As Aventuras de Nando & Pezão



“Me Perdoa, Margareth”

Último Capítulo - Surpresas

E não é que a porra da receita do Pigmeu funciona mesmo?.

Apaguei. Ploft!

Só acordei às 15h30, mais perdido que rato em casa de ração.

Acordei sobre o tapete da sala, Pezão deve ter me arrastado. Prêmio Nobel da Amizade para ele, né? Custava ter me colocado sobre o sofá, porra?

Meu corpo todo doía, não sei como os mendigos conseguem dormir na calçada todas as noites. Parece que fui atropelado por uma jamanta.

Nem sinal do Pezão. Deve ter saído para pegar a biscate da padaria.

Quando me levantei quase fui ao chão novamente, as pernas estão meio bambas ainda. O bagulho do Pigmeu é foda mesmo.

Entrei no banheiro para dar uma mijada e escutei o meu celular tocar.

Não preciso dizer quem é, né? Mas atendi:

— Por que não me deixou no sofá? — falei, com a voz meio arrastada.

— Eu tentei, mas você é pesado pra caralho.

— Pesado, eu? Fala sério. Onde você está?

— Parado em frente ao portão da piranha, tô esperando ela se arrumar. Quando ela veio falar comigo eu tive que me segurar para não quebrar a cara dela.

— Você não fez isso, né?

— Não, de boa, mas vontade não faltou.

— Vão direto para o motel ou vai pagar um McDonald’s primeiro?

— Nem um nem outro. Vai ter que ser aí mesmo na tua casa.

— O quê? — minha voz saiu tão aguda que devo ter trincado a minha meia dúzia de copos. — Nem pensar, Pezão!

— Calma, armei você.

— Como assim?

— Ela topa fazer a três. Falei de você e ela topou.

— Você ficou maluco? Trazer essa piranha aqui em casa? Nem fodendo.

— Ela tá vindo! Prepara o bagulho do Pigmeu. Fui.

E desligou a porra do celular na minha cara.

Filho da puta!  Eu não acredito que ele vai fazer isso comigo.

Já sei! Vou sair de casa e trancar tudo. Tomo um chá de sumiço e só volto mais tarde, aí eu quero ver ...

Cadê as minhas chaves? O desgraçado levou e me deixou trancado aqui.

Galera, eu retiro todos os elogios que eu fiz para o Pezão nos últimos capítulos, aquele filho da puta não merece.

Meu, que ódio! O que eu faço agora?

Fiquei tão desorientado que nem vi os minutos passarem. Quando dei por mim eles já estavam entrando pelo portão, rindo feito duas hienas perseguindo uma zebra manca.

Não, eu não vou permitir isso, assim que eles entrarem pela porta da sala eu vou expulsá-los daqui com uma voadora e ...

— Oi, você que é o Nando? — disse a biscatona, me encarando com os olhos arregalados e um sorriso sacana. — Nossa, mas você é bem mais gato do que eu imaginava.

Quebrou as minhas pernas.

Meu, a biscate da padaria é muito gostosa! Eu já tinha conferido o material por foto de celular, mas pessoalmente é muito melhor, uma cavala! Caraca, que mulher é essa? Uma puta morena de tirar o fôlego, que Globeleeeeeeeza! De rosto não é lá estas coisas, mas com um corpão desse quem precisa de uma carinha de anjo? Puta que pariu, vai ser gostosa assim lá (aqui) em casa!  Seu vestido de oncinha é tão curto que se ela peidar o cu dá boa tarde. Puta merda, olha o tamanho daqueles peitos! Dá pra perder umas duas horas.

Agora eu te pergunto: Pezão encontrou esta cavalona na padaria? Ah, conta outra!

— Obrigado — respondi, totalmente desarmado.

Confesso: perdi o rebolado. A mina não é gostosa. É muuuuuito gostosa. E mulher gostosa desconcerta a gente, não tem jeito.

Pezão deu um tapão na bunda da morena. O barulho foi incrível.

— É gostosa ou não é? — disse ele, com aquele sorriso sacana dos velhos tempos.

Apenas assenti, sem tirar os olhos da morena. Ela já percebeu que eu quero passar o peru nela. Mulher gostosa saca isso como ninguém.

Porra, eu sempre quis fazer um ménage à trois, mas com duas mulheres. Com o Pezão envolvido ninguém merece, né? Uma vez quase rolou, lembram? Com a gostosérrima da Aneri. Nossa, eu nunca mais tive notícias dela.

E a morena não para de me olhar. Acho que dessa vez vai rolar.

— Como é que a gente começa isso? — disse Pezão de repente. — Fica todo mundo pelado ao mesmo tempo e corremos para o quarto?

— Calma — disse a morena. — , por que não tomamos alguma coisa para dar uma relaxada? — ela voltou seus olhos maliciosos para mim. — Seu amigo ali parece meio tenso.

E estou mesmo, pode apostar.

— Ótima ideia! — Pezão abriu um sorriso de orelha a orelha, e olhou para mim. — Nando, você não teria … uma garrafa de vinho, teria?

— Eu estava guardando para uma ocasião especial.

— Nossa, gatinho, esta não é uma ocasião especial? — disse a morena fazendo beicinho.

— Calma, você não me deixou terminar a frase, eu ia dizer que esta é uma ocasião SUPER especial.

— Hummmm, que delícia! — ela molhou a calcinha, com certeza.

— Já volto!


E voei para a cozinha.

Enquanto eu preparava os copos de vinho me dei conta de que não seria dessa vez que eu participaria de um ménage à trois.  Assim que ela tomar o vinho “batizado” do Pigmeu vai apagar, exatamente como aconteceu comigo.

Tudo bem, fica para a próxima, fazer sexo a três com o Pezão no meio não rola, é broxante.

Voltei para a sala com uma bandeja improvisada e 3 copos de vinho. Foi meio ridículo, parecia que eu estava levando groselha para 3 crianças, mas tudo bem.

Pezão e a cavalona estavam sentados no sofá. Dessa vez era ela que estava com a língua na orelha dele. Detalhe: Pezão parecia meio desconfortável com a situação.

Entreguei o copo batizado para a morena com o micro vestido de oncinha — quem usa um vestido assim já sai de casa sabendo que vai dar — Pezão piscou para mim e pegou um copo, e eu peguei o último. Não imaginei que fosse ser tão fácil assim.

— À nossa transa deliciosa de hoje — brindou a gostosa, erguendo o copo.

Pezão e eu batemos nossos copos de leve no copo dela. Nós três nos entreolhamos e tomamos o primeiro gole de vinho, rindo.

A gostosa passou uma das mãos nas minhas pernas e foi subindo. Pirei. Ela ficou de pé e chegou junto, colou seu corpão no meu.  Começamos a nos beijar. Ela foi me empurrando devagar até a parede. Tomou todo o resto do vinho e ...

Porra, já era para ela ter apagado. O que aconteceu?

Quando olhei para o Pezão eu entendi exatamente o que aconteceu. O filho da puta estava desmaiado no sofá, babando nas minhas almofadas. Seu copo de vinho, vazio, tombado de lado.

Puuuuuuuuuuuuuta que pariu, ele tomou o vinho batizado!

Mas como? Eu não tirei os olhos do copo o tempo todo, como eu pude dar o copo errado para ele? Porra, que vacilo!

Minha cara de espanto deve ter sido bem feia, pois a morena ficou preocupada.

— O que foi, gatinho? — perguntou ela, franzindo a testa.

— Pezão dormiu — respondi, sem saber se caía na gargalhada ou se me desesperava.

— Como assim? — ela se virou na direção dele. — Puta merda, eu não acredito! — ela riu feito uma hiena alcoólatra num alambique, e olhou de volta para mim. — Já é a segunda vez que ele faz isso comigo. Acho que ele não é chegado no material, hein!

— Ué, mas vocês já transaram antes, não?

— Fomos para o motel, mas trepar que é bom, nada. Seu amigo tirou a roupa, caiu na cama e roncou feito um porco a noite toda.

Tive um ataque histérico de risos que não parava mais. Sem brincadeira, eu acho que ri por uns 3 minutos seguidos.

— Sério? — falei, por fim. — Mas e tudo aquilo que ele disse que você fez com ele?

— Ele disse isso? Só se foi em sonho, querido. Vocês dois são boiolas?

— Não, eu não! Tá me estranhando?

— Ele é, né?

— Também não.

— Tem certeza?

— Acho que ele está com a cabeça em outro lugar, Pezão está amando pela primeira vez na vida.

— E desde quando um homem apaixonado recusa tudo isso aqui, ó?

E numa velocidade incrível ela se despiu do vestido de oncinha. Tudo bem que se trata de um micro micro micro micro vestido, mesmo assim fiquei impressionado. Agora ela está só de calcinha e sutiã vermelhos. Hummmm, delícia!

— Uau! — falei, fazendo biquinho e apreciando a belíssima paisagem.

— Isso sim é uma reação decente — disse ela, rindo. — Acredita que o seu amigo não me deu nem um beijo na boca hoje? Puta merda, será que estou com mau hálito?

Gostei dela, é bem direta. Quanto será que ela vai cobrar? hehehehe

Olha, na seca que eu estou, vai puta mesmo. Tô nem aí. Pezão não vai acordar tão cedo, então “Carpe diem”.

Peru pra dentro! Se deu bem, Nando Júnior, vai comer filé hoje, hein! Olha o tamanho dessa mulher!


Puxei a cavala para o meu humilde cafofo e tirei o atraso.

Fizemos de tudo, menos “papai e mamãe”, ela diz que é normal demais.

Meu, que mulher é essa? Nossa, fazia tempo que eu não gozava tão gostoso. Cara, que delícia, terminei bagaçado, anotem a placa do caminhão.

Olhei ao meu redor e ri sozinho, parecia que o furacão Katrina tinha passado pelo meu quarto. Ah, esqueci de contar que quebramos a minha cama. Tudo bem, já estava na hora de trocar mesmo, e também serviu para darmos boas gargalhadas.

De todas as vezes que eu transei com uma desconhecida, essa foi a melhor, sem dúvida!

— É verdade que você trabalha numa padaria? — puxei assunto, já que eu não fumo.

— Durante o dia sim, à noite eu gravo filmes pornôs.

— Sério?

Ela ficou olhando para a minha cara com uma das sobrancelhas erguidas.

— Não, né? Por que será que todo mundo acredita quando eu falo isso?

— Desculpa.

— Tudo bem, eu sei que meu jeito é meio vulgar mesmo, e já tentaram me mudar, mas eu sou assim e pronto, foda-se. Gosto muito de sexo, e daí? A diferença é que uma mulher que gosta da coisa é considerada biscate, já vocês viram garanhões. Puta merda, só falta você ter pensado que eu sou puta!

Fiquei sem graça.

— Você ficou ainda mais gatinho todo vermelho — disse ela, acariciando os meus cabelos.

— Não faz assim que eu gamo.

— Você é legal, bem diferente do seu amiguinho Bela Adormecida.

Essa foi boa! Rachei o bico, ela é muito engraçada.

— Como você conheceu o Pezão, num barzinho?

— Sim, e não. Ele compra croissant para a mãe dele lá na padaria onde eu trabalho, então eu já o conhecia de vista. As meninas da padaria são todas gamadas nele.

— Conta outra.

— É sério, mas vou ser bem sincera, a maioria está de olho no carro zero. E quando ele aparece com um carrão preto até o dono da padaria arreganha pra ele.

— Deve ser o Audi A8 da mãe dele, é top mesmo.

Ambos suspiramos. Acho que pensamos a mesma coisa: vamos ralar as nossas vidas inteiras e, mesmo que somemos nossos salários, jamais teremos um carrão assim.

Silêncio por alguns instantes. Fiquei contemplando seu corpo nu sobre o meu. Quantas curvas, que bundão! Na verdade tudo nela é “ão”, com exceção dos pés. Que pezinhos pequenos ela tem!

— Posso ser bem honesto com você? — perguntei.

— Claro, gatinho, sempre!

— Você é totalmente diferente do que eu imaginava.

— Sério? Mas você me “imaginava”? Você já sabia que ia me ver?

— O Pezão me ligou e avisou que vocês estavam vindo para cá. Mas … já que estamos de boa e sendo sinceros um com o outro, eu vou jogar a real com você.

— Ai que medo.

Hesitei um pouco, mas por fim eu disse:

— Ele me contou a história do celular.

Ela riu. Mas foi um riso meio sem graça, como o de uma criança que descobre que o pai já sabe que ela aprontou alguma coisa.

— Ah, isso? Olha, eu só queria brincar com ele.

— Não é o que o Pezão me contou, pareceu um lance bem mais sinistro.

— Acho que ele exagerou então. Eu estava apenas brincando. É que as meninas que trabalham comigo endeusam tanto o seu amiguinho que chega a me irritar. Quando eu fiz as selfies foi para mostrar que ele roncou e babou a noite toda.

— Porra, mas e a chantagem?

— Então, não foi ideia minha, uma das meninas lá da padaria que sugeriu que eu pedisse o iPhone dele em troca de não divulgar as fotos. Assumo a culpa por ter me deixado influenciar, mas foi apenas uma brincadeira mesmo, eu não tinha a menor intenção de aceitar o celular.

Fiquei puto. Sorte a dela não ter contado para o Pezão, ele teria dado um soco no queixo dela.

— Você nos fez viajar a madrugada toda por causa de uma brincadeirinha?

— Como assim viajar a madrugada toda?

— Ele não te contou que estávamos em Minas Gerais, na casa da namorada?

O rosto dela murchou de repente.

— Ele disse, mas eu pensei que fosse ...

— Caô.

— Ahã. Puta merda, então vocês vieram de Minas Gerais por causa da brincadeira do celular?

Respondi balançando a cabeça, sério.

— Pezão ficou uma fera — expliquei. — Ele queria te matar.

— Não tiro a razão dele. Puta merda, eu estava só brincando. Era tão bom ver o filhinho da mamãe todo assustadinho.

— Sacanagem, hein!

— Nossa, gato, não precisa me deixar pior do que eu já estou. Sinto muito, OK?

— Mas devo confessar, você não se parece em nada com a garota que o Pezão pintou durante a viagem.

— Nossa, ele contou a história do celular para mais alguém?

— Não, fica sossegada. E considere-se uma garota de sorte, pois se ele conta para a mãe dele, provavelmente você estaria presa neste momento.

— A mãe dele é uma dona toda metidona, né? Já a vi na padaria uma vez.

— É a melhor advogada que eu já conheci, a mulher é fodona pra cacete.

A morena perdeu o rebolado, parecia uma menininha assustada. Tentei acalmá-la, dizendo:

— Mas pelo que eu estou vendo, tudo não passou de um grande mal-entendido.

— Pode apostar que sim.

Ela começou a chorar. Limpei as lágrimas do seu rosto e falei que estava tudo bem. Aos poucos ela foi se acalmando. Quando ela parou de chorar, disse:

— Então ele deixou a namorada lá e veio aqui só para me entregar o iPhone?

— Pois é ...

Não resisti, caí na gargalhada. Ela não, permaneceu séria, parecia bem abalada.

— Puta merda, estou me sentindo péssima.

Sua carinha triste a deixou ainda mais sexy. Acariciei suas costas até chegar às nádegas, e beijei sua boca.

— Eu sei um jeito de fazer você se sentir melhor.

Fiquei por cima dela e fui passando a minha língua até chegar lá. Diferente da Henrietta, a morena não é raspadinha, mas também não tem nenhuma floresta, podemos chamar de corte estilo Hitler.

Chupei até ela gozar gostoso.

Ela voltou a sorrir.

E retribuiu a chupada.

Eu sorri. Só alegria.


Bateu aquela fome.

Quando passamos pela sala em direção à cozinha, Pezão estava exatamente na mesma posição em que o vimos pela última vez. Roncava feito uma jamanta com problema no motor.

— Será que ele morreu? — perguntou a morena.

— E desde quando mortos roncam? — ela riu. — Deixa ele descansar, vai precisar estar bem para pegar a estrada outra vez.

— Como assim?

— Ele prometeu para a namorada que voltaria ainda hoje.

A morena fez cara de choro. Se arrependimento matasse …


Meu, o que viemos fazer na cozinha mesmo? Não tem porra nenhuma, né?

Bom, para não dizer que não tem nada, achei um último pacote de macarrão instantâneo (o famoso “Ki-Nojo”), 1 ovo solitário, algumas fatias de queijo e presunto e um pote de ketchup que provavelmente já venceu. E o resto do vinho, é claro.

— Você não recebe muitas visitas, né? — disse a morena, vestindo uma camiseta minha do Ramones e sua calcinha vermelha feito sangue. Eu estou apenas de cueca.

— Minha ex abastecia isso aqui, mas depois que terminamos ...

— Homem é tudo igual mesmo, puta merda. O que seria de vocês sem nós?

Dei de ombros, e dei um sorriso amarelo.

— Pega aquele ovo, e me passa aquele resto de queijo e presunto também. Vou tentar fazer alguma coisa comível.


No exato momento em que ela quebrou o ovo, a campainha tocou.

Porra, quem será agora?  Foda-se, não vou atender.

Tocou mais uma vez. E mais uma. E outra. Até que a pessoa desistiu de tocar e começou a gritar o meu nome.

— É voz de mulher — disse a morena, bem tranquila. — Bem que podia ser a sua ex vindo abastecer a geladeira, não acha?

— Engraçadinha.

E o pior é que ela tem razão, é voz de mulher mesmo. Será a minha mãe?

Agora uma outra voz chamou o Pezão.

Puta que pariu, esta segunda voz parece ser da Margareth! Mas não pode ser, o que ela está fazendo aqui?

— São duas vozes diferentes — disse a morena, franzindo a testa. — Vocês combinaram uma suruba e não me avisaram? Safadinhos, hein! Eu até gosto de suruba, mas ...

— Fodeu — falei. — É a namorada do Pezão.

— Puta merda!

— Puta merda mesmo, fodeu!

— A outra é a sua ex?

— Não. Acho que é a Mirabel.

— Mirabel? — disse ela, com cara de riso.

— Eu sei, é uma marca de bolacha.

Ela riu que não parava mais. Arregalei os olhos para ela e fiz “shhhhhhhhhhhhh”.

— Não adianta se esconder — disse a morena. — O seu carro está na garagem, e o carro do Pezão está parado na frente da sua garagem. Elas sabem que vocês estão aqui.

— Verdade. E agora?

— Calma, não vou lhe causar problemas, eu me escondo no seu quarto. Prometo ficar quietinha. Só peço uma coisa.

— O quê?

— Me deixa levar esta gororoba — ela apontou para a panela. — , estou faminta!

Acabei rindo. E concordei com ela, é claro.

Corri para o quarto e vesti a minha calça e a primeira camisa limpa que encontrei. Recolhi o copo de vinho que o Pezão derrubou sobre o sofá e o levei para a cozinha. Ajeitei o Pezão no sofá, para parecer que ele simplesmente apagara de cansaço.

A morena pegou a panela, um garfo, e foi se esconder no meu quarto. A calcinha enfiada no rabo me fez rir.

Lá fora as duas ainda gritavam os nossos nomes.

Respirei fundo e caminhei tranquilamente até a porta da sala. Girei a maçaneta e abri a porta lentamente, para tentar dar a impressão de que eu tinha acabado de acordar e ainda estava meio sonolento. Vai que cola!

Paradas no portão estavam as duas: Margareth (com cara de poucos amigos) e Mirabel (com cara de bunda).

— Por que demorou tanto para abrir esta maldita porta? — disse Margareth, com as mãos na cintura. — Cadê o Maurício? E por que vocês não atendem seus telefones?

— Caraca, estou no “Show do Milhão”? Quantas perguntas! — e olhei para a Bel, surpreso. — Você por aqui? E o namoradinho, veio junto?

— Que namorado? — disse ela, espantada.

— O Tim, porra!

Ela caiu na gargalhada.

— Ele é um fofo, mas não é meu namorado.

— Dá para abrir este portão ainda hoje ou tá difícil? — resmungou Margareth.

— Desculpa, é claro que dá — falei, e fui até o portão, tirando remelas fictícias dos olhos. — Depois da viagem nós apagamos. Eu estava dormindo até agora. — abri o portão. — Seu namorado ainda está roncando no sofá. Tomou um gole de vinho e apagou geral.

— Vinho?

— Era a única coisa que tinha na minha cozinha, aí nós tomamos.

— Ele nem gosta de vinho.

— Repito: era a única coisa que tinha na minha cozinha.

Margareth esboçou um sorriso, mas passou por mim feito um foguete.

— Não repare a bagunça — falei. — Casa de homem solteiro é ...

Antes que eu pudesse me dar conta do que estava por vir, Bel me lascou um beijo na boca. Caraca, aí fomos surpreendidos novamente. Que porra foi essa? Mas … eu gostei.

Fiquei olhando para ela, surpreso.

— Faz tempo que eu queria fazer isso — disse ela, sorrindo.

— E por que não fez? Eu também queria.

— E por que você não fez?

— Sei lá. Uma hora você era você, e outra hora você não ...

Ela me beijou outra vez.

— Este foi acacha ...

— Pelo amor de Deus, se eu ouvir isso mais uma vez eu me mato!!!

Caí na gargalhada.

— Mas me conta, que história é essa de vocês duas juntas? — perguntei, curioso.

— Bom, eu estava na rodoviária esperando o ônibus para voltar, de repente olho para o lado e vejo a Margareth. Por ironia do destino ela pegou uma poltrona colada com a minha. Viemos conversando a viagem toda. Quando chegamos nós fomos até a mansão do seu amigo e só estava a empregada, que não tinha a menor ideia de onde o Pezão estava. Fomos atrás de você então. Margareth não sabia o endereço da sua casa. Eu sabia.

— Adorei a surpresa.

Agora fui eu que a beijei.

Só paramos porque a Margareth nos interrompeu, dizendo:

— O Maurício está chapado? Dei pelo menos 5 tapas na cara dele e o desgraçado não acordou! Quantas garrafas de vinho vocês tomaram?

— Garrafas? Só tomamos um golinho.

— Ah, é? E por que tem três copos sujos de vinho?

Fodeu.

— O quê? — fingi estar surpreso.

— Não se faça de idiota, tinha mais alguém com vocês.

— Não viaja.

— Nando, não adianta mentir — Margareth quase esfregou o copo na minha fuça. — E o que você me diz sobre esta mancha de batom, hein? Quem é a piranha?

Puta merda, aí quebra as minhas pernas. O que eu digo para ela? E para ajudar, a Bel me encarava com aqueles lindos olhos azuis.

— Ela ainda está aqui, não está? — disse Margareth, possessa.

— Não tem ninguém aqui. Este copo deve ser da minha empregada. Ela gosta de tomar uns gorós enquanto trabalha.

— Empregada? — ela soltou uma risada de deboche. — Esta casa está imunda!

— Eu falei que ela bebe, né?

Margareth ficou puta da vida e voltou para a sala, pisando duro. Fui atrás dela, Bel veio logo atrás.

— Dá pra sentir o cheiro de perfume barato no ar, Nando!  — disse Margareth, cheirando o pescoço do Pezão. Para a sorte dele não havia marcas de batom em sua boca, ele foi esperto em não beijar a morena de oncinha. — Que tipo de festinha vocês estavam fazendo aqui? Suruba?

— Nada a ver, Margareth, você está imaginando coisas.

Margareth deu três tapas fortes no rosto do Pezão. Ele não acordou.

— O que você me diz sobre isso? — disse Margareth apontando para o Pezão. — Ele está chapado, cacete!

— Não, Margareth, ele está muito cansado, só isso! Nós viajamos a madru ...

— Por que aquela porta está trancada, hein? — ela apontou para o meu quarto . — A piranha está escondida lá dentro, né?

Margareth mirou e foi até a porta como um touro em direção ao toureiro. Ao girar a maçaneta eu senti um frio na espinha como nunca sentira antes. Mas a porta não abriu, a morena a trancou por dentro, boa garota.

— Não tem nada aí — falei. — Só um monte de tralhas que eu trouxe da casa dos meus pais.

— OK. Então me mostra!

— Não me lembro onde coloquei a chave.

Margareth começou a socar a porta, com ódio.

Bel só observava, mas dava para ver nos seus olhos que as minhas chances com ela iam pelo ralo a cada minuto que passava.

Foda-se, não tem mais como sustentar esta mentira. Vou abrir o jogo. Não vou contar tudo, é claro, mas um pouco.

— OK, você venceu — falei. — Tem alguém ali dentro.

— É puta, não é?  Esse perfume no ar está me deixando zonza.

— Bom, você não é minha namorada, então não lhe interessa saber quem eu pego ou deixo de pegar.

— Então tem mesmo uma mulher no seu quarto? — disse a Bel, bem chateada.

Assenti, bem constrangido. Bel me olhou feio, virou as costas e foi embora.

— Bel, volta aqui, por favor!

Eu ia atrás dela, mas a Margareth segurou o meu braço, dizendo:

— E ele? — ela apontou para o Pezão, que não parava de babar no meu sofá.

— O que tem ele, porra?  O filho da puta tomou um copo de vinho e apagou aí, só isso! Que tipo de putanheiro você acha que eu sou?  Acha que a minha casa é zona? Eu trago garotas aqui e vou passando de pica em pica? Porra, Margareth, você me conhece!

— Mas por que você não abriu o jogo logo de uma vez, caramba?

— Por que será, né? — e olhei na direção da porta, por onde saiu a Bel. — Por que será, né? Obrigado por tudo, Margareth, você me fodeu.

— Eu te fodi?  De que merda você está falando? Você gosta daquelazinha? Você virou as costas e ela deu para o meu primo. A Bel tirou a virgindade do Tim!  Que mina louca tem a moral de dar para aquele garoto?

— É uma história complicada. Você não entende.

— Não entendo mesmo. Aí ela chega aqui e você já está com outra. Será que EU te fodi? Ah, vai se ferrar, Nando!

E ficou um puta silêncio constrangedor.

Fui até a cozinha, enchi um copo com água e voltei para a sala. Derramei o copo inteiro na cara do Pezão. Ele finalmente esboçou uma reação.

— Até que enfim, caramba! — disse Margareth, aliviada. — Eu já ia chamar uma ambulância.

Pezão finalmente abriu os olhos e deu de cara com a namorada. Tomou um susto tão grande que quase caiu do sofá, parecia estar vendo um fantasma.

— O que você está fazendo aqui? — ele alternava olhares para ela e para mim, apavorado.

Fiz sinal de positivo. Não sei o que ele entendeu, ficou um pouco mais calmo.

— Eu vim te ver — disse Margareth. — Senti sua falta.

— Eu também senti.

— Te amo, seu fujão filho da mãe.

— Eu também ... te amo.

Eles se beijaram. Que meigo. Que nojo!

Deixei os pombinhos a sós e fui para o meu quarto. Bati na porta duas vezes.

Antes que a porta se abrisse, ouvi a voz da Margareth atrás de mim:

— Agora que tudo se esclareceu, não vai me apresentar a sua peguete?

— Me perdoa, Margareth, hoje não.

FIM

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AGUARDE A PRÓXIMA AVENTURA!