos seguranças do clube, porra! Pra que irritar a gorda?

— Você está fodido, cara. — disse a gordinha. — Eu aconselho você a ir embora, caso contrário eu tenho até pena do que vai sobrar de você. — e olhou para mim. — E que diabos é isso aí na sua língua? Comeu bosta? — Fiquei na minha, eu não quero briga com o chefe dos seguranças. Eu, hein!

— Vamos ver então. — disse Pezão calmamente.

Não é coragem, meus amigos leitores, tenho certeza de que Pezão já tem um plano. Este plano é mais velho que a minha vó, mas vem funcionando com ele faz muito tempo. Grana. Neste exato momento Pezão já deve estar calculando quanto vai oferecer pros caras liberarem ele de uma possível surra. Conheço o cara, afinal somos amigos desde os 6 anos de idade. Sei o que a peste é capaz de fazer.

A gordinha voltou para o clube soltando fogo pelas orelhas. 

— Cara, eu não acredito que você comeu a irmã do Berimbau. — disse Mamute, agarrado à loira.

— Be o quê?

— Berimbau. É o apelido do cara.

— Caralho, mas que porra de apelido é este? Berimbau?

— Por quê Berimbau? — perguntei.

— Calma, — disse Mamute, sorrindo. — daqui a alguns minutos o Pezão vai descobrir porquê.